sexta-feira, 11 de março de 2011

Cavaco Silva...Chefe de Estado, do Governo ou líder da oposição

Não gosto de Cavaco Silva. Ainda há pouco tempo o escrevi. Apesar de estar já a entrar – se é que não entrei - na chamada provecta idade, sou possuidor de boa memória, de forma que recordo perfeitamente o que foi o consulado de Cavaco, enquanto primeiro-ministro, como me lembro, obviamente, de algumas trapalhadas feitas lá por Belém, no seu primeiro mandato e da sua arrogância e falta de respeito pelos eleitores, reveladas através da negação de esclarecimentos nos debates da última pugna eleitoral. A memória, de facto, impede-me de simpatizar com ele, mas poderia, eventualmente, esperar-se que um dia se corrigisse e me levasse a mudar de opinião. Antes pelo contrário. Cada vez se acentua mais a minha antipatia por aquele que, mesmo não se gostando dele, deveria ser considerado o presidente de todos os portugueses. Na sua tomada de posse, ele revelou à saciedade que não o é.
Cavaco Silva gostaria de ser um Presidente da República que fosse ao mesmo tempo chefe do governo. Gostaria do poder total. Os que têm memória lembram-se do seu autoritarismo. Aliás, aqui não difere muito de José Sócrates. O seu discurso pareceu, ao mesmo tempo, o de alguém que vai ser empossado como primeiro-ministro, pois, como sempre, ele entende que o seu diagnóstico é o acertado e conhece as respostas adequadas e, por outro lado, o discurso de um líder da oposição. Um Presidente da República que se coloca nesta posição facciosa não é, seguramente, o Presidente de todos os portugueses.
Porque não acredito que Cavaco Silva sofra de amnésia – quando lhe convém, talvez faça parecer – lembra-se do seu passado mais longínquo de primeiro-ministro e do mais recente, o seu primeiro mandato como Chefe de Estado. E porque eu tenho essa memória, o seu discurso só me pode levar a concluir que se trata de uma pessoa sem pudor, hipócrita, demagogo, faccioso, cobarde. No fundo, Cavaco Silva é um político, como a maioria dos políticos: em primeiro lugar o seu interesse pessoal. Se assim não fosse, porque razão não disse o que agora disse, antes das eleições?! Por cobardia, porque temia perder votos. E esqueceu - facciosamente? - que a nossa crise se deve, em grande medida, à crise internacional, embora todos o saibamos que não apenas graças a ela?!
O Chefe de Estado quase roçou o apelo à insurreição: esqueceu-se da sua manifesta hostilidade a manifestações, reprimindo-as, patrocinando cargas policiais.
Falou de aposta nos sectores de bens e serviços. Que fez Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro? Com o dinheiro que vinha às “carradas” da então CEE, construiu estradas como o IP3, o IP5 e outras vias, que, de mal construídas, foram, e algumas ainda são, autênticos cemitérios e outras obras que consumiram vultuosas verbas, algumas em parcerias público-privadas, que ele agora contesta, privilegiando o alcatrão e o betão.
Que fez Cavaco Silva, pela Educação, pela Saúde, pela Cultura – recordem o(s) episódio(s) relacionados com Saramago?
Anda a pregar um melhor aproveitamento do mar e dos campos. Quem subsidiou o abate de barcos e o abandono da agricultura? Cavaco, pois claro.
Se a manifestação da “geração à rasca” tiver incidentes graves, em certa medida se poderá imputar alguma responsabilidade às palavras de quem, outrora, não hesitaria em reprimir violentamente.
Por esta análise e pelo muito mais que poderia dizer, entendo que o discurso de Cavaco Silva foi muito pouco sério.
Fico-me com este provérbio persa: “Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar e falar quando é preciso calar-se!”

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