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segunda-feira, 5 de março de 2012

Desabafos

Sempre fui e espero continuar a ser contra a discriminação sexual. Os lugares devem ser ocupados por homens ou mulheres, não pelo seu género, mas pelas competências que exibam. Os salários também só devem ser distintos, de acordo com as funções e nunca pelo facto de serem homens ou mulheres. Os lugares devem ser ocupados por quem manifestar competência para isso, sem curar de saber se é homem ou mulher. Sem quotas. O estabelecimento de quotas para mulheres é um retrocesso. Num país em que a democracia funcione, onde não exista qualquer espécie de discriminação, onde funcione plenamente a igualdade de direitos e deveres, não são necessárias quotas. Não concordo, pois, que a União Europeia queira obrigar as empresas a terem quotas para mulheres nos Conselhos de Administração. É um atentado à liberdade e não prestigia, não dignifica as mulheres. Corre-se o risco de se dizer ou pensar que algumas mulheres só ocupam determinadas funções, porque a lei a isso obriga.
Sem quotas, sem qualquer legislação que obrigasse ou impedisse, há um quarto de século, enquanto comandante de um corpo de bombeiros, fui dos primeiros a recrutar mulheres. É com atitudes como essa que se promove a mulher.
Bom, de acordo com a minha filosofia, também não sou fã do dia internacional da mulher, que em 8 de Março se comemora. Todavia, tal comemoração, como outras, não traz nenhum mal ao mundo. Parece-me até que se irá comemorar o primeiro dia internacional do homem em 20 de Abril. Enfim, há dias e gostos para tudo.
A mulher-mãe, a mulher-mulher, a mulher-filha, a mulher-neta, a mulher-avó, a mulher expoente mais alto de beleza que o Criador colocou na Terra, eu homenageio todos os dias.
Então, em homenagem à mulher, não pelo dia internacional, mas por todos os seus dias, deixo aqui o relato de uma visão, de alguns anos a esta parte – não muitos – que me extasiou.
Estava de visita a uma pequena aldeia, onde corria um riozinho de águas cristalinas que sussurravam por entre rochedos. Ouviam-se pássaros e chocalhos de cabras. Naquela natureza que me envolvia, tudo parecia virgem. Naquele cenário que me extasiava, de repente, deparo-me com uma mulher de sonho: uma jovem conduzindo um burrico, carregado de farinha. Uma cinta bem marcada pelas fitas de um avental; uns seios altaneiros, bem levantados, que se adivinhavam duros, certamente protegidos por espartilho dos antigos, que os não deixam (aos ditos seios) a dar a dar, como agora acontece àquelas que não querem ou não têm dinheiro para silicone, fazendo-me lembrar o pudim flan; umas faces lisas, cuja maquilhagem era o pó da farinha milha; uns lábios grossos, da cor da romã, sem um sulco; uns olhos cor de avelã, protegidos por longos cílios; um cabelo ondulado, negro como o carvão, salpicado aqui e ali de farinha, solto, livre, sobre as costas; umas pernas tipo feitas ao torno; umas ancas reboliças. A garota era uma flor ambulante, era um monumento erigido à beleza. Por instantes fiquei apático; noutro instante cometi adultério em pensamento. Imaginei como poderia aplicar naquele pedaço de céu a minha ternura dos sessenta (há quanto tempo lá foi a dos quarenta!) e essa ternura ser compensada pela doçura dos dezoito.
Por alguns momentos, na minha mente cruzaram-se e entrecruzaram-se imagens e mais imagens e, feito anjo, arrependi-me do pecado, pedi perdão, em pensamento, à minha mulher que nem sonhava o que se passava, e fui-me. Fui-me, mas a pensar nestas belezas campestres, já tão raras, mas que ainda vamos encontrando pelos caminhos e veredas das nossas aldeias mais recônditas, que, ao contrário de muitas sofisticadas citadinas, acordam, de manhã cedo com a mesma cara linda com que se deitaram e que nos fazem cometer estes pecadilhos.
Diziam os latinos que não se deseja aquilo que não se conhece. Ao conhecermos estas autênticas divindades, estes hinos à beleza, ficamos abrasados de desejos.
Deus foi muito generoso criando esses seres tão perfeitos: as mulheres.
Sonhe, sonhe, meu amigo, porque só sonha quem vive. E se sonhar com belas moleirinhas, não se incomode, que Deus é tão misericordioso como omnipotente e por isso perdoa e a sua cara-metade só o saberá se você lhe disser. Convença-se sem nenhuma espécie de frustração, que se não morrer jovem, chegará, você também, a uma altura da vida em que há coisas que só mesmo a sonhar podem acontecer. Pelo menos que sejam bons sonhos e não pesadelos.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Que bom!

Não sei se é apenas mais um boato, ou uma verdadeira intenção. Tomo conhecimento que mulheres nespereirenses tencionam reunir-se em jantar todos os fins-de-semana. Que bom! Pensava eu que andava por aí tudo deprimido por causa da mais do que propalada crise. Pelos vistos, nem as mulheres nespereirenses andam deprimidas, nem sentem qualquer efeito da crise, ou, se preferir, a crise terá passado ao largo de Nespereira. Bom, devo confessar que pelo ambiente que dia a dia, vislumbra por cá, quem de facto andar devidamente atento, tem a sensação de que não vive qualquer crise. Ainda bem. Para além de tudo, se as mulheres não andarem deprimidas, os homens também disso beneficiarão. E como pelos vistos a entrada a tais jantares está interdita a homens, os maridos, companheiros ou namorados ficam resguardados de quaisquer eventuais ciúmes.
Feliz por ver as mulheres da minha terra felizes, há, todavia, dois aspectos que não posso deixar de referir. O primeiro é que apesar de tão frequentes eventos denunciarem ausência de crise, ao que se diz, são inúmeras as pessoas subsídio dependentes. Como “não condiz a letra com a careta”, não será despiciendo um estudo do fenómeno por parte de autoridades responsáveis. O segundo é que me parece que se está a passar de um extremo ao outro. Se alguém pensa que é dessa forma que se contribui para a emancipação da mulher, está profundamente errado. Homens e mulheres, juntos, fazendo as mesmas coisas, participando nos mesmos eventos é que retratam a verdadeira igualdade entre sexos diferentes.
De qualquer forma, viva a alegria, viva a festa, vivam todas as mulheres…e os homens.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Mulheres

Não acredito muito na defesa dos direitos da mulher feita por decreto. A mulher tem de ascender pelo seu mérito, pelo seu esforço, aos mesmos lugares dos homens e, ao invés de haver legislação que as proteja, ou antes, que lhe proporcione ou assegure o alcance a determinados objectivos, é necessário que as leis, todas elas, não façam qualquer menção do sexo, permitindo assim que, em qualquer circunstância, homens e mulheres estejam em pé de igualdade. Ángel Ganivet afirmou: “A mulher só tem um caminho para ultrapassar o homem: ser cada vez mais mulher”. Não podem, não devem, os homens, corporativamente, criar obstáculos à entrada de mulheres seja em que área for, desde que elas estejam vocacionadas para tal e ostentem as qualificações para o cabal desempenho das funções que lhes couberem. O mesmo se dirá das mulheres em relação aos homens. Creio que, desta forma, sem tabus, sem preconceitos, sem qualquer espírito de obrigatoriedade, que é inimigo da democracia, sem liberalismos hipócritas, mas naturalmente, apenas no entendimento correcto que, seja qual for o sexo, todos são seres humanos a quem não é legítimo colar qualquer descriminação, homens e mulheres poderão candidatar-se, concorrer, desempenhar qualquer cargo, seja político, empresarial, administrativo, nos institutos públicos ou nas forças de segurança, etc.
Nunca me pareceu muito bem a discussão de quotas para mulheres. A discussão, nesses termos, só por si, em meu entender, já reflecte a aceitação de um estatuto de menoridade, que eu não aceito, relativamente à mulher.
Sei que a mulher, algumas vezes, não alcança determinados lugares, porque, por uma questão de educação, no feminino, que ainda está bem presente no nosso seio, também porque, para além da sua ocupação profissional generalizada, que já é uma conquista do final do século passado, tem a seu cargo as lides domésticas e a educação dos filhos, não dispõe de tempo nem de disposição para se dedicar a determinadas áreas como seja a política. Daí que, mesmo sem a tendência ancestral para ver a política mais no masculino, são muito menos as mulheres que se envolvem, daí ser natural que elas também sejam em menor número no desempenho de cargos políticos. O que será preciso fazer é, através da educação, mudar mentalidades de homens e mulheres que prejudicam mais estas do que aqueles, de forma a que acabe o exclusivo que ainda existe em muitos lares que é do homem não ter outro papel para além do profissional, podendo dedicar todo o outro tempo à política, ao associativismo, ao lazer, enquanto a mulher se vê confrontada com uma série de actividades que nem sequer lhe dão tempo suficiente de descanso, quanto mais para quaisquer outras actividades. Alterando esta forma de viver que, felizmente, já tem melhorado bastante, teremos homens e mulheres nas mesmas disputas, naturalmente, sem que alguém precise de se preocupar com quotas.
Muito embora eu preferisse que nós já estivéssemos num estádio de desenvolvimento em que pudéssemos considerar a nossa Lei da Paridade, a Lei Orgânica n.º 3 de 2006, obsoleta, mesmo assim, dá-me alguma satisfação que ela coloque homens e mulheres no mesmo patamar, isto é, cada lista deve ter a representação mínima de 33,3% de cada um dos sexos, que não é exactamente a mesma coisa de que se dissesse que deveria ter a representação mínima de 33,3% de mulheres.
Bom, melhor era que cada lista contivesse os melhores, independentemente de serem homens ou mulheres.
Bem sei que a referida lei, ao exigir que as listas plurinominais não possam conter mais de dois candidatos do mesmo sexo, colocados consecutivamente, pretende, precisamente, garantir a tal paridade no número dos efectivamente eleitos, só que, depois vão aparecer as “habilidades” da praxe, com alguns ou algumas das eleitas a demitirem-se ou nem sequer serem empossados.
Sobretudo em alguns meios onde a maioria das mulheres, em política não vai além do voto, quando vota, vai ser difícil a algumas candidaturas cumprir a lei, ou vão aparecer os tais nomes apenas para preencher as listas. Questiono-me se essa será a melhor forma de procurar integrar mulheres na política.
Em qualquer área, as mulheres devem ser apoiadas, integradas, defendidas, oportunamente, naturalmente, sem movimentos ou acções reivindicativas. Cá por mim já dei algo para esse “peditório”. Em meados da década de 70, estávamos na meninice da Revolução, era eu Presidente da Casa do Povo de Nespereira. As pensões de invalidez e velhice aos rurais eram processadas e pagas através dela, com verbas que vinham de Viseu, das respectivas entidades responsáveis. Viseu, com dirigentes de visão curta e até inconcebível, não queria que pagássemos pensões a mulheres casadas. Só se pagava a viúvas ou solteiras. Fartava-me de argumentar, chegando a apontar-lhes exemplos concretos de casais de professores e muitos outros em que o facto de serem casados não impedia que cada um tivesse a respectiva pensão de reforma. Nada os convencia. Eram teimosos como burros. Neguei-me a cumprir a sua determinação e sempre pagamos a mulheres casadas. A única Casa do Povo do Distrito que o fazia. Discutimos várias vezes, ameaçaram-me de ter de repor essas verbas que, no entender dos “crânios” viseenses pagava ilegalmente. Nunca deixei de o fazer. Passado cerca de um ano chegaram à conclusão que eu é que tinha razão e deram ordem a todas as Casas do Povo para pagarem. Assim defendi dezenas de mulheres casadas nespereirenses que, ao contrário de suas congéneres do distrito, sempre receberam a pensão a que muito justamente tinham direito. Com actos como este é que se luta pela igualdade. No entanto, no distrito, ninguém mais teve coragem para isso. Em meados de oitenta, já lá vão mais de vinte anos, fui dos primeiros comandantes do país a integrar mulheres nos bombeiros, que foram e são uma mais-valia, não só pelos serviços que prestaram e prestam, mas até pelas habilitações académicas que parte delas possuíam, de um modo geral, bem superiores às dos homens.
Não tenho qualquer pejo em afirmar que, em muitos aspectos, estive muito à frente, no tempo, de muitos que se julgam vanguardistas. Aliás, o que criei ou ajudei a criar, no tempo e no local onde se deu a criação, são disso o melhor testemunho. E as mulheres beneficiaram com isso. Perdoe-me se pareço imodesto, mas quando às vezes leio ou oiço por aí a falar em gente de quatro costados, sem que se lhes conheça nenhum acto de vulto, lembro-me, uma vez mais, da mediocridade em que este país caiu e daqueles que se fartam de a aplaudir, na esperança de que um ou outro aplauso, por ricochete, se volte para a sua. Mediocridade, obviamente.