segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mais uma tragédia

Ninguém terá ficado indiferente à tragédia que no final da semana transacta ceifou a vida a cinco pessoas, com a derrocada de uma falésia na praia Maria Luísa, em Albufeira, sendo que quatro eram uma família completa: um casal e suas duas únicas filhas. Como qualquer pessoa normal e apesar de já ter estado envolvido mais directa ou indirectamente em algumas tragédias, não deixo nunca de me chocar, de me entristecer, de reflectir. E reflectia sobre esses temas que parece colher pouco interesse de quase toda a sociedade portuguesa, desde pessoas com responsabilidades várias até ao cidadão comum, que são prevenção e segurança. Não me canso de reflectir sobre isso, não me canso de alertar, mas, infelizmente, parece que continua a ser uma fatalidade dos portugueses pensar que as coisas sempre acontecem aos outros e nunca aconteceriam naquele momento em que estão ou vão a passar. E as pessoas do poder, dos vários poderes, parecem afinar pelo mesmo diapasão. Vão postergando, colocando umas placas, o que nem isso sempre se verifica, e um dia a tragédia acontece. Foi assim em Entre-os-Rios, onde nem só as condições climatéricas adversas poderiam ser responsabilizadas, são viaturas automóveis que caem em ravinas, por falta de barreiras de segurança, foi agora a tragédia do Algarve.
Nem uns nem outros se devem desresponsabilizar. O cidadão que vê uma placa a anunciar perigo e não dá importância ao facto sofre de incúria, que muitas vezes é fatal. E, se nós todos, simples cidadãos até temos a noção de que o poder, seja local ou central é muito mais de pecar por falta de zelo do que por excesso dele, seria natural que pensássemos que uma placa a indicar perigo, poderia significar muito perigo ou perigo iminente. Devíamos, pois, cuidar-nos. Por sua vez, o poder, só porque colocou umas placas de aviso, não deve, não pode ficar com a consciência aliviada. Há situações, como se verificou agora em Albufeira, que mais do que colocar avisos deveria ter-se evitado ou eliminado as causas do risco. Os simples avisos não eliminam as causas. Neste aspecto, meus amigos, quer o poder central, quer o local têm enormes responsabilidades. Ao poder local cabe um papel muito importante na resolução desses problemas. Ainda que, em muitos casos, não lhe compita a ele a solução, compete-lhe, pelo menos, porque conhecem ou devem conhecer melhor do que ninguém os problemas da sua freguesia, do seu concelho, alertar e exigir do poder central a resolução dos problemas. Infelizmente, nem sempre assim acontece. São, muitas vezes, as autarquias, os responsáveis pela criação de condições de insegurança, outras vezes por não eliminar os riscos, ou mesmo permitir que eles se criem, como é, por exemplo, nós assistirmos a construções em cima de linhas de água. Há um défice enorme na cultura da prevenção/segurança.
A talhe de foice, deixe-me dizer-lhe que, depois de vários protestos, a Direcção de Estradas de Aveiro, no primeiro semestre de dois mil e oito, comprometeu-se a colocar barreiras de protecção na estrada nacional número 225, no segundo semestre desse mesmo ano. Estamos no segundo semestre já de 2009. Nem uma barreira foi colocada. Se acontecer um despiste grave, sempre arranjarão uma qualquer desculpa. Oxalá que tal não venha a suceder, mas se vier a verificar um grave desastre, mesmo que nada tenha a ver comigo nem nenhum familiar, se a lei mo permitir, não hesitarei em intentar uma acção criminal.
Deixe-me dizer-lhe outra: Como se fosse pouco, a horrenda reabilitação do largo da Feira, em Nespereira, a segurança também foi “mandada às malvas”. Colocaram umas grades frágeis e, pior do que isso, com um espaço enorme, permitindo que qualquer criança possa cair daqueles muros altíssimos, que bem desnecessários eram. E mais ainda: a meio da curva, logo que termina a rampa que dá acesso à adega do Café Lima, aparece a beira do passeio, cortada na vertical. Pronta a que os automobilistas lá batam com a roda do lado direito da frente, o que, não obstante a sua vida recente, já aconteceu, e possa ter consequências mais ou menos graves. Quando uma Câmara Municipal não revela qualquer sensibilidade para as questões de prevenção e segurança, quando ela própria é a criadora dos riscos, que confiança podem ter os munícipes e como é que ela lhes pode fazer determinadas exigências, nas obras que tem de licenciar?! “Bem prega Frei Tomás…” Parece que estamos condenados a que, quem mais precisava de ter olhos, pelas funções que desempenham, os não tenham. Triste sina. Seria bom que nas campanhas eleitorais que se avizinham, as questões de prevenção e segurança, nas mais diversas áreas, não fossem esquecidas. Por candidatos e eleitores. Há muitas vidas que se perdem só porque se deixam persistir riscos que nem eram tão difíceis, nem onerosos de eliminar. Não eliminar os riscos conhecidos pode ter consequências muito graves, como destruição de bens móveis ou imóveis, ferimentos em pessoas que podem provocar imobilidade, incapacidade para o trabalho, ausências ao trabalho, despesas com tratamentos, morte de pessoas, nomeadamente até de elementos das forças de socorro, alteração do meio ambiente, dispêndio de recursos financeiros elevadíssimos, etc. É só ver o que acontece com os incêndios florestais que destroem, ano após ano, valioso património, alteram o meio ambiente, e gastam-se milhões no combate, só porque, por mais promessas que todos os governos tenham feito, ainda não houve, até hoje uma verdadeira, séria política de eliminação dos riscos.
Voltando à tragédia de Albufeira, dela tendo tomado conhecimento, eu e minha mulher procurámos contactar, de imediato, o meu filho, que com minha nora e netos também se encontravam em Albufeira. Estavam no Zoomarine, felizmente. Então, comentávamos a dor que deveria ser desaparecer de forma tão estúpida uma família. Nem sequer ligámos aos nomes, mas fossem eles quem fossem, mereciam a nossa dor, a nossa solidariedade. Aliás, já tínhamos passado, há pouco mais de trinta anos, por uma situação desse género: Numa sala de sua casa, quatro urnas com os cadáveres do meu padrinho e primeiro professor, sua filha, seu genro e sua neta. É uma situação arrepiante, são momentos de dor enorme.
Ao início de noite de sábado, soube, através do telefonema de uma prima, que afinal quem tinha sido soterrado era a minha também prima Anabela, seu marido António e suas duas filhas, a Ana Rita e a Mariana. No domingo, logo às dez da manhã estava em Britiande, Lamego, terra da naturalidade de meu pai, procurando dar algum alento a alguns familiares mais próximos do que eu, integrado naquela enorme manifestação de dor, aumentada pelo desespero do pai da Anabela, o Zeca da Zulmira, como é conhecido, nos seus 84 anos, já viúvo, que de uma assentada perdeu sua filha única, seus netos e genro, ficando só. As coisas não acontecem só aos outros, temos de nos convencer disso.
Muitos de nós, que tantas vezes nos queixamos por tão pouco, é bom que reflictamos mais sobre o que acontece aos outros e concluamos que a maioria das vezes, as nossas dores, as nossas mágoas, os nossos problemas são coisas ínfimas, se comparados com os deles.
Se estes casos trágicos ao menos servissem para que os diversos elementos do poder político e cada um de nós mudassem o comportamento, talvez se pudesse dizer que as mortes não teriam sido em vão. Infelizmente, a experiência diz-nos que, no imediato, se faz alguma coisa, mas a memória é curta e, quase sempre, rapidamente tudo se esquece e voltam os mesmos problemas.
Já agora, porque falei em mudar o comportamento, parece-me que, no acidente do Algarve, apesar do que disse atrás, os vários elementos intervenientes no socorro e a comunicação social estiveram bem melhor do que em Entre-os-Rios Desta vez, não se ouviram as perguntas disparatadas que se fizeram aquando da queda da ponte. Ainda bem. Até os mirones foram imediatamente impedidos de complicar os trabalhos de quem estava ali apenas para socorrer e informar. Creio que terá sido uma lição que se colheu de Entre-os-Rios, o que faz com que essa tragédia não tenha sido totalmente em vão.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

As listas

“Alea jacta est” – está lançada a sorte. Estão entregues as listas de candidatos por partidos ou movimentos independentes para as eleições autárquicas. Depois de namoros e namoricos, dos oferecimentos de uns, da colocação em bicos de pés de outros, das zangas de outros tantos, das mudanças de cor, imitando os camaleões, de outros ainda, da aceitação despreocupada e irresponsável de alguns, dando o nome, apenas para ajudar a compor o “ramalhete”, daqueles que se propõem, “desinteressadamente”, apenas por, nalguns casos, repentino amor à terra e aos seus concidadãos – coisa de que nunca ninguém dera conta – já se sabe quem se propõe a prestar-nos contas pelo que fizerem ou deixarem de fazer, em tudo o que for de sua obrigação ou competência. Uns estarão mais felizes do que outros, seja porque de facto os nomes propostos lhes agradam, seja porque são pouco exigentes, seja ainda porque imaginam o papel do autarca menos importante, com menor responsabilidade do que aquela que realmente tem. Será até exactamente por este último aspecto, isto é, por ignorarem a responsabilidade que cai sobre os ombros de um autarca, aquilo que ele pode e deve fazer, pelas competências que tem e pela influência, pela capacidade de pressão que deve exercer sobre os órgãos superiores que têm poder de decisão em matérias que ele não tem, que alguns cedem o nome para completar as listas e acham que para ser autarca qualquer “calhau com dois olhos” serve. Bem, há casos concretos em que parece que de facto assim é. E não devia ser, porque é exactamente na gestão autárquica, ao nível de freguesia, que começa ou não o verdadeiro desenvolvimento territorial, social, cultural, económico. Quem se der ao trabalho de reflectir sobre essa matéria e estudar, ainda que superficialmente, o desenvolvimento de cada uma das freguesias de um determinado concelho, verificará que, com os mesmos apoios camarários, em termos proporcionais, alguns autarcas tiram o máximo proveito disso, dinamizam as populações e as forças vivas, interagem com o município, quando isso é de interesse, sem olhar a cores partidárias, avançam; outros, como diz o povo, limitam-se a gerir “o que cai do céu”, quando não mesmo malbaratar e “não saem da cepa torta”.
Voltando ainda às listas para as autárquicas, neste ano, tornou-se mais complicada a sua elaboração, dado que para cumprir o que está estabelecido sobre a paridade e de que eu já falei, não podem figurar mais de dois elementos consecutivos do mesmo sexo. Sabe-se que alguns responsáveis tiveram dificuldades em conseguir mulheres, acontecendo que algumas apenas deixaram utilizar o nome, como já se disse, mas sem qualquer espécie de comprometimento. Ouvi coisas como estas: “está lá o meu nome, mas quero lá saber quem vai ganhar; se calhar até vou votar noutra lista”. Deixe-me dizer-lhe, no entanto, que já ouvi homens fazer o mesmo tipo de afirmações. Quando uma lista de um partido, cujo nome não interessa referir, tem menor número de votos do que o número de pessoas que integravam a respectiva lista, que se há-de dizer?!
Isto leva-nos a pensar que para algumas pessoas, determinadas formalidades da democracia, que teriam, deveriam ser encaradas de uma forma muito séria, não passam de mera “palhaçada”. É uma tristeza que vem confirmar aquilo que, por diversas vezes denunciei: a maioria dos partidos, pelo menos ao nível concelhio e de freguesia, não trabalha, não se preocupa em preparar gente capaz de liderar, de dirigir uma freguesia, um município. Os respectivos líderes partidários devem ser apologistas da táctica de quantos menos a reinar melhor, para assim porem e disporem a seu bel-prazer, na certeza de que nunca lhes faltarão “ovelhas” submissas para ocuparem os lugares. E, à boa maneira salazarista, quanto menos instruídos forem, mais subservientes serão. Mais, até lhes convém ir “arrebanhar” algumas “ovelhas” que já “pastaram” noutros prados, quer dizer partidos, onde não puderam trepar tão alto quão altas são as suas ambições, não obstante tão baixas competências. E sabe porquê? Porque também a esses é fácil controlar, porque, como não fazem parte das hostes militantes, eles sabem que à menor insubmissão ou deslealdade “vão de vela”.
É política à portuguesa de alguns portugueses: se me não arranjarem um tacho, arranjem-me um penacho, que, pelo menos, já dá para ficar emproado.
Relativamente às listas das legislativas também há coisas interessantes. Manuela Ferreira Leite não pode mais ser levada a sério, não pode mais transportar consigo a imagem de rigor, de transparência, de sentido de estado, depois de algumas afirmações e tomadas de posição de que é autora. Depois de meter nas suas listas indivíduos com os crimes cometidos que cometeram, como é o caso de António Preto – jornalistas conceituados como Mário Crespo e Ricardo Costa escrevem-no com todas as letras e ninguém os chamou à justiça por isso – e afirmar, justificando a sua decisão, que nenhum dos crimes foi cometido no exercício de actividade política, é pura e simplesmente inacreditável. Para mim, pelo menos. Então, um deputado pode sê-lo ainda que tenha cometido os mais graves crimes, desde que não tenham sido no exercício de uma actividade política? Bom, eu sugeria à doutora Ferreira Leite que procurasse nas cadeias, que, entre a enorme comunidade detida, sempre lá haveria de encontrar alguns que satisfizessem os seus requisitos, provavelmente com “menos culpas no cartório” do que o seu grande amigo Preto. O problema está no ser ou não ser amigo, que tem muito pouco a ver com competência, com seriedade.
Conhecidos estes factos, interrogo-me como é que Aguiar Branco tem a desfaçatez, a falta de pudor de afirmar que “o governo, em muitas áreas está sob suspeita”? Não seria mais sensato, antes de falar, olhar primeiro para o que se passa em sua “casa”?!
Já agora, mais uma, reveladora do baixo nível de alguns políticos. O Correio da Manhã, de Verão, tem uma pequena coluna “Freud ao sol…” em que, diariamente, apresenta seis perguntas, sempre as mesmas, a uma determinada pessoa, todas mais ou menos conhecidas. Na edição desta última segunda-feira, à pergunta “Está desacompanhado na praia e quer ir à água. Cava um buraco para esconder a carteira ou confia na honestidade dos outros?”, o presidente da Juventude Social-Democrata, Pedro Rodrigues, respondeu: “Olho em redor para me certificar que não está por perto o engenheiro Sócrates e se assim for vou descansado”. No seu partido é capaz de ir longe, o moço. Agora, ele teria dado um tiro muito mais certeiro se dissesse que se iria certificar se não estaria por ali o seu companheiro Preto. Enfim, isto dos políticos é calinada sobre calinada.
Curioso, também, é atentar nas palavras de Pacheco Pereira, sempre feroz e implacável para com os seus inimigos, nomeadamente companheiros do seu partido, responsável por divisões várias, apelando ao esquecimento dos erros recentes do PSD, já que “é o país que está primeiro”, isto é, o dianho do homem primeiro ajuda a tirar o “tacho” a todos aqueles com que ele ou a chefe não simpatizam, de seguida apela à união para derrotar Sócrates “nem que seja apenas para inverter algumas políticas”. Este Pereira não dá peras mas tem lata.
Estão-se a acabar as festas por tudo quanto é igreja ou capela, vêm aí as festas e festinhas dos políticos. Ponha-se a jeito e vai ver quantos beijinhos, abraços e apertos de mão vai levar. Bom, se lhe der jeito ou gostar de andar nessas confusões, lembre-se da gripe suína…perdão, do vírus H1N1, gripe A ou lá o que quiser chamar-lhe e não se esqueça de pôr a máscara, ainda que seja de carnaval, porque as semelhanças vão ser muitas e usar luvas. Nessa gente tão nómada, não há que confiar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Viver, morrer...políticos e artista

Viver e morrer é o que nos está destinado inexoravelmente. Só que uns matam-se para viver ou sobreviver, outros vivem para matar ainda que seja apenas os sonhos dos outros; outros ainda, vivem para nos fazer sonhar, para alimentar os sonhos que já temos. E há também quem se encarregue de os matar. Nesta de alimentar e matar sonhos, temos, entre muitos outros, artistas e políticos. Estes, infelizmente, mais conotados com o matar, aqueles mais ligados ao alimentar.
Bom, deixemo-nos de devaneios. Aceito perfeitamente que qualquer português, alheio à militância partidária, ou às claques arrebanhadas se preocupe que os políticos, nomeadamente a níveis superiores mintam, se é que isso ainda deveria ser caso de preocupação, de tal forma já está arreigado nos ditos políticos e no nosso espírito. Já não aceito muito bem que eles, os políticos, se andem constantemente a queixar que os outros mentem, se hoje mente um, amanhã mente o outro. É a velha expressão, que já aqui referi, que o povo usa e que é: “chama-lhe antes que te chamem a ti”. Eles não terão mais que fazer do que Belém acusar S. Bento e vice-versa?! Se alguém ou alguma coisa se aproveitasse valeria a pena a discussão.
Não sei mesmo o que poderemos aproveitar de tamanha podridão. Os políticos estão sem espelhos, sem memória e sem vergonha.
Cavaco Silva queixou-se de precisar de um jipe para levar cheio de diplomas para aprovar em férias. De acordo com os registos existentes, foi exactamente ele, enquanto primeiro-ministro que mais documentos enviou para o então Presidente da República Mário Soares. Não lhe fica bem queixar-se, a menos que a memória já o atraiçoe, coisa que é frequente em muitos políticos. Quando convém.
Manuela Ferreira Leite, com as escolhas para as legislativas escaqueirou a imagem de rigor e ética em que muitos a tinham. Não teve o mínimo pejo, depois de ter afirmado ainda há pouco tempo que tudo faria para que houvesse transparência na política, de pôr à frente do interesse nacional e do partido os seus amigos, alguns autores de factos gravíssimos. Com isso, Ferreira Leite arranjou a nem precisar de adversários externos, porque tem muitos companheiros de partido que lhe põem a cabeça em água mais do que qualquer adversário partidário, com a agravante de que aquilo que os seus correligionários dizem faz mais mossa do que o que dizem os de outras cores partidárias. O que estes dizem enquadra-se na luta partidária e tem sempre um valor relativo. Quando são pessoas da mesma “família” a dizerem coisas da líder como “falta de liderança forte”, “listas inenarráveis”, “incompetência” , “não tem estatura para ser líder”,etc., se são eles que têm melhor obrigação de a conhecer, devemos dar-lhes alguma credibilidade. Estou com eles.
………………………………………………………………Raul Solnado foi-se, mas é como se não tivesse ido porque vai manter-se vivo, entre nós, durante muito tempo. Creio que o que os portugueses mais recordarão de Raul será a sua imensa graça, o riso ou sorriso que fez soltar em muitos de nós, ao longo de algumas décadas, nos palcos, ouvindo-o na rádio, vendo-o e ouvindo-o na televisão. Não há dúvida que foi um grande actor, um grande humorista, mas desse, nós vamos poder continuar a usufruir através das televisões, de discos, CD’s, DVD’s, vídeos ou simples cassetes. Facilmente mataremos a saudade do actor, do humorista. O que desapareceu, que era o que eu mais apreciava no Raul foi aquele sorriso de eterna criança. Eu atrever-me-ei a dizer que Solnado morreu criança, com quase oitenta anos de idade. Desapareceu a mais velha criança portuguesa e, de acordo com Fernando Pessoa que disse “mas o melhor do mundo são as crianças”, com Raul Solnado foi-se um dos melhores do mundo. Mesmo sem com ele convivermos, creio que todos estamos de acordo com aquilo que os seus mais íntimos afirmam: Solnado era uma pessoa excelente. Mesmo através dos ecrãs, todos líamos isso no seu rosto. Solnado fez-nos muito felizes, como ele sempre desejava. Homenageando-o, vamos todos “fazer o favor de ser felizes”. Até já, Raul, que daqui a pouco vou ouvir-te e sorrir.

sábado, 8 de agosto de 2009

Afinal, onde está a crise?!

Num tempo em que se atravessa uma grave crise económica e financeira; num tempo em que, de acordo com os relatos, muitas centenas de milhares de portugueses vivem na pobreza e muitas outras no seu limiar; num tempo em que as cabeças verdadeiramente pensantes apelam à contenção de despesas supérfluas ou mesmo inúteis, eis que nos é dado observar uma espécie de novo-riquismo, retratada nos juízes e mordomos de festas, ditas religiosas, mas pouco, que gastam fortunas em conjuntos e mais conjuntos, ranchos e mais ranchos, bandas e mais bandas, fogo e mais fogo. Em cada terra, em cada lugar, uns querem ter mais e melhor do que os outros. Em tempo de elaboração de listas para as autárquicas e de pré-campanha eleitoral é o momento ideal para alguns se mostrarem, das mais diversas formas. Tudo isto num ambiente quase exclusivamente profano, pouco espaço dando ao religioso.
Para que estas festas possam ter lugar, assiste-se a uma pedinchice desenfreada. Claro que alguém há-de pagar as festas. Aceita-se então que se peça, porque só dá quem quer, mas sabemos que há pessoas com muitas dificuldades, que, fazendo-lhe falta, embora, não deixam partir “de mãos a abanar” quem lhes bate à porta, porque imaginam que não dando qualquer coisa, as pessoas se sentiriam desconsideradas. Obviamente que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Devem pagar as festas quem gosta que elas se façam e para lá vai divertir-se. Bom, mas o pior não é a pedinchice, só por si. O pior é que não sei com que espécie de lógica actual, nos batem à porta mordomos e mordomas a pedirem para as mesmas festas.
Num tempo de vacas magríssimas como o que vivemos, gastar-se o que se gasta em festas, por exemplo, na minha freguesia de Nespereira, é quase crime. Que resultados positivos de tantas festas? Pouco mais do que o mero entretenimento das pessoas, que também é importante, convenhamos. Benefícios económicos para o comércio, poderão ser para uma escassa meia dúzia de comerciantes.
Esta altura do ano é apelativa também para muitas autarquias embarcarem na onda do consumismo exagerado em festas e mais festas, gastando balúrdios, que não se atrevem a gastar para melhorar um caminho, uma estrada, uma casa de um pobre. Utilizam, dessa forma, o nosso dinheiro, na campanha eleitoral, embora encapotada, servindo-se de arma – o erário público - que os opositores não têm ao seu dispor. É assim que funciona a ética de muitos dos nossos políticos.
Considero escandaloso, um atentado à verdadeira pobreza, o dinheiro que autarquias e outros responsáveis pelas mais diversas festas gastam.
Bem sei que o povo adere, que o povo enche o recinto das festas e até gasta. Aliás, se o povo não aderisse, não estivesse presente, aqueles que se movem por interesses políticos ou de mero protagonismo pessoal, eram mais parcos nos gastos ou nem sequer se disponibilizavam para tais tarefas.
Não é que me admire muito da afluência do povo às festas, pois muitas pessoas não têm muitas possibilidades de participar noutros eventos, mas não deixa de surpreender e levar-me a pensar e a fazer a seguinte interrogação: mas afinal que espécie de crise é esta, em que se gasta mais do que em quaisquer épocas ditas de normalidade económica? Ou será que a crise não passa de mero boato?
Anda por aí muita gente a troçar dos contribuintes, “comendo” o que estes pagam e que apenas não trabalham porque não querem, porque é mais agradável passar os dias a dormir, saltar de festa em festa, ou sentadas nas cadeiras dos cafés e pastelarias, com a certeza de que os calos no cu, que certamente não deixarão de fazer, como os macacos, não serão vistos porque as saias ou calças não o permitirão, com a conivência de (ir)responsáveis que fingem não ver porque não têm coragem ou não lhes convém agir.
Este país é uma enorme mentira, com as maiores mossas a serem praticadas, curiosamente, não pelos deserdados da sorte, mas por pessoas de aparente seriedade.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

A linguagem

Stendhal afirmou: “A palavra foi dada ao homem para dissimular o pensamento”. Obviamente, não é sempre exactamente assim. Muitas pessoas usam a linguagem, quase exclusivamente, para exprimir, com exactidão, aquilo que pensam. Mas não há dúvida, de facto, que muitos a usam, pelos mais diversos motivos, para ocultar os seus pensamentos, debitando ideias que não têm nada a ver com as suas. Interesses pessoais, profissionais, políticos, os levam a isso. Aliás, em comunhão com a linguagem, o “modus vivendi” que alguns exibem, servem para dar uma imagem, um retrato completamente diferente da realidade que é verdadeiramente a sua. São hipocrisia da mais pura, a linguagem, os jeitos e trejeitos, o relacionamento com os outros.
A linguagem, que deveria servir unicamente para transmitirmos fielmente as nossas ideias, os nossos pensamentos, para nos comunicarmos, para nos darmos a conhecer, para nos identificarmos, serve, em muitos casos, para mentir, para enganar, para vigarizar, para revelar pessoas que realmente não somos.
Quando ouvimos ou lemos pessoas que não são do nosso meio, que, se conhecemos, é apenas dos livros ou dos “media”, é muito difícil sabermos se o que afirmam tem correspondência com o que pensam ou não. Quando se trata de pessoas que conhecemos minimamente, é mais fácil saber se as suas afirmações correspondem às suas ideias, à sua filosofia de vida. Então, temos oportunidade de verificar que existem dois tipos de pessoas: aquelas que dizem sempre ou quase sempre o que pensam e aquelas que normalmente só dizem aquilo que lhes convém.
É interessante verificar como há pessoas que opinam sobre hábitos, práticas, actos de outros, condenando-os, porque de facto são condenáveis, numa espécie de curadores dos bons costumes, quando eles próprios são detentores de tais atributos. Se é que isso nunca foi feito, creio que tal comportamento merecia um estudo por parte de psicólogos e, quiçá, sociólogos, para que ficássemos a saber se tal comportamento se deve ao facto das pessoas não se reconhecerem, isto é, não reconhecerem em si aquilo que vislumbram nos outros, ou se será porque imaginam que todos os que os ouvem ou lêem são estúpidos. Gostaria realmente de conhecer os resultados de um estudo nesse sentido. Se ele revelasse que as pessoas realmente não se reconhecem, deixaria de sorrir; se revelasse que julgam os outros estúpidos, ria abertamente.
“É melhor que fale por nós a nossa vida, que as nossas palavras” – Mohandas Gandhi.
Sobretudo nos políticos, a prática da manipulação da palavra, de ver no adversário os seus próprios defeitos, é vulgaríssimo. Falam como se todos fossem estúpidos e destituídos de memória.
Sócrates promete 200 euros a cada criança que nascer em Portugal, para serem depositados e levantados aos dezoito anos. No país que somos, no país que temos, não tem sentido. Os pais a quem verdadeiramente essa ínfima importância puder dar algum jeito é logo nos primeiros dias ou meses de vida. Mesmo pequena, a importância terá algum significado para usar livremente e de imediato pelos pais. Não sendo assim, mais do que a sua relativíssima importância será mera propaganda eleitoral.
Ferreira Leite, à semelhança de outros líderes da oposição, tem acusado o governo de Sócrates de despesista. É outra que se não reconhece. Um estudo feito por um catedrático americano conclui que o maior aumento de despesa se deu nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes, logo seguido do de Cavaco Silva. No governo de Durão Barroso era Manuela Ferreira Leite exactamente a ministra de Estado e das Finanças. Ainda de acordo com o mesmo estudo, o governo de Sócrates foi o único, desde 1985, que reduziu a despesa pública. Manuela deveria lembrar-se disso quando abre a boca a falar de despesismo.
Como diria o nosso povo: “chama-lhe antes que te chamem a ti”.
Cá vai mais uma que mostra como alguns políticos pensam que somos estúpidos e a grande hipocrisia que ostentam. Manuela Ferreira Leite – outra vez a Manuela - interrogada sobre as declarações de Marques Mendes acerca dos candidatos com processos em tribunal, com toda a desfaçatez, afirmou que estão disponíveis para fazer tudo o que for possível a favor da transparência na política, mas agora é tempo de proximidade eleitoral, não é oportuno tratar disso, pois significaria demagogia, populismo. Estou de acordo que agora não é o momento certo. Mas, e os anos que já passaram desde que o projecto foi metido na gaveta?! Também não foi oportuno?! Claro que não. Para muitos políticos não vai ser nunca oportuno, porque vai mexer com muita gente com quem não é conveniente mexer.
Claro que as afirmações são de Ferreira Leite, por isso me refiro a ela, mas as culpas terão de ser repartidas, sobretudo, pelos dois maiores partidos.
Isaltino Morais, o autarca de Oeiras e ex-magistrado do Ministério Público, foi condenado a sete anos de prisão. Tem-se fartado de clamar inocência, afirmando que foi condenado sem que qualquer crime de que estava acusado fosse provado. A linguagem, que deveria ser sempre e apenas a expressão da verdade, está tantas vezes conotada com a mentira, o disfarce, o paradoxo, a hipocrisia, a demagogia, a vigarice. Como Isaltino vai recorrer, não há trânsito em julgado ainda, recandidatar-se-á, segundo ele. Dado que é muito típico dos portugueses afirmar “que importa se rouba se faz obra”, não me surpreenderei muito se ele vencer as eleições, provavelmente, para depois perder o mandato, porque, se ele de facto pecou, obra parece que também fez. É esta a política e os políticos que escolhemos, com a linguagem que temos, do povo que somos, no país em que vivemos.

sábado, 1 de agosto de 2009

Quem é vivo sempre aparece

Depois de andar alguns dias a procurar saber o que tinha acontecido ao meu blogue http://ontemehoje.blog.com , o que me levou a criar o http://bombeirite.blogspot.com , eis que ele me aparece, fruto das minhas pesquisas. Pesquisas que fui fazendo, algumas provavelmente sem nexo, dada a minha confessada inaptidão para as coisas da informática, pois sou um puríssimo autodidacta em tal matéria, que, à custa de muitos erros, alguns que me provocaram prejuízos e dores de cabeça, foi aprendendo o mínimo para ir comunicando.
Havia mudado a configuração, ou lá como é que isso se chama, do blog.com, que me levou a andar “como o tolo no meio da ponte”.
Bom, tudo terminou em bem e agora, em vez de um, utilizo dois blogues, enquanto me apetecer ou não aparecer qualquer outra coisa que me ponha dificuldades. Assim, cá estarei eu em “Ontem e Hoje” e “Bombeirices”.