Neste fim-de-semana último, o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia, em consequência de um acidente na prática de desportos radicais. Numa altura em que está bem viva dentro de nós a enorme tragédia que se abateu sobre esse paupérrimo país que é o Haiti, quase parece sacrilégio chamar tragédia à morte de um homem apenas. Mas não. As tragédias são-no independentemente da sua extensão e das suas consequências. Umas são maiores, outras são menores. Um homem de um metro e sessenta é um homem como o é outro de dois metros. A tragédia haitiana é de tal modo medonha que não sei se algum dia se conhecerá a sua verdadeira extensão. Nem sei se o empenho, quer das organizações governamentais, quer das não-governamentais, quer dos cidadãos anónimos ou das figuras públicas não será apenas uma reacção momentânea, fugaz, enquanto as feridas nas pessoas e no património estão mais vivas e logo, logo os haitianos não ficarão de novo entregues à sua sorte, má sorte, por sinal, como acontece noutras partes do mundo bem conhecidas.
Dizia eu no início que o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia. Uma tragédia em desportos radicais, porque já houve outras. E disse mais uma, porque, contrariamente àquilo que ouvi, a deste fim-de-semana não foi a primeira. No rafting, talvez, mas já houve pelo menos uma outra morte, de uma professora de Matosinhos, ali entre a ponte de Alvarenga e o Vau, em Canelas, na prática de um outro desporto, cujo nome agora não recordo, mas em que o praticante, o faz sozinho, deitado sobre uma prancha – não sei se é esse o nome – de barriga para baixo e de cabeça para a frente. A senhora terá batido com a testa numa pedra, não obstante estar equipada com capacete e morreu. Morreu sem que alguém, tão pouco, se apercebesse do acidente. Aqueles que com ela partilhavam a aventura, só mais tarde se aperceberam da sua falta. Participei com os bombeiros de Nespereira que comandava à época, conjuntamente com os de Arouca e foi muito difícil localizar o seu corpo. Nessa altura o caudal do rio era relativamente pequeno o que permitiu as buscas através da água, a pé. Encontrada, foi outra dificuldade quase insuperável para a transportar até um veículo todo-o-terreno, que, mesmo assim, teve de ficar bem distante do rio.
É exactamente aqui que eu quero chegar. O Rio Paiva corre em grande parte da sua extensão, pelo menos no que toca à zona onde se praticam os desportos ditos radicais, num leito ladeado de margens com declives muito acentuados, com pouquíssimas vias de acesso e praticamente inexistentes possibilidades de as percorrer, devido aos intensos e intransponíveis matagais que as povoam. As horas que demorou a encontrar o corpo do João e a retirá-lo depois de ser encontrado, confirmam isso mesmo. Para mim, pela sensibilidade que julgo ter para as questões da segurança, protecção e socorro, bastam esses dois factores – a impossibilidade de acesso ao rio através de viatura de socorro em extensões de quilómetros e o trânsito ainda que apeado através das margens, o mais próximo possível da água – para considerar a prática de tais desportos, nessas circunstâncias, como pouco segura. Os acidentes dão-se em milhentas circunstâncias, mesmo em práticas que se considerem sem quaisquer riscos. Uma coisa, todavia, é acontecer o acidente e haver a possibilidade imediata de socorro, outra é ele acontecer e o socorro ser impossível em tempo oportuno. Há muitos trechos do Rio Paiva, onde, se houver um acidente, se pode ter de esperar muitas horas pelo socorro. E, em alguns casos, nessa demora pode estar a diferença entre viver ou morrer.
Numa região em que o seu desenvolvimento pode passar sobretudo pelo aproveitamento que a natureza oferece, embora me pareça que nenhuma das autarquias em cujo solo desfila o Paiva tenha querido ou sabido tirar todo o proveito disso, julgo não ser de desprezar esse movimento desportivo que se verifica nas suas águas límpidas. Antes, será de apoiar. Portanto, julgo que as Câmaras Municipais de Arouca, Cinfães e Castelo de Paiva, operando singularmente ou em projectos conjuntos, devem proporcionar, sem ofender drasticamente a natureza, melhores condições logísticas para a prática desportiva, mas sobretudo que permitam um mais rápido e eficaz socorro. Uma morte como a do jovem João Filipe Borges, que chegava feliz ao fim da aventura, é sempre uma tragédia. Uma vida que se consegue salvar é sempre um momento de felicidade, uma bênção.
Já agora, deixe-me fazer esta reflexão: se bem que eu entenda que as Câmaras Municipais já referidas devem fazer algo no sentido de minimizar os perigos e maximizar as possibilidades de socorro, ninguém tem legitimidade para acusar qualquer uma delas por eventual responsabilidade neste ou em qualquer outro acidente, seja pela falta de infra-estruturas ou de qualquer outra coisa. Nenhuma entidade se terá responsabilizado, autorizado, ou não, tais práticas, julgo eu. A responsabilidade há-de, com certeza, ser encontrada noutro lado.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Superstições, convicções e opiniões
Desde que me reconheço como pessoa, que comecei a ter percepção do meu comportamento, sempre primei por não só não acreditar em qualquer superstição como ter a enorme tentação de as contrariar, nomeadamente provocando aqueles que as têm, desde que tenha confiança e/ou laços familiares ou de amizade que mo permitam. Que me desculpem os supersticiosos, que eu respeito, obviamente, mas acho as superstições de tal modo ridículas que sou incapaz de deixar de as contestar. Às vezes, faço-o de forma tão obsessiva, que chego a pensar se tal obsessão, ela própria, por si mesmo, não será, de certo modo, uma superstição. Trata-se, apenas, de confirmar a mim mesmo e de demonstrar a quem comigo se relaciona e tem alguma das ditas, que elas não têm sentido. Devo confessar que, por tal comportamento, nunca fui vítima de qualquer malefício, o que faz com que me mantenha fiel aos meus princípios. Não acredito em superstições, como não acredito em mezinhas, atalhamentos, pragas, bruxarias, nos sonhos ou outras coisas que tais, apesar de um dia, já lá vão cerca de cinquenta anos, ter sido protagonista de um episódio, que confirmou em absoluto um sonho que minha mãe tivera nessa noite. Mesmo assim, para mim, tal como nessa altura, ainda hoje penso que se tratou de uma mera coincidência. Mantenho-me incrédulo relativamente a todas essas coisas, na certeza de que nada disso me molestará.
Como exemplo de superstições contrariadas, que são muitas, vou referir apenas uma que se relaciona com o meu filho, quando era bebé. Antes mesmo de ele pronunciar qualquer palavra, punha-o frequentemente ao espelho para ele se ver. Um familiar ficava preocupado, afirmando que isso faria com que o menino viesse a não falar. Eu retorquia que isso não tinha qualquer sentido e insistia em colocá-lo em frente ao espelho, sobretudo quando o dito familiar estava presente. Mauzinho, eu, não?! Devo dizer e aqueles que com ele privaram, em pequenino, comprovam, que foi uma criança que falou de forma bastante perfeita, muito cedo. Aliás não conheci uma criança que falasse tão bem, tão novinho, até aparecer meu neto, seu filho que se equiparou e, posteriormente, minha neta, sua filha, que conseguiu ultrapassar o pai e o irmão, ambos tendo estado, muitas vezes, à frente de um espelho.
A par dessa predisposição para contrariar as superstições, sempre fui possuidor de uma outra, que mantenho, que é a de estar mais frequentemente do lado de fora do politicamente correcto, do que do lado de dentro, porquanto o politicamente correcto, é, com frequência, sinónimo de hipocrisia, de defesa de interesses particulares. Habituei-me, desde muito jovem, a dizer o que penso, independentemente das consequências, que algumas vezes, se traduziram em dissabores. Dissabores que, ao invés de me fazerem mudar de atitude, sempre me deram mais força para continuar a ser o que e como era. Sempre soube dizer sim e dizer não, em função daquilo que julgava ser a verdade, a justiça e não em função dos meus interesses. Felizmente, a frontalidade, de que me orgulho, sempre me foi reconhecida nos mais diversos “ofícios” em que estive envolvido. Confesso que algumas vezes, a minha voz foi quase única a defender determinadas ideias. Embora reconhecesse que seria mais fácil, mais cómodo, estar do outro lado da “barricada”, nunca tive receio de expor e defender aquilo que julgava ser o mais correcto. Não obstante, algumas vezes ser quase o único a defender certos pontos de vista, mais tarde viria a verificar-se que a razão estava do meu lado e a aprovar-se aquilo que anteriormente, solitariamente defendia.
Os meus já longos anos de vida e com experiências múltiplas em diversas áreas mostraram-me que há muitas pessoas, embora inteligentes, não se dão ao trabalho de pensar, de reflectir, de intervir. Não o fazem por comodismo e porque adoptam uma situação defensiva, de modo a que quando tiverem de tomar uma posição, ou seja, em último recurso, votar, o façam, não em consciência, mas de acordo com interesses pessoais ou hipocrisia reinante. Participei e continuo a participar em múltiplas reuniões, nomeadamente em assembleias-gerais em que a grande maioria dos participantes não manifesta uma opinião, não tem uma ideia. São quase sempre dois ou três, e sempre os mesmos, que reflectem, apontam caminhos, sugerem. Parece-me que tanta falta de ideias se deve mais a preguiça, do que a qualquer outro factor. Por outro lado, há aqueles que defendem publicamente não aquilo em que acreditam e/ou praticam, mas, hipocritamente, o que mais lhes interessa, de acordo com o meio em que vivem ou se movem. Exemplificando: há mulheres que praticaram abortos, que incentivaram abortos, há homens que incentivaram ou obrigaram mesmo à prática de abortos, para se esquivarem de responsabilidades, de escândalos. Pois bem: ouvido alguns desses personagens, quem os não conhecer fica regalado com deslumbrantes manifestações oratórias contra o aborto, em quaisquer circunstâncias.
Desde sempre houve homens e mulheres homossexuais. Aquando do meu cumprimento do serviço militar, em Lisboa, convivi com duas jovens assumidamente lésbicas, - estávamos em meados da década de sessenta - bonitas, inteligentes, cultas, ambas bem, profissionalmente, que viviam juntas. Nunca tive qualquer preconceito. Aliás, era um prazer falar com elas. Eu disse que viviam juntas. Eram felizes, mas da sua relação, para além da felicidade que sentiam por uma vida em comum, nada mais poderiam esperar. Sei que se estiverem vivas, juntas, hoje terão mais um motivo para estarem felizes. E porque não?! A negação de uma união legal acabaria, porventura, com a homossexualidade?! A ilegalização das casas de prostituição e o consequente impedimento de as prostitutas, enquanto tais, terem acesso a cuidados de saúde, porventura acabou com elas?! Claro que não.
Quantos homens e mulheres hão por aí, fruto de relações incestuosas? Onde estavam os puritanos e onde estão aqueles de cujos costumes se reclamam herdeiros?!
Há por aí muitas pessoas que de acordo com as vozes dos amigos e vizinhos acorrem assiduamente aos chamados bruxos ou curandeiros, contribuindo de forma generosa para o engrossar das contas bancárias destes, acreditando nos seus poderes sobrenaturais para as libertarem de doenças malignas, de feitiços, maus-olhados e outras coisas mais. Quando alguma dessas pessoas fala comigo, sabendo da minha repulsa por tais actividades, fá-lo sempre como nunca tivesse recorrido a tais serviços e fosse, tal como eu, incrédula em relação a tais poderes.
Seria bom que cada um tivesse coragem de defender as suas convicções, as suas crenças, as suas superstições. Basta de tanta hipocrisia.
Como exemplo de superstições contrariadas, que são muitas, vou referir apenas uma que se relaciona com o meu filho, quando era bebé. Antes mesmo de ele pronunciar qualquer palavra, punha-o frequentemente ao espelho para ele se ver. Um familiar ficava preocupado, afirmando que isso faria com que o menino viesse a não falar. Eu retorquia que isso não tinha qualquer sentido e insistia em colocá-lo em frente ao espelho, sobretudo quando o dito familiar estava presente. Mauzinho, eu, não?! Devo dizer e aqueles que com ele privaram, em pequenino, comprovam, que foi uma criança que falou de forma bastante perfeita, muito cedo. Aliás não conheci uma criança que falasse tão bem, tão novinho, até aparecer meu neto, seu filho que se equiparou e, posteriormente, minha neta, sua filha, que conseguiu ultrapassar o pai e o irmão, ambos tendo estado, muitas vezes, à frente de um espelho.
A par dessa predisposição para contrariar as superstições, sempre fui possuidor de uma outra, que mantenho, que é a de estar mais frequentemente do lado de fora do politicamente correcto, do que do lado de dentro, porquanto o politicamente correcto, é, com frequência, sinónimo de hipocrisia, de defesa de interesses particulares. Habituei-me, desde muito jovem, a dizer o que penso, independentemente das consequências, que algumas vezes, se traduziram em dissabores. Dissabores que, ao invés de me fazerem mudar de atitude, sempre me deram mais força para continuar a ser o que e como era. Sempre soube dizer sim e dizer não, em função daquilo que julgava ser a verdade, a justiça e não em função dos meus interesses. Felizmente, a frontalidade, de que me orgulho, sempre me foi reconhecida nos mais diversos “ofícios” em que estive envolvido. Confesso que algumas vezes, a minha voz foi quase única a defender determinadas ideias. Embora reconhecesse que seria mais fácil, mais cómodo, estar do outro lado da “barricada”, nunca tive receio de expor e defender aquilo que julgava ser o mais correcto. Não obstante, algumas vezes ser quase o único a defender certos pontos de vista, mais tarde viria a verificar-se que a razão estava do meu lado e a aprovar-se aquilo que anteriormente, solitariamente defendia.
Os meus já longos anos de vida e com experiências múltiplas em diversas áreas mostraram-me que há muitas pessoas, embora inteligentes, não se dão ao trabalho de pensar, de reflectir, de intervir. Não o fazem por comodismo e porque adoptam uma situação defensiva, de modo a que quando tiverem de tomar uma posição, ou seja, em último recurso, votar, o façam, não em consciência, mas de acordo com interesses pessoais ou hipocrisia reinante. Participei e continuo a participar em múltiplas reuniões, nomeadamente em assembleias-gerais em que a grande maioria dos participantes não manifesta uma opinião, não tem uma ideia. São quase sempre dois ou três, e sempre os mesmos, que reflectem, apontam caminhos, sugerem. Parece-me que tanta falta de ideias se deve mais a preguiça, do que a qualquer outro factor. Por outro lado, há aqueles que defendem publicamente não aquilo em que acreditam e/ou praticam, mas, hipocritamente, o que mais lhes interessa, de acordo com o meio em que vivem ou se movem. Exemplificando: há mulheres que praticaram abortos, que incentivaram abortos, há homens que incentivaram ou obrigaram mesmo à prática de abortos, para se esquivarem de responsabilidades, de escândalos. Pois bem: ouvido alguns desses personagens, quem os não conhecer fica regalado com deslumbrantes manifestações oratórias contra o aborto, em quaisquer circunstâncias.
Desde sempre houve homens e mulheres homossexuais. Aquando do meu cumprimento do serviço militar, em Lisboa, convivi com duas jovens assumidamente lésbicas, - estávamos em meados da década de sessenta - bonitas, inteligentes, cultas, ambas bem, profissionalmente, que viviam juntas. Nunca tive qualquer preconceito. Aliás, era um prazer falar com elas. Eu disse que viviam juntas. Eram felizes, mas da sua relação, para além da felicidade que sentiam por uma vida em comum, nada mais poderiam esperar. Sei que se estiverem vivas, juntas, hoje terão mais um motivo para estarem felizes. E porque não?! A negação de uma união legal acabaria, porventura, com a homossexualidade?! A ilegalização das casas de prostituição e o consequente impedimento de as prostitutas, enquanto tais, terem acesso a cuidados de saúde, porventura acabou com elas?! Claro que não.
Quantos homens e mulheres hão por aí, fruto de relações incestuosas? Onde estavam os puritanos e onde estão aqueles de cujos costumes se reclamam herdeiros?!
Há por aí muitas pessoas que de acordo com as vozes dos amigos e vizinhos acorrem assiduamente aos chamados bruxos ou curandeiros, contribuindo de forma generosa para o engrossar das contas bancárias destes, acreditando nos seus poderes sobrenaturais para as libertarem de doenças malignas, de feitiços, maus-olhados e outras coisas mais. Quando alguma dessas pessoas fala comigo, sabendo da minha repulsa por tais actividades, fá-lo sempre como nunca tivesse recorrido a tais serviços e fosse, tal como eu, incrédula em relação a tais poderes.
Seria bom que cada um tivesse coragem de defender as suas convicções, as suas crenças, as suas superstições. Basta de tanta hipocrisia.
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domingo, 3 de janeiro de 2010
Manter acesa a esperança
A partir do momento em que atingimos um carro de anos de idade, parece que o tempo voa, como se os anos tivessem apenas a duração de meses, os meses de dias, os dias de horas. Para quem não estiver identificado com esta linguagem tipicamente agrária, devo dizer que um carro de anos, quer dizer quarenta anos. É precisamente a partir dos quarenta anos, ou da entrada nos “entas”, como também se diz, que os aniversários, os Natais, as Páscoas ou quaisquer outras efemérides se sucedem a uma velocidade, que, sendo sempre a mesma, todavia, nos parece estonteante. Quase sem nos darmos conta, temos filhos, que tendo a idade que, no subconsciente, nos parece ter, mas a quem já começam a aparecer as primeiras cãs e já nos deram netos. Sinal de que, afinal, já somos seniores, como agora se diz, ou estamos, apressadamente, a lá chegar. Bom, se de acordo com os rótulos da moda, eu já entrei na terceira idade ou sou sénior, com direito a meio bilhete, benesse de que, por acaso, ainda não usufruí, não obstante já me ressentir de algumas maleitas físicas, mesmo assim, não só física, mas sobretudo mentalmente, não me sinto, de modo nenhum, em estado sénio.
Este arrazoado vem a propósito de termos entrado na segunda década do século XXI, apesar de me parecer que foi ainda há muito pouco tempo. Recordo bem aquela noite de passagem de 1999 para 2000, até porque, pelas funções que desempenhava, tive de me manter toda a noite, desperto e atento, no Centro de Operações que dirigia, uma noite cheia de dúvidas, de incertezas para milhões de pessoas, de enormes receios para muitos outros, que acreditavam, ou, pelo menos, suspeitavam que “a dois mil chegarás, mas de dois mil não passarás”. Não se confirmaram receios, profecias, iniciou-se um novo milénio de forma tranquila. Terminou-se a sua primeira década, com momentos de fortuna para uns, de infortúnio para outros, de sucessos e tragédias, de esperanças e desesperanças.
No início deste terceiro lustro do milénio, “entretidos” com uma grave crise à escala global, mas de que alguns se aproveitam, ao invés de, como é nosso timbre, ficarmos à espera de ver o que é que os outros fazem, nomeadamente aqueles que têm responsabilidades de governação, a qualquer nível, melhor é cada um de nós assumir que deve ser parte da solução e não apenas o problema ou uma parte do problema. Cada um de nós, uns mais, outros menos, através da acção, do comportamento, de uma outra atitude, de um optimismo racional e não um pessimismo doentio, fatalista, pode contribuir para o debelar da crise, para um país mais próspero, mais solidário. É preciso não deixarmos morrer a esperança e fazermos tudo quanto estiver ao nosso alcance para não deixar que a esperança morra, mesmo naqueles mais desafortunados, que quase não têm uma réstia de nada para a fazer sobreviver. É preciso acreditarmos mais em nós próprios, nas nossas capacidades, usá-las; é preciso acreditarmos mais em nós, como povo, que temos uma história que, não obstante alguns fracassos de que soubemos sempre reerguer-nos, construímos êxitos de que poucos povos se podem orgulhar. É preciso acreditarmos que não é invejando, mas congratulando-nos com o sucesso dos outros, que não é fixarmo-nos cegamente nas nossas convicções ou nos nossos interesses, defendê-los sem admitir consensos, beneficiando sempre o interesse particular em prejuízo do geral, que contribuiremos para tempos de melhor justiça, melhor educação, melhor equilíbrio social. É forçoso, é urgente que cada um de nós seja menos egoísta, não deixe desmoronar a esperança, mas, na certeza de que se não fizer nada por isso, ela sucumbirá tão ingloriamente como inglório será o nosso futuro.
Cá por mim, apesar do estatuto sénior, mantenho a esperança, o optimismo, a confiança que sempre me caracterizaram, atributos, graças aos quais foi possível atingir determinados objectivos, uns pessoais, outros colectivos, alguns mesmo em que poucos acreditavam e se comportavam como “Velhos-do-Restelo”. Se a cada um de nós, cidadão comum, para bem de todos, se exige que assim seja, aos políticos de todos os quadrantes, porque nas suas mãos depositamos o nosso futuro, se tem de ser mais exigente ainda. É admissível, é legítimo, é normal que cada partido lute de acordo com as suas convicções – quando as tem, porque às vezes parece que não – mas há momentos, em que, de tão contraditórias que são as opções, tem de haver cedências de parte a parte, em nome do bem comum. A minha grande esperança para 2010 é que isso possa ser uma realidade. Se assim for, para além de podermos ter melhores sonhos, podemos acreditar num futuro melhor. Assim seja.
Este arrazoado vem a propósito de termos entrado na segunda década do século XXI, apesar de me parecer que foi ainda há muito pouco tempo. Recordo bem aquela noite de passagem de 1999 para 2000, até porque, pelas funções que desempenhava, tive de me manter toda a noite, desperto e atento, no Centro de Operações que dirigia, uma noite cheia de dúvidas, de incertezas para milhões de pessoas, de enormes receios para muitos outros, que acreditavam, ou, pelo menos, suspeitavam que “a dois mil chegarás, mas de dois mil não passarás”. Não se confirmaram receios, profecias, iniciou-se um novo milénio de forma tranquila. Terminou-se a sua primeira década, com momentos de fortuna para uns, de infortúnio para outros, de sucessos e tragédias, de esperanças e desesperanças.
No início deste terceiro lustro do milénio, “entretidos” com uma grave crise à escala global, mas de que alguns se aproveitam, ao invés de, como é nosso timbre, ficarmos à espera de ver o que é que os outros fazem, nomeadamente aqueles que têm responsabilidades de governação, a qualquer nível, melhor é cada um de nós assumir que deve ser parte da solução e não apenas o problema ou uma parte do problema. Cada um de nós, uns mais, outros menos, através da acção, do comportamento, de uma outra atitude, de um optimismo racional e não um pessimismo doentio, fatalista, pode contribuir para o debelar da crise, para um país mais próspero, mais solidário. É preciso não deixarmos morrer a esperança e fazermos tudo quanto estiver ao nosso alcance para não deixar que a esperança morra, mesmo naqueles mais desafortunados, que quase não têm uma réstia de nada para a fazer sobreviver. É preciso acreditarmos mais em nós próprios, nas nossas capacidades, usá-las; é preciso acreditarmos mais em nós, como povo, que temos uma história que, não obstante alguns fracassos de que soubemos sempre reerguer-nos, construímos êxitos de que poucos povos se podem orgulhar. É preciso acreditarmos que não é invejando, mas congratulando-nos com o sucesso dos outros, que não é fixarmo-nos cegamente nas nossas convicções ou nos nossos interesses, defendê-los sem admitir consensos, beneficiando sempre o interesse particular em prejuízo do geral, que contribuiremos para tempos de melhor justiça, melhor educação, melhor equilíbrio social. É forçoso, é urgente que cada um de nós seja menos egoísta, não deixe desmoronar a esperança, mas, na certeza de que se não fizer nada por isso, ela sucumbirá tão ingloriamente como inglório será o nosso futuro.
Cá por mim, apesar do estatuto sénior, mantenho a esperança, o optimismo, a confiança que sempre me caracterizaram, atributos, graças aos quais foi possível atingir determinados objectivos, uns pessoais, outros colectivos, alguns mesmo em que poucos acreditavam e se comportavam como “Velhos-do-Restelo”. Se a cada um de nós, cidadão comum, para bem de todos, se exige que assim seja, aos políticos de todos os quadrantes, porque nas suas mãos depositamos o nosso futuro, se tem de ser mais exigente ainda. É admissível, é legítimo, é normal que cada partido lute de acordo com as suas convicções – quando as tem, porque às vezes parece que não – mas há momentos, em que, de tão contraditórias que são as opções, tem de haver cedências de parte a parte, em nome do bem comum. A minha grande esperança para 2010 é que isso possa ser uma realidade. Se assim for, para além de podermos ter melhores sonhos, podemos acreditar num futuro melhor. Assim seja.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Bom Ano
Estamos prestes a findar a primeira década do século XXI, portanto, a entrar numa nova década, exactamente o início de 2010. Estoiram-se os últimos cartuchos de 2009, de fracas recordações para muitos. A crise económica e financeira, à escala global, afectaria qualquer país, muito mais um de fracos recursos como o nosso e com tanta gente mais amiga de subsídios e de reformas forjadas ou “compradas” do que de trabalho. Na verdade, um país em que um grande número de pessoas pratica e aplaude o “chico-espertismo”, a vigarice; que se julga senhor de todas as liberdades, mas não admite a dos outros; ter todos os direitos, mas poucos ou nenhuns deveres; um país em que um grande número de trabalhadores, dos mais variados níveis, não produz o que a sua capacidade lhe permite e a seriedade exige, porque considera os patrões ou superiores hierárquicos como inimigos, as empresas como se lhe não digam mais respeito que não seja apenas o de lhe garantir o sustento, mesmo sem crise não pode ir muito longe.
Disse atrás que o 2009 foi de fracas recordações para muitos. Não disse para todos, porque é precisamente em tempos de crise, de dificuldades, que muitos enriquecem. A miséria, a desgraça de muitos é a fortuna de alguns, normalmente com poucos escrúpulos e demasiada ambição.
Na semana passada falei sobretudo da enorme hipocrisia que envolve o Natal, nomeadamente no que toca à assunção generalizada de que ele é, por excelência, a festa da família. Dizia eu que muitas vezes as virtudes – nunca serão virtudes quando se trata de actos hipócritas – estão voltadas para o exterior, para onde se dê nas vistas. E mais do que deixar de praticar as tais virtudes tão apregoadas pelo Natal, mas que devem ser de todos os dias, no seio da família, praticam-se actos desumanos, ignóbeis, como colocar pais e avós em instituições hospitalares, deixando-os por lá abandonados. Confirmando isto que eu dizia, alguns órgãos de comunicação social davam conta de que tinham sido deixados abandonados em diversos hospitais centenas de familiares, com um único intuito, por certo, que era o de não perturbarem as festas. Num jornal, eu li que só num hospital de Lisboa, não sei se por lapso de impressão ou se de facto é verdade, estariam cerca de duas centenas de idosos que familiares lá deixaram, não os recolhendo, nem se preocupando como seu estado. Não será agora, por certo, em mais esta época para muitos de festa de arromba, apesar da crise, que esses mesmos familiares os irão recolher para lhes prejudicar os planos de folguedo. Provavelmente, algumas dessas pessoas andaram a exibir solidariedade onde ela desse nas vistas, talvez confortando outros idosos ou doentes, ignorando os de sua própria casa.
Creio que, se quisermos um mundo melhor, todos temos muito que reflectir sobre o nosso comportamento. Eu sugiro que cada um de nós se olhe ao espelho, não aquele espelho material, que nos envaidece ou desilude, mas aquele, imaterial, que nos mostra a alma. Não sabe como é? Isole-se, feche os olhos para que o ambiente que o rodeia não o desconcentre, abra a alma, reflicta sobre o que fez e não fez. Alije alguns laivos de egoísmo, de ingratidão, de vaidade, de deslealdade, que porventura encontre dentro de si, e, assim aliviado, imagine o quanto pode fazer de bem por si e pelos outros. Vai, certamente, descobrir uma infinidade de coisas que pode fazer, outras tantas que não deve fazer. Se todos fizermos isso e se cada um de nós realizar, ainda que seja um pouco do que se deveria fazer, estaremos a contribuir para tornar mais feliz a vida de todos nós, a contribuir para um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário, menos egoísta, menos hipócrita, menos materialista, enfim, um mundo melhor. Se cada um de nós se esforçar um pouco, se procurarmos recuperar e praticar os verdadeiros valores pelos quais todos nos devemos reger, aqueles valores universais, venham as crises que vierem, continuarão a provocar sofrimento e dor mais a uns do que a outros, mas, prenhes das virtudes e valores referidos, haveremos de as suportar e ultrapassar mais facilmente.
O termos ou não um bom ano de 2010 também depende de si, de mim, de todos nós. E depende muito dos políticos que temos. Dos que elegemos e dos que não elegemos. A muitos desses, infelizmente, não basta a reflexão e a hipotética vontade de serem melhores. Falta-lhes valores, competência, sobra-lhes egoísmo, incompetência, arrogância. Não se criam uns e eliminam outros de um dia para o outro, pelo que não esperemos o paraíso no ano que aí vem. Os políticos que temos, muitos deles que se não movem por convicções, que as não têm, mas pela defesa dos seus privilégios pessoais ou de grupo; políticos que hoje dizem uma coisa e amanhã o seu contrário, que não têm o menor pudor em lutar contra os adversários com toda a espécie de armas, ainda que as mais ignóbeis e ilegítimas, não nos poderão levar a bom porto, a menos que alguma Entidade interceda nesse sentido. Se crê em qualquer divindade, não desanime, ore-lhe. E digo-lhe não desanime, com toda a seriedade, com toda a confiança, não nos políticos, mas porque todos nós, os que não vivemos nem à sombra da política nem de nenhum político, embora combalidos pelo infortúnio, não deixamos que a esperança sucumba, como disse atrás, nós todos podemos fazer muito, inclusive, obrigar os políticos a serem melhores. Vamos a isso. Bom ano.
Disse atrás que o 2009 foi de fracas recordações para muitos. Não disse para todos, porque é precisamente em tempos de crise, de dificuldades, que muitos enriquecem. A miséria, a desgraça de muitos é a fortuna de alguns, normalmente com poucos escrúpulos e demasiada ambição.
Na semana passada falei sobretudo da enorme hipocrisia que envolve o Natal, nomeadamente no que toca à assunção generalizada de que ele é, por excelência, a festa da família. Dizia eu que muitas vezes as virtudes – nunca serão virtudes quando se trata de actos hipócritas – estão voltadas para o exterior, para onde se dê nas vistas. E mais do que deixar de praticar as tais virtudes tão apregoadas pelo Natal, mas que devem ser de todos os dias, no seio da família, praticam-se actos desumanos, ignóbeis, como colocar pais e avós em instituições hospitalares, deixando-os por lá abandonados. Confirmando isto que eu dizia, alguns órgãos de comunicação social davam conta de que tinham sido deixados abandonados em diversos hospitais centenas de familiares, com um único intuito, por certo, que era o de não perturbarem as festas. Num jornal, eu li que só num hospital de Lisboa, não sei se por lapso de impressão ou se de facto é verdade, estariam cerca de duas centenas de idosos que familiares lá deixaram, não os recolhendo, nem se preocupando como seu estado. Não será agora, por certo, em mais esta época para muitos de festa de arromba, apesar da crise, que esses mesmos familiares os irão recolher para lhes prejudicar os planos de folguedo. Provavelmente, algumas dessas pessoas andaram a exibir solidariedade onde ela desse nas vistas, talvez confortando outros idosos ou doentes, ignorando os de sua própria casa.
Creio que, se quisermos um mundo melhor, todos temos muito que reflectir sobre o nosso comportamento. Eu sugiro que cada um de nós se olhe ao espelho, não aquele espelho material, que nos envaidece ou desilude, mas aquele, imaterial, que nos mostra a alma. Não sabe como é? Isole-se, feche os olhos para que o ambiente que o rodeia não o desconcentre, abra a alma, reflicta sobre o que fez e não fez. Alije alguns laivos de egoísmo, de ingratidão, de vaidade, de deslealdade, que porventura encontre dentro de si, e, assim aliviado, imagine o quanto pode fazer de bem por si e pelos outros. Vai, certamente, descobrir uma infinidade de coisas que pode fazer, outras tantas que não deve fazer. Se todos fizermos isso e se cada um de nós realizar, ainda que seja um pouco do que se deveria fazer, estaremos a contribuir para tornar mais feliz a vida de todos nós, a contribuir para um mundo mais justo, mais fraterno, mais solidário, menos egoísta, menos hipócrita, menos materialista, enfim, um mundo melhor. Se cada um de nós se esforçar um pouco, se procurarmos recuperar e praticar os verdadeiros valores pelos quais todos nos devemos reger, aqueles valores universais, venham as crises que vierem, continuarão a provocar sofrimento e dor mais a uns do que a outros, mas, prenhes das virtudes e valores referidos, haveremos de as suportar e ultrapassar mais facilmente.
O termos ou não um bom ano de 2010 também depende de si, de mim, de todos nós. E depende muito dos políticos que temos. Dos que elegemos e dos que não elegemos. A muitos desses, infelizmente, não basta a reflexão e a hipotética vontade de serem melhores. Falta-lhes valores, competência, sobra-lhes egoísmo, incompetência, arrogância. Não se criam uns e eliminam outros de um dia para o outro, pelo que não esperemos o paraíso no ano que aí vem. Os políticos que temos, muitos deles que se não movem por convicções, que as não têm, mas pela defesa dos seus privilégios pessoais ou de grupo; políticos que hoje dizem uma coisa e amanhã o seu contrário, que não têm o menor pudor em lutar contra os adversários com toda a espécie de armas, ainda que as mais ignóbeis e ilegítimas, não nos poderão levar a bom porto, a menos que alguma Entidade interceda nesse sentido. Se crê em qualquer divindade, não desanime, ore-lhe. E digo-lhe não desanime, com toda a seriedade, com toda a confiança, não nos políticos, mas porque todos nós, os que não vivemos nem à sombra da política nem de nenhum político, embora combalidos pelo infortúnio, não deixamos que a esperança sucumba, como disse atrás, nós todos podemos fazer muito, inclusive, obrigar os políticos a serem melhores. Vamos a isso. Bom ano.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Presépios de Natal
Encontrei na minha caixa do correio, certamente à semelhança de todos os nespereirenses, um cartão de Boas-Festas, da Junta de Freguesia de Nespereira. De Cinfães, para que se não confunda com nenhuma outra. Você, muito provavelmente, irá achar este texto bem diferente dos habituais. É natural. No entanto, achei-o tão interessante, tão expressivo da época e do que se passa, no momento, na freguesia, que não podia, não devia calar a minha voz, deixando de dizer aquilo que me apetece.
De facto, o cartão com os diversos presépios construídos em diversos lugares, por sugestão da Junta de Freguesia, está muito bonito. Fosse a ideia de quem fosse ou mesmo que tenha sido copiada ou inspirada em qualquer outro cartão, ele está muito bonito. Mesmo faltando lá um presépio, de acordo com os meus olhos, que só lá faltará, evidentemente, por motivos justificados.
Não sendo muito dado a guardar coisas – nem sequer tenho guardados os jornais onde escrevi centenas de peças - vou guardar este cartão, porque ele não se limita a essa questão formal e institucional do mero desejo de Boas-Festas. Ele tem gravado aquilo que é um pedaço da história desta freguesia que se vai construindo.
Creio que aqueles nossos compatriotas que mourejam pela estranja gostariam de receber um cartão desses que, acredito, guardariam religiosamente. Por isso me atrevo a sugerir à Junta de Freguesia, já não digo que os envie, mas que os faculte às pessoas que tenham familiares no estrangeiro, que, pela distância ou qualquer outra razão, não passem cá esta época festiva, que lhe facultem os cartões desde que manifestem interesse, para elas próprias os enviarem. É uma sugestão que custará mais uns euros, mas não arruinará os cofres da autarquia.
Gostei de ver também Freguesia de Nespereira e não o errado e parolo termo vila, porque Nespereira tem, efectivamente o estatuto de vila, mas que corresponde a um determinado espaço territorial. Freguesia, sim, é que está correcto.
Parabéns à Junta de Freguesia e que o espírito que os presépios nos transmitem vivam dentro de vós, dentro de todos nós, em todos os dias do ano.
De facto, o cartão com os diversos presépios construídos em diversos lugares, por sugestão da Junta de Freguesia, está muito bonito. Fosse a ideia de quem fosse ou mesmo que tenha sido copiada ou inspirada em qualquer outro cartão, ele está muito bonito. Mesmo faltando lá um presépio, de acordo com os meus olhos, que só lá faltará, evidentemente, por motivos justificados.
Não sendo muito dado a guardar coisas – nem sequer tenho guardados os jornais onde escrevi centenas de peças - vou guardar este cartão, porque ele não se limita a essa questão formal e institucional do mero desejo de Boas-Festas. Ele tem gravado aquilo que é um pedaço da história desta freguesia que se vai construindo.
Creio que aqueles nossos compatriotas que mourejam pela estranja gostariam de receber um cartão desses que, acredito, guardariam religiosamente. Por isso me atrevo a sugerir à Junta de Freguesia, já não digo que os envie, mas que os faculte às pessoas que tenham familiares no estrangeiro, que, pela distância ou qualquer outra razão, não passem cá esta época festiva, que lhe facultem os cartões desde que manifestem interesse, para elas próprias os enviarem. É uma sugestão que custará mais uns euros, mas não arruinará os cofres da autarquia.
Gostei de ver também Freguesia de Nespereira e não o errado e parolo termo vila, porque Nespereira tem, efectivamente o estatuto de vila, mas que corresponde a um determinado espaço territorial. Freguesia, sim, é que está correcto.
Parabéns à Junta de Freguesia e que o espírito que os presépios nos transmitem vivam dentro de vós, dentro de todos nós, em todos os dias do ano.
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
Natal sempre
Cada um de nós tem os seus pontos de vista que devem ser respeitados. Todos temos legitimidade de concordar ou discordar dos pontos de vista dos outros, desde que o façamos com correcção, sem qualquer intuito ofensivo, sem assumirmos qualquer atitude de superioridade, no pressuposto de que o nosso é que é o verdadeiro.
Este preâmbulo vem a propósito do clima de crispação entre o Presidente da República e o Governo e o Partido Socialista. Qualquer dirigente, nomeadamente das instituições do Estado, sobretudo os que exercem funções da mais alta responsabilidade, quando interpelados ou quando entendem pronunciar-se sobre determinados assuntos, não o devem fazer como se fossem um qualquer cidadão comum, mas com a diplomacia suficiente para não criar conflitos tão desnecessários como prejudiciais para o bom funcionamento das referidas instituições.
É legítimo que o Presidente da República tenha as suas prioridades, como é legítimo que o Governo tenha as suas, independentemente de cada um concordar ou não com as do outro. Estar de acordo ou não é normal, já não é normal que qualquer deles se pronuncie publicamente sobre as prioridades do outro, desnecessariamente e de forma a provocar conflitos.
Não estando em causa a minha concordância ou não com a legalização dos casamentos entre indivíduos do mesmo sexo, parece-me que, embora o Governo esteja legitimado para legislar nessa matéria, num momento de crise como a que atravessamos e num clima político pouco pacífico, o governo deveria deixar tal matéria para mais adiante, na legislatura. Tal matéria não faria parte, pois, das minhas prioridades. Parece, assim, que estou de acordo com Cavaco Silva. Só que eu sou um cidadão comum, sem responsabilidades nos mais altos desígnios da nação. Cavaco Silva, ao ser interpelado pela comunicação social sobre a decisão do Governo aprovar os casamentos gays, respondendo da forma que respondeu, fê-lo de forma provocatória para o governo, com o seu ar de superioridade, de quem se julga senhor incontestado da verdade, de quem “nunca erra e raramente se engana”, o que contraria o que deve ser o comportamento de um Chefe de Estado, e aquilo que o próprio Cavaco Silva frequentemente apregoa. “Bem prega Frei Tomás”. Parece-me que o espírito de Natal anda arredio daquelas paragens entre Belém, S. Bento e o Rato, até porque a réplica dada, quer pelo governo, quer pelo PS, também não terá sido a mais adequada e de molde a proporcionar quaisquer tréguas.
Bom, pelo menos esta situação fugiu um pouco à habitual hipocrisia natalícia. Se isto significasse a morte da hipocrisia, só por isso teria valido a pena. Mas não tenhamos ilusões, a hipocrisia vingará e, pelo que se vai vendo, cada vez tem mais força, mais praticantes, porque se torna evidente, para infelicidade nossa, que a maioria dos mortais se convenceu que só usando-a conseguirá triunfar. De facto, mesmo aqueles que abominam a hipocrisia, como eu, que têm escrúpulos em a utilizar, mas não são ingénuos, verificam que quem normalmente triunfa, ainda que sejam absolutamente medíocres, são os que mais prometem, mesmo que pouco façam, e sabem usar, com perfeição, essa extraordinária, mas mentirosa, arma de sedução, que é a hipocrisia.
Desde muito jovem, me chocou verificar que aquelas virtudes, de que todos nós deveríamos estar imbuídos durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, por muitas pessoas, só são vividas na época natalícia. E tantas vezes, de forma hipócrita. Eu atrevo-me a afirmar que o Natal é, ao contrário do que deveria ser, a época da hipocrisia. Bem sei que é uma afirmação polémica. Assumo-o, até porque o ser polémico faz parte da minha essência. E confesso que gosto muito de mim assim. Ninguém acredita que se consiga gostar de alguém, sem gostar primeiro de si próprio. Só quem gosta de si, sem ser por narcisismo, sem ser por vaidade, sem ser por se julgar possuidor de atributos, de méritos, que de facto não tem, mas porque vive em constância com a consciência tranquila, que olha os outros sempre com olhos nos olhos, que só se olha os outros para os ajudar a levantar, que caminha sempre de cabeça erguida, que só fala nas costas de alguém aquilo que é capaz de dizer frente a frente, só quem possui estes atributos é capaz de verdadeiramente gostar dos outros, ser solidário, fraterno. A solidariedade, a fraternidade são de todos os dias e não apenas do Natal.Mas o que é que nos é dado ver, afinal?! No Natal, quase todas as instituições, as pessoas, vestem a pele de pais natais, enchem a boca de solidariedade, amor, paz. Às vezes praticam essas virtudes. Às vezes até o fazem com sinceridade. Outras vezes apenas e só hipocrisia. Muita e repugnante hipocrisia. Desenvolvem-se as mais diversas campanhas de solidariedade, normalmente com resultados altamente positivos. Mesmo que muitas ofertas sejam consequência de alguma vaidade, alguma hipocrisia, desde que bem aplicadas, valem. Durante o resto do ano todos os carenciados deixaram de existir? A solidariedade, a paz, a harmonia, esgotaram-se? E porque é que a solidariedade tantas vezes é necessária à nossa porta, quem sabe, dentro de portas, e se ignora e, por outro lado, se mostra, sobretudo quando e onde há “holofotes”? Acha que não? Repare quantas pessoas, sobretudo avós e pais idosos são enviados para os hospitais em época de Natal e férias e lá são abandonados pelos familiares que não respondem sequer às solicitações para os retirarem quando têm alta! Porventura, alguns desses familiares não se escusam de ir exibir solidariedade por outras portas. E dizem que o Natal é a época, por excelência, dedicada à família! Quantas vezes, quase se tropeça na miséria e se finge não ver e se vai praticar a solidariedadezinha onde se dê nas vistas, onde os amigos e conhecidos possam tomar conhecimento do gesto. Podem assim arrotar as suas pretensas virtudes para satisfação das suas vaidades. E é bom não esquecer que a solidariedade não se completa na oferta de meios materiais. Algumas vezes nem é isso que é necessário, mas uma palavra de esperança, de carinho, um ombro amigo para receber um desabafo, o saber ouvir, o respeitar o silêncio, um simples e terno olhar, o estar ao lado, mesmo estando longe, o estender a mão. O que normalmente se vê em cada Natal que passa, não é aquele que eu preconizo, por isso esta época, não obstante o alegre convívio com meus filhos, seus cônjuges e netos, como tantas outras vezes o faço, me deixa sempre entristecido. O Natal, para muita gente, não é mais do que um pequenino paliativo, por uns dias, no oceano das suas dores, na imensidão dos 365 dias. O que eu desejo é que cada um seja, agora e sempre, autor e usufrutuário de todas as virtudes que mais se apregoam pelo Natal. São os meus desejos para si também.
Este preâmbulo vem a propósito do clima de crispação entre o Presidente da República e o Governo e o Partido Socialista. Qualquer dirigente, nomeadamente das instituições do Estado, sobretudo os que exercem funções da mais alta responsabilidade, quando interpelados ou quando entendem pronunciar-se sobre determinados assuntos, não o devem fazer como se fossem um qualquer cidadão comum, mas com a diplomacia suficiente para não criar conflitos tão desnecessários como prejudiciais para o bom funcionamento das referidas instituições.
É legítimo que o Presidente da República tenha as suas prioridades, como é legítimo que o Governo tenha as suas, independentemente de cada um concordar ou não com as do outro. Estar de acordo ou não é normal, já não é normal que qualquer deles se pronuncie publicamente sobre as prioridades do outro, desnecessariamente e de forma a provocar conflitos.
Não estando em causa a minha concordância ou não com a legalização dos casamentos entre indivíduos do mesmo sexo, parece-me que, embora o Governo esteja legitimado para legislar nessa matéria, num momento de crise como a que atravessamos e num clima político pouco pacífico, o governo deveria deixar tal matéria para mais adiante, na legislatura. Tal matéria não faria parte, pois, das minhas prioridades. Parece, assim, que estou de acordo com Cavaco Silva. Só que eu sou um cidadão comum, sem responsabilidades nos mais altos desígnios da nação. Cavaco Silva, ao ser interpelado pela comunicação social sobre a decisão do Governo aprovar os casamentos gays, respondendo da forma que respondeu, fê-lo de forma provocatória para o governo, com o seu ar de superioridade, de quem se julga senhor incontestado da verdade, de quem “nunca erra e raramente se engana”, o que contraria o que deve ser o comportamento de um Chefe de Estado, e aquilo que o próprio Cavaco Silva frequentemente apregoa. “Bem prega Frei Tomás”. Parece-me que o espírito de Natal anda arredio daquelas paragens entre Belém, S. Bento e o Rato, até porque a réplica dada, quer pelo governo, quer pelo PS, também não terá sido a mais adequada e de molde a proporcionar quaisquer tréguas.
Bom, pelo menos esta situação fugiu um pouco à habitual hipocrisia natalícia. Se isto significasse a morte da hipocrisia, só por isso teria valido a pena. Mas não tenhamos ilusões, a hipocrisia vingará e, pelo que se vai vendo, cada vez tem mais força, mais praticantes, porque se torna evidente, para infelicidade nossa, que a maioria dos mortais se convenceu que só usando-a conseguirá triunfar. De facto, mesmo aqueles que abominam a hipocrisia, como eu, que têm escrúpulos em a utilizar, mas não são ingénuos, verificam que quem normalmente triunfa, ainda que sejam absolutamente medíocres, são os que mais prometem, mesmo que pouco façam, e sabem usar, com perfeição, essa extraordinária, mas mentirosa, arma de sedução, que é a hipocrisia.
Desde muito jovem, me chocou verificar que aquelas virtudes, de que todos nós deveríamos estar imbuídos durante os trezentos e sessenta e cinco dias do ano, por muitas pessoas, só são vividas na época natalícia. E tantas vezes, de forma hipócrita. Eu atrevo-me a afirmar que o Natal é, ao contrário do que deveria ser, a época da hipocrisia. Bem sei que é uma afirmação polémica. Assumo-o, até porque o ser polémico faz parte da minha essência. E confesso que gosto muito de mim assim. Ninguém acredita que se consiga gostar de alguém, sem gostar primeiro de si próprio. Só quem gosta de si, sem ser por narcisismo, sem ser por vaidade, sem ser por se julgar possuidor de atributos, de méritos, que de facto não tem, mas porque vive em constância com a consciência tranquila, que olha os outros sempre com olhos nos olhos, que só se olha os outros para os ajudar a levantar, que caminha sempre de cabeça erguida, que só fala nas costas de alguém aquilo que é capaz de dizer frente a frente, só quem possui estes atributos é capaz de verdadeiramente gostar dos outros, ser solidário, fraterno. A solidariedade, a fraternidade são de todos os dias e não apenas do Natal.Mas o que é que nos é dado ver, afinal?! No Natal, quase todas as instituições, as pessoas, vestem a pele de pais natais, enchem a boca de solidariedade, amor, paz. Às vezes praticam essas virtudes. Às vezes até o fazem com sinceridade. Outras vezes apenas e só hipocrisia. Muita e repugnante hipocrisia. Desenvolvem-se as mais diversas campanhas de solidariedade, normalmente com resultados altamente positivos. Mesmo que muitas ofertas sejam consequência de alguma vaidade, alguma hipocrisia, desde que bem aplicadas, valem. Durante o resto do ano todos os carenciados deixaram de existir? A solidariedade, a paz, a harmonia, esgotaram-se? E porque é que a solidariedade tantas vezes é necessária à nossa porta, quem sabe, dentro de portas, e se ignora e, por outro lado, se mostra, sobretudo quando e onde há “holofotes”? Acha que não? Repare quantas pessoas, sobretudo avós e pais idosos são enviados para os hospitais em época de Natal e férias e lá são abandonados pelos familiares que não respondem sequer às solicitações para os retirarem quando têm alta! Porventura, alguns desses familiares não se escusam de ir exibir solidariedade por outras portas. E dizem que o Natal é a época, por excelência, dedicada à família! Quantas vezes, quase se tropeça na miséria e se finge não ver e se vai praticar a solidariedadezinha onde se dê nas vistas, onde os amigos e conhecidos possam tomar conhecimento do gesto. Podem assim arrotar as suas pretensas virtudes para satisfação das suas vaidades. E é bom não esquecer que a solidariedade não se completa na oferta de meios materiais. Algumas vezes nem é isso que é necessário, mas uma palavra de esperança, de carinho, um ombro amigo para receber um desabafo, o saber ouvir, o respeitar o silêncio, um simples e terno olhar, o estar ao lado, mesmo estando longe, o estender a mão. O que normalmente se vê em cada Natal que passa, não é aquele que eu preconizo, por isso esta época, não obstante o alegre convívio com meus filhos, seus cônjuges e netos, como tantas outras vezes o faço, me deixa sempre entristecido. O Natal, para muita gente, não é mais do que um pequenino paliativo, por uns dias, no oceano das suas dores, na imensidão dos 365 dias. O que eu desejo é que cada um seja, agora e sempre, autor e usufrutuário de todas as virtudes que mais se apregoam pelo Natal. São os meus desejos para si também.
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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
A incoerência dos políticos
Vejam só a incoerência, a “lata” dos políticos. Dos políticos e de uma grande parte dos cidadãos, infelizmente. Só que daqueles seria legítimo esperar mais e melhor do que destes, dadas as funções que desempenham, pelas quais são pagos, não direi principescamente, mas bem, com o dinheiro dos impostos de todos nós, isto é, do nosso suor. Sobretudo os que exercem acção política, actuam, ao nível dos actos e das palavras, consoante os seus interesses pessoais ou de grupo, não revelando o mínimo pudor em afirmar, em defender, hoje, exactamente o contrário do que foi afirmado, defendido ontem. Para além da falta de coerência, muitos brindam-nos ainda com uma falta de educação, de civismo, confrangedores, a todos os títulos reprováveis. De quando em vez é-nos proporcionado observar espectáculos degradantes, sobretudo no Parlamento, com deputados a usarem vocabulário vergonhoso, em ataques sórdidos uns aos outros, ofendendo-se a si próprios, à Casa da Democracia, a quem os ouve, enfim, a todos os portugueses. Eu, que já afirmei aqui que a política se assemelha a um circo em que há malabaristas, trapezistas e palhaços, nem sequer me deveria surpreender de eles se chamarem isso uns aos outros. No fundo, confirmam aquilo que quase todos nós já sabemos ou suspeitamos, só que pelo menos deveriam respeitar o lugar onde proferem tamanhas calinadas, isto é, o Parlamento. Nesta nossa democracia, desde sempre nos habituamos a assistir a alguns diálogos impróprios, mas seria legítimo esperar que ao mesmo tempo que a democracia ia avançando no tempo, ia amadurecendo, os deputados se civilizassem. Mas não, o que se passa é exactamente o contrário. Os políticos de discurso viril, contundente mas leal e correcto, esgrimindo convicções, praticamente desapareceram. Hoje, a maioria deles não luta por convicções porque as não tem, os seus interesses sobrepõem-se a tudo o resto. A sua luta assenta sobretudo na suspeição, na calúnia, no ataque pessoal. De alguém que seria legítimo esperar que fossem referências para todos nós, infelizmente, o que recolhemos, sobremaneira, são maus exemplos. Depois, todos nos queixamos da falta de civismo, do desapego à família, da indisciplina nas escolas, do desrespeito pelas autoridades, da violência. Com tais exemplos e com a justiça sempre adiada ou não aplicada, que poderíamos esperar?! Salvas raras excepções, as maiores referências políticas, culturais, sociais, não se querem ver envolvidos com semelhante cambada.
Voltemos à incoerência dos políticos e vejam só um exemplo de entre tantos que poderíamos apontar.
O Governo anterior decidira legitimamente, fruto da sua maioria absoluta, atribuir licenças ambientais que permitiam a co- incineração de resíduos, nomeadamente em Souselas, Coimbra. Houve, por conseguinte, uma decisão política. Políticos de vários quadrantes, entre os quais o Presidente da Câmara de Coimbra, protestaram e um Grupo de Cidadãos de Coimbra representados pelo advogado Castanheira Barros interpôs uma providência cautelar cujo intuito era suspender a eficácia das licenças ambientais atribuídas. Significava isso que não concordavam com a decisão política, apelando a uma decisão judicial. Fruto dessa providência cautelar, em Fevereiro, um acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte ordena a suspensão da co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira de Souselas. A decisão judicial satisfazia a s suas pretensões, ela é que interessava.
Acontece agora que, após recurso, o Supremo Tribunal Administrativo decidiu que a co-incineração de resíduos em Souselas pode ser retomada, dado que não há provas de perigo para a saúde.
Sem qualquer pingo de vergonha, de coerência, o edil de Coimbra e o advogado Castanheira Barros afirmam que não é aceitável uma acção judicial, que se precisa de uma decisão política. Se não se tratasse de pessoas importantes, se o assunto não fosse sério, diria que daria vontade de rir. Já vi muito, já ouvi muito, já vivi o suficiente para não estranhar nada destes comportamentos, mas fico sempre triste com eles, porque são protagonizados por pessoas que dirigem, de forma mais ou menos relevante, os destinos do meu país. País que, com gente desta, tem o seu presente, e muito mais o seu futuro, em perigo. Dá para ficar triste, preocupado. Essas pessoas, quando lhes convém, são politicamente correctas, afirmam que confiam cegamente na justiça. Quando as decisões não são do seu agrado, lançam suspeições sobre os magistrados e exigem uma solução política. Mas então não a tiveram já, por parte do Governo? Elas é que não aceitaram a decisão política e recorreram aos tribunais. Agora, que, após recurso legítimo, a decisão judicial confirma a decisão política, tomada, com toda a legitimidade, em altura oportuna, valendo-se do facto de o actual Governo ser minoritário, pedem uma solução através do Parlamento.
Tanta incoerência, meu Deus! Afinal quem foi eleito para governar, o Governo ou o Parlamento?!
Que pobreza de gente esta! Começo a ficar cansado de falar nestes políticos de m…. Creio mesmo que o melhor seria fazer de conta que vivo num país sem políticos e deixar de falar neles. Sei que não consigo. Não conseguirei e também não quero dar-lhes tréguas. Embora a minha voz e a minha pena sejam pouco importantes, não ficaria de bem comigo mesmo se deixasse de exprimir as minhas convicções, os meus sentimentos.
Voltemos à incoerência dos políticos e vejam só um exemplo de entre tantos que poderíamos apontar.
O Governo anterior decidira legitimamente, fruto da sua maioria absoluta, atribuir licenças ambientais que permitiam a co- incineração de resíduos, nomeadamente em Souselas, Coimbra. Houve, por conseguinte, uma decisão política. Políticos de vários quadrantes, entre os quais o Presidente da Câmara de Coimbra, protestaram e um Grupo de Cidadãos de Coimbra representados pelo advogado Castanheira Barros interpôs uma providência cautelar cujo intuito era suspender a eficácia das licenças ambientais atribuídas. Significava isso que não concordavam com a decisão política, apelando a uma decisão judicial. Fruto dessa providência cautelar, em Fevereiro, um acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte ordena a suspensão da co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira de Souselas. A decisão judicial satisfazia a s suas pretensões, ela é que interessava.
Acontece agora que, após recurso, o Supremo Tribunal Administrativo decidiu que a co-incineração de resíduos em Souselas pode ser retomada, dado que não há provas de perigo para a saúde.
Sem qualquer pingo de vergonha, de coerência, o edil de Coimbra e o advogado Castanheira Barros afirmam que não é aceitável uma acção judicial, que se precisa de uma decisão política. Se não se tratasse de pessoas importantes, se o assunto não fosse sério, diria que daria vontade de rir. Já vi muito, já ouvi muito, já vivi o suficiente para não estranhar nada destes comportamentos, mas fico sempre triste com eles, porque são protagonizados por pessoas que dirigem, de forma mais ou menos relevante, os destinos do meu país. País que, com gente desta, tem o seu presente, e muito mais o seu futuro, em perigo. Dá para ficar triste, preocupado. Essas pessoas, quando lhes convém, são politicamente correctas, afirmam que confiam cegamente na justiça. Quando as decisões não são do seu agrado, lançam suspeições sobre os magistrados e exigem uma solução política. Mas então não a tiveram já, por parte do Governo? Elas é que não aceitaram a decisão política e recorreram aos tribunais. Agora, que, após recurso legítimo, a decisão judicial confirma a decisão política, tomada, com toda a legitimidade, em altura oportuna, valendo-se do facto de o actual Governo ser minoritário, pedem uma solução através do Parlamento.
Tanta incoerência, meu Deus! Afinal quem foi eleito para governar, o Governo ou o Parlamento?!
Que pobreza de gente esta! Começo a ficar cansado de falar nestes políticos de m…. Creio mesmo que o melhor seria fazer de conta que vivo num país sem políticos e deixar de falar neles. Sei que não consigo. Não conseguirei e também não quero dar-lhes tréguas. Embora a minha voz e a minha pena sejam pouco importantes, não ficaria de bem comigo mesmo se deixasse de exprimir as minhas convicções, os meus sentimentos.
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