terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Desabafos

Devo confessar que este governo que nos desgoverna, por tantas e tamanhas maldades, quase impede que o meu pensamento se entretenha com outros temas. Daí que sinta que a actuação do referido governo me retire capacidade de desenvolver o meu raciocínio e me leve mesmo a temer que possa vir a sofrer de um eventual comportamento depressivo. Não seria, de certeza o primeiro a sofrer desse mal, a expensas exclusivas da governação, para além de má, no presente, inspiradora de não confiança no futuro. Por várias razões, uma delas, porque a generalidade dos portugueses nem sequer confia na palavra dos políticos que estão ao leme. Não fora eu saber que ninguém me pagaria, e porque não desejaria que pudesse ser acusado de prejudicar o erário público, exigiria uma indemnização, não só pelos males materiais que me estão a causar, mas sobretudo pelos males espirituais. Para além de estarmos constantemente a ser espoliados, não se aguenta ter de estar sempre a pensar em crise, que cada dia que vem vai ser pior do que o anterior, etc., etc. Bom, mas também iria pedir uma indemnização como?! Através de um requerimento pessoal, directo?! Através de uma acção judicial?! Não, não vale a pena. Em qualquer dos casos iria morrer, antes de obter qualquer resposta.
Sendo assim, tentando contrariar o rumo para que me conduz o pensamento vou tentar outra abordagem.
A vida, em cada momento que vivemos, se os vivermos atentamente, é uma autêntica escola que nos proporciona constantemente novas aprendizagens, nos leva a mudar de opinião, – só os burros é que não mudam – a alterar comportamentos, a ver as pessoas e o mundo de forma diferente, a conhecer melhor os humanos. Tal conhecimento permite-nos observar com mais acerto onde está a hipocrisia ou a franqueza, a gratidão ou a ingratidão, a lealdade ou a deslealdade, a verdade ou a mentira, a justiça ou a injustiça, a bondade ou a maldade, a humildade ou a arrogância, a competência ou a incompetência, a vaidade ou a simplicidade, o mérito ou o demérito, a valentia ou a cobardia, o altruísmo ou o egoísmo. Concluímos, assim, sem qualquer espécie de dificuldade e sem necessidade de uma inteligência acima da média, que vivemos num mundo de tal forma desinteressante, de pernas para o ar, onde sai vitorioso tudo o que é negação daqueles valores que deveriam ser universais e pelos quais, infelizmente, poucos se regem.
Entre muitas outras coisas que os nossos sentidos recolhem e o nosso cérebro descodifica, a minha sensibilidade, a minha inteligência ficam feridas com determinadas homenagens, mais abrilhantadas umas, mais singelas outras, expressas apenas em mais ou menos elaboradas, mais ou menos extensas peças literárias.
Porque me dou conta de tudo isto, porque me repugna a mediocridade em que tantos se encontram situados, mas tudo fazem por aparecerem num qualquer periclitante pedestal, a minha revolta torna-se maior ainda, quando tenho a certeza de que muitas das ditas homenagens não passam de um repugnante exercício de hipocrisia. Hoje, através das redes sociais, apercebemo-nos muito mais facilmente desse fenómeno. Quase todos nós conhecemos pessoas – eu conheço – que, pelas costas, dizem “cobras e lagartos” de algum ou alguns ditos amigos. Pois é só estar atento ao que dizem de frente ou ler algumas referências nas ditas redes sociais. Quem não conhecer até conclui que se trata de pessoas capazes de darem a vida umas pelas outras e todas vestidas de excelsas virtudes. Como é possível existir tanta hipocrisia?! Como é possível, como por cá se diz, “andar meio mundo a enganar outro meio”?!
Amigos?! Mas que amigos?! Aprecio mais aqueles que são capazes de dizer não, que são capazes de discordar e justificar.
Muitos amigos?! Não, o que muitos têm são muitas pessoas conhecidas.

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