segunda-feira, 15 de março de 2010

Bandeiras

Quando iniciei o cumprimento do serviço militar, a meio da década de sessen-ta, portanto nos primeiros anos da inútil, inglória e cruel guerra colonial, já eu era professor efectivo, como na altura se dizia, e sabia que o boato era uma arma poderosíssima, letal, muitas vezes, utilizada tanto para destruir o carácter de muitos cidadãos, como para, através dele, pessoas ou grupos, colherem benefícios. Não obstante os muros que se erigiam em nosso redor, mantendo-nos no maior obscurantismo possível, tinha, de facto, alguma noção da impor-tância do boato. Foi, no entanto, enquanto militar que fiquei a conhecer o seu real valor e como ele era utilizado pelas chefias militares, com resultados posi-tivos. A sua eficácia, sobretudo no limiar da guerra, em que as tropas indígenas eram possuídas de muita ingenuidade, chegava a ser maior do que as Mauser, as G3, as minas, os tanques, etc. O fenómeno do boato era de tal forma importante que era seriamente estudado.
Militarmente, continua hoje a ser amplamente utilizado, não só durante o período em que ocorrem as intervenções, mas antes mesmo, para as justificar. A intervenção no Iraque, por exemplo, a que infelizmente o nosso país está ligado, foi justificada através daquilo que terá sido um boato hábil e conscien-temente forjado. É assim no campo militar, na política, infelizmente, também na vida social e profissional. Quando se quer derrotar alguém ou colher determi-nados benefícios, nada melhor do que criar engenhosamente e fazer espalhar – há sempre gente sequiosa por o fazer – um boato. Os políticos que o digam.
Tirando esses boatos que pretendem derrotar, abater ou colher benefícios, surgem outros, de quando em vez, que nem é fácil adivinhar-se-lhes a intenção nem a origem. Alguns deles só servem para desestabilizar um determinado grupo ou população, mas são de tal forma destituídos de credibilidade que não merecem que quem quer que seja lhes dê qualquer publicidade. Em nome da tranquilidade pública é de bom senso que os que os ouvem, ao invés de os propagar, os encerrem dentro de si, e/ou, antes de tudo, procurem confirmar se existe alguma réstia de veracidade, porque também não devemos esquecer o adágio que diz que “não há fumo sem fogo”, nem que seja o de uma ténue e extenuada lamparina.
Curioso. Muito curioso. O PSD, anda, de uns tempos a esta parte, a desfral-dar a bandeira da liberdade de expressão, de modo a que até já protagonizou a criação no Parlamento, de uma comissão de ética e, posteriormente, de uma comissão de inquérito. Como praticamente todos os políticos, também os do PSD têm fraca memória. Não vale a pena recordar aqui alguns factos, mas valerá certamente lembrar o que Granadeiro disse relativamente a Morais Sar-mento, que este pretendia que fossem demitidos três directores de órgãos de comunicação social. Quem tem telhados de vidro deveria ser mais prudente. Bom, mas como o PSD não estava ciente se os portugueses teriam a certeza de que ele não é melhor ou diferente daqueles a quem acusa, resolveu, no final do último congresso, garantir-lhes isso mesmo com a aprovação da já denominada lei da rolha. Triste figura. Muitos acharão que não estamos bem, mas cada vez mais também terão a certeza de que não vislumbram qualquer alternativa credível.
Os três principais candidatos a líder estiveram lá, mas foi interessante ouvi-los, no fim, dizer que não concordavam com tal lei e que, sendo eleitos, a pro-curariam alterar em próximo congresso. Veremos. Estando lá, no “poleiro”, tal despropositada lei dar-lhes-á um jeitão, como daria a qualquer outro líder.
De Alberto João Jardim tudo se pode esperar. Pedro Passos Coelho não terá sido muito feliz com aquela do perdoa-me que eu já te perdoei, pretendendo fazer passar uma imagem de humildade, que, a existir, mais importante do que isso tratava-se de “piscar o olho” a votos madeirenses. Mesmo assim, nem ele, nem os portugueses, que estão a dar um exemplo extraordinário de solida-riedade para com a Madeira e os seus irmãos madeirenses, esquecendo as ofensas do seu “chefe”, mereciam aquela grosseria de, como resposta ao can-didato a líder, se ausentar do seu lugar e ir sentar ao lado de outro candidato, o Paulo Rangel. É esta gente que fala de ética?! São estas as suas bandeiras?!

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