Desde que tenho verdadeira noção dos meus actos, sempre entendi que as regras, as leis, são para cumprir. E procuro fazê-lo tanto quanto é possível. Há, todavia, uma coisa que a Instituição Escola não me ensinou, mas aprendi na universidade da vida, a quem muito devo, que há alturas em que é necessário que o bom- senso se sobreponha às regras. Confesso que, por diversas vezes, consciente de alguns riscos que corria, não hesitei em fazer aquilo que no momento se impunha, privilegiando aquilo que para mim era o bom-senso, ignorando aquilo que a lei estipulava. Felizmente, nunca em benefício próprio, mas muitas pessoas beneficiaram de tais procedimentos.
De vários, em que fui protagonista, vou contar, de forma sucinta, apenas dois. Nos meados da década de setenta, era Presidente da Casa do Povo de Nespereira. No Distrito de Viseu, por deliberação dos responsáveis distritais, não se pagavam pensões de velhice a mulheres casadas. Em Nespereira pagavam, porque eu não compreendia como é que uma mulher, pelo simples facto de ser casada, não haveria de receber pensão. Devo dizer que nenhuma mulher da minha esfera familiar foi beneficiada com isso. Apesar de muitas ameaças, inclusive de vir a repor o dinheiro que lhes era entregue, com toda a justiça, as mulheres casadas de Nespereira sempre receberam, até que um dia se iluminaram as cabecinhas dos senhores do distrito e um pouco acabrunhados, deram-me razão e todas as mulheres casadas do distrito com direito à respectiva pensão, - a que as de Nespereira sempre tinham recebido - passaram a recebê-la.
O segundo passou-se no grande incêndio de Tabuaço, onde morreram alguns bombeiros. Eu era Inspector Regional Adjunto de Bombeiros do Norte e estava, de madrugada a coordenar as operações no quartel, onde se encontravam estacionadas todas as viaturas dos bombeiros locais, pois eles encontravam-se em estado de choque. De repente cai a informação que há uma vacaria que dentro de poucos minutos arderia se não fosse enviada uma viatura pesada de combate a incêndios. Tinha ali a viatura desejada no quartel, mas nenhum dos bombeiros que me acompanhavam conseguia conduzi-la. Era preciso agir rapidamente. Encontrei à porta do quartel um motorista de uma empresa de transporte de passageiros da terra. Disse-lhe o que era preciso. Ele e alguns bombeiros para trabalharem com a bomba e mangueiras partiram. E não deixaram que ardesse um milímetro das instalações nem morresse uma vaca. Infringi a lei? Infringi. Ainda hoje me sinto feliz por isso. Talvez o “crime” ainda não tenha prescrito. Se alguém me quiser condenar, que o faça, mas eu vou continuar feliz.
Atrevo-me, mesmo, a afirmar, e não terei dificuldades em comprová-lo, que, em muitos incêndios florestais, muito tem sido consumido por excesso de rigor no cumprimento do que está legislado, ignorando, pura e simplesmente, o que o bom-senso imporia que se fizesse no momento.
Bom, mas isto vem a propósito de situações, que eu acho de todo intoleráveis, que se vêm verificando nos transportes de emergência com ambulâncias do INEM e bombeiros, evitando transportar um acompanhante, mesmo que a vítima seja um bebé ou uma pessoa sem autonomia, sem falar, etc. Deixar um ou outro abandonado na Urgência de um Hospital, no pressuposto que um familiar vai atrás de carro é uma manifesta demonstração de não conhecer o país real, em que há inúmeros familiares que não têm carro, nem amigos ou vizinhos com carro, não têm táxi ou nem dinheiro para ele. Imaginem o estado de aflição em que fica o familiar que fica em casa! Imaginem o bebé que se vê no meio de um ambiente hospitalar sem uma cara conhecida! Cumpram-se as leis, mas sem palas que nos coarctem de ver a verdadeira realidade em que vivemos, tendo sempre em mente que, frequentemente, é mais assisado usar o bom-senso do que cumprir a lei, que não poucas vezes é cega.
sábado, 1 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
O Pastor cuida das suas ovelhas
Já conhecia a Cartilha Maternal de João de Deus, a obra do poeta e pedagogo que servia de base a um método de leitura das crianças. Agora surge-nos a Cartilha Pastoral de Passos Coelho, que, não tendo a ver com nenhum método de leitura, pretende ensinar as suas ovelhas a responderem aos jornalistas. O Pastor Coelho não quer nenhuma das peças do seu rebanho tresmalhadas. Quase me ia atrever a dizer que Passos Coelho não admite que nenhuma das suas ovelhas diga o que pensa, mas que seja apenas a voz do pastor, esquecendo-me que ovelha não pensa. E o pastor, quando pensa, sai asneira e da grossa.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Décadas de atraso
Numa freguesia do concelho de Faro, com décadas de atraso, hoje estralejam foguetes porque a àgua chega às torneiras das casas e o saneamento básico torna-se uma realidade. E em minha casa?! E na casa dos meus vizinhos?! E nas casas dos meus conterrâneos desta freguesia, com estatuto de vila, de Nespereira, Cinfães?! Numa terra em que, em muitos dias, não se pode estar junto a um bloco de apartamentos e ainda um café ejá teve um balcão de um banco; numa terra em que não se pode estar junto a outro bloco de apartamentos e lojas comerciais, que as fossas sépticas transbordam, deixando no chão os efluentes que as pessoas pisam e no ar o inevitável e consequente cheiro nauseabundo;numa terra em que uma escola e uma instituição de solidariedade social não podem funcionar por falta do dito saneamento básico; numa terra assim, pese embora algumas obras que se fizeram - uma delas mais valia ter deixado tudo como estava - que seria injusto não valorizar, não se pode esperar que desenvolva mais e está décadas atrasada.
É hipocrisia, é bairrismo saloio, é demagogia, dizer que a freguesia está óptima, é maravilhosa. È mentira. Bem gostava que não fosse.
É hipocrisia, é bairrismo saloio, é demagogia, dizer que a freguesia está óptima, é maravilhosa. È mentira. Bem gostava que não fosse.
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
BURROS
O burro, animal irracional, “burro-de-carga” é um animal de ar meigo, humilde, parecendo consciente da sua condição. O “homem-burro” pode também ser isso tudo e despertar até simpatia se for dotado da humildade do dito animal e for consciente da sua condição. Todavia, estraga tudo, quando, num assomo de vaidade, se julga cavalo e não burro e em vez dos naturais zurros, ensaia uns ridículos relinchos.
Há tantos por aí!...
Há tantos por aí!...
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
PENSAMENTO
PENSAMENTO
Num determinado período desta última noite, em que Morfeu me deixou cair de seus braços – convenhamos que nesta fase da vida já acontece frequentemente – e fiquei, por ali, estendido no leito, a pensar na “porca” de vida que os políticos me arranjaram e a milhões de portugueses, alguns bem pior do que eu. Na catadupa de pensamentos, repentinamente surge-me este: É bem provável que tão breve, infelizmente, não tenhamos solução, mas temos que pensar, senão no curto, pelo menos no médio e longo prazo, para protegermos os nossos filhos e netos. Com isto na mente, lembrei-me que, dado o entusiasmo que o governo incita à emigração, deveria criar um programa especial de incentivo à emigração de todas as prostitutas para que tivéssemos alguma garantia de que não seriam os seus filhos que nos viriam a governar e a ocupar todos os altos cargos políticos e centros de decisão.
Bom, esta não me ocorreu, nem a aceitaria, mas a uma corja de políticos que ao respeito pelos direitos humanos dá tratos de polé, não quisessem continuar a ser eles os “donos do mundo”, não lhes repugnaria mandá-las castrar.
Num determinado período desta última noite, em que Morfeu me deixou cair de seus braços – convenhamos que nesta fase da vida já acontece frequentemente – e fiquei, por ali, estendido no leito, a pensar na “porca” de vida que os políticos me arranjaram e a milhões de portugueses, alguns bem pior do que eu. Na catadupa de pensamentos, repentinamente surge-me este: É bem provável que tão breve, infelizmente, não tenhamos solução, mas temos que pensar, senão no curto, pelo menos no médio e longo prazo, para protegermos os nossos filhos e netos. Com isto na mente, lembrei-me que, dado o entusiasmo que o governo incita à emigração, deveria criar um programa especial de incentivo à emigração de todas as prostitutas para que tivéssemos alguma garantia de que não seriam os seus filhos que nos viriam a governar e a ocupar todos os altos cargos políticos e centros de decisão.
Bom, esta não me ocorreu, nem a aceitaria, mas a uma corja de políticos que ao respeito pelos direitos humanos dá tratos de polé, não quisessem continuar a ser eles os “donos do mundo”, não lhes repugnaria mandá-las castrar.
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Ena, tantos...
O ministro Macedo (MAI) ufana-se de que não há memória de haver um incêndio, em Portugal, combatido por tantos operacionais, como foi o do Algarve. Com muitos mais anos e uma ligação muito mais forte à problemática dos incêndios florestais, concordo plenamente. Mas há a memória, em mim e muitos outros que estão ou passaram pelas fileiras dos BOMBEIROS, e não tenho qualquer dúvida na afirmação, que...já foram combatidos maiores incêndios, em circunstâncias bem mais difíceis, com muito menos operacionais, muito menos meios, mas muito mais eficácia e, consequentemente, muito menos destruição, muito menos prejuizos.
Esta falta de eficácia tem vindo a verificar-se (será mera coincidência?!) depois que quiseram subalternizar a estrutura BOMBEIROS, dando protagonismo à Protecção Civil. Muitos se recordam, e, provavelmente, eu, por motivos conhecidos, mais que quaisquer outros, da exibição de protagonismo da Protecção Civil e outros) nas operações na Tragédia de Entre-os-Rios. Uns exibiam-se, os BOMBEIROS trabalhavam. Infelizmente, ninguém aprendeu nada. Nem o actual presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) que por lá andou em funções "policiais".
O que é necessário é que os operacionais e meios estejam no local certo, à hora certa e que cada qual, sobretudo quem comanda e coordena, para além da missão que deve ter bem definida, seja capaz de, no momento exacto, sem hesitações, ainda que contrariando regras ou normas, mas usando de bom-senso, tomar as decisões adequadas que respondam aos incidentes que frequentemente surpreendem num incêndio florestal.
Em muitos casos, muitas pessoas e muitos meios são mais motivo de estorvo do que de ajuda.
Cada qual que tire as ilações que quiser ou puder.
Esta falta de eficácia tem vindo a verificar-se (será mera coincidência?!) depois que quiseram subalternizar a estrutura BOMBEIROS, dando protagonismo à Protecção Civil. Muitos se recordam, e, provavelmente, eu, por motivos conhecidos, mais que quaisquer outros, da exibição de protagonismo da Protecção Civil e outros) nas operações na Tragédia de Entre-os-Rios. Uns exibiam-se, os BOMBEIROS trabalhavam. Infelizmente, ninguém aprendeu nada. Nem o actual presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) que por lá andou em funções "policiais".
O que é necessário é que os operacionais e meios estejam no local certo, à hora certa e que cada qual, sobretudo quem comanda e coordena, para além da missão que deve ter bem definida, seja capaz de, no momento exacto, sem hesitações, ainda que contrariando regras ou normas, mas usando de bom-senso, tomar as decisões adequadas que respondam aos incidentes que frequentemente surpreendem num incêndio florestal.
Em muitos casos, muitas pessoas e muitos meios são mais motivo de estorvo do que de ajuda.
Cada qual que tire as ilações que quiser ou puder.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
CHOCADOS
Andam muito chocados, alguns ministros e outras figuras do PSD – e também do CDS – com as palavras de D. Januário Torgal Ferreira. Curioso que já Salazar e os seus prosélitos se chocaram com as palavras certas de D. António Ferreira Gomes, de quem D. Januário foi discípulo, a ponto de o enviarem para o exílio. Ainda não estamos exactamente no ponto de estes fazerem o mesmo, senão não hesitariam em seguir o mesmo caminho.
Marques Guedes até chama “insultos” às acusações do Bispo das Forças Armadas. Mas, desde quando é que dizer, com verdade, o que se pensa, é insulto?! Bem me parecia que este regime governado e apoiado, salvo raras excepções, por saudosistas do 24 de Abril, embora poucos o assumam por hipocrisia ou interesses eleitorais, já só é um arremedo de democracia.
Seria estranho, se não fossem minimamente conhecidos, que se preocupem com o que o Bispo recebe – que não foi ele que decretou – e não se lhes conheça uma palavra sobre o “bando” de “boys” incompetentes e desnecessários que metem na “gamela” do poder a auferir salários chorudos e…abonos suplementares. Isto para não falar da corja de ladrões, burlões, corruptos e até alegados assassinos que integraram ou integram as suas fileiras, alguns em lugares de destaque.
Marques Guedes até chama “insultos” às acusações do Bispo das Forças Armadas. Mas, desde quando é que dizer, com verdade, o que se pensa, é insulto?! Bem me parecia que este regime governado e apoiado, salvo raras excepções, por saudosistas do 24 de Abril, embora poucos o assumam por hipocrisia ou interesses eleitorais, já só é um arremedo de democracia.
Seria estranho, se não fossem minimamente conhecidos, que se preocupem com o que o Bispo recebe – que não foi ele que decretou – e não se lhes conheça uma palavra sobre o “bando” de “boys” incompetentes e desnecessários que metem na “gamela” do poder a auferir salários chorudos e…abonos suplementares. Isto para não falar da corja de ladrões, burlões, corruptos e até alegados assassinos que integraram ou integram as suas fileiras, alguns em lugares de destaque.
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