sábado, 24 de outubro de 2009

Crise ou também malandragem

Eu bem suspeitava e, aliás, já o afirmei aqui. Há muita gente inscrita nos Centros de Emprego que, pura e simplesmente, não quer trabalhar. Sobretudo em meios rurais, é ver gente, aos magotes, a viverem, despreocupadamente, dos subsídios que recebem e nem se dão ao cuidado de cultivar uma horta, umas batatas, porque terrenos não faltam. Mais, alguns, já nem se dão ao trabalho de fazer o pequeno-almoço em casa, que ficava bem mais barato do que no café ou pastelaria.
Não sei que fazem nem como fazem o seu trabalho os agentes responsáveis por proporem a concessão de subsídios, os agentes fiscalizadores. Admito apenas, pelo que me é dado observar, que, em variadíssimos casos, só pode ser muito mal feito. Também questiono o papel dos autarcas paroquiais, em tais atribuições. Parece-me que, querendo “estar de bem com Deus e com o Diabo”, ou, se preferir, não se querendo sujeitar à perda de votos, ou, admitindo este pressuposto, ainda que fraudulento, que quanto mais dinheiro vier para a freguesia, melhor, assinam qualquer declaração.
Há gente que recebe subsídios e só não trabalha porque são malandros e o subsídio lhes chega; há gente que recebe subsídios e trabalha ilegalmente sem descontos, obviamente, nem por sua parte nem dos patrões.
O povo português costuma dizer que só os pobres vão para a cadeia por roubar. Não é bem assim. Faltando, embora, muitos ricos nas cadeias, por fraudes milionárias, também muitos das classes mais desfavorecidas lá poderiam estar e não estão pelas fraudes que praticam.
Claro que não deve pagar o justo pelo pecador, porque há imensa gente que precisava de ser mais auxiliada, mas não há dúvida de que há muitos subsídios que são apenas o fomento da preguiça, como diz Paulo Portas.
Há várias coisas que são importantes e que urge fazer. Primeiro, educar verdadeiramente as pessoas para a cidadania, mostrar àqueles que fogem aos impostos, que recebem subsídios indevidos, que isso é uma forma de roubar a todos e cada um de nós; que aqueles que andam no terreno, a quem compete observar, verificar, confirmar quem necessita ou não de subsídio, que o façam com desvelo, com competência e que, periodicamente, reavaliem a situação dos que foram contemplados; que os autarcas desempenhem correctamente o seu papel e não se remetam ao mais cómodo; que instituições públicas e privadas, com capacidade para tal, requisitem essas pessoas, obviamente aquelas que estiverem em condições de o fazer, para trabalhos que são necessários: no funcionamento das próprias instituições, limpezas de estabelecimentos públicos, ruas, estradas, caminhos, florestas, ribeiros e riachos, etc.
Quem não comprovar que não pode e não aceitar, ficaria sem subsídio. Verão que passa a haver mais gente a trabalhar.
Voltando à suspeita de que eu falava no início, a cada passo ela se confirma, para além de tudo o que já afirmei atrás. Tomamos conhecimento, frequentemente, de empreiteiros a pedir trabalhadores de construção civil e não os arranjam. Todavia, nós vemos alguns por aí, deslocando-se de carro de um lado para o outro, nomeadamente para tomarem o seu café, porque vivem à custa dos subsídios que todos nós, que trabalhamos ou estamos na reforma, pagamos e eles não.
Soubemos que, em Arouca, uma fábrica de calçado teve de reduzir as encomendas porque não consegue arranjar operárias interessadas em trabalhar, mesmo com a respectiva fábrica a disponibilizar-se para dar formação aos que nunca trabalharam na área.
Afinal é só crise ou também uma grande dose de malandragem de inúmeros indivíduos que andam aí a viver à nossa custa?
O elevado índice de desemprego é uma verdade incontestável, basta vermos as empresas que vão encerrando portas ou despedindo trabalhadores. Mas que, no seio daquele meio milhar de desempregados que as estatísticas apontam, também há muitos que não trabalham porque não querem, eu não tenho qualquer dúvida, aliás, fácil de comprovar.
Há que melhorar alguns subsídios, há, porventura, que os atribuir a algumas pessoas que deles não usufruem e deles necessitam. Isso talvez possa ser feito sem novos encargos para o orçamento do estado se tomarem medidas eficazes para acabar com aqueles que são ilegítimos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O "circo" foi de férias

Está tudo muito mais calmo. Essa febre avassaladora de beijar, abraçar, dar apertos de mão, sem sequer se preocuparem com o vírus da gripe, porque um voto vale mais do que um vírus, acalmou. Voltou tudo à normalidade. O político – refiro-me aos políticos em geral e de todos os quadrantes - já não invade feiras e mercados, não bebe da malga de barro, não dança com as peixeiras, não “ajuda” nas vindimas, já não faz um ror de promessas, enfim, já não conhece o povo, aquele que provavelmente enganou e, com o seu voto, lhe garantiu a sobrevivência.
O “circo” fechou as portas, foi de férias, para regressar quando se aproximarem novas eleições, que espero sejam as presidenciais, embora nestas ele se mostre sempre com menos exuberância. Agora, alguns dos “palhaços”, trapezistas”, “malabaristas” e outros “artistas” transformaram-se em autarcas, deputados, alguns serão ministros, secretários de estado, assessores, consultores, outros ainda ficam na lista de espera, em bicos de pés, aguardando ansiosamente a sua vez de alcançar “um lugar ao sol”. Tanto abraço, tanto beijinho, tanta palmadinha nas costas é sacrifício que só se faz na esperança de um compensador lugar, ainda que sem a mínima competência para o desempenhar. E, mesmo assim, um dia hão-de ter um louvor, o nome prantado numa placa de uma qualquer rua ou avenida, mesmo um busto em qualquer praça, ainda que inventada, mesmo que o povo não reconheça qualquer mérito nem tenha tido oportunidade de pronunciar-se. Ainda há muitos laivos na democracia de muitas das nossas instituições, mas nenhum partido político tem autoridade moral para acusar o outro, porque isso se verifica facilmente em instituições dirigidas por pessoas afectas a qualquer dos partidos.
Se o “circo” fechou, ainda estão por aí, lamentavelmente, a conspurcar o ambiente das nossas praças, das nossas ruas e estradas, os cromos com as caras dos “artistas”. Em nome de um melhor ambiente visual, é bom que se não descuidem a fazer a limpeza que se impõe.
O circo está morto, mas descansem, senhoras e senhores, que o circo há-de voltar e, com ele, os mesmos e novos “artistas”, sorridentes, bem dispostos, simpáticos, a reconhecerem-vos, de novo, após um período de “amnésia”.
A diferença mais substancial que eu encontro entre os animais deste “circo” político e os do circo verdadeiro, é que aquele tem a lei da paridade, que obriga a que os sexos coabitem, neste, ao contrário, não podem coabitar animais de sexos diferentes, a não ser que sejam castrados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Filhos e enteados

Enquanto dirigentes de muitas associações que gerem pequenos clubes de futebol e de várias outras, com os mais diversos objectivos, muitas delas desenvolvendo actividades que competiriam ao poder central ou local, as ajudam a sobreviver à custa dos seus próprios rendimentos, chegando mesmo a hipotecar ou disponibilizar os seus bens, como garantia, outros governam-se “à grande e à francesa”, não digo de forma ilegal, mas imoral. Veja-se Pinto da Costa, por exemplo, que tem salário chorudo e ainda recebeu, pela conquista do título, 75% do ordenado. Há quem chame a isto verdadeiro amor ao clube. Que chamar aos outros?
Quando se pensa dar o nome de um estádio ou erigir um busto a dirigentes assim, que monumento se deveria erigir a milhares de dirigentes deste país que, privando-se a si e à sua família de muitas coisas, são, com o seu dinheiro, o sustentáculo de outros milhares de associações?! Em grande parte dos casos, ao invés de reconhecimento, dedicam-lhes a denigração.
Talvez por isso, embora não só, há, cada vez mais, dificuldade em arranjar gente competente para integrar os órgãos sociais dessas associações. Por este andar, daqui a pouco só se candidatam os que se julgam com talentos, capacidades que de facto não têm, mas sobra-lhes a vaidade e os que querem servir-se delas como trampolim que os ajude a alcançar mais facilmente um lugar no seio dessa espécie sempre muito apetecível para alguns, mas cada vez menos credível, a dos políticos.
Realmente, este mundo está prenhe de injustiça, de ingratidão. Louvam-se os discursos ocos, os gestos, os actos insignificantes, ignoram-se as palavras que gritam por liberdade, por justiça, por igualdade de direitos e oportunidades, porque são incómodos, não se relevam os actos sublimes, às vezes mesmo heróicos, porque incomodam a consciência dos que nunca encontraram nada dentro de si que servisse para ajudar o próximo, porque, para esses, não existe o outro, só existe o eu.
É como a valorização hipócrita, pouco inteligente do ter, mais do que o ser, a valorização do volume que se dá, sem equacionar o valor que cada dádiva representa para o seu autor. Creio que ninguém duvida que uma oferta de 100 euros de uma determinada pessoa representa um grande esforço, um grande sacrifício, mas uma enorme vontade de ser solidário. Por sua vez, uma oferta de 10 000 euros pode não representar qualquer sacrifício para outro, que, aliás, pode fazê-lo por mera vaidade. É óbvio que para a instituição é bem mais importante 10 000 euros do que 100. Mas será justo que, pura e simplesmente, sem olharmos às possibilidades de cada um, relevemos mais o que deu a maior importância?! Cá para mim, se bem que aprecie ambos os gestos, desde que a vaidade, o desejo de protagonismo fique de fora, valorizo mais o gesto do que deu os 100 que, provavelmente até teve de se privar de alguma coisa para fazer tal oferta.
Disse Cesare Cantú: “O dinheiro consagrado à beneficência não tem mérito se não representar um sacrifício, uma privação.”
Para se evitarem injustiças, bom era que se resistisse à tentação de qualificar as pessoas, o que é quase impossível neste tipo de sociedade em que vivemos, apenas pelos valores que têm ou que dão.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rescaldo das autárquicas

Está na hora de balanço das autárquicas. Soltaram-se risos, foguetes, escancararam-se os braços, mas também se derramaram lágrimas, se fecharam rostos. É assim em todas as competições: quando uns ganham é porque outros perdem. Em eleições democráticas não deixa de ser de outra forma, não obstante sermos frequentemente surpreendidos com argumentações que nos parecem fazer crer que todos ganharam. Seria fantástico se isso significasse que, independentemente do número de votos conquistado por cada um dos partidos, todos entendiam que, pela contribuição que deram para a estabilidade e reforço da democracia, mereciam o epíteto de vencedores. Mas não, não é nada disso. Cada um, ou porque teve mais votos, ou mais câmaras, ou mais juntas, ou simplesmente porque perdeu menos do que anteriormente, se acha vencedor. Tudo se aceitaria sem grande dificuldade se os dirigentes partidários e seus mais importantes militantes fossem coerentes. Nada disso, agem e reagem consoante as circunstâncias, optando por valorizar sempre o aspecto que lhes é mais favorável. Entre muitos outros exemplos que poderia apontar, vou socorrer-me apenas deste: o Partido Socialista ganhou as últimas eleições legislativas, isto é, elegeu mais deputados do que qualquer outro, nomeadamente o PSD. Ferreira Leite e seus correligionários, porque o PS elegeu menos deputados do que nas legislativas anteriores, apressaram-se a apregoarem aos quatro ventos que o Partido Socialista sofrera uma derrota estrondosa. Poderia ser um ponto de vista aceitável se funcionasse sempre. Mas não. Nestas autárquicas, o Partido Socialista ganhou menos Câmaras e Juntas do que o PSD. Perdeu. Todavia, ganhou várias, relativamente às anteriores eleições e até foi o vencedor em número de votos, ao contrário do PSD que perdeu algumas. Assim sendo, se Ferreira Leite fosse coerente deveria assumir que o partido socialista também foi um grande vencedor destas autárquicas e, pela mesmíssima razão, o PSD, um dos derrotados. É esta incoerência, a juntar a muitos outros factores, que torna a classe política pouco credível.
Quanto aos outros partidos, excluindo a CDU que tem alguma importância a nível autárquico, sobretudo a sul do Tejo, CDS e Bloco de Esquerda comprovaram que continuam sem força nas autarquias e, assim sendo, não se poderão arvorar como grandes partidos nacionais. Uma Câmara Municipal para cada um é pouquíssimo. E, no que toca ao CDS, alguma da fraca projecção que consegue é por força do seu encosto ao PSD. Também não sei se tal encosto que lhe proporciona uns vereadores e alguns elementos em assembleias de freguesia é realmente vantajoso, porque embora sejam elementos do CDS, a força que emerge sempre é o PSD. Basta analisar o número de câmaras que são atribuídas ao PSD. Várias delas foram conquistadas com ajuda dos votos do CDS, de outra forma talvez o não fossem, mas a contabilidade vai inteirinha para os sociais-democratas. Mais um motivo para que Ferreira Leite não tenha tanta razão para cantar vitória.
Também a nível autárquico, Viseu, o meu distrito, está a ficar um alaranjado desbotado, com alguns concelhos a elegerem, pela primeira vez, presidentes de Câmara socialistas.
Quanto ao meu concelho, Cinfães, se tinha como garantida a reeleição de Pereira Pinto, a derrota arrasadora infligida ao PSD já pode ter alguns laivos de surpresa. Mas se tivermos em conta a campanha triste dos sociais-democratas em que não se vislumbrou sequer um manifesto eleitoral, resumido que fosse, e a pobreza da sua caravana de final de campanha, deixavam antever um final pouco feliz. Terão faltado argumentos a Laureano Valente para fazer um combate mais cerrado a Pereira Pinto, mas também foi nítido que não teve o apoio suficiente dos responsáveis do partido, ao contrário do que aconteceu há quatro anos em que até o líder distrital se candidatou à Assembleia Municipal, embora tenha valido de pouco. Significa isto que Pereira Pinto teve mérito na sua estrondosa vitória, mas também foi ajudado pela fraqueza da candidatura adversária, já para não dizer das candidaturas adversárias, pois que os seus resultados são irrelevantes, muito embora mereçam respeito. Respeito que, apesar de tudo, algumas fizeram por não merecer, dada a forma leviana, para não dizer outra coisa, como se consumaram.
Apesar de algumas queixas justificadas dos nespereirenses, relativamente a aspirações não concretizadas e uma ou outra obra que desagrada, estes, mais uma vez, entenderam que, mesmo assim, Pereira Pinto não tinha alternativa credível e não lhe negaram o voto. Não votar nele seria um perfeito “tiro na escuridão”. Eu, e sei que muitos comungam da minha opinião, lamento ter chegado ao seu último mandato com determinadas obras por concretizar, algumas das quais dificilmente se concretizarão até ao final, mas também, em nome da minha terra, que não da amizade, que essa, só por si, não me levaria a votar em quem se me não afigurasse senão o melhor, o menos mau, lhe dei o meu voto. Sei que Pereira Pinto, no fim do mandato que vai iniciar, pode ser e será julgado, mas não pagará por isso, mas tal facto não é, seguramente, razão para que ele não retribua o gesto generoso dos nespereirenses, ultrapassando o défice de realizações nesta freguesia e neste mandato passado. Saiba ele ouvir mais o povo, o povo que quer estar melhor servido em todos os aspectos e se está “marimbando” para interesses ou cores partidárias.
A votação maciça, quer em Pereira Pinto, quer em Mário Leitão é, sem sombra de dúvida, um sinal inequívoco da confiança que os nespereirenses neles depositam, mas isso não significa nem um “cheque em branco” nem uma aprovação tácita de tudo quanto decidirem fazer. O diálogo é preciso fazê-lo, não apenas com os actores políticos, se é que mesmo esse se faz, ou não serão apenas conversas de sentido único, mas com todos quantos têm opinião e estão dispostos a dá-la. Sem perder competências que os próprios eleitores lhes conferiram, mesmo assim, é necessário dar-lhes mais e melhores oportunidades de manifestarem as suas preocupações, os seus problemas, as suas opiniões. É preciso ouvi-los e debruçarem-se sobre o que ouviram e não deixar entrar por um ouvido e sair pelo outro, como frequentemente acontece.
Câmara e Junta de Freguesia do mesmo partido, ambas com maioria, não vão ter razão para atribuir a não concretização de determinada obra a boicote ou falta de colaboração.
Boa sorte para todos os autarcas porque a sua sorte será a nossa sorte.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Caravanas partidárias

Por uma questão de feitio e porque entendo que a política, mais do que de espectáculo, deve ser feita de propostas, de diálogo, de debate de ideias, de acção, não alinhei, à semelhança do costume, no desfile de fim de campanha do candidato que receberá o meu voto no domingo. Para mim não são os outdoors, os panfletos, os autocolantes, as caravanas, etc, que interessam. Todavia, não tenho dúvida, que tudo isso ajuda a conquistar votos. Não ajudei a engrossar a caravana do PS, porque, independentemente da sua extensão, a ele está destinado o meu voto. Sei que há pessoas que estão até ao fim indecisos por pequenos detalhes, como por exemplo a mobilização dos eleitores, a manifestação ou não de dinâmica de vitória, de força. Isso sendo verdade, a caravana do Partido Socialista que hoje, a meio da tarde passou à porta de minha casa, era enorme, já transportava consigo a alegria da vitória e, pelo caminho, com tamanha força, haverá conquistado alguns dos tais indecisos. É que há sempre quem não tenha outras preferências que não seja a de estar do lado dos vencedores. Por outro lado, a caravana do PSD que passou mais tarde também à minha porta foi pequena, triste, parecendo já derrotada, direi mesmo, envergonhada.
De outros partidos não me apercebi de nada.
Bom, isto foi o que eu vi, é o que eu penso, é a minha análise, não me esquecendo, todavia, que só no domingo é que as pessoas votam. Os eleitores são quem decide. Mas cá para mim – e ainda posso dizer isto, porque são menos de vinte horas de dia nove, último dia de campanha, - ninguém me tira que no dia 11, o Partido Socialista, Pereira Pinto e outros autarcas vão ter uma vitória assinalável no concelho de Cinfães. A ver vamos.

Respigo da campanha das autárquicas

Tenho tido oportunidade de conversar com eleitores dos diversos quadrantes, sobre os vários candidatos autárquicos que se nos apresentam como conhecedores de todas as maleitas que as nossas terras enfrentam e possuidores de disponibilidade, vontade e talento para as curar e o que constato é que esses mesmos eleitores não reconhecem, a muitos desses candidatos, outras competências, outros méritos que não sejam os de “coitado, é boa pessoa”. Sendo que a sua análise está correcta, dentro de dias teremos em vários órgãos autárquicos “boas pessoas, coitados”.
Bom, se calhar, do mal, o menos, porque também temos candidatos elegíveis com algum talento, alguma competência, mas que de bons pouco têm. Andam vestidos com uma carapaça. Até um dia. A quanto obriga a vontade de alcançar algum poder, ignorando as palavras de Jean de la Bruyère: “ Os cargos de responsabilidade tornam mais eminentes os homens eminentes e os que são vis ficam ainda mais vis e mesquinhos”.
Para além de muito mais que nos mostrou o ambiente de campanha, não obstante não me ter dado a observá-lo profundamente, porque, por um lado, estava bem ciente de quem merecia, mais que outros, o meu voto e, por outro, porque sou avesso a “carnavais”, sobretudo fora de tempo e de “palhaçadas” fora do circo, deu para perceber que a HIPOCRISIA continua bem viva e a medrar.
Ah! Outra coisa que se constata: para comer até os apoiantes (?!) de listas adversárias aparecem. Será sinal de fome, falta de vergonha ou excesso de apetite?
Só mais uma coisinha: nesta democracia, que já é trintona, seria legítimo esperar-se que o culto da cidadania estivesse a um nível mais elevado. Digo isto, porque integrar uma mesa eleitoral, para além de se cumprir um dever, deveria orgulhar quem a tal tarefa é chamado. Mas parece que não. Desde que se institui que tal missão deve ser paga, há quem se digladie por um “lugar à mesa”. Apenas pelo dinheiro, porque, de resto, aquilo é uma “seca”, como alguns afirmam. Parece que, neste país, cada vez são menos os que se atrevem “a dar ponto sem nó”. Assim sendo, haveremos de continuar “com muita parra e pouca uva”, mas sem que isso seja razão suficiente para que se perca a esperança de que um dia chegue, não o D. Sebastião, mas alguém que, não pelo que afirma, mas pela sua prática de vida, demonstre que de facto tem TALENTO e AMOR à terra e às suas gentes. Quando os partidos, os movimentos e outras instituições se lembrarem que há vida para além dos períodos eleitorais, que há pessoas que querem participar, aprender, ser ouvidas, talvez comecem a aparecer as pessoas certas para os lugares certos. A “rosa” deixará de ser tão “alaranjada”, a “laranja” deixará de ser tão “rosada” “azulada” ou mesmo “avermelhada”.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Campanha eleitoral autárquica

“É melhor que fale por nós a nossa vida que as nossas palavras” – Mohandas Ghandhi.
Isto vem a propósito de milhares e milhares de palavras que andam por aí espalhadas ao vento, em propagandas e mais propagandas eleitorais de candidatos, cujo perfil, cujo modelo de vida contradiz perfeitamente o que o espólio panfletário revela. Muitos nem sequer têm a mínima capacidade para serem autores dos textos que assinam. Provavelmente, alguns nem sequer os saberão interpretar devidamente. Para se chegar a esta conclusão nem sequer é necessário esmiuçar – uma palavra que “Os Gatos Fedorentos” trouxeram para a ribalta – as suas vidas. Já agora, deixe-me dizer-lhe que a entrada dos “Gatos Fedorentos” na campanha eleitoral, muito embora não mereça o meu apreço, me parece que tem algum sentido. Exactamente, porque muitas vezes a campanha nos parece uma paródia, fede e arranha.
Hoje, muitos dos candidatos não têm qualquer ideologia, nem tão pouco se podem considerar de independentes, senão não andavam a cirandar da esquerda para a direita e vice-versa, em busca do melhor encaixe para seu interesse pessoal. À falta da ideologia e da independência, socorrem-se de lugares comuns como seja o amor à terra e suas gentes. Só por isso é que se candidatam. Oh! Se nós não conhecêssemos muitos deles?!
Os que querem apenas andar na crista da onda, por vaidade, em busca de “tacho” ou “penacho”, não me merecem mais que o desprezo. Há-os, todavia, que, sacrificando a família, até interesses económicos, o conforto, o lazer, encaram a função política como um dever, uma entrega desinteressada ao serviço da comunidade. Estes merecem o meu reconhecimento, o meu aplauso. São estes e só estes que ainda existem, embora se contem sem grande dificuldade, que me levam às urnas.
Avaliando sem necessitar de ser minucioso e por isso sem grande esforço o elevado número de pessoas aparentemente comprometidos com as diversas listas, chego a esta conclusão:
De repente ficam todos impregnados de uma competência, de um talento que jamais alguém ousara reconhecer;
De repente ficaram todos impregnados de um amor à terra e aos seus conterrâneos, quando a alguns o que se lhes conhece é a inveja, a ingratidão, a maledicência, os prejuízos causados a esses mesmos conterrâneos;
De repente todos se impregnaram de uma disponibilidade que nunca se lhes reconhecera para outras tarefas, ainda que minúsculas, em prol do desenvolvimento das suas terras e da melhoria de condições, em diversos domínios, dos seus conterrâneos. Ah!, por falar em disponibilidade, é interessante constatar o atrevimento de alguns, que por apenas terem disponibilizado o nome para integrar órgãos de algumas instituições, sem que se lhes seja reconhecido qualquer feito minimamente importante, acham que isso é muito relevante. Bom, já há longos anos que eu suspeito que muitos só querem, alguns só quiseram, integrar órgãos sociais de instituições, quando pensaram em arranjar um lugarzinho no “céu”, perdão, na política.
Enfim, quem se quiser deixar enganar por palavras que às vezes os próprios a quem são atribuídas não compreendem e por outdoors mais ou menos cativantes, apelativos, que deixe. Quem não se quiser deixar enganar, que compare as afirmações com a prática de vida de cada um. Seja como for, não deixe de votar, porque nos prós e contras, mesmo com pecados – quem os não tem – sempre há-de encontrar uns que lhe inspirem mais confiança do que outros.