quarta-feira, 17 de março de 2010

Que bom!

Não sei se é apenas mais um boato, ou uma verdadeira intenção. Tomo conhecimento que mulheres nespereirenses tencionam reunir-se em jantar todos os fins-de-semana. Que bom! Pensava eu que andava por aí tudo deprimido por causa da mais do que propalada crise. Pelos vistos, nem as mulheres nespereirenses andam deprimidas, nem sentem qualquer efeito da crise, ou, se preferir, a crise terá passado ao largo de Nespereira. Bom, devo confessar que pelo ambiente que dia a dia, vislumbra por cá, quem de facto andar devidamente atento, tem a sensação de que não vive qualquer crise. Ainda bem. Para além de tudo, se as mulheres não andarem deprimidas, os homens também disso beneficiarão. E como pelos vistos a entrada a tais jantares está interdita a homens, os maridos, companheiros ou namorados ficam resguardados de quaisquer eventuais ciúmes.
Feliz por ver as mulheres da minha terra felizes, há, todavia, dois aspectos que não posso deixar de referir. O primeiro é que apesar de tão frequentes eventos denunciarem ausência de crise, ao que se diz, são inúmeras as pessoas subsídio dependentes. Como “não condiz a letra com a careta”, não será despiciendo um estudo do fenómeno por parte de autoridades responsáveis. O segundo é que me parece que se está a passar de um extremo ao outro. Se alguém pensa que é dessa forma que se contribui para a emancipação da mulher, está profundamente errado. Homens e mulheres, juntos, fazendo as mesmas coisas, participando nos mesmos eventos é que retratam a verdadeira igualdade entre sexos diferentes.
De qualquer forma, viva a alegria, viva a festa, vivam todas as mulheres…e os homens.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Bandeiras

Quando iniciei o cumprimento do serviço militar, a meio da década de sessen-ta, portanto nos primeiros anos da inútil, inglória e cruel guerra colonial, já eu era professor efectivo, como na altura se dizia, e sabia que o boato era uma arma poderosíssima, letal, muitas vezes, utilizada tanto para destruir o carácter de muitos cidadãos, como para, através dele, pessoas ou grupos, colherem benefícios. Não obstante os muros que se erigiam em nosso redor, mantendo-nos no maior obscurantismo possível, tinha, de facto, alguma noção da impor-tância do boato. Foi, no entanto, enquanto militar que fiquei a conhecer o seu real valor e como ele era utilizado pelas chefias militares, com resultados posi-tivos. A sua eficácia, sobretudo no limiar da guerra, em que as tropas indígenas eram possuídas de muita ingenuidade, chegava a ser maior do que as Mauser, as G3, as minas, os tanques, etc. O fenómeno do boato era de tal forma importante que era seriamente estudado.
Militarmente, continua hoje a ser amplamente utilizado, não só durante o período em que ocorrem as intervenções, mas antes mesmo, para as justificar. A intervenção no Iraque, por exemplo, a que infelizmente o nosso país está ligado, foi justificada através daquilo que terá sido um boato hábil e conscien-temente forjado. É assim no campo militar, na política, infelizmente, também na vida social e profissional. Quando se quer derrotar alguém ou colher determi-nados benefícios, nada melhor do que criar engenhosamente e fazer espalhar – há sempre gente sequiosa por o fazer – um boato. Os políticos que o digam.
Tirando esses boatos que pretendem derrotar, abater ou colher benefícios, surgem outros, de quando em vez, que nem é fácil adivinhar-se-lhes a intenção nem a origem. Alguns deles só servem para desestabilizar um determinado grupo ou população, mas são de tal forma destituídos de credibilidade que não merecem que quem quer que seja lhes dê qualquer publicidade. Em nome da tranquilidade pública é de bom senso que os que os ouvem, ao invés de os propagar, os encerrem dentro de si, e/ou, antes de tudo, procurem confirmar se existe alguma réstia de veracidade, porque também não devemos esquecer o adágio que diz que “não há fumo sem fogo”, nem que seja o de uma ténue e extenuada lamparina.
Curioso. Muito curioso. O PSD, anda, de uns tempos a esta parte, a desfral-dar a bandeira da liberdade de expressão, de modo a que até já protagonizou a criação no Parlamento, de uma comissão de ética e, posteriormente, de uma comissão de inquérito. Como praticamente todos os políticos, também os do PSD têm fraca memória. Não vale a pena recordar aqui alguns factos, mas valerá certamente lembrar o que Granadeiro disse relativamente a Morais Sar-mento, que este pretendia que fossem demitidos três directores de órgãos de comunicação social. Quem tem telhados de vidro deveria ser mais prudente. Bom, mas como o PSD não estava ciente se os portugueses teriam a certeza de que ele não é melhor ou diferente daqueles a quem acusa, resolveu, no final do último congresso, garantir-lhes isso mesmo com a aprovação da já denominada lei da rolha. Triste figura. Muitos acharão que não estamos bem, mas cada vez mais também terão a certeza de que não vislumbram qualquer alternativa credível.
Os três principais candidatos a líder estiveram lá, mas foi interessante ouvi-los, no fim, dizer que não concordavam com tal lei e que, sendo eleitos, a pro-curariam alterar em próximo congresso. Veremos. Estando lá, no “poleiro”, tal despropositada lei dar-lhes-á um jeitão, como daria a qualquer outro líder.
De Alberto João Jardim tudo se pode esperar. Pedro Passos Coelho não terá sido muito feliz com aquela do perdoa-me que eu já te perdoei, pretendendo fazer passar uma imagem de humildade, que, a existir, mais importante do que isso tratava-se de “piscar o olho” a votos madeirenses. Mesmo assim, nem ele, nem os portugueses, que estão a dar um exemplo extraordinário de solida-riedade para com a Madeira e os seus irmãos madeirenses, esquecendo as ofensas do seu “chefe”, mereciam aquela grosseria de, como resposta ao can-didato a líder, se ausentar do seu lugar e ir sentar ao lado de outro candidato, o Paulo Rangel. É esta gente que fala de ética?! São estas as suas bandeiras?!

sábado, 6 de março de 2010

Ensina-o a pescar

Liberto de compromissos profissionais e de outros a que durante muitos anos me devotei, hoje, o reflectir consome-me muito mais tempo do que o agir. Há um período da vida em que a acção se sobrepõe claramente à reflexão. Talvez, por isso mesmo, por não termos o tempo suficiente para pensar, nem sempre tomaremos as medidas adequadas, quando temos que agir. Se algumas vezes é verdade que poderíamos ser um pouco mais prudentes, poderíamos gastar alguns momentos para equacionar, outras vezes, não há lugar a qualquer tipo de espera, tem de se tomar uma resolução de imediato, muitas vezes indo ao arrepio de leis ou regulamentos. Vivi algumas situações do género e nunca hesitei em reagir de imediato, independentemente de estar ou não a cometer alguma infracção. Situações destas acontecem com alguma frequência quando se trata de operações de socorro. Nunca tive de me arrepender de nada e sempre transmiti aos meus subordinados a ideia de que em situações de emergência, não se pode esperar que o superior hierárquico seja contactado para se tomar uma decisão. Primeiro decide-se em favor da vida, depois dá-se conhecimento ao superior. Há uma coisa que, sobretudo quando se trata de vidas humanas ou património em risco, é mais importante do que qualquer lei ou regulamento. É o bom senso.
Feito este intróito, a minha reflexão de agora está virada para a expressão ajuda. Tínhamos aqui “pano para mangas”, se quiséssemos debater o tema até à exaustão. Bom, mas aqui não se trata de um debate, mas tão-só de uma reflexão para um blogue. Em questão está o conceito de ajuda, quem ajuda, quem é ajudado.
A ajuda de que muitos necessitam não é exactamente igual para todos. Às vezes as necessidades são opostas. Há quem necessite de uma palavra de carinho, de estímulo, de solidariedade, como há quem precise mais de uma palavra de recriminação, de apontar um caminho. Há quem necessite de ouvir dizer um sim, como há quem necessite de ouvir um não. Há quem apenas necessite de silêncio.
Quando se fala em ajuda, normalmente, o nosso pensamento conduz-nos logo para ajuda material, que não se traduz apenas no apoio pecuniário – pode sê-lo de muitas outras formas, como alimentos, roupas, equipamentos, etc. Sobretudo aqui é que eu entendo que se cometem muitos erros, desde logo porque o vil metal é extremamente sedutor. Nem sempre a oferta de dinheiro é a forma mais correcta de ajudar. Muitas vezes é extremamente perniciosa, porque alimenta a preguiça, a ociosidade, trava a criatividade, o engenho, o esforço. A sociedade, no entanto, aplaude quem dá, ainda que seja mal empregue e a pior forma de ajudar. Por sua vez, quem dá, ufano pelo gesto e pelos aplausos da turba, eleva a sua auto-estima, o que não é mau, e julga-se o mais importante à superfície da terra, o que é péssimo.
Poderia alongar-me bem mais sobre este aspecto da ajuda, mas fico-me por aqui. Vamos a outro aspecto, o da perspectiva de quem é ajudado. Ora bom, porque sabem que há sempre alguém que não tendo outros atributos, a começar pela inteligência e seriedade intelectual para alimentar o seu ego, estarão disponíveis para dar uns trocados ou uns objectos, alguns dedicam-se à madracice, não fazendo “a ponta de um corno” em termos de trabalho rentável. Se vivessem apenas à custa dos beneméritos-fautores-de-malandros, vá que não vá, o pior é que alguns deles ainda se dão ao luxo de comer à mesa dos nossos impostos. Este tipo de ajuda, que não é a que eu defendo, salvo algumas excepções, obviamente, faz felizes e contentes as duas partes: os madraços, que não “vergam a espinha” e os seus “beneméritos” por tantas e tamanhas “virtudes” ostentarem.
Inspirado nos chineses – daí o título – eu entendo que se quisermos ajudar alguém, em vez de lhe darmos o peixe é ensiná-lo a pescar, ainda que tenhamos que lhe dar também a cana, o anzol e mesmo a minhoca.
Alguns não quererão, mas abandonem os esmoleres a caridadezinha e talvez os encontremos um dia por aí à pesca, para seu bem e de todos nós.