quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Desabafos

Por mais que me esforce, tenho uma dificuldade enorme em desligar-me do discurso da traição, da agressão, do assalto aos nossos bolsos por parte de quem tinha obrigação de fazer exactamente o contrário. Com um nível de vida dos mais baixos da Europa, vínhamos, desde há alguns anos a esta parte, esperando – sempre a esperança – uma aproximação aos salários de outros europeus. Com salários a subirem abaixo da inflação ou mesmo a ficarem congelados, nunca lá chegámos, mas o que este governo está a fazer é pôr-nos a milhas deles. Falo novamente nesta matéria, porque num tempo em que se costuma falar de esperança num novo ano, aquela janela de esperança que Passos Coelho afirmou que se abrira, quando conquistara o poder à custa de uma mentira colossal, nem nunca se abrira, antes se fecharam janelas, portas e nem uma simples frincha deixara aberta.
Cada vez mais os políticos deixam de merecer a confiança dos eleitores e, por isso, qualquer dia nem sei se haverá eleitores e se valerá a pena realizar eleições. Se isso acontecer, será por culpa de quem? Obviamente, dos políticos e teremos, infelizmente, o fim da democracia, que acredito, agradaria imenso a muitos que se autoproclamam de democratas e até vingam e bem – ao contrário de muitos seus concidadãos bem mais democratas – à custa dessa mesma democracia, apesar de todos os seus defeitos, o melhor de todos os regimes.
Gosto muito de putos. Putos, crianças. A profissão que abracei levou-me a lidar diariamente, e por mais de três décadas, com putos. Liderei ainda, no futebol, como treinador, impúberes rapazinhos. Agora, inebrio-me com cinco netos. São giros os putos. Eu amo-os. São putos, mas são gente.
Mas há outros putos, os pulhas, os devassos. São esses putos, muitos dos nossos políticos. Eu disse putos, não me referi às mães deles, como muitos outros fazem, que porventura até terão enorme desgosto por terem parido semelhantes crias. Putos, pulhas destes, há-os por aí aos milhares e não apenas nos políticos, infelizmente.
Aos putos, crianças, eu respeito; os outros putos, os pulhas, indignam-me, revoltam-me, provocam-me náuseas.
Dão-se alvíssaras a quem inventar um veneno eficaz, para a sua extinção, já que, ao contrário dos putos crianças que tendem a decrescer, os pulhas tendem a expandir-se.
Eram os meus filhos pequenos e um familiar meu, em minha casa, questionou, referindo-se a eles: - A canalha já chegou?
A minha filha, com dez anos, na altura, que se encontrava num compartimento ao lado, ripostou de imediato e num tom de muito ofendida: - Olha que eu não sou canalha!
Tinha razão. Canalha é outra coisa, é muita gente crescida que anda por aí.
Tu, homem verme, que te julgas gente só porque és grande e às crianças chamas canalha só porque são pequenas, repara que elas se riem de ti e te acham grande…canalha.
Por isso, meu amigo, esperança nos políticos, para um bom ano de 2012, esqueça. Se tiver oportunidade veja o “mérito”, se preferir, o currículo, de alguns deles que ocupam lugares de relevo, mesmo de muito relevo.
Mantenhamos, isso sim, a esperança em cada um de nós, na nossa força, na nossa coragem, na nossa capacidade de sobreviver. Em nós e nos verdadeiros amigos: aqueles que nos olham olhos nos olhos, que nos sabem dizer sim e dizer não, que não dizem nas costas o que não sejam capazes de dizer de frente, que sofrem com as nossas dores, os nossos insucessos, que se emprenham de júbilo com as nossas conquistas, os nossos méritos, as nossas alegrias.
Como disse Benjamin Franklin “quem vive de esperanças - nos políticos, digo eu – corre o risco de morrer de fome”.
Com uma confiança acrescida em cada um de nós e em comunhão com os verdadeiros amigos – não se esqueçam de irradiar a hipocrisia – imbuídos de autêntico espírito solidário, haveremos de sobreviver, ainda que seja com uma mão atrás e outra à frente, mas com dignidade, para podermos contemplar, um dia destes, os nossos algozes derrotados, de cócoras, na base do pedestal de onde atiraram para a miséria muitos dos seus concidadãos.

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