domingo, 6 de janeiro de 2013

Acabar com a democracia


Acabar com a democracia

O que pretende Luís Morais Sarmento, o Secretário de Estado do Orçamento, quando afirma que um eventual chumbo do Orçamento do Estado pelo Tribunal Constitucional pode levar Portugal a falhar o cumprimento do programa da troika e comprometer o financiamento do País?!
Desde logo – e não é preciso ser muito inteligente para chegar a essa conclusão – é uma forma de pressão inaceitável, vergonhosa, sobre o Tribunal, muito embora eu queira acreditar que os juízes do referido Tribunal estarão imunes às pressões, venham elas de onde vierem, porque as há para todos os gostos. Porventura Luís Morais Sarmento entende que, mesmo havendo inconstitucionalidades no Orçamento, como tudo leva a crer que sim, o Tribunal Constitucional deveria ignorar pura e simplesmente a Constituição para salvar a face do Governo? Mas que espécie de democratas são estes?!
Bom, eu já vi, já li, já ouvi o suficiente para acreditar que um grande número de pessoas ligadas ao Governo e partidos que o apoiam – como também as há noutros – têm horror à democracia e anseiam por uma ditadura, onde eles possam ser os senhores absolutos.
Sir Winston Churchill disse que “a democracia é a necessidade de nos vergarmos de vez em quando às opiniões dos outros”. Ora este tipo de gente não gosta de ouvir os outros.
No seio desta reflexão veio-me à memória aquela expressão de Passos Coelho, de há uns meses atrás, em que afirmara “que se lixem as eleições”, procurando fazer crer que só se preocupava com a governação. Como numa democracia não há político que não se preocupe mais ou menos com as eleições, a sua afirmação, para mim, tornou-se agora mais clara: Passos Coelho, ao mandar “lixar” as eleições, estava a pensar que, mais dia, menos dia, elas seriam coisa do passado e voltaríamos a uma espécie de 24 de Abril, o sonho de muitos deles. A postura do Chefe do Governo e seu séquito, fugindo ao diálogo, desrespeitando acordos, fazendo negócios pouco transparentes, ajuda-me a pensar assim.
Até brincando com o meu nome, muitos, dessa área, afirmam: “precisávamos de uma dúzia de Salazares”.
Acabar com a democracia é o propósito de alguns e não são assim tão poucos. Estejamos atentos.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Morte à palhaçada

Guterres e Barroso têm algo em comum: ambos fugiram da responsabilidade governativa. Têm também algo que os distingue e que abona bem mais em favor do primeiro do que do segundo. Enquanto que Guterres assume a sua quota-parte de responsabilidade no estado a que o país chegou, revelando humildade, Barroso afirma que nada tem a ver com tal situação, manifestando arrogância, provavelmente convencido que todos os portugueses são de memória curta. Aliás, o primeiro que deveria assumir responsabilidades nesse campo seria exactamente Cavaco Silva, pelo seu desempenho enquanto primeiro-ministro. Mas como ele, “nunca erro e raramente me egano”…


Barroso, que, como todos já percebemos, não pesa nada na Europa, atreve-se a opinar que espera que Portugal não reclame o princípio de igualdade de tratamento feito à Grécia. Grande patriota e enorme visão…pensará ele.

Portugal não pretende - por enquanto, mas por este andar não sei se chegará lá – que lhe perdoem dívida. Deve querer, isso sim, que lhe apliquem os mesmos juros e lhe dêem mais tempo, que poderá nem ser, necessariamente, o mesmo que dão à Grécia. Isso sim, é ajudar Portugal e é contribuir para que, efectivamente, nós não venhamos a sentir necessidade de ter de pedir perdão de dívida. Antes que isso possa a vir a acontecer, seria bom que nos preveníssemos.

Barroso e os nossos governantes são umas marionetas nas mãos da senhora Merckel e companhia. Se, pelo menos fossem coerentes, não dissessem hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, ainda poderíamos achar o seu discurso mais ou menos aceitável. É mais sensato ser “cassete” do que “cata-vento”.

Vivam os palhaços autênticos, os que nos fazem sorrir, mesmo que o seu coração esteja de luto, morte à palhaçada que nos proporcionam governantes e acólitos.



sábado, 1 de dezembro de 2012

Haja bom-senso

Desde que tenho verdadeira noção dos meus actos, sempre entendi que as regras, as leis, são para cumprir. E procuro fazê-lo tanto quanto é possível. Há, todavia, uma coisa que a Instituição Escola não me ensinou, mas aprendi na universidade da vida, a quem muito devo, que há alturas em que é necessário que o bom- senso se sobreponha às regras. Confesso que, por diversas vezes, consciente de alguns riscos que corria, não hesitei em fazer aquilo que no momento se impunha, privilegiando aquilo que para mim era o bom-senso, ignorando aquilo que a lei estipulava. Felizmente, nunca em benefício próprio, mas muitas pessoas beneficiaram de tais procedimentos.


De vários, em que fui protagonista, vou contar, de forma sucinta, apenas dois. Nos meados da década de setenta, era Presidente da Casa do Povo de Nespereira. No Distrito de Viseu, por deliberação dos responsáveis distritais, não se pagavam pensões de velhice a mulheres casadas. Em Nespereira pagavam, porque eu não compreendia como é que uma mulher, pelo simples facto de ser casada, não haveria de receber pensão. Devo dizer que nenhuma mulher da minha esfera familiar foi beneficiada com isso. Apesar de muitas ameaças, inclusive de vir a repor o dinheiro que lhes era entregue, com toda a justiça, as mulheres casadas de Nespereira sempre receberam, até que um dia se iluminaram as cabecinhas dos senhores do distrito e um pouco acabrunhados, deram-me razão e todas as mulheres casadas do distrito com direito à respectiva pensão, - a que as de Nespereira sempre tinham recebido - passaram a recebê-la.

O segundo passou-se no grande incêndio de Tabuaço, onde morreram alguns bombeiros. Eu era Inspector Regional Adjunto de Bombeiros do Norte e estava, de madrugada a coordenar as operações no quartel, onde se encontravam estacionadas todas as viaturas dos bombeiros locais, pois eles encontravam-se em estado de choque. De repente cai a informação que há uma vacaria que dentro de poucos minutos arderia se não fosse enviada uma viatura pesada de combate a incêndios. Tinha ali a viatura desejada no quartel, mas nenhum dos bombeiros que me acompanhavam conseguia conduzi-la. Era preciso agir rapidamente. Encontrei à porta do quartel um motorista de uma empresa de transporte de passageiros da terra. Disse-lhe o que era preciso. Ele e alguns bombeiros para trabalharem com a bomba e mangueiras partiram. E não deixaram que ardesse um milímetro das instalações nem morresse uma vaca. Infringi a lei? Infringi. Ainda hoje me sinto feliz por isso. Talvez o “crime” ainda não tenha prescrito. Se alguém me quiser condenar, que o faça, mas eu vou continuar feliz.

Atrevo-me, mesmo, a afirmar, e não terei dificuldades em comprová-lo, que, em muitos incêndios florestais, muito tem sido consumido por excesso de rigor no cumprimento do que está legislado, ignorando, pura e simplesmente, o que o bom-senso imporia que se fizesse no momento.

Bom, mas isto vem a propósito de situações, que eu acho de todo intoleráveis, que se vêm verificando nos transportes de emergência com ambulâncias do INEM e bombeiros, evitando transportar um acompanhante, mesmo que a vítima seja um bebé ou uma pessoa sem autonomia, sem falar, etc. Deixar um ou outro abandonado na Urgência de um Hospital, no pressuposto que um familiar vai atrás de carro é uma manifesta demonstração de não conhecer o país real, em que há inúmeros familiares que não têm carro, nem amigos ou vizinhos com carro, não têm táxi ou nem dinheiro para ele. Imaginem o estado de aflição em que fica o familiar que fica em casa! Imaginem o bebé que se vê no meio de um ambiente hospitalar sem uma cara conhecida! Cumpram-se as leis, mas sem palas que nos coarctem de ver a verdadeira realidade em que vivemos, tendo sempre em mente que, frequentemente, é mais assisado usar o bom-senso do que cumprir a lei, que não poucas vezes é cega.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O Pastor cuida das suas ovelhas

Já conhecia a Cartilha Maternal de João de Deus, a obra do poeta e pedagogo que servia de base a um método de leitura das crianças. Agora surge-nos a Cartilha Pastoral de Passos Coelho, que, não tendo a ver com nenhum método de leitura, pretende ensinar as suas ovelhas a responderem aos jornalistas. O Pastor Coelho não quer nenhuma das peças do seu rebanho tresmalhadas. Quase me ia atrever a dizer que Passos Coelho não admite que nenhuma das suas ovelhas diga o que pensa, mas que seja apenas a voz do pastor, esquecendo-me que ovelha não pensa. E o pastor, quando pensa, sai asneira e da grossa.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Décadas de atraso

Numa freguesia do concelho de Faro, com décadas de atraso, hoje estralejam foguetes porque a àgua chega às torneiras das casas e o saneamento básico torna-se uma realidade. E em minha casa?! E na casa dos meus vizinhos?! E nas casas dos meus conterrâneos desta freguesia, com estatuto de vila, de Nespereira, Cinfães?! Numa terra em que, em muitos dias, não se pode estar junto a um bloco de apartamentos e ainda um café ejá teve um balcão de um banco; numa terra em que não se pode estar junto a outro bloco de apartamentos e lojas comerciais, que as fossas sépticas transbordam, deixando no chão os efluentes que as pessoas pisam e no ar o inevitável e consequente cheiro nauseabundo;numa terra em que uma escola e uma instituição de solidariedade social não podem funcionar por falta do dito saneamento básico; numa terra assim, pese embora algumas obras que se fizeram - uma delas mais valia ter deixado tudo como estava - que seria injusto não valorizar, não se pode esperar que desenvolva mais e está décadas atrasada.


É hipocrisia, é bairrismo saloio, é demagogia, dizer que a freguesia está óptima, é maravilhosa. È mentira. Bem gostava que não fosse.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

BURROS

O burro, animal irracional, “burro-de-carga” é um animal de ar meigo, humilde, parecendo consciente da sua condição. O “homem-burro” pode também ser isso tudo e despertar até simpatia se for dotado da humildade do dito animal e for consciente da sua condição. Todavia, estraga tudo, quando, num assomo de vaidade, se julga cavalo e não burro e em vez dos naturais zurros, ensaia uns ridículos relinchos.


Há tantos por aí!...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PENSAMENTO

PENSAMENTO




Num determinado período desta última noite, em que Morfeu me deixou cair de seus braços – convenhamos que nesta fase da vida já acontece frequentemente – e fiquei, por ali, estendido no leito, a pensar na “porca” de vida que os políticos me arranjaram e a milhões de portugueses, alguns bem pior do que eu. Na catadupa de pensamentos, repentinamente surge-me este: É bem provável que tão breve, infelizmente, não tenhamos solução, mas temos que pensar, senão no curto, pelo menos no médio e longo prazo, para protegermos os nossos filhos e netos. Com isto na mente, lembrei-me que, dado o entusiasmo que o governo incita à emigração, deveria criar um programa especial de incentivo à emigração de todas as prostitutas para que tivéssemos alguma garantia de que não seriam os seus filhos que nos viriam a governar e a ocupar todos os altos cargos políticos e centros de decisão.

Bom, esta não me ocorreu, nem a aceitaria, mas a uma corja de políticos que ao respeito pelos direitos humanos dá tratos de polé, não quisessem continuar a ser eles os “donos do mundo”, não lhes repugnaria mandá-las castrar.