segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bom Ano

Estamos prestes a findar a primeira década do século XXI, portanto, a entrar numa nova década, exactamente o início de 2010. Estoiram-se os últimos cartuchos de 2009, de fracas recordações para muitos. A crise económica e financeira, à escala global, afectaria qualquer país, muito mais um de fracos recursos como o nosso e com tanta gente mais amiga de subsídios e de reformas forjadas ou “compradas” do que de trabalho. Na verdade, um país em que um grande número de pessoas pratica e aplaude o “chico-espertismo”, a vigarice; que se julga senhor de todas as liberdades, mas não admite a dos outros; ter todos os direitos, mas poucos ou nenhuns deveres; um país em que um grande número de trabalhadores, dos mais variados níveis, não produz o que a sua capacidade lhe permite e a seriedade exige, porque considera os patrões ou superiores hierárquicos como inimigos, as empresas como se lhe não digam mais respeito que não seja apenas o de lhe garantir o sustento, mesmo sem crise não pode ir muito longe.
Disse atrás que o 2009 foi de fracas recordações para muitos. Não disse para todos, porque é precisamente em tempos de crise, de dificuldades, que muitos enriquecem. A miséria, a desgraça de muitos é a fortuna de alguns, normalmente com poucos escrúpulos e demasiada ambição.
Na semana passada falei sobretudo da enorme hipocrisia que envolve o Natal, nomeadamente no que toca à assunção generalizada de que ele é, por excelência, a festa da família. Dizia eu que muitas vezes as virtudes – nunca serão virtudes quando se trata de actos hipócritas – estão voltadas para o exterior, para onde se dê nas vistas. E mais do que deixar de praticar as tais virtudes tão apregoadas pelo Natal, mas que devem ser de todos os dias, no seio da família, praticam-se actos desumanos, ignóbeis, como colocar pais e avós em instituições hospitalares, deixando-os por lá abandonados. Confirmando isto que eu dizia, alguns órgãos de comunicação social davam conta de que tinham sido deixados abandonados em diversos hospitais centenas de familiares, com um único intuito, por certo, que era o de não perturbarem as festas. Num jornal, eu li que só num hospital de Lisboa, não sei se por lapso de impressão ou se de facto é verdade, estariam cerca de duas centenas de idosos que familiares lá deixaram, não os recolhendo, nem se preocupando como seu estado. Não será agora, por certo, em mais esta época para muitos de festa de arromba, apesar da crise, que esses mesmos familiares os irão recolher para lhes prejudicar os planos de folguedo. Provavelmente, algumas dessas pessoas andaram a exibir solidariedade onde ela desse nas vistas, talvez confortando outros idosos ou doentes, ignorando os de sua própria casa.
Creio que, se quisermos um mundo melhor, todos temos muito que reflectir sobre o nosso comportamento. Eu sugiro que cada um de nós se olhe ao espelho, não aquele espelho material, que nos envaidece ou desilude, mas aquele, imaterial, que nos mostra a alma. Não sabe como é? Isole-se, feche os olhos para que o ambiente que o rodeia não o desconcentre, abra a alma, reflicta sobre o que fez e não fez. Alije alguns laivos de egoísmo, de ingratidão, de vaidade, de deslealdade, que porventura encontre dentro de si, e, assim aliviado, imagine o quanto pode fazer de bem por si e pelos outros. Vai, certamente, descobrir uma infinidade de coisas que pode fazer, outras tantas que não deve fazer. Se todos fizermos isso e se cada um de nós realizar, ainda que seja um pouco do que se deveria fazer, estaremos a contribuir para tornar mais feliz a vida de todos nós, a contribuir para um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário, menos egoísta, menos hipócrita, menos materialista, enfim, um mundo melhor. Se cada um de nós se esforçar um pouco, se procurarmos recuperar e praticar os verdadeiros valores pelos quais todos nos devemos reger, aqueles valores universais, venham as crises que vierem, continuarão a provocar sofrimento e dor mais a uns do que a outros, mas, prenhes das virtudes e valores referidos, haveremos de as suportar e ultrapassar mais facilmente.
O termos ou não um bom ano de 2010 também depende de si, de mim, de todos nós. E depende muito dos políticos que temos. Dos que elegemos e dos que não elegemos. A muitos desses, infelizmente, não basta a reflexão e a hipotética vontade de serem melhores. Falta-lhes valores, competência, sobra-lhes egoísmo, incompetência, arrogância. Não se criam uns e eliminam outros de um dia para o outro, pelo que não esperemos o paraíso no ano que aí vem. Os políticos que temos, muitos deles que se não movem por convicções, que as não têm, mas pela defesa dos seus privilégios pessoais ou de grupo; políticos que hoje dizem uma coisa e amanhã o seu contrário, que não têm o menor pudor em lutar contra os adversários com toda a espécie de armas, ainda que as mais ignóbeis e ilegítimas, não nos poderão levar a bom porto, a menos que alguma Entidade interceda nesse sentido. Se crê em qualquer divindade, não desanime, ore-lhe. E digo-lhe não desanime, com toda a seriedade, com toda a confiança, não nos políticos, mas porque todos nós, os que não vivemos nem à sombra da política nem de nenhum político, embora combalidos pelo infortúnio, não deixamos que a esperança sucumba, como disse atrás, nós todos podemos fazer muito, inclusive, obrigar os políticos a serem melhores. Vamos a isso. Bom ano.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Presépios de Natal

Encontrei na minha caixa do correio, certamente à semelhança de todos os nespereirenses, um cartão de Boas-Festas, da Junta de Freguesia de Nespereira. De Cinfães, para que se não confunda com nenhuma outra. Você, muito provavelmente, irá achar este texto bem diferente dos habituais. É natural. No entanto, achei-o tão interessante, tão expressivo da época e do que se passa, no momento, na freguesia, que não podia, não devia calar a minha voz, deixando de dizer aquilo que me apetece.
De facto, o cartão com os diversos presépios construídos em diversos lugares, por sugestão da Junta de Freguesia, está muito bonito. Fosse a ideia de quem fosse ou mesmo que tenha sido copiada ou inspirada em qualquer outro cartão, ele está muito bonito. Mesmo faltando lá um presépio, de acordo com os meus olhos, que só lá faltará, evidentemente, por motivos justificados.
Não sendo muito dado a guardar coisas – nem sequer tenho guardados os jornais onde escrevi centenas de peças - vou guardar este cartão, porque ele não se limita a essa questão formal e institucional do mero desejo de Boas-Festas. Ele tem gravado aquilo que é um pedaço da história desta freguesia que se vai construindo.
Creio que aqueles nossos compatriotas que mourejam pela estranja gostariam de receber um cartão desses que, acredito, guardariam religiosamente. Por isso me atrevo a sugerir à Junta de Freguesia, já não digo que os envie, mas que os faculte às pessoas que tenham familiares no estrangeiro, que, pela distância ou qualquer outra razão, não passem cá esta época festiva, que lhe facultem os cartões desde que manifestem interesse, para elas próprias os enviarem. É uma sugestão que custará mais uns euros, mas não arruinará os cofres da autarquia.
Gostei de ver também Freguesia de Nespereira e não o errado e parolo termo vila, porque Nespereira tem, efectivamente o estatuto de vila, mas que corresponde a um determinado espaço territorial. Freguesia, sim, é que está correcto.
Parabéns à Junta de Freguesia e que o espírito que os presépios nos transmitem vivam dentro de vós, dentro de todos nós, em todos os dias do ano.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal sempre

Cada um de nós tem os seus pontos de vista que devem ser respeitados. Todos temos legitimidade de concordar ou discordar dos pontos de vista dos outros, desde que o façamos com correcção, sem qualquer intuito ofensivo, sem assumirmos qualquer atitude de superioridade, no pressuposto de que o nosso é que é o verdadeiro.
Este preâmbulo vem a propósito do clima de crispação entre o Presidente da República e o Governo e o Partido Socialista. Qualquer dirigente, nomeadamente das instituições do Estado, sobretudo os que exercem funções da mais alta responsabilidade, quando interpelados ou quando entendem pronunciar-se sobre determinados assuntos, não o devem fazer como se fossem um qualquer cidadão comum, mas com a diplomacia suficiente para não criar conflitos tão desnecessários como prejudiciais para o bom funcionamento das referidas instituições.
É legítimo que o Presidente da República tenha as suas prioridades, como é legítimo que o Governo tenha as suas, independentemente de cada um concordar ou não com as do outro. Estar de acordo ou não é normal, já não é normal que qualquer deles se pronuncie publicamente sobre as prioridades do outro, desnecessariamente e de forma a provocar conflitos.
Não estando em causa a minha concordância ou não com a legalização dos casamentos entre indivíduos do mesmo sexo, parece-me que, embora o Governo esteja legitimado para legislar nessa matéria, num momento de crise como a que atravessamos e num clima político pouco pacífico, o governo deveria deixar tal matéria para mais adiante, na legislatura. Tal matéria não faria parte, pois, das minhas prioridades. Parece, assim, que estou de acordo com Cavaco Silva. Só que eu sou um cidadão comum, sem responsabilidades nos mais altos desígnios da nação. Cavaco Silva, ao ser interpelado pela comunicação social sobre a decisão do Governo aprovar os casamentos gays, respondendo da forma que respondeu, fê-lo de forma provocatória para o governo, com o seu ar de superioridade, de quem se julga senhor incontestado da verdade, de quem “nunca erra e raramente se engana”, o que contraria o que deve ser o comportamento de um Chefe de Estado, e aquilo que o próprio Cavaco Silva frequentemente apregoa. “Bem prega Frei Tomás”. Parece-me que o espírito de Natal anda arredio daquelas paragens entre Belém, S. Bento e o Rato, até porque a réplica dada, quer pelo governo, quer pelo PS, também não terá sido a mais adequada e de molde a proporcionar quaisquer tréguas.
Bom, pelo menos esta situação fugiu um pouco à habitual hipocrisia natalícia. Se isto significasse a morte da hipocrisia, só por isso teria valido a pena. Mas não tenhamos ilusões, a hipocrisia vingará e, pelo que se vai vendo, cada vez tem mais força, mais praticantes, porque se torna evidente, para infelicidade nossa, que a maioria dos mortais se convenceu que só usando-a conseguirá triunfar. De facto, mesmo aqueles que abominam a hipocrisia, como eu, que têm escrúpulos em a utilizar, mas não são ingénuos, verificam que quem normalmente triunfa, ainda que sejam absolutamente medíocres, são os que mais prometem, mesmo que pouco façam, e sabem usar, com perfeição, essa extraordinária, mas mentirosa, arma de sedução, que é a hipocrisia.
Desde muito jovem, me chocou verificar que aquelas virtudes, de que todos nós deveríamos estar imbuídos durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, por muitas pessoas, só são vividas na época natalícia. E tantas vezes, de forma hipócrita. Eu atrevo-me a afirmar que o Natal é, ao contrário do que deveria ser, a época da hipocrisia. Bem sei que é uma afirmação polémica. Assumo-o, até porque o ser polémico faz parte da minha essência. E confesso que gosto muito de mim assim. Ninguém acredita que se consiga gostar de alguém, sem gostar primeiro de si próprio. Só quem gosta de si, sem ser por narcisismo, sem ser por vaidade, sem ser por se julgar possuidor de atributos, de méritos, que de facto não tem, mas porque vive em constância com a consciência tranquila, que olha os outros sempre com olhos nos olhos, que só se olha os outros para os ajudar a levantar, que caminha sempre de cabeça erguida, que só fala nas costas de alguém aquilo que é capaz de dizer frente a frente, só quem possui estes atributos é capaz de verdadeiramente gostar dos outros, ser solidário, fraterno. A solidariedade, a fraternidade são de todos os dias e não apenas do Natal.Mas o que é que nos é dado ver, afinal?! No Natal, quase todas as instituições, as pessoas, vestem a pele de pais natais, enchem a boca de solidariedade, amor, paz. Às vezes praticam essas virtudes. Às vezes até o fazem com sinceridade. Outras vezes apenas e só hipocrisia. Muita e repugnante hipocrisia. Desenvolvem-se as mais diversas campanhas de solidariedade, normalmente com resultados altamente positivos. Mesmo que muitas ofertas sejam consequência de alguma vaidade, alguma hipocrisia, desde que bem aplicadas, valem. Durante o resto do ano todos os carenciados deixaram de existir? A solidariedade, a paz, a harmonia, esgotaram-se? E porque é que a solidariedade tantas vezes é necessária à nossa porta, quem sabe, dentro de portas, e se ignora e, por outro lado, se mostra, sobretudo quando e onde há “holofotes”? Acha que não? Repare quantas pessoas, sobretudo avós e pais idosos são enviados para os hospitais em época de Natal e férias e lá são abandonados pelos familiares que não respondem sequer às solicitações para os retirarem quando têm alta! Porventura, alguns desses familiares não se escusam de ir exibir solidariedade por outras portas. E dizem que o Natal é a época, por excelência, dedicada à família! Quantas vezes, quase se tropeça na miséria e se finge não ver e se vai praticar a solidariedadezinha onde se dê nas vistas, onde os amigos e conhecidos possam tomar conhecimento do gesto. Podem assim arrotar as suas pretensas virtudes para satisfação das suas vaidades. E é bom não esquecer que a solidariedade não se completa na oferta de meios materiais. Algumas vezes nem é isso que é necessário, mas uma palavra de esperança, de carinho, um ombro amigo para receber um desabafo, o saber ouvir, o respeitar o silêncio, um simples e terno olhar, o estar ao lado, mesmo estando longe, o estender a mão. O que normalmente se vê em cada Natal que passa, não é aquele que eu preconizo, por isso esta época, não obstante o alegre convívio com meus filhos, seus cônjuges e netos, como tantas outras vezes o faço, me deixa sempre entristecido. O Natal, para muita gente, não é mais do que um pequenino paliativo, por uns dias, no oceano das suas dores, na imensidão dos 365 dias. O que eu desejo é que cada um seja, agora e sempre, autor e usufrutuário de todas as virtudes que mais se apregoam pelo Natal. São os meus desejos para si também.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A incoerência dos políticos

Vejam só a incoerência, a “lata” dos políticos. Dos políticos e de uma grande parte dos cidadãos, infelizmente. Só que daqueles seria legítimo esperar mais e melhor do que destes, dadas as funções que desempenham, pelas quais são pagos, não direi principescamente, mas bem, com o dinheiro dos impostos de todos nós, isto é, do nosso suor. Sobretudo os que exercem acção política, actuam, ao nível dos actos e das palavras, consoante os seus interesses pessoais ou de grupo, não revelando o mínimo pudor em afirmar, em defender, hoje, exactamente o contrário do que foi afirmado, defendido ontem. Para além da falta de coerência, muitos brindam-nos ainda com uma falta de educação, de civismo, confrangedores, a todos os títulos reprováveis. De quando em vez é-nos proporcionado observar espectáculos degradantes, sobretudo no Parlamento, com deputados a usarem vocabulário vergonhoso, em ataques sórdidos uns aos outros, ofendendo-se a si próprios, à Casa da Democracia, a quem os ouve, enfim, a todos os portugueses. Eu, que já afirmei aqui que a política se assemelha a um circo em que há malabaristas, trapezistas e palhaços, nem sequer me deveria surpreender de eles se chamarem isso uns aos outros. No fundo, confirmam aquilo que quase todos nós já sabemos ou suspeitamos, só que pelo menos deveriam respeitar o lugar onde proferem tamanhas calinadas, isto é, o Parlamento. Nesta nossa democracia, desde sempre nos habituamos a assistir a alguns diálogos impróprios, mas seria legítimo esperar que ao mesmo tempo que a democracia ia avançando no tempo, ia amadurecendo, os deputados se civilizassem. Mas não, o que se passa é exactamente o contrário. Os políticos de discurso viril, contundente mas leal e correcto, esgrimindo convicções, praticamente desapareceram. Hoje, a maioria deles não luta por convicções porque as não tem, os seus interesses sobrepõem-se a tudo o resto. A sua luta assenta sobretudo na suspeição, na calúnia, no ataque pessoal. De alguém que seria legítimo esperar que fossem referências para todos nós, infelizmente, o que recolhemos, sobremaneira, são maus exemplos. Depois, todos nos queixamos da falta de civismo, do desapego à família, da indisciplina nas escolas, do desrespeito pelas autoridades, da violência. Com tais exemplos e com a justiça sempre adiada ou não aplicada, que poderíamos esperar?! Salvas raras excepções, as maiores referências políticas, culturais, sociais, não se querem ver envolvidos com semelhante cambada.
Voltemos à incoerência dos políticos e vejam só um exemplo de entre tantos que poderíamos apontar.
O Governo anterior decidira legitimamente, fruto da sua maioria absoluta, atribuir licenças ambientais que permitiam a co- incineração de resíduos, nomeadamente em Souselas, Coimbra. Houve, por conseguinte, uma decisão política. Políticos de vários quadrantes, entre os quais o Presidente da Câmara de Coimbra, protestaram e um Grupo de Cidadãos de Coimbra representados pelo advogado Castanheira Barros interpôs uma providência cautelar cujo intuito era suspender a eficácia das licenças ambientais atribuídas. Significava isso que não concordavam com a decisão política, apelando a uma decisão judicial. Fruto dessa providência cautelar, em Fevereiro, um acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte ordena a suspensão da co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira de Souselas. A decisão judicial satisfazia a s suas pretensões, ela é que interessava.
Acontece agora que, após recurso, o Supremo Tribunal Administrativo decidiu que a co-incineração de resíduos em Souselas pode ser retomada, dado que não há provas de perigo para a saúde.
Sem qualquer pingo de vergonha, de coerência, o edil de Coimbra e o advogado Castanheira Barros afirmam que não é aceitável uma acção judicial, que se precisa de uma decisão política. Se não se tratasse de pessoas importantes, se o assunto não fosse sério, diria que daria vontade de rir. Já vi muito, já ouvi muito, já vivi o suficiente para não estranhar nada destes comportamentos, mas fico sempre triste com eles, porque são protagonizados por pessoas que dirigem, de forma mais ou menos relevante, os destinos do meu país. País que, com gente desta, tem o seu presente, e muito mais o seu futuro, em perigo. Dá para ficar triste, preocupado. Essas pessoas, quando lhes convém, são politicamente correctas, afirmam que confiam cegamente na justiça. Quando as decisões não são do seu agrado, lançam suspeições sobre os magistrados e exigem uma solução política. Mas então não a tiveram já, por parte do Governo? Elas é que não aceitaram a decisão política e recorreram aos tribunais. Agora, que, após recurso legítimo, a decisão judicial confirma a decisão política, tomada, com toda a legitimidade, em altura oportuna, valendo-se do facto de o actual Governo ser minoritário, pedem uma solução através do Parlamento.
Tanta incoerência, meu Deus! Afinal quem foi eleito para governar, o Governo ou o Parlamento?!
Que pobreza de gente esta! Começo a ficar cansado de falar nestes políticos de m…. Creio mesmo que o melhor seria fazer de conta que vivo num país sem políticos e deixar de falar neles. Sei que não consigo. Não conseguirei e também não quero dar-lhes tréguas. Embora a minha voz e a minha pena sejam pouco importantes, não ficaria de bem comigo mesmo se deixasse de exprimir as minhas convicções, os meus sentimentos.

domingo, 6 de dezembro de 2009

A falta de valores

Creio que mesmo o mais desatento se apercebe desta confrangedora falta de valores que parece percorrer o mundo e que contribui para nos devastar física, anímica, económica e socialmente. Pelo menos, por cá, é bem visível e quase todos sentimos na pele, de uma forma ou de outra, os seus efeitos.
Se cada um de nós, ouvindo ou lendo a comunicação social, se não nos ficarmos apenas pelo conhecimento dos textos, mas reflectirmos sobre eles, mesmo no que concerne à ausência de valores chegamos à conclusão de que ela – a comunicação social – se comporta, descrevendo, titulando, no pressuposto de que a referida ausência é o lugar-comum e um gesto absolutamente normal, que deveria ser aquilo que nós deveríamos esperar e exigir de qualquer cidadão, é nobre, insólito.
Concretizo o meu pensamento: há quarenta, cinquenta anos, talvez ainda nem tantos, uma pessoa encontrar um saco com dinheiro, fosse qual fosse o seu valor, e procurar encontrar o dono e entregá-lo, não era nada mais do que o cumprimento de um dever, que a maioria das pessoas faria – já havia ladrões e normalmente não eram aqueles que passavam fome.
Hoje, a propósito de uma padeira ou leiteira, já nem me lembro bem, que encontrou uma determinada importância e agora de um outro cavalheiro que encontrou mil e quinhentos euros e os entregou ao dono, deu-se um grande mediatismo. Isto, só por si, revela a assunção da nossa mediocridade, da nossa pequenez, da nossa pobreza de valores. Referentemente ao último caso, que é o que está mais fresco, o que me chamou mais à atenção foram dois títulos que canais televisivos – não sei quais, nem isso interessa – utilizaram: caso insólito, gesto nobre.
Não condeno os títulos, mas a minha reflexão foi neste sentido: ora só é possível entender tal atitude, que mesmo noutros tempos seria sempre louvável, como um gesto nobre e um caso insólito, porque se admite que meter o dinheirinho ao bolso e ficar “caladinho como um rato”, seria o que, hoje, a maioria dos cidadãos faria.
Pensando assim, reagindo assim, estamos a assumir inequivocamente que somos um país de gente pouco séria, o que não é nenhum motivo de regozijo. Preso a esta reflexão, assumindo, então, que somos um povo desonesto, sem princípios, justificar-se-á plenamente dar relevo a esses tais gestos, que eu gostaria que fossem de prática generalizada, para mostrar que ainda há gente séria, que merece ser louvada e apontada aos outros cidadãos como exemplos a seguir.
Porque entendo que a comunicação social, para além do seu papel informativo, tem ou deve ter uma função pedagógica, creio que, no relato de episódios do género dos aqui referidos, poderia ir um pouco mais longe, fazendo ver que os ditos gestos nobres, no fundo, não são mais do que aquilo que cada cidadão, independentemente do seu estatuto, deve praticar. Não desempenhando funções jornalísticas, não quero “meter a foice em seara alheia”, mas tão-só expressar o meu pensamento.
Não me ficando, no entanto, por aqui, na minha reflexão, indo um pouco mais longe, vendo sob outra perspectiva, não sei se não valeria a pena debruçarmo-nos sobre um hipotético efeito negativo do relevo dado às boas práticas! Não sei até que ponto, a maioria dos cidadãos, que pelos vistos, assumimos, tacitamente, que são desonestos, não se sentirão encorajados a continuar a sê-lo, já que isso é a regra! Pensarão assim, até porque é mais lucrativo: se é regra, não será assim tão condenável segui-la. Muito mais, quando o exemplo do cumprimento dessa regra parte de gente mais alta. É um desafio, uma provocação.
Seja como for, a triste realidade deste país é que, de facto, a falta de valores, a mediocridade são a regra e as boas práticas são a excepção. Assim, meu amigo, não há instituições que resistam a este desmoronar de valores e entronização da desonestidade, da preguiça, do crime, que impeçam o nosso naufrágio.
Todos os dias encontramos aqui e ali relatos que se traduzem escandalosamente na valorização de coisas absolutamente medíocres, risíveis, que só poderiam, a justificar-se qualquer avaliação, ter nota negativa. É a erecção vergonhosa, sem qualquer espécie de pudor, da canalhice, da preguiça, da hipocrisia, da mentira. Para que tais avaliações surtam o efeito desejado, que é aumentar as plumas dos “pavões”, formam pequenos lobbies para garantirem o sucesso. Ainda bem que são “pavões” e não “perus”, não fosse alguém lembrar-se deles na época natalícia e, se por um lado não ficariam bem servidos, por outro, ninguém lhes quer ver a faca no pescoço.
Deixemos os “pavões” esvoaçar, entregues ao seu narcisismo, que um dia, de tanto se auto-admirarem, vão cair, não num lago de águas límpidas como Narciso, mas num charco de lama, ficando conspurcados por fora, como sempre o estiveram por dentro. E se no charco alguma planta nascer, não há-de ser com certeza um narciso, mas um tojo.
O que eu esperava, provavelmente fruto de alguma ingenuidade, era que os políticos, perante a gravidade da publicitação de escutas, atentando contra o segredo de justiça, violação iniciada nos tribunais, repito, nos tribunais, condenassem tal crime, que aliás é sistemático, exigissem explicações concretas sobre o assunto, a descoberta dos responsáveis e a sua punição. Mas não, aproveitam-se desse crime, servem-se do que é publicitado, - que ainda por cima, como já se viu, nem tudo é verdadeiro, visto que há muita contradição e até escutas forjadas a correr na internet - para fazerem oposição ao governo, numa busca suja de colher frutos políticos. Não se inibem de utilizar o parlamento para a devassa, para lançar suspeições, em prejuízo do que realmente cabe aos parlamentares decidir. Sobretudo, o maior partido da oposição, o único que, para já, se pode apresentar como alternativa, vem tendo uma postura vergonhosa. E fala, como se fossem anjos, em pressão da justiça. Se há, o que são as suas afirmações senão influenciar a justiça? Vale a pena atentar no que diz Moita Flores, o edil de Santarém, eleito nas listas do PSD: “O que a actual direcção do PSD está a fazer com a pressão e as insinuações sobre as escutas ultrapassa os níveis da decência, colocando-se dentro de uma redoma de actos em que os piores sentimentos humanos vêm à superfície. O ressabiamento pela derrota eleitoral que só os tontos não perceberam que iria acontecer. Os tontos e os clientes do embuste….A política acabou para este PSD. Apenas vale a vingança pessoal e ódios mesquinhos sem grandeza nem sentido de serviço público ao País.”
É este partido aquele que se nos apresenta como alternativa possível de poder. Pobre alternativa! Muitos falam, falam, mas não dizem nada, não fazem nada, mas mandam falar menos e fazer mais. É o que temos.
Hipocritamente, os políticos continuam a afirmar, porque assim é que é politicamente correcto, que confiam na justiça, quando todos nós verificamos, quotidianamente, que temos razão para não confiar. Infelizmente.
Estamos num país em que o passado oscilou entre a glória e a vergonha, o presente ficará de má memória e o futuro não se sabe se chegará a ter história.

sábado, 28 de novembro de 2009

O aniversário da minha filha

Coisa que pouco fiz com meus filhos, foi fazer-lhes poemas pelo seu aniversário ou outras datas especiais. O tempo estava muito mais preenchido, as preocupações eram maiores, por isso terei feito dois ou três. Realmente sempre escrevi muito mais prosa, do que poesia, para a qual, sem qualquer falsa modéstia, acho que não tenho grande aptidão. Mesmo assim, e porque me parece que alguns sentimentos se expressam melhor em algo nem que seja apenas um arremedo de poesia, tenho várias feitas para todos os aniversários dos meus netos e mesmo outros momentos. Deu-me, depois do entardecer da idade, para me arvorar em vate. Mas descanse, meu amigo, que não o vou castigar muito com os tais arremedos de poesia que são feitos para uso interno da família.
Hoje faço uma das poucas excepções, com a poesia dedicada à minha filha que, depois de me ter dado já uma linda e inteligente neta, transporta no seu ventre, dois netos que serão lindos, com certeza, mas que eu espero que sejam sobretudo saudáveis e que venham ao mundo para serem e fazerem felizes, não apenas os seus familiares, mas todos quantos se cruzarem nas suas vidas. É o papel de cada um de nós: ser feliz e fazer os outros felizes.
Eis, então, o que escrevi, para o seu aniversário em 29 de Novembro.


Aniversário da ZIZI

Nessa estrutura franzina,
nesse seu corpo de menina
está uma alma de mulher
pequenina, cheia de graça.
É tamanha a sua raça
de fazer inveja a qualquer,
de aparente maior pujança,
que consegue transportar
no seu ventre de mulher,
no dito corpo de menina,
não apenas uma criança,
mas, vejam só, logo um par.
Inteligente, laboriosa,
assertiva, voluntariosa,
mãe extremosa, delicada,
competente, dedicada,
de uma neta muito querida,
traquina, muito vivaça,
alegre, com muita graça,
que nos faz amar a vida,
a quem chamamos Mimi.
Hoje os versos não são para si,
são para sua mamã querida,
a nossa filhota Zizi,
de parabéns a triplicar –
os filhotes também merecem,
porque estão dentro de si,
que os parabéns lhe enderecem -
por mais um ano completar,
com a família a aumentar.
Com mais petiz, menos petiz
merece e vai ser muito ser feliz.

O seu a seu dono

Nas minhas deambulações pela internet – não me apetece dizer navegações, porque me sugerem água ou ar e prefiro os pés assentes na terra – vou encontrando textos ou simples expressões muito interessantes, curiosos, outros pobres, com informações falsas, mesmo ridículas. Nesse entretém formativo vi escrito, algures, que Nespereira é “limitada com grande parte da freguesia de Tendais, a oriente”. Se em tudo deve existir, tanto quanto possível, absoluto rigor, nestas coisas de limites geográficos deve existir ainda mais. Isto para não se ser acusado de “mudar os marcos”, roubando território que pertence a outrem, correndo o risco de se voltar cá, depois de morto, empecilhar a vida de quem cá fica, como muitos acreditam. Ouvi muitas histórias destas, em pequenino, o que me leva a crer que o hábito de mudar os marcos era mais ou menos trivial, como o era roubar as águas de rega, actos que conduziram a muitas sacholadas, que em alguns casos redundaram em mortes. Ainda hoje não faltará por aí quem ouse aumentar uns palminhos de terra alheia, seja pública ou privada, ao seu património.
Bom, voltemos às confrontações de Nespereira. Confrontado com esse falso, para mim, limite da minha freguesia, aguçou-se-me a curiosidade e fui parar ao sítio da Câmara Municipal de Cinfães. Fiquei estarrecido, quase receoso de que eu fosse muito mais ignorante do que me julgo. É que lá encontrei escarrapachado: “A Freguesia de Nespereira confina com a freguesia de Alvarenga, do concelho de Arouca e parte da freguesia de Tendais, a oriente”.
Embora absolutamente convencido de que tal informação era um rotundo erro, fui verificar mapas do concelho de Cinfães, alguns estampados em publicações da própria Câmara Municipal, como no seu sítio, na internet, com as suas dezassete freguesias com os seus limites assinalados e em nenhum, Nespereira e Tendais se tocam. A oriente de Nespereira está a freguesia de Alvarenga do concelho de Arouca e, a norte, as duas freguesias são separadas pela de Cinfães. Assim é que é. Para que Nespereira confrontasse com Tendais era necessário que uma das freguesias, ou ambas, mudassem os seus marcos e roubassem território à de Cinfães. Nenhuma das três estará interessada nisso.
Tendo em atenção o que acabo de relatar verifica-se que carta de Cinfães e texto sobre as confrontações da freguesia de Nespereira não podem ser ambos verdadeiros, isto é, “não dá a bota com a perdigota”. Eu, de acordo com o que já afirmei, não tenho dúvidas de que o erro está no texto, mas esteja onde estiver, a Câmara Municipal de Cinfães tem que o corrigir e não tenho dúvidas de que o fará. Ou muda o texto, que é o que eu entendo que deve fazer, ou a carta das freguesias do concelho, se entender e comprovar que ela está errada. É importante que, ao invés de se induzir em erro ou deixar as pessoas confusas, as informem correctamente, tanto que cada vez mais se busca informação através da internet, nomeadamente estudantes, para os mais diversos trabalhos.
Feitas estas constatações, decidi ir ver o que estaria escrito no sítio da Junta de Freguesia de Nespereira – não me venham cá com a Junta de Freguesia da Vila de Nespereira, que isso é outro erro “maior do que a Torre dos Clérigos” – e li o seguinte texto, da responsabilidade do anterior executivo, pois são os seus nomes que lá estão prantados: “Nespereira é uma das maiores freguesias de Cinfães. Localiza-se a 20 quilómetros do centro do concelho, no extremo Sudoeste, atestando com Alvarenga e Bustelo (freguesia de Arouca), limitada pela serra da Franqueira, a Nascente, que a separa da localidade de Cinfães; a Norte ficam Santiago de Piães e S. Cristóvão da Nogueira, a Poente e a Sul fica Arouca que pertencem ao distrito de Aveiro”.
Bom, este texto, em termos informativos, para não referir outra coisa ou outros aspectos, é horroroso. Não consigo imaginar que espécie de informação, alguém, que não conheça minimamente a região, poderá obter com semelhante texto. Vejamos: Nespereira não é uma das maiores, mas a maior freguesia de Cinfães, embora isso não tenha grande importância. Localiza-se a 20 quilómetros - depende do local – da sede do concelho e não do centro do concelho. Bustelo é apenas um lugar, de vários, da freguesia de Alvarenga, concelho de Arouca, que confinam com Nespereira. Quem não conhecer fica com a ideia de que Bustelo é que é uma freguesia de Arouca, sem saber o que será Alvarenga. Não lhe parece que em vez de localidade de Cinfães estaria mais correcto, freguesia de Cinfães? E a Poente e a Sul não deveria estar ficam Espiunca e Alvarenga, do concelho de Arouca, que pertence ao distrito de Aveiro?
Bom, devo registar, que me resta a consolação de não ver no texto acima descrito, a confrontação de Nespereira com Tendais. Não que me incomodasse minimamente que as duas freguesias se encostassem, antes pelo contrário, só que “o seu a seu dono”.
Nesta viagem internauta, parando numa ou outra “estação”, encontrei cada pedaço de prosa, de fazer arrepiar os cabelos. É certo que nem todos têm aptidão, nem formação académica para escrever bem; é certo que quem escreve, muitas vezes, ao corrigir, não lê o que está escrito, mas aquilo que tem na cabeça. Acontece, frequentemente, comigo, cada vez que leio um texto meu, encontrar sempre algo que não está muito correcto ou de que não gosto muito. “Quandoque bonus dormitat Homerus” – Às vezes até o bom Homero dormita, isto é, não há autor tão perfeito que não cometa um deslize. No entanto, uma coisa é isso, que não tem grande mal, outra é escrever constantemente num português péssimo, com frases, inclusive, que, se as lermos exactamente como estão escritas, dizem zero.
Enfim, tenha cuidado, meu amigo, que nem toda a informação que encontra na internet, mesmo publicada por instituições públicas, é verdadeira e bem escrita. Infelizmente.

domingo, 22 de novembro de 2009

Investir na educação

Não me parece que em algum tempo, como hoje, se verificasse uma ausência tão grande de valores fundamentais como o do respeito pela vida alheia e da própria. Os únicos valores, para um gigantesco número de pessoas, têm a ver com o ter e o prazer. É o preço bem caro que todos estamos a pagar, pelo abandono das suas responsabilidades, no capítulo da educação, por parte da família, da escola, da sociedade. Este grave problema de educação sente-se em todos os aspectos da nossa vida. É a falência total da família e da escola. Pitágoras disse: “educai as crianças e não será preciso castigar os adultos”. Todavia, quem é que as educa? Em muitos casos, está mais do que visto e comprovado que a família não cumpre esse papel. É o que nos mostra aquilo que aprendemos, graças à vida. De pais que matam filhos e vice-versa; de pais que violam filhos, roubando-lhes aquilo que têm de mais importante, a pureza e inocência; de pais que roubam juntamente com os filhos ou os mandam roubar e cometem muitos outros crimes, não sendo exemplo de nada de bom, nem sequer de amor paternal, que podemos esperar senão filhos criminosos?! De professores que podem receber pouco pelo trabalho de cuidarem dos alunos, mas recebem demasiado pelo trabalho como educadores; de professores absentistas, mentirosos, incompetentes; de professores a quem já não foi prestada a educação devida, não podendo, portanto, dar aquilo que não têm; de professores que violam e assediam sexualmente os seus alunos, que é que nós podemos esperar senão cidadãos mal formados, com comportamentos desviantes?!
Perante um cenário educativo como o que vivemos, não será tão estranho o tal desrespeito enorme pela vida como aquele que vamos constatando actualmente em que nem os jovens com formação académica - pelo menos tiveram assento nas escolas secundárias e superiores – escapam. É uma tristeza, é arrepiante, sobretudo para quem tem filhos, netos e verdadeiro sentido de família, se rege por valores que, ao contrário do que alguns apregoam, não são de outros tempos, porque são intemporais, ver jovens a assassinar outros jovens das formas mais hediondas, ver jovens a suicidarem-se, às vezes por simples paixões passageiras, mas doentias, quando tinham uma vida inteira à sua frente, que poderia ser de tristezas, de sofrimentos, mas que porventura poderia ser de muitas alegrias, de muitos triunfos. Que juventude é esta que estamos a criar que não é capaz de suportar a mínima adversidade, que não suporta o não, só aceita o sim ainda que seja hipócrita?! Se a juventude é o futuro – e é-o de facto, - o que é que se pode esperar dela, se é a ela que competirá dirigir os destinos das escolas, das empresas, das forças de segurança, das forças militares, da justiça, da saúde, das autarquias, do governo?!
Se bem que ainda cá poderei andar anos suficientes para temer por um futuro pouco risonho, sobretudo em termos de respeito do homem pelo outro homem e por si próprio, temo principalmente pelos meus filhos e pelos meus netos, já que corremos sérios riscos de vir a viver num país onde o crime acontece com frequência e “por dá cá aquela palha”, os criminosos serão inúmeros e inimputáveis, em suma, um país altamente perigoso.
Relacionado com alguns destes crimes, em que têm sido autores e vítimas jovens namorados, acho curioso e algo estranho - talvez valesse a pena um estudo sociológico sério, se é que o não há – que a comunicação social nos revele, para além daqueles que nós conhecemos pessoalmente, tantos casais que se afirmem loucamente apaixonados pelo homem/mulher das suas vidas para tão depressa se separarem, aparentemente sem grande sofrimento, e por outro lado, alguns tomarem medidas extremas, ao ponto de assassinarem os companheiros e/ou se suicidarem por não aguentarem a rejeição, o fim do relacionamento. Isto não pode ser apenas fruto de paixões, de amores não correspondidos. É o desprezo doentio pelo nosso bem maior, a vida.
Urge que todos reflictam neste problema gravíssimo que nos afecta a todos; urge que se dê um novo rumo a este país, devolvendo às pessoas a capacidade de serem e viverem em família, reeducando umas, educando outras, porque umas esqueceram-no, outras nunca souberam exactamente o que é uma verdadeira família. É necessário não só devolver às escolas a capacidade de educar, mas também exigir-lhes que o façam. É necessário que a justiça investigue, com escutas ou sem escutas, como for mais conveniente, mas que o sejam apenas para uso da mesma justiça e não para serem publicitadas e proporcionarem condenações na praça pública ainda antes de o serem nos tribunais, julgue e condene firmemente quem tiver de ser condenado, absolva quem tiver de ser absolvido. É insuportável viver num país onde o laxismo, o facilitismo, o “chico-espertismo”, a impunidade são reis.
Disse Quintiliano: “Esse fraco método de educação a que chamamos indulgência destrói toda a força da alma e do corpo”.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Para onde vai este país?

Em muitas, muitas centenas de peças escritas e faladas que publiquei, é naturalíssimo que repita temas, ideias, frases. É praticamente impossível que assim não aconteça.
Como há situações, gestos, procedimentos que se repetem, alguns que não gostaríamos de ver repetidos, nem deveriam ser, mas, infelizmente, o são, vezes sem conta, é inevitável que me repita, sem dizer exactamente as mesmas coisas, obviamente. Se há temas que tenho abordado com alguma frequência, um deles é o da mediocridade e já nem me atrevo a discernir, tal a sua amplitude, se é mediocridade de uma grande parte dos portugueses, se é do próprio país. Se a mediocridade de qualquer cidadão, qualquer que seja o seu estatuto, a sua função, é preocupante, muito mais o é quando nós temos a consciência que é ela que ocupa o poder, seja ele que poder for: nas autarquias, no parlamento, no governo, em suma na política, na justiça, na administração pública, nas empresas. Então a promiscuidade entre a política, a justiça, as empresas e a comunicação social, sem escrúpulos, nivelada muito por baixo, é assustadora.
Não obstante sermos bombardeados todos os dias com a crise económica, que tem de nos preocupar, pior do que essa mas que ajuda a consolidá-la, é a crise de valores, é a falta de escrúpulos, de educação, de civismo, que faz com que se roube, atente contra a dignidade, se procedam a assassínios de carácter sem que vejamos qualquer punição para os infractores. Enquanto não apearmos do poder, sobretudo do político, do judicial e da comunicação social, a mediocridade, não me parece que este país seja verdadeiramente viável. Se tenho algumas preocupações por mim, elas multiplicam-se pelos meus filhos e pelos meus netos.
Já aqui afirmei, creio que da última vez, que me não preocupa minimamente ser escutado, até porque nunca negarei, cara a cara, aquilo que disser nas costas, da mesma forma que nunca deixei de assinar tudo quanto publico. Considero abjecto tudo quanto é publicado sob anonimato, abomináveis todos quantos, muito do que dizem, o fazem de “face oculta”. Nunca o fiz nem nunca o faria. Ainda referentemente às escutas entendo que deverão ser efectuadas de acordo com a legislação vigente e servir para efeitos de investigação judicial, mantendo-se no segredo de justiça, seja qual for o estatuto de quem está a ser escutado, para evitar suspeições, pressões, julgamentos na praça pública. Todas as pessoas, sejam quem for, têm direito ao bom nome, até que sejam julgadas, condenadas com trânsito em julgado. O que nós vemos neste país medíocre é inúmeras pessoas a serem condenadas inevitavelmente para toda a vida, na rua, ainda que, mais tarde, os tribunais as venham a reconhecer como inocentes. E que dizer do sofrimento dos familiares desses “condenados”, nomeadamente, pais, maridos ou mulheres, filhos?! Quem conseguirá medir tamanho sofrimento, quando vêem, todos os dias, os nomes dos familiares escarrapachados nas páginas de jornais e revistas, abrindo noticiários de televisões e rádios, objecto de conversas nos cafés e repartições?! Será que os responsáveis por tamanha pouca-vergonha, por tão vil irresponsabilidade, sobretudo da justiça e comunicação social, pensam nisso, não têm família?!
Refiro-me aqui expressamente à justiça e à comunicação social pelo seu papel em todo este contexto. Claro que nem a uma nem a outra podemos atribuir os inúmeros e diversificados crimes que atravessam a sociedade portuguesa, nos prejudicam a todos e envergonham, mas não encontro, cá para mim, outros responsáveis, seja pelas fugas de informação, desprezando total e impunemente o segredo de justiça, seja pela publicação, muitas vezes não apenas do que consta das investigações, mas dando asas largas à imaginação, lançando suspeições sobre suspeições, cada um gerindo a informação de acordo com as suas preferências, sejam de que tipo for, provavelmente, até, de acordo com os seus interesses pessoais, de grupo ou mesmo materiais. Se é absolutamente imperdoável, pelo menos, segundo o meu ponto de vista e, creio que de qualquer cidadão dito normal, sem nenhuma preparação específica nessas matérias, mas que pensa, que se viole constantemente o segredo de justiça, sobretudo quando se trata de pessoas com algum ou muito relevo em qualquer área da vida nacional e a avidez doentia, mórbida mesmo, com que cada órgão de comunicação social procura escarafunchar tudo e a qualquer preço, para “vender” mais, todos os aspectos da vida dos visados, sem o menor respeito, já não digo piedade, nem por eles nem pelos seus familiares, muito mais grave é nós concluirmos, sem necessidade de se ser nem muito inteligente nem perspicaz, que as violações partem dos órgãos de justiça e não termos conhecimento que alguém seja responsabilizado por isso, nem tão pouco nos darmos conta de alguma preocupação nesse sentido.
Não aceito muito bem que a comunicação social não se debruce sobre esse problema grave para os cidadãos que é a violação do segredo de justiça, mas entendo-a, porque é do seu interesse que assim seja e é, naturalmente, ela que a fomenta, que, muito provavelmente, paga para que assim aconteça. Agora, diga-me, meu amigo, que confiança se pode ter numa justiça que não investiga, não julga, não pune os crimes que são cometidos dentro do seu próprio edifício e que, não só deixa sair aquilo que deveria estar em segredo de justiça, cá para fora, como o faz em timings acertados com as forças interessadas.
Com uma comunicação social, qual ave de rapina, que se lança com uma avidez nojenta sobre os despojos mais fétidos da nossa sociedade, tornando-os mais fétidos ainda, porque rentabilizam mais do que apregoar valores, virtudes; com uma justiça com operadores que vendem segredos e se vendem como prostitutos, é caso para os providos de fé irem rezando e os outros se entregarem a qualquer dos seus deuses, amuletos ou superstições, porque o problema é sério.
Está complicado viver neste país, mais paupérrimo em termos de valores do que de bens materiais e é caso para se começar a pensar se de aqui a alguns anos, não muitos, ainda seremos um país. Não estivéssemos integrados na União Europeia e já estaríamos com ou à beira de outra revolução. Não sei se para melhor ou para pior, mas com a experiência da bem-vinda chamada dos cravos, expurgando-lhe tudo o que teve de mau e que estamos a pagar, talvez se conseguisse apear do poder a mediocridade, para bem, não apenas de alguns, mas de todos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A vitória da mediocridade

Fico arrepiado cada vez que verifico que no meu país, na minha região – e isso acontece com frequência, infelizmente – se dá tanta importância a coisas medíocres, a pessoas medíocres. Fico arrepiado, fico confuso e dedico parte do meu tempo a reflectir sobre esse facto, e sempre esbarro na incerteza da justificação para tal realidade.
Não obstante saber que é típico dos portugueses, entre os quais me incluo, achar que o que é de fora é sempre melhor do que o nosso, não tenho dúvidas de que cada vez são em menor número os indivíduos de classe superior e em grande maioria, os medíocres. Não porque me considere um perfeccionista, não porque me considere demasiado exigente, rigoroso, longe disso, mesmo assim, parece-me que para alguém sobressair da mediocridade não pode limitar-se a cumprir aquilo a que qualquer simples mortal está obrigado, isto é, honesto, trabalhador, assíduo, pontual, solidário, cumpridor das leis. Quando eu vejo glorificar, tecer loas a pessoas que nem esses parâmetros cumprem, como poderia eu pensar de outra forma que não fosse a de que estamos num país e num tempo em que a mediocridade desfila triunfante.
Entre outras conclusões que me vão aportando à mente e que algumas vezes tanto se fazem como logo se desfazem como bolas de sabão, neste momento, parece-me de relacionar tal facto com a referida maioria de medíocres existente. Sendo eles, efectivamente, a maioria – já dizia Pierre Beaumarchais que “os medíocres e oportunistas vão a todo o lado” – é naturalíssimo que eles se protejam e dêem realce, destaque, aos da sua estirpe. Talvez a principal característica dos indivíduos medíocres é não conseguir reconhecer a superioridade dos outros. Mal vai ao mundo quando são os medíocres ou mesmo maus a servirem de exemplo, ignorando os bons. Tenho uma dúvida, aliás tenho muitas dúvidas, mas aquela a que agora me reporto é a seguinte: não sei se os espíritos medíocres realmente não conseguem reconhecer a superioridade dos outros, pelo simples facto de serem medíocres, ou porque não têm interesse nesse reconhecimento, precisamente para se tornar mais fácil a sua valorização pessoal e a dos seus iguais.
Alguns dos medíocres, não se lhes conhecendo nenhuma actividade digna de registo e não reconhecendo em si próprios o atributo de nada fazerem ou pouco e mal, têm a estultícia de aconselhar outros a fazer. Quem assim procede deve presumir, penso eu, que o que fazem é muito ou, pelo menos, muito importante, enquanto que aquilo que outros façam, mas não integre o seu lobby, por mais importante que seja, é desvalorizado. Falo conscientemente em lobby, porque acredito piamente que existe, se calhar um pouco inconscientemente, um lobby dos medíocres. Só assim é possível a mediocridade sair vencedora sobre a superioridade e ser praticamente ela a ocupar o poder.
É normal confundir-se pessoa medíocre com pessoa ordinária, insignificante. Efectivamente, é isso que, com frequência, se verifica, no entanto a minha reflexão tem mais a ver com o mérito, a competência, para o exercício de determinadas actividades do que propriamente a bondade ou maldade das pessoas. O que é que eu quero dizer com isto é o seguinte: pode haver pessoas sérias, trabalhadoras, solidárias, respeitadoras que eu considere medíocres no que respeita à capacidade, à competência, ou seja ao mérito para desempenhar certas funções, para assumir determinadas responsabilidades. Se de facto elas não têm essas aptidões, por muito boas pessoas que sejam, e como tal devem ser respeitadas, nunca deveriam ser chamadas a desempenhar tais tarefas, nem elas as deveriam aceitar e, muito menos, colocá-las num pedestal.
Há uma coisa muito pior que acontece com os medíocres, e aqui já não me reporto apenas aos que não têm aptidões, mas incluo os oportunistas, aqueles que de facto o são a toda a linha. Normalmente são velhacos, invejosos, mas também ambiciosos, e como não conseguem, pelos seus méritos, alcançar a superioridade de outros, na hipótese mais doce, menos maldosa, fazem tudo para que essoutros sejam ignorados, esquecidos, ou, na hipótese mais vil, caluniam. É a técnica do como não posso atingir a tua altura, rebaixo-te e já fico mais alto.
Só quem andar muito distraído ou não tiver por hábito reflectir sobre o comportamento das pessoas é que não se dá conta desta triste realidade.
No fundo o que está a dar e é por isso que muitos lutam, é a aparência. Fartamo-nos de constatar que o que se valoriza é aquilo que se parece e não aquilo que se é. Não sei se isto é exclusivo dos portugueses, se à escala global, mas por cá, é inegável que se valoriza com mais frequência a aparência do mérito do que o próprio mérito.
Veja, meu amigo, que há autarquias, que não obstante a generalidade dos cidadãos até poder ser positiva relativamente ao trabalho, à seriedade dos autarcas, se pensarmos bem, por falta de rasgo, de habilidade política, de risco controlado, em suma, de mérito, não estão muito mais desenvolvidas, mantendo-se deficitárias ao nível da saúde, da educação, da segurança, do ambiente, das acessibilidades, do lazer, do entretenimento. Mesmo com trabalhos considerados positivos, verifica-se nas autarquias, como se verifica no governo, parlamento, nos institutos, nas associações, que em muitos desses organismos só não se foi ou vai mais longe porque não há mérito em muitos dos seus dirigentes, que é como quem diz há muita mediocridade.
Tem dúvidas que assim é? Veja como, onde e em que condições são recrutados para serem nomeados ou sujeitos a eleições muitos dos indivíduos que povoam os organismos referidos e muitos outros que poderíamos aqui assinalar.
Bom, deixemos a mediocridade, que anda por aí de saltos altos, vestida de hipocrisia e de falas mansas, dando palmadinhas nas costas de uns e traindo outros, sorrateiramente, consoante as conveniências, para se mascarar de superioridade, que com ela jamais “sairemos da cepa torta” e vamos a outro assunto.
Afinal quem é que anda a ser escutado, é Belém ou S. Bento?
Queixava-se o inquilino de Belém de andar a ser escutado, mas, sabe-se agora, que desde há meses é o primeiro-ministro que está sob escuta nas suas conversas com Armando Vara. Não quererá a oposição acusá-lo de ter promovido tais escutas?
Embora me pareçam exageradas as escutas, atendendo aos fracos resultados que se têm obtido, é bom sabermos que tanto pode ser escutado o primeiro-ministro como o mais humilde cidadão. Pela minha parte, escutem-me à vontade. Para que ficássemos mais descansados só era necessário que a justiça fosse tão célere para os poderosos como para os humildes e que não fossem apenas estes a ocupar as prisões, mas também aqueles. Certamente, com tanta mediocridade – perdoe-me repetir o vocábulo – talvez não seja despicienda a conclusão de que apenas temos o país que merecemos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Aversão aos políticos

Se eu tivesse chegado agora a Portugal e ignorasse qual o partido que ganhara as eleições legislativas, pelos discursos dos diversos líderes, quase poderia apostar que qualquer um deles tinha vencido. As afirmações de tais actores pretendem fazer-nos crer que, mesmo com seis, sete, nove ou dez por cento do eleitorado, as suas propostas terão de ser concretizadas. Então, onde cabem as propostas dos que obtiveram a confiança de quarenta por cento do eleitorado?! Isto faz-me uma certa confusão. Sempre entendi que, em democracia, tudo se deve discutir em liberdade, com respeito por todas as ideias, por mais inconcebíveis que pareçam, mas depois de discutidas e votadas, vingarão as da maioria, tenha ela a amplitude que tiver, que os vencidos deverão respeitar, sem embargo de continuar a lutar em sede própria e por meios legais e legítimos para que, mais cedo ou mais tarde, vençam as suas. É este o meu conceito de democracia. Infelizmente, quer nos meandros políticos, quer mesmo em instituições particulares, fazem-se votações, cujos resultados deveriam ser respeitados por vencedores e vencidos, mas que muitos destes passam a desrespeitar de imediato. Isso é demasiado frequente, quer a nível partidário, quer a nível associativo.
Já demonstrei até à saciedade que não morro de amores pela classe política, de um modo geral, mas procuro sempre ouvi-los, lê-los, interpretá-los, observar o seu comportamento dentro e fora da actividade política, ajuizá-los. É óbvio que não os meço a todos pela mesma bitola. Há políticos, de vários quadrantes, por quem tenho enorme respeito e consideração. Há, felizmente, políticos que encaram a acção política como um verdadeiro sentido de serviço à comunidade. È a forma que encontram de melhor exercer o seu dever de cidadania, numa entrega abnegada, desinteressada em prol dos cidadãos. São as excepções, poucas, infelizmente, que confirmam a regra.
É natural que o conceito que eu faço da classe política se alicerce sobretudo naqueles que conheço mais profundamente, que andam de partido em partido à procura de “tacho”, que usam a demagogia, a mentira, a calúnia sem o mínimo escrúpulo, que hoje dizem muito bem e aplaudem os mesmos actos das mesmas pessoas que antes condenavam, que são de uma hipocrisia, impostura, falta de ética, de coragem, porque não poucas vezes se socorrem dão anonimato, sempre em nome do mero interesse pessoal e desse pecado nojento que é o da vaidade.
A minha aversão vem de antes do 25 de Abril. Quando no final da década de sessenta, princípio da de setenta, a ignóbil censura me cortava, em algumas peças do jornal Miradouro, coisas tão simples como afirmar que faltava luz eléctrica em muitos lugares de Nespereira, que faltava um fontanário neste ou naquele outro lugar, que para se chegar ou sair de um outro não havia outra alternativa que não fosse um caminho de cabras – veja, meu amigo que estávamos a falar de coisas tão simples e elementares como fontanários, para que as pessoas pudessem usufruir desse bem essencial como é a água -; quando, pelas mesmas questões e por outros escritos, sempre em defesa dos interesses do povo da minha freguesia, me tentam eliminar dos cadernos eleitorais; quando um inspector escolar, do Ministério da Educação Nacional – era assim que se chamava – me ameaça com o “olho da rua” se continuasse a escrever da forma que o fazia; quando me ameaçam chamar a GNR para me obrigar a sair de uma reunião camarária pública, que conceito é que eu poderia ter dos políticos?!
Chegou a Revolução dos Cravos e pensei, - ingenuamente, vi mais tarde, - que tocara a finados para a política suja e os políticos sabujos. Engano meu. Saudei o 25 de Abril, continuo a saudar, porque o saldo é extremamente positivo. Só que tudo se conjugou para que a minha aversão aos políticos não esmorecesse, antes pelo contrário. Logo uma corja enorme de indivíduos, alguns que conhecia como as minhas mãos, dos maiores defensores do regime salazarista – passados estes anos todos, alguns, mais ou menos sub-repticiamente voltaram a sê-lo – encostaram-se ao MDP ou mesmo PCP e procuraram sanear, utilizando a calúnia, os meios mais vergonhosos que se possam imaginar, todos quantos entendessem que lhes poderiam fazer frente nas suas ambições. Se mais não conseguiram, pelo menos aborreceram, inquietaram, perderam amigos. O mais vil “partido”, com inúmeros militantes, infelizmente, que surgiu com o 25 de Abril foi o dos “oportunistas”. Continua hoje. E esta democracia tímida, apodrecida, sem sequer ter amadurecido, não conseguiu expurgar tal praga, antes a tem deixado medrar. Tem deixado medrar e, em muitos casos, tem proporcionado a vitória da mediocridade, dos parasitas, dos incompetentes, dos interesseiros, em prejuízo dos competentes, sérios, trabalhadores, defensores do bem público, antes do privado. É um aspecto negativo que a Revolução não conseguiu sanar. Creio que só com outra revolução, não com as motivações da dos cravos, evidentemente, porque não estamos em ditadura, mas que actue sobretudo ao nível da educação nas suas várias vertentes, é que os portugueses conseguirão “distinguir o trigo do joio”, dando o pódio aos melhores e colocando os medíocres no lugar que lhes compete.
Quando esse apetite saneador e a “revolucionarite aguda”, essa autêntica sanha assassina de carácter de amigos e familiares, como se fossem inimigos desde sempre, acalmaram, muitos desses democratas “feitos à pressa”, desses auto-proclamados defensores das suas “queridas” terras e “queridas” gentes, foram-se colando a diversos partidos, nomeadamente o CDS, o PPD, sobretudo este, e também PS. Alguns, sem quaisquer outras convicções que não sejam aquelas que defendam ou aumentem o seu património e a sua vaidade, vão migrando entre os diversos partidos, consoante as conveniências de momento. Devo confessar que muitos destes, nascidos, criados e educados em pleno regime ditatorial, embora me choquem, sejam desprezíveis, não chocam tanto como aqueles que já foram criados, educados na pós-revolução e têm comportamento similar. Enfim, troca-se de política, de mulher ou marido, só se não troca de clube de futebol. Melhor, não trocava, porque os interesses que hoje se movem em volta do desporto-rei levam a que o “clube do coração” de alguns também mude de cor.
Com a balança virtual que pesa o valor dos que desempenham funções políticas a pender mais para o lado dos oportunistas e interesseiros, do que daqueles que são gente séria, correcta, solidária, que também a há, como é que eu não hei-de ter aversão aos políticos?
Seja como for, apesar de a minha experiência de vida me ter mostrado que mesmo na democracia ainda há campanhas e actos eleitorais com muitos truques salazaristas, nomeadamente junto das urnas, o que pode significar que os resultados nem sempre sejam o espelho da realidade, é bem melhor do que nos velhos tempos. Democraticamente, cabe-nos aceitar os políticos que temos, no pressuposto que eles são o produto da vontade maioritária dos eleitores, desejar-lhes a melhor sorte, mas sem que daí resulte que tenhamos de bloquear a nossa voz e a nossa pena, fechemos os nossos olhos e os nossos ouvidos. Cá por mim, enquanto me não cansar, se o não fiz antes de Abril, também não vai ser agora que me demitirei de falar, de escrever, com a consciência de que assim estarei a cumprir o meu dever de cidadania, a servir os meus compatriotas melhor do que muitos, exercendo funções políticas.

sábado, 24 de outubro de 2009

Crise ou também malandragem

Eu bem suspeitava e, aliás, já o afirmei aqui. Há muita gente inscrita nos Centros de Emprego que, pura e simplesmente, não quer trabalhar. Sobretudo em meios rurais, é ver gente, aos magotes, a viverem, despreocupadamente, dos subsídios que recebem e nem se dão ao cuidado de cultivar uma horta, umas batatas, porque terrenos não faltam. Mais, alguns, já nem se dão ao trabalho de fazer o pequeno-almoço em casa, que ficava bem mais barato do que no café ou pastelaria.
Não sei que fazem nem como fazem o seu trabalho os agentes responsáveis por proporem a concessão de subsídios, os agentes fiscalizadores. Admito apenas, pelo que me é dado observar, que, em variadíssimos casos, só pode ser muito mal feito. Também questiono o papel dos autarcas paroquiais, em tais atribuições. Parece-me que, querendo “estar de bem com Deus e com o Diabo”, ou, se preferir, não se querendo sujeitar à perda de votos, ou, admitindo este pressuposto, ainda que fraudulento, que quanto mais dinheiro vier para a freguesia, melhor, assinam qualquer declaração.
Há gente que recebe subsídios e só não trabalha porque são malandros e o subsídio lhes chega; há gente que recebe subsídios e trabalha ilegalmente sem descontos, obviamente, nem por sua parte nem dos patrões.
O povo português costuma dizer que só os pobres vão para a cadeia por roubar. Não é bem assim. Faltando, embora, muitos ricos nas cadeias, por fraudes milionárias, também muitos das classes mais desfavorecidas lá poderiam estar e não estão pelas fraudes que praticam.
Claro que não deve pagar o justo pelo pecador, porque há imensa gente que precisava de ser mais auxiliada, mas não há dúvida de que há muitos subsídios que são apenas o fomento da preguiça, como diz Paulo Portas.
Há várias coisas que são importantes e que urge fazer. Primeiro, educar verdadeiramente as pessoas para a cidadania, mostrar àqueles que fogem aos impostos, que recebem subsídios indevidos, que isso é uma forma de roubar a todos e cada um de nós; que aqueles que andam no terreno, a quem compete observar, verificar, confirmar quem necessita ou não de subsídio, que o façam com desvelo, com competência e que, periodicamente, reavaliem a situação dos que foram contemplados; que os autarcas desempenhem correctamente o seu papel e não se remetam ao mais cómodo; que instituições públicas e privadas, com capacidade para tal, requisitem essas pessoas, obviamente aquelas que estiverem em condições de o fazer, para trabalhos que são necessários: no funcionamento das próprias instituições, limpezas de estabelecimentos públicos, ruas, estradas, caminhos, florestas, ribeiros e riachos, etc.
Quem não comprovar que não pode e não aceitar, ficaria sem subsídio. Verão que passa a haver mais gente a trabalhar.
Voltando à suspeita de que eu falava no início, a cada passo ela se confirma, para além de tudo o que já afirmei atrás. Tomamos conhecimento, frequentemente, de empreiteiros a pedir trabalhadores de construção civil e não os arranjam. Todavia, nós vemos alguns por aí, deslocando-se de carro de um lado para o outro, nomeadamente para tomarem o seu café, porque vivem à custa dos subsídios que todos nós, que trabalhamos ou estamos na reforma, pagamos e eles não.
Soubemos que, em Arouca, uma fábrica de calçado teve de reduzir as encomendas porque não consegue arranjar operárias interessadas em trabalhar, mesmo com a respectiva fábrica a disponibilizar-se para dar formação aos que nunca trabalharam na área.
Afinal é só crise ou também uma grande dose de malandragem de inúmeros indivíduos que andam aí a viver à nossa custa?
O elevado índice de desemprego é uma verdade incontestável, basta vermos as empresas que vão encerrando portas ou despedindo trabalhadores. Mas que, no seio daquele meio milhar de desempregados que as estatísticas apontam, também há muitos que não trabalham porque não querem, eu não tenho qualquer dúvida, aliás, fácil de comprovar.
Há que melhorar alguns subsídios, há, porventura, que os atribuir a algumas pessoas que deles não usufruem e deles necessitam. Isso talvez possa ser feito sem novos encargos para o orçamento do estado se tomarem medidas eficazes para acabar com aqueles que são ilegítimos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O "circo" foi de férias

Está tudo muito mais calmo. Essa febre avassaladora de beijar, abraçar, dar apertos de mão, sem sequer se preocuparem com o vírus da gripe, porque um voto vale mais do que um vírus, acalmou. Voltou tudo à normalidade. O político – refiro-me aos políticos em geral e de todos os quadrantes - já não invade feiras e mercados, não bebe da malga de barro, não dança com as peixeiras, não “ajuda” nas vindimas, já não faz um ror de promessas, enfim, já não conhece o povo, aquele que provavelmente enganou e, com o seu voto, lhe garantiu a sobrevivência.
O “circo” fechou as portas, foi de férias, para regressar quando se aproximarem novas eleições, que espero sejam as presidenciais, embora nestas ele se mostre sempre com menos exuberância. Agora, alguns dos “palhaços”, trapezistas”, “malabaristas” e outros “artistas” transformaram-se em autarcas, deputados, alguns serão ministros, secretários de estado, assessores, consultores, outros ainda ficam na lista de espera, em bicos de pés, aguardando ansiosamente a sua vez de alcançar “um lugar ao sol”. Tanto abraço, tanto beijinho, tanta palmadinha nas costas é sacrifício que só se faz na esperança de um compensador lugar, ainda que sem a mínima competência para o desempenhar. E, mesmo assim, um dia hão-de ter um louvor, o nome prantado numa placa de uma qualquer rua ou avenida, mesmo um busto em qualquer praça, ainda que inventada, mesmo que o povo não reconheça qualquer mérito nem tenha tido oportunidade de pronunciar-se. Ainda há muitos laivos na democracia de muitas das nossas instituições, mas nenhum partido político tem autoridade moral para acusar o outro, porque isso se verifica facilmente em instituições dirigidas por pessoas afectas a qualquer dos partidos.
Se o “circo” fechou, ainda estão por aí, lamentavelmente, a conspurcar o ambiente das nossas praças, das nossas ruas e estradas, os cromos com as caras dos “artistas”. Em nome de um melhor ambiente visual, é bom que se não descuidem a fazer a limpeza que se impõe.
O circo está morto, mas descansem, senhoras e senhores, que o circo há-de voltar e, com ele, os mesmos e novos “artistas”, sorridentes, bem dispostos, simpáticos, a reconhecerem-vos, de novo, após um período de “amnésia”.
A diferença mais substancial que eu encontro entre os animais deste “circo” político e os do circo verdadeiro, é que aquele tem a lei da paridade, que obriga a que os sexos coabitem, neste, ao contrário, não podem coabitar animais de sexos diferentes, a não ser que sejam castrados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Filhos e enteados

Enquanto dirigentes de muitas associações que gerem pequenos clubes de futebol e de várias outras, com os mais diversos objectivos, muitas delas desenvolvendo actividades que competiriam ao poder central ou local, as ajudam a sobreviver à custa dos seus próprios rendimentos, chegando mesmo a hipotecar ou disponibilizar os seus bens, como garantia, outros governam-se “à grande e à francesa”, não digo de forma ilegal, mas imoral. Veja-se Pinto da Costa, por exemplo, que tem salário chorudo e ainda recebeu, pela conquista do título, 75% do ordenado. Há quem chame a isto verdadeiro amor ao clube. Que chamar aos outros?
Quando se pensa dar o nome de um estádio ou erigir um busto a dirigentes assim, que monumento se deveria erigir a milhares de dirigentes deste país que, privando-se a si e à sua família de muitas coisas, são, com o seu dinheiro, o sustentáculo de outros milhares de associações?! Em grande parte dos casos, ao invés de reconhecimento, dedicam-lhes a denigração.
Talvez por isso, embora não só, há, cada vez mais, dificuldade em arranjar gente competente para integrar os órgãos sociais dessas associações. Por este andar, daqui a pouco só se candidatam os que se julgam com talentos, capacidades que de facto não têm, mas sobra-lhes a vaidade e os que querem servir-se delas como trampolim que os ajude a alcançar mais facilmente um lugar no seio dessa espécie sempre muito apetecível para alguns, mas cada vez menos credível, a dos políticos.
Realmente, este mundo está prenhe de injustiça, de ingratidão. Louvam-se os discursos ocos, os gestos, os actos insignificantes, ignoram-se as palavras que gritam por liberdade, por justiça, por igualdade de direitos e oportunidades, porque são incómodos, não se relevam os actos sublimes, às vezes mesmo heróicos, porque incomodam a consciência dos que nunca encontraram nada dentro de si que servisse para ajudar o próximo, porque, para esses, não existe o outro, só existe o eu.
É como a valorização hipócrita, pouco inteligente do ter, mais do que o ser, a valorização do volume que se dá, sem equacionar o valor que cada dádiva representa para o seu autor. Creio que ninguém duvida que uma oferta de 100 euros de uma determinada pessoa representa um grande esforço, um grande sacrifício, mas uma enorme vontade de ser solidário. Por sua vez, uma oferta de 10 000 euros pode não representar qualquer sacrifício para outro, que, aliás, pode fazê-lo por mera vaidade. É óbvio que para a instituição é bem mais importante 10 000 euros do que 100. Mas será justo que, pura e simplesmente, sem olharmos às possibilidades de cada um, relevemos mais o que deu a maior importância?! Cá para mim, se bem que aprecie ambos os gestos, desde que a vaidade, o desejo de protagonismo fique de fora, valorizo mais o gesto do que deu os 100 que, provavelmente até teve de se privar de alguma coisa para fazer tal oferta.
Disse Cesare Cantú: “O dinheiro consagrado à beneficência não tem mérito se não representar um sacrifício, uma privação.”
Para se evitarem injustiças, bom era que se resistisse à tentação de qualificar as pessoas, o que é quase impossível neste tipo de sociedade em que vivemos, apenas pelos valores que têm ou que dão.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rescaldo das autárquicas

Está na hora de balanço das autárquicas. Soltaram-se risos, foguetes, escancararam-se os braços, mas também se derramaram lágrimas, se fecharam rostos. É assim em todas as competições: quando uns ganham é porque outros perdem. Em eleições democráticas não deixa de ser de outra forma, não obstante sermos frequentemente surpreendidos com argumentações que nos parecem fazer crer que todos ganharam. Seria fantástico se isso significasse que, independentemente do número de votos conquistado por cada um dos partidos, todos entendiam que, pela contribuição que deram para a estabilidade e reforço da democracia, mereciam o epíteto de vencedores. Mas não, não é nada disso. Cada um, ou porque teve mais votos, ou mais câmaras, ou mais juntas, ou simplesmente porque perdeu menos do que anteriormente, se acha vencedor. Tudo se aceitaria sem grande dificuldade se os dirigentes partidários e seus mais importantes militantes fossem coerentes. Nada disso, agem e reagem consoante as circunstâncias, optando por valorizar sempre o aspecto que lhes é mais favorável. Entre muitos outros exemplos que poderia apontar, vou socorrer-me apenas deste: o Partido Socialista ganhou as últimas eleições legislativas, isto é, elegeu mais deputados do que qualquer outro, nomeadamente o PSD. Ferreira Leite e seus correligionários, porque o PS elegeu menos deputados do que nas legislativas anteriores, apressaram-se a apregoarem aos quatro ventos que o Partido Socialista sofrera uma derrota estrondosa. Poderia ser um ponto de vista aceitável se funcionasse sempre. Mas não. Nestas autárquicas, o Partido Socialista ganhou menos Câmaras e Juntas do que o PSD. Perdeu. Todavia, ganhou várias, relativamente às anteriores eleições e até foi o vencedor em número de votos, ao contrário do PSD que perdeu algumas. Assim sendo, se Ferreira Leite fosse coerente deveria assumir que o partido socialista também foi um grande vencedor destas autárquicas e, pela mesmíssima razão, o PSD, um dos derrotados. É esta incoerência, a juntar a muitos outros factores, que torna a classe política pouco credível.
Quanto aos outros partidos, excluindo a CDU que tem alguma importância a nível autárquico, sobretudo a sul do Tejo, CDS e Bloco de Esquerda comprovaram que continuam sem força nas autarquias e, assim sendo, não se poderão arvorar como grandes partidos nacionais. Uma Câmara Municipal para cada um é pouquíssimo. E, no que toca ao CDS, alguma da fraca projecção que consegue é por força do seu encosto ao PSD. Também não sei se tal encosto que lhe proporciona uns vereadores e alguns elementos em assembleias de freguesia é realmente vantajoso, porque embora sejam elementos do CDS, a força que emerge sempre é o PSD. Basta analisar o número de câmaras que são atribuídas ao PSD. Várias delas foram conquistadas com ajuda dos votos do CDS, de outra forma talvez o não fossem, mas a contabilidade vai inteirinha para os sociais-democratas. Mais um motivo para que Ferreira Leite não tenha tanta razão para cantar vitória.
Também a nível autárquico, Viseu, o meu distrito, está a ficar um alaranjado desbotado, com alguns concelhos a elegerem, pela primeira vez, presidentes de Câmara socialistas.
Quanto ao meu concelho, Cinfães, se tinha como garantida a reeleição de Pereira Pinto, a derrota arrasadora infligida ao PSD já pode ter alguns laivos de surpresa. Mas se tivermos em conta a campanha triste dos sociais-democratas em que não se vislumbrou sequer um manifesto eleitoral, resumido que fosse, e a pobreza da sua caravana de final de campanha, deixavam antever um final pouco feliz. Terão faltado argumentos a Laureano Valente para fazer um combate mais cerrado a Pereira Pinto, mas também foi nítido que não teve o apoio suficiente dos responsáveis do partido, ao contrário do que aconteceu há quatro anos em que até o líder distrital se candidatou à Assembleia Municipal, embora tenha valido de pouco. Significa isto que Pereira Pinto teve mérito na sua estrondosa vitória, mas também foi ajudado pela fraqueza da candidatura adversária, já para não dizer das candidaturas adversárias, pois que os seus resultados são irrelevantes, muito embora mereçam respeito. Respeito que, apesar de tudo, algumas fizeram por não merecer, dada a forma leviana, para não dizer outra coisa, como se consumaram.
Apesar de algumas queixas justificadas dos nespereirenses, relativamente a aspirações não concretizadas e uma ou outra obra que desagrada, estes, mais uma vez, entenderam que, mesmo assim, Pereira Pinto não tinha alternativa credível e não lhe negaram o voto. Não votar nele seria um perfeito “tiro na escuridão”. Eu, e sei que muitos comungam da minha opinião, lamento ter chegado ao seu último mandato com determinadas obras por concretizar, algumas das quais dificilmente se concretizarão até ao final, mas também, em nome da minha terra, que não da amizade, que essa, só por si, não me levaria a votar em quem se me não afigurasse senão o melhor, o menos mau, lhe dei o meu voto. Sei que Pereira Pinto, no fim do mandato que vai iniciar, pode ser e será julgado, mas não pagará por isso, mas tal facto não é, seguramente, razão para que ele não retribua o gesto generoso dos nespereirenses, ultrapassando o défice de realizações nesta freguesia e neste mandato passado. Saiba ele ouvir mais o povo, o povo que quer estar melhor servido em todos os aspectos e se está “marimbando” para interesses ou cores partidárias.
A votação maciça, quer em Pereira Pinto, quer em Mário Leitão é, sem sombra de dúvida, um sinal inequívoco da confiança que os nespereirenses neles depositam, mas isso não significa nem um “cheque em branco” nem uma aprovação tácita de tudo quanto decidirem fazer. O diálogo é preciso fazê-lo, não apenas com os actores políticos, se é que mesmo esse se faz, ou não serão apenas conversas de sentido único, mas com todos quantos têm opinião e estão dispostos a dá-la. Sem perder competências que os próprios eleitores lhes conferiram, mesmo assim, é necessário dar-lhes mais e melhores oportunidades de manifestarem as suas preocupações, os seus problemas, as suas opiniões. É preciso ouvi-los e debruçarem-se sobre o que ouviram e não deixar entrar por um ouvido e sair pelo outro, como frequentemente acontece.
Câmara e Junta de Freguesia do mesmo partido, ambas com maioria, não vão ter razão para atribuir a não concretização de determinada obra a boicote ou falta de colaboração.
Boa sorte para todos os autarcas porque a sua sorte será a nossa sorte.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Caravanas partidárias

Por uma questão de feitio e porque entendo que a política, mais do que de espectáculo, deve ser feita de propostas, de diálogo, de debate de ideias, de acção, não alinhei, à semelhança do costume, no desfile de fim de campanha do candidato que receberá o meu voto no domingo. Para mim não são os outdoors, os panfletos, os autocolantes, as caravanas, etc, que interessam. Todavia, não tenho dúvida, que tudo isso ajuda a conquistar votos. Não ajudei a engrossar a caravana do PS, porque, independentemente da sua extensão, a ele está destinado o meu voto. Sei que há pessoas que estão até ao fim indecisos por pequenos detalhes, como por exemplo a mobilização dos eleitores, a manifestação ou não de dinâmica de vitória, de força. Isso sendo verdade, a caravana do Partido Socialista que hoje, a meio da tarde passou à porta de minha casa, era enorme, já transportava consigo a alegria da vitória e, pelo caminho, com tamanha força, haverá conquistado alguns dos tais indecisos. É que há sempre quem não tenha outras preferências que não seja a de estar do lado dos vencedores. Por outro lado, a caravana do PSD que passou mais tarde também à minha porta foi pequena, triste, parecendo já derrotada, direi mesmo, envergonhada.
De outros partidos não me apercebi de nada.
Bom, isto foi o que eu vi, é o que eu penso, é a minha análise, não me esquecendo, todavia, que só no domingo é que as pessoas votam. Os eleitores são quem decide. Mas cá para mim – e ainda posso dizer isto, porque são menos de vinte horas de dia nove, último dia de campanha, - ninguém me tira que no dia 11, o Partido Socialista, Pereira Pinto e outros autarcas vão ter uma vitória assinalável no concelho de Cinfães. A ver vamos.

Respigo da campanha das autárquicas

Tenho tido oportunidade de conversar com eleitores dos diversos quadrantes, sobre os vários candidatos autárquicos que se nos apresentam como conhecedores de todas as maleitas que as nossas terras enfrentam e possuidores de disponibilidade, vontade e talento para as curar e o que constato é que esses mesmos eleitores não reconhecem, a muitos desses candidatos, outras competências, outros méritos que não sejam os de “coitado, é boa pessoa”. Sendo que a sua análise está correcta, dentro de dias teremos em vários órgãos autárquicos “boas pessoas, coitados”.
Bom, se calhar, do mal, o menos, porque também temos candidatos elegíveis com algum talento, alguma competência, mas que de bons pouco têm. Andam vestidos com uma carapaça. Até um dia. A quanto obriga a vontade de alcançar algum poder, ignorando as palavras de Jean de la Bruyère: “ Os cargos de responsabilidade tornam mais eminentes os homens eminentes e os que são vis ficam ainda mais vis e mesquinhos”.
Para além de muito mais que nos mostrou o ambiente de campanha, não obstante não me ter dado a observá-lo profundamente, porque, por um lado, estava bem ciente de quem merecia, mais que outros, o meu voto e, por outro, porque sou avesso a “carnavais”, sobretudo fora de tempo e de “palhaçadas” fora do circo, deu para perceber que a HIPOCRISIA continua bem viva e a medrar.
Ah! Outra coisa que se constata: para comer até os apoiantes (?!) de listas adversárias aparecem. Será sinal de fome, falta de vergonha ou excesso de apetite?
Só mais uma coisinha: nesta democracia, que já é trintona, seria legítimo esperar-se que o culto da cidadania estivesse a um nível mais elevado. Digo isto, porque integrar uma mesa eleitoral, para além de se cumprir um dever, deveria orgulhar quem a tal tarefa é chamado. Mas parece que não. Desde que se institui que tal missão deve ser paga, há quem se digladie por um “lugar à mesa”. Apenas pelo dinheiro, porque, de resto, aquilo é uma “seca”, como alguns afirmam. Parece que, neste país, cada vez são menos os que se atrevem “a dar ponto sem nó”. Assim sendo, haveremos de continuar “com muita parra e pouca uva”, mas sem que isso seja razão suficiente para que se perca a esperança de que um dia chegue, não o D. Sebastião, mas alguém que, não pelo que afirma, mas pela sua prática de vida, demonstre que de facto tem TALENTO e AMOR à terra e às suas gentes. Quando os partidos, os movimentos e outras instituições se lembrarem que há vida para além dos períodos eleitorais, que há pessoas que querem participar, aprender, ser ouvidas, talvez comecem a aparecer as pessoas certas para os lugares certos. A “rosa” deixará de ser tão “alaranjada”, a “laranja” deixará de ser tão “rosada” “azulada” ou mesmo “avermelhada”.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Campanha eleitoral autárquica

“É melhor que fale por nós a nossa vida que as nossas palavras” – Mohandas Ghandhi.
Isto vem a propósito de milhares e milhares de palavras que andam por aí espalhadas ao vento, em propagandas e mais propagandas eleitorais de candidatos, cujo perfil, cujo modelo de vida contradiz perfeitamente o que o espólio panfletário revela. Muitos nem sequer têm a mínima capacidade para serem autores dos textos que assinam. Provavelmente, alguns nem sequer os saberão interpretar devidamente. Para se chegar a esta conclusão nem sequer é necessário esmiuçar – uma palavra que “Os Gatos Fedorentos” trouxeram para a ribalta – as suas vidas. Já agora, deixe-me dizer-lhe que a entrada dos “Gatos Fedorentos” na campanha eleitoral, muito embora não mereça o meu apreço, me parece que tem algum sentido. Exactamente, porque muitas vezes a campanha nos parece uma paródia, fede e arranha.
Hoje, muitos dos candidatos não têm qualquer ideologia, nem tão pouco se podem considerar de independentes, senão não andavam a cirandar da esquerda para a direita e vice-versa, em busca do melhor encaixe para seu interesse pessoal. À falta da ideologia e da independência, socorrem-se de lugares comuns como seja o amor à terra e suas gentes. Só por isso é que se candidatam. Oh! Se nós não conhecêssemos muitos deles?!
Os que querem apenas andar na crista da onda, por vaidade, em busca de “tacho” ou “penacho”, não me merecem mais que o desprezo. Há-os, todavia, que, sacrificando a família, até interesses económicos, o conforto, o lazer, encaram a função política como um dever, uma entrega desinteressada ao serviço da comunidade. Estes merecem o meu reconhecimento, o meu aplauso. São estes e só estes que ainda existem, embora se contem sem grande dificuldade, que me levam às urnas.
Avaliando sem necessitar de ser minucioso e por isso sem grande esforço o elevado número de pessoas aparentemente comprometidos com as diversas listas, chego a esta conclusão:
De repente ficam todos impregnados de uma competência, de um talento que jamais alguém ousara reconhecer;
De repente ficaram todos impregnados de um amor à terra e aos seus conterrâneos, quando a alguns o que se lhes conhece é a inveja, a ingratidão, a maledicência, os prejuízos causados a esses mesmos conterrâneos;
De repente todos se impregnaram de uma disponibilidade que nunca se lhes reconhecera para outras tarefas, ainda que minúsculas, em prol do desenvolvimento das suas terras e da melhoria de condições, em diversos domínios, dos seus conterrâneos. Ah!, por falar em disponibilidade, é interessante constatar o atrevimento de alguns, que por apenas terem disponibilizado o nome para integrar órgãos de algumas instituições, sem que se lhes seja reconhecido qualquer feito minimamente importante, acham que isso é muito relevante. Bom, já há longos anos que eu suspeito que muitos só querem, alguns só quiseram, integrar órgãos sociais de instituições, quando pensaram em arranjar um lugarzinho no “céu”, perdão, na política.
Enfim, quem se quiser deixar enganar por palavras que às vezes os próprios a quem são atribuídas não compreendem e por outdoors mais ou menos cativantes, apelativos, que deixe. Quem não se quiser deixar enganar, que compare as afirmações com a prática de vida de cada um. Seja como for, não deixe de votar, porque nos prós e contras, mesmo com pecados – quem os não tem – sempre há-de encontrar uns que lhe inspirem mais confiança do que outros.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cavaco Silva em derrapagem

Creio que neste momento, milhões de portugueses, pensarão como eu, isto é, que só não digo que “a montanha pariu um rato”, porque a declaração de Cavaco Silva, mais pelo que não disse, mas insinuou, tem reflexos sérios na estabilidade institucional, que o PR deveria ser o primeiro a preservar. Disse, por diversas vezes, que Cavaco Silva não merecera o meu voto, mas que o respeitava como Presidente de todos os portugueses. A partir de agora não me merece o mesmo respeito, tenho dúvidas que ele seja o Presidente de todos os portugueses e congratulo-me por não lhe ter dado o meu voto. Sou mais “meigo” que Carlos Abreu Amorim que afirma “pela primeira vez, tive vergonha de ter votado neste Presidente.”
De uma declaração em que se esperava que ele esclarecesse, deixou mais dúvidas, e, à semelhança do que fez com alguns vetos em que agiu por convicção e não pela constitucionalidade ou não dos diplomas, baseou-se na sua interpretação dos factos.
O homem que “nunca erro e raramente me engano” – tem errado muito na escolha de seus amigos e conselheiros - ou está a revelar-se pouco inteligente ou de extrema má-fé, já que nada esclarece. Será que o que ele pretende é realmente nada esclarecer, porque um esclarecimento cabal lhe faria cair algumas culpas em si próprio e/ou nos seus colaboradores e, simultaneamente, deixar a porta aberta a mais suspeições sobre o PS e o Governo?
Cavaco Silva esqueceu-se ou não acredita que os problemas se iniciaram em Belém – o caso das escutas, a colaboração aceitável ou não de assessores na elaboração do programa eleitoral do PSD, o famoso e-mail, etc.?
Se Cavaco Silva tem dúvidas quanto à veracidade do e-mail, porque não mandou investigar? Um PR não deve agir com as suas informações assentes em dúvidas.O que o dito e-mail revela, ou é verdade ou é mentira. Se é verdade, eu já o disse, o mínimo que eu esperaria do PR era a renúncia. Se é mentira, os seus autores teriam de ser punidos. Que nos disse Cavaco Silva? Nada de concreto.
Quando um chefe de estado, que deve evitar conflitos institucionais, procurar saneá-los, quando existam, ao invés, os instiga, não merece a confiança dos seus súbditos. A minha perdeu-a definitivamente.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rescaldo das legislativas

Conhecidos os resultados das eleições legislativas e não me causando outra surpresa que não fosse a subida significativa do CDS/PP, ouvidos os diversos líderes partidários e outros responsáveis, parece que nem foi o PS que ganhou as referidas eleições. Todos podem encontrar argumentos para, mais ou menos engenhosamente, afirmarem que ganharam e fazer uma grande festa. Todavia, quem de facto recebeu o maior número de votos dos portugueses foi o PS. Isso é inegável. Cada eleição é uma eleição diferente da outra, feita num determinado momento, com as suas especificidades. Bem sei que também é natural a comparação com resultados anteriores, mas isso não significa, só por si, que um determinado partido, porque perdeu votos em relação a uma eleição similar anterior se considere derrotado. Ganha quem obteve mais votos, independentemente dos resultados anteriores. Bem sei que a perda de votos relativamente a outras eleições tem de ser considerada, tem um significado, que os respectivos partidos devem ter em conta. Aliás, apesar de ganhar nas urnas, creio que nenhum partido gosta de descer em relação a resultados anteriores, mas isso não pode ofuscar a alegria da vitória, nem será razão suficiente para servir de regozijo desmedido, de consolação aos adversários. Também o ganho de votos relativamente a actos eleitorais anteriores é motivo de alegria. Deve sê-lo. Mas não é honesto que qualquer partido utilize os seus eventuais êxitos, ignorando os dos adversários ou fingindo mesmo que eles não existiram.
Transportando a posição dos partidos que consideram pura e simplesmente derrota o facto de um deles ter ganho, mas obtido um resultado inferior a uma anterior eleição, para o futebol, seria a mesma coisa que os adversários considerarem que um clube que na época passada vencera outro por 5 – 0, nesta época tenha vencido por apenas 2 – 0, sofrera uma derrota. Não, não é assim. Venceu, ponto final parágrafo.
É natural, portanto, que o CDS/PP tenha revelado uma enorme alegria com o seu resultado eleitoral. Conseguiu um óptimo resultado, considerando o seu histórico e até as sondagens, que Portas desvaloriza, embora a elas tenha estado ligado. Não obstante o seu resultado lhe permitir uma posição privilegiada naquilo que pode ser um entendimento de governo, parece-me algo exagerado considerá-lo, só por isso, só porque elegeu na maioria dos distritos, um partido nacional. Acho que para atingir esse desiderato ainda tem que subir muito a nível das autarquias. Não é com os autarcas que tem, alguns fruto de coligações, senão seriam provavelmente menos, que já merece tal distinção. Pode ser que um dia lá chegue. Seja como for, Paulo Portas, com muita demagogia, mas muito trabalho, aturado estudo dos dossiers, reconheça-se, conseguiu “levar a carta a Garcia”. É daqueles a quem também assentam bem as felicitações.
Quem inegavelmente saiu derrotado desta pugna eleitoral foi Manuela Ferreira Leite e o PSD. Os portugueses mostraram que já não vão na conversa daqueles que se intitulam como senhores absolutos da verdade. A líder laranja e os seus mais lídimos apoiantes deram demasiados tiros nos pés. Sócrates e o PS tiveram muito mérito na vitória, sobretudo se atentarmos à grave crise que atravessamos e todos os casos em que procuraram envolver o primeiro-ministro, o seu governo e o seu partido, ou seja, a toda uma conjuntura desfavorável, mas não há qualquer dúvida de que houve demérito do PSD, a começar pela sua líder, dado que, mesmo quando as sondagens davam algum equilíbrio entre os dois partidos ou mesmo favoritismo do PSD, todos os estudos de opinião revelavam uma esmagadora maioria de portugueses que preferiam Sócrates para primeiro-ministro, a Ferreira Leite.
Esperemos o que o futuro próximo nos reserva, no que concerne a eventuais acordos e o seu nível, as caras que formarão o novo governo, etc.
A avaliar pela reacção dos representantes dos partidos da oposição, sobretudo CDS, BE e PCP no programa Prós e Contras, qualquer um deles, parecendo que lhe crescera o “rei na barriga”, revelou uma enorme arrogância, pouco sentido de responsabilidade. Ao ouvi-los, quem não conhecesse os resultados eleitorais, quase ficaria com a ideia de que eles teriam sido os vencedores. Considero inadmissível que partidos com 8,9,10% dos votos dos portugueses entendam que ou as suas propostas de governação se encaixarão no programa de governo ou só resta o voto contra. Então, e a vontade dos 90% dos portugueses que votaram propostas diferentes?! Ao verificar tanta arrogância, a defesa intransigente do interesse partidário a sobrepor-se ao interesse nacional, fico a pensar como se atreveram a chamar arrogante a Sócrates e imagino como seria se amanhã algum deles tivesse votos suficientes para ser chamado a formar governo. Não há quem se consiga esconder debaixo da capa da hipocrisia eternamente. Quero acreditar que esta reacção seja apenas fruto da euforia dos resultados, mas que logo, logo, todos assentarão os pés no chão.
Que uns e outros desempenhem os seus papéis responsavelmente, sem atentar contra os seus princípios ideológicos, mas tendo sempre como prioridade o interesse nacional é o que se deseja.
Bom, no rescaldo de umas eleições, aí está nova campanha. Esta dá mais colorido, mais ruído às nossas aldeias, vilas e cidades. São cartazes e mais cartazes, carros e mais carros com som, papéis e mais papéis espalhados pelo chão, pelas mesas dos cafés, pelas caixas de correio. O desenvolvimento do país depende, muitas vezes, da capacidade que as freguesias e os municípios demonstrarem para os colocar na rota do progresso. Assim sendo, não se deveria brincar às candidaturas, deveria trabalhar-se no sentido de se candidatarem os melhores, de forma que, ganhasse quem ganhasse, haveria a certeza de que os interesses das nossas terras, maiores ou menores, mais ou menos importantes, seriam bem defendidos. O que nos é dado observar em algumas terras, só não dá vontade de rir, porque o futuro das freguesias, dos concelhos e das suas gentes é demasiado sério para que, ao invés de rir, nos entristeça muito. Teria menos dificuldade em aceitar determinadas candidaturas se fossem de geração independente. Com rótulo de partidos, só não direi que fico perplexo, porque de uma grande parte dos políticos já nada me espanta. Mas que é lamentável, lá isso é. Vão ver, meus amigos, que algumas candidaturas não vão ter tantos votos como o número de pessoas que figuram nos processos entregues em tribunal. Que credibilidade nos pode merecer tais partidos e as pessoas que se prestam a colaborar nessa farsa? Que lucram?
Nos cartazes de propaganda autárquica que vamos encontrando ao longo das nossas estradas, há nitidamente quatro palavras que ressaltam em relação a quaisquer outras: rosto, verdade, confiança, mudança. Assim temos várias frases repetidas ou semelhantes em diferentes freguesias e municípios: rosto da verdade, rosto da confiança, rosto da mudança, a verdade tem um rosto, a mudança tem um rosto. Digamos, em abono da verdade, que tanta repetição, não configura grande criatividade.
De um modo geral, estas eleições, aliás como sempre e tal como nas legislativas, são muito personalizadas, isto é, assentam nos méritos, nas virtudes, que às vezes só os apoiantes mais próximos conseguem descortinar, do cabeça de lista, do líder, ignorando-se pura e simplesmente todos os outros como se apenas eles existissem para fazer número. Infelizmente, muitas vezes assim é. Alguns não valem um carapau, sem ofensa para este.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Agora o PSD que meta o rabo entre as pernas

Inopinadamente Cavaco Silva demitiu o seu assessor de imprensa, Fernando Lima. Sem que isso signifique que tudo fica esclarecido, antes pelo contrário, tal atitude tem o condão de conferir autenticidade ao famigerado e-mail. Entre muitas outras coisas que falta saber, uma delas é se Fernando Lima encomendou o trabalho jornalístico, por sua livre iniciativa ou se foi mesmo a mando do Presidente da República. Há muito que esclarecer. O PSD que se apressou a tirar conclusões precipitadas, lançando suspeições infundadas sai “chamuscado” e Cavaco não deixará jamais de sair fragilizado, independentemente do que se vier a saber ou não. A sua actuação extemporânea já não tem remédio. Ao PSD resta “meter o rabo entre as pernas” e continuar a falar de medo e asfixia democrática, pelo deserto de ideias e porque, no fundo, muitos são os mesmos que noutros tempos amedrontavam as pessoas, afirmando que os comunistas comiam crianças ao pequeno almoço.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Campanha eleitoral - mais casos do que ideias

Esta campanha que vem decorrendo, para as legislativas, tem sido feita mais de casos do que de ideias e propostas, com excepção das demagógicas. Há um partido que, no que respeita à exploração de casos, e, sem o mínimo de ética, de pudor, se destaca de todos os outros, transformando meras suspeitas em verdades absolutas, num comportamento que só pode ser apelidado de execrável. Refiro-me ao PSD. De facto, tal partido já demonstrou à saciedade que não tem ideias, nem propostas, alicerçando, por isso, a sua campanha na exploração dos referidos casos e nos ataques pessoais, e, ainda, no mais baixo populismo, ao referir asfixia democrática, medo, comparando Sócrates a Chávez. Se o povo português estivesse asfixiado democraticamente, se tivesse medo, provavelmente não se diriam nem escreveriam tantas asneiras, não se atentaria tão impunemente contra a dignidade dos outros, não se fariam as afirmações injuriosas que se fazem, não se realizariam tantas manifestações em total liberdade, mas algumas delas, quer pelas razões, quer pela oportunidade, absolutamente injustificáveis.
Debrucemo-nos no caso mais recente. Recente, porque, embora reportando-se a uma situação de há mais de um ano, ou seja, a eventualidade de o Presidente da República andar a ser vigiado pelo Governo, só agora apareceu, estrategicamente na comunicação social e não foi, com certeza, por obra e graça do dito Governo. Ora, sem quaisquer provas de que tal espionagem seja verdadeira, o PSD, dono de todas as verdades, segundo quer fazer parecer, dá como certo que tal facto é verdadeiro, sem que alguém, a começar pelo próprio Presidente da República, tenha a certeza de nada. Para o PSD, caluniar, deturpar, desinformar, é tão natural como beber um copo de água. Mas já agora, deixe-me fazer este raciocínio: relativamente ao e-mail publicado na comunicação social, em que um jornalista pede a outro jornalista que forje uma determinada notícia a pedido de um assessor do Presidente da República, por sugestão deste, ainda ninguém negou que isso tivesse sido forjado. Assessor, de nome Fernando Lima, jornalista, que enquanto director do Diário de Notícias terá impedido a jornalista Fernanda Câncio de publicar uma crónica negativa sobre Manuela Ferreira Leite. O homem tem currículo. Quero afirmar com toda a veemência, o que já fiz por diversas vezes, que não obstante Cavaco Silva não ter merecido o meu voto, ele é também o meu Presidente da República e respeito-o como tal e nem quero acreditar que ele se prestaria a tal papel. De qualquer forma, porque é que os elementos do PSD que se apressaram a condenar o governo, não têm manifestado a mesma postura em relação a Cavaco Silva?! Meu amigo, se vier a provar que o governo mandou espiar o Presidente da República é muito grave e este deveria tomar as medidas adequadas, em tempo útil, o que não me parece que possa acontecer. Todavia, se provar que o Presidente, ao invés de tomar as medidas adequadas para o efeito, se algum dia pressentiu que andava a ser vigiado, fez aquilo que o referido e-mail reporta, o seu crime não é menos grave e só tem uma saída digna: a renúncia. Portanto, é lamentável que o PSD só refira um aspecto, só veja num sentido. Não somos ingénuos ao ponto de pedir absoluta isenção aos partidos, mas que pelo menos tenham uma migalha de dignidade, de honestidade intelectual.
Quem não fica nada bem nesta fotografia é uma certa classe de jornalistas, que instrumentaliza, que se deixa instrumentalizar, isto é, está disponível, como diria o povo da minha terra, está de pernas abertas para fazer os mais asquerosos, mais deploráveis fretes, que desce ao nível mais baixo de alguns políticos. Nomeadamente, o director do Público que a uma hora lança uma grave afirmação de que o jornal estava sob escuta para mais tarde reconhecer que não houve nada de anormal no jornal. Não é este jornalismo que forja, que manipula, que mente, que Portugal precisa.
Deixe-me, no entanto, continuar a reflectir no assunto, porque ele se me afigura demasiado importante para que não façamos uma reflexão muito séria e aprofundada, ficando o jornalismo para outra ocasião. Creio que nada se vai decidir antes das eleições, que se realizarão daqui a quatro dias. Seja qual for o partido vencedor, ainda que seja o Partido Socialista, teremos um novo governo que, em termos legais, nada terá a ver com o actual. Imagine agora que se vem a comprovar que o governo pecou e Cavaco Silva está isento de qualquer culpa. Vai punir o próximo governo?! Embora não tenha formação jurídica, não me parece que o possa fazer, daí que a única resposta possível é “não pode”.
Imagine agora outra situação. O governo errou e se tudo o que o e-mail diz se confirmar Cavaco Silva também errou. Que legitimidade teria este para tomar qualquer atitude em relação àquele?
Repare na última situação. Vem a comprovar-se que apenas Cavaco Silva errou. Que fazer?! Pense em tudo isso.
Recordo a frase de Abraham Lincoln: “Há momentos na vida de qualquer político em que o melhor que pode fazer é não descerrar os lábios”.
Já agora, pelo andar da carruagem, e também não é novo o que vou dizer, Cavaco Silva ou tem muito azar com a escolha dos amigos, conselheiros, assessores, etc., ou é demasiado ingénuo, atributo que ele refuta, mas que, a existir, não é grande referência para um Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa veio à liça, com toda a legitimidade, fazer campanha pelo seu partido. È a obrigação de todos os militantes. Não concordando com ele diversas vezes, é um comentador que eu aprecio e que só não vejo e não oiço quando me é impossível. Esse sabe o que é um certo atentado à liberdade de expressão, no tempo em que o seu partido era governo. Bom, mas não é por aí que eu quero ir. Percebo que Marcelo Rebelo de Sousa pense que um qualquer governo minoritário não dure mais de dois anos. O que não percebo é que só não durará mais de dois anos se não for do PSD. Ora essa! Porque raio de diabo é que se o governo fosse do PSD duraria mais de dois anos? Será que, não sendo o Professor Marcelo da área das matemáticas, ande com dificuldade em fazer operações?! Acho que, neste momento, ninguém ousará contestar que, sejam quais forem os resultados eleitorais, a maioria será de esquerda. Não parece que PSD e CDS consigam maioria. Portanto, mesmo tendo em conta as dificuldades de entendimento entre PS, Bloco de Esquerda e CDU, eles em maioria, dificilmente deixariam cair um governo minoritário PS, para a eventualidade de o entregarem nas mão do PSD. “Dente lúpus cornu taurus petit” – o lobo ataca com os dentes, o touro com os chifres, isto é, cada um defende-se como pode.
Faça você a escolha que fizer, não deixe de ir cumprir o seu dever, no próximo domingo. Não deixe a responsabilidade de escolher quem quer na Assembleia da República e para nos governar, nas mãos dos outros.