sábado, 26 de maio de 2012

Pobres portugueses

Um povo – o português – que já foi berço de bravos militares, indómitos guerreiros, destemidos navegantes, descobridores de mundos, de sábios e patriotas políticos, daqueles de “antes quebrar que torcer”, admira como é tão tolerante para com gente que cedo começou na política, mas nela só aprendeu o que de pior ela tem: a arte de se governar – e aos amigos – em vez da arte de governar, a arte de manipular, de mentir, de prometer o que sabe que não vai cumprir. Gente que nada sabe da vida real, das pessoas que estão fora do seu círculo e que são a grande maioria. Gente que só come e bebe do bom e do melhor, - só porco do preto, lebre, vinhos de excelência do Douro ou Alentejo, whiskies de 20 anos, não repetir um prato em menos de duas semanas, não é, senhores deputados - enquanto outros já começam a comer metade de uma sardinha com um naco de broa ou nem isso. Gente que “rouba” os subsídios de férias e de natal aos funcionários públicos e pensionistas – não a todos - mas dá aos amigos, alguns incompetentes mas leais, “abono suplementar”, como se todos nós fôssemos “burros” e não soubéssemos que isso corresponde exactamente aos referidos subsídios. Gente sem espinha dorsal, nojentamente subserviente perante os poderosos políticos e financeiros, mas estupidamente arrogante perante os mais fracos.


Surpreendo-me, de facto, como é que com tantas pessoas na miséria, tantas outras a caminho, a passos largos, por culpa de um governo míope, que herdeiro, embora, de uma situação difícil, não é capaz de enxergar que com as políticas que teimosamente segue em obediência a uma troika sem qualquer espécie de sensibilidade e uma senhora que governa um país que vive à custa dos juros que a nós e outros desgraçados cobra, pagando-os, quando disso tem necessidade, a preços infinitamente mais baixos, não se faz algo de verdadeiramente patriótico para pôr essa escumalha que nos governa no sítio adequado: olho da rua.

Há muitos anos atrás, dois docentes universitários andavam de relações cortadas, muito tensas Um dia, passeando a pé, cruzaram-se no caminho. Um deles, puxando bem lá das profundezas da garganta, lançou para o chão um lodoso escarro e disse para o seu antagonista: “considere-se escarrado na cara”.

O inimigo não se fez esperar, puxou com força das entranhas e soltou um valente e bem sonoro peido, afirmando: “considere-se morto a tiro”.

Recordada esta história, apetece-me sugerir aos portugueses que soltem uns enormes peidos, destinados a Passos Coelho, sugerindo-lhe que se considere morto a tiro. Considerado morto, a demissão seria o caminho e um grande alívio para os portugueses que sofrem e para aqueles que se não deixam encarneirar.



sexta-feira, 11 de maio de 2012

Nespereira - a história do nosso fitebol (1950-2012)

Li com alguma sofreguidão o livro com o título em epígrafe, acabado de publicar pelo meu “inquieto” ex-companheiro da velha carteira da primária, ex-companheiro das lides teatrais escolares, em que eu era sempre o menino bem comportado e ele o mal –quem diria? –, ex-cúmplice em alguns actos “heróicos”, pró-românticos “con unas chicas gallegas”, campeão de bem jogar a bola…na estrada e meu amigo. Alves Pinto ou, como ele gosta de dizer: Tino da ti Maria Zé do Larantino.


Antes de qualquer outro comentário, quero agradecer-lhe por me avivar na memória coisas do meu tempo de criança, que é o mesmo dele, algumas que se me tinham varrido completamente da memória, até porque saí daqui com a terceira classe para o Colégio de Ermesinde, mas que, ao lê-las, me surgiram muito nítidas.

É um livro interessante que vale a pena guardar, porque tem ali estampado muita da história do futebol em Nespereira e dos seus protagonistas. Poderia dizer mais, menos, diferente? Claro que poderia. Alves Pinto, ele próprio o reconhece. Aquela é a sua história, com a sua forma de escrever, com a sua análise, àquilo que de facto é de analisar, porque a maior parte do livro é narrativa, como se esperava que fosse. Por isso, eu que me prezo de nunca temer de usar as palavras que julgo apropriadas, endereço ao meu amigo os parabéns pelo trabalho extenuante, pelo seu contributo para o enriquecimento do património bibliográfico pessoal e nespereirense. Para além de tudo o que mais se possa dizer, o livro poderá ser um trampolim, uma grande ajuda para qualquer outro que queira explorar mais o tema, sobretudo sob o aspecto analítico, desde que o faça com paixão, com verdade, sem facciosismos, sem fanatismos. Nespereira deve-lhe mais esse contributo.

Deixe-me apenas deixar aqui uma explicação, referente a uma das várias menções à minha pessoa. Refiro-me ao facto do excelente jogador que foi Perdigão, campeão pelo Futebol Clube do Porto, cunhado do igualmente excelente Osvaldo Silva, que também pisou a “Portelinha”, ter afirmado no meu jogo de estreia pelo Nespereira, com 15 anos, que eu era o melhor jogador do referido Nespereira. Não se pode dizer que eu era um jogador muito talentoso, simplesmente tinha escola, o que faz muita diferença. Fazendo parte da equipa do Colégio que frequentava, tinha treinador, que à época era o grande mestre Artur Baeta, que criou autênticos prodígios no Futebol Clube do Porto. Para além disso tínhamos ginástica muito a sério em que treinávamos muito a corrida, o sprint, o salto. Posso dizer que, relativamente ao salto, não conheci ninguém que se elevasse mais do que eu para cabecear uma bola. Ganhei nas alturas, a vários jogadores bem mais altos do que eu. Para além do poder de elevação era o tempo de salto que era meticulosamente trabalhado. Em sprints de 20 metros dificilmente perdia. Quanto ao talento havia por aí gente bem mais talentosa, mas faltava-lhes algo que é muito importante no futebol: a condição física e o saber posicionarem-se no campo. Aliás foram estes conceitos, entre outros, que, enquanto treinador, procurei incutir e praticar com os jogadores quando disputávamos o INATEL que nos proporcionou tantas tardes de alegria e tanto entusiasmo dos nespereirenses à volta da sua equipa.

Falando em talentos, embora seja suspeito na afirmação, o mais completo jogador que defendeu, pelo menos nesses anos já um pouco longínquos, as cores do Nespereira foi meu irmão Alfredo Galhardo: tinha a escola que eu tive – com o treinador a querer levá-lo para as camadas jovens do F. C. do Porto, que ele não aceitou, pois não queria ficar aprisionado – e driblava muito bem, rematava bem e forte com os dois pés e, apesar da sua baixa estatura, tinha um excelente jogo de cabeça.

Já estou a alongar-me mais do que esperava. Parabéns, Alves Pinto, uma vez mais e “num t’aflijas” que paguei o livro.