segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Desabafos

Sempre me chocou a falta de reconhecimento pelo trabalho, pelo mérito daqueles que executam tarefas em prol dos outros, muito mais quando elas são desempenhadas com amor, abnegação, com desapego ao dinheiro e ao descanso, com sacrifício da própria vida, como tantas vezes acontece. Costumo dizer, muitas vezes, que dos sentimentos que mais aprecio, um deles é o da gratidão. Pelo que o País lhes deve, se há quem realmente merece reconhecimento, são os seus bombeiros, na sua grande maioria voluntários, dando cobertura a todo o território e desempenhando, imensas vezes, tarefas que competiriam a outras entidades com gente remunerada para as executar. Mas, à porta de quem os portugueses batem, em situação de qualquer espécie de aflição, é sempre à dos seus bombeiros, porque sabem que lá, ao contrário de outros locais, sempre encontram as portas abertas. Digamos que, como se diz na minha região, os bombeiros são uma espécie de “pião das nicas”. Felizmente, os portugueses têm, na generalidade, pelos seus bombeiros, o maior património humano que Portugal possui, a consideração, o apreço que lhes é devido. Infelizmente, quase nunca acontece o mesmo por parte de instituições e entidades a quem se exige, pelas atribuições que lhes estão confiadas, pelas competências que têm, esse apreço, esse respeito.
Desde há muitos anos que “saio a terreiro”, das mais diversas formas e consoante as oportunidades, em defesa da instituição bombeiros. Infelizmente, sempre encontrei muitas mais razões para lamentar do que para enaltecer a forma como eram tratados. Alguns chegavam mesmo a afirmar que eu tinha propensão para estar sempre do contra. Talvez, mas o que é certo é que mais cedo ou mais tarde, a razão se viria a manifestar do meu lado.
Houve um governante que procurou entender os bombeiros e fazer algo de positivo. Foi ele, Dias Loureiro, bem presente na memória recente dos portugueses por maus motivos. Isso, todavia, não me impede de fazer justiça. Antes dele e após ele, praticamente nada de positivo. Antes pelo contrário.
A primeira e grande machadada na instituição bombeiros deu-a António Costa, actual Presidente da Câmara de Lisboa e, à época, Ministro da Administração Interna. A ele se deve a famigerada, inoportuna e desnecessária criação dos GIPS da GNR. Desde o início não parei de combater tal existência. Fi-lo das mais diversas formas e algumas vezes em locais e perante pessoas que muitos não teriam coragem de fazer. Ainda há relativamente poucos dias me referi a eles, no enquadramento de uma crítica que fazia ao actual ministro Miguel Macedo quando teve a infeliz afirmação de que “corporações de bombeiros em dificuldades financeiras são casos de polícia e tribunais”.
Hoje, diz-se e eu quero acreditar nisso, que Miguel Macedo deu ordens para se extinguirem os GIPS. Tenho que o louvar por isso. Uma vez mais eu tinha razão.
Quanto ao porta-voz da Associação Socioprofissional da Guarda (ASPIG) quero sugerir que não fique tão preocupado com o erário público, porque os materiais e equipamento, se o processo for conduzido correctamente, deve ser entregue às associações de bombeiros. Espero que não fiquem a apodrecer à porta dos quartéis da GNR. Quanto ao dinheiro que foi investido na formação dos militares ela nunca é demais e em qualquer altura pode manifestar-se útil. Já quanto à eficácia, bom, as estatísticas são uma coisa e a realidade é, não poucas vezes, bem diferente. Se eu comer apenas as asas de um frango e um meu amigo comer todo o resto do frango, estatisticamente, foi meio frango para cada um.
Hoje, e por agora, fico-me pelo aplauso à extinção dos GIPS.

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