sábado, 4 de fevereiro de 2012

Desabafos

Enquanto tiver forças e dispuser de meios, como por ora acontece, não deixarei de defender publicamente as minhas convicções, de aplaudir o que julgar merecedor de aplauso, de reprovar o que julgar merecedor de reprovação, de lutar ao lado dos explorados contra os exploradores. Faço-o na certeza de que não farei nada de extraordinário, mas tão-somente estarei a cumprir o meu dever de cidadão. Não cumpre o seu dever quem se limita a comer, dormir, trabalhar, ainda que seja exemplarmente, deixando as tarefas de lutar por valores, por direitos e deveres, contra a injustiça e a discriminação, para outros, como se nada disso fosse com eles. Mas que também ninguém se conforme que apenas “cumprir o dever” já é motivo suficiente para homenagem. Não, não é. Simplesmente, tão pouca gente cumpre, que o simples facto de alguns o fazerem já parece uma coisa extraordinária. Não é. Deveria ser o normal.
Bom, voltemos à política indígena.
Em boa verdade não posso afirmar que Passos Coelho me desiludiu, porque nunca tive quaisquer ilusões quanto ao seu desempenho como primeiro-ministro. Desiludir, de facto, não desiludiu, mas não esperava que ele se revelasse com tantos tiques ditatoriais, que ele, falando tanto em credibilidade, tivesse por ela tão pouco respeito, ao ponto de já poucos se admirarem que ele amanhã diga exactamente o contrário do que disse hoje. E a arrogância com que ele e os da sua “seita” afirmam coisas do género “vamos dialogar, mas não há alternativa à nossa política”! Como eles são convencidos!
Não sei o que move Passos Coelho contra os funcionários públicos. Se pensar melhor até talvez saiba. Ele quer, a todo o custo, resolver o problema do deficit e da dívida pública. Como não tem arcabouço para resolver o problema de outra forma, como qualquer ditadorzinho, socorre-se do que é extremamente fácil: “assaltar, roubando-os”, aqueles que dependem, em termos salariais, dos dinheiros públicos, isto é os funcionários públicos e os pensionistas – não os de pensões douradas. Qualquer leigo sabe que sugando, e se for preciso suga mais, os trabalhadores do Estado (não todos, apenas os mais frágeis) e os pensionistas, resolve esses problemas. Acredito até que esse problema se resolverá, mas será, aumentando o desemprego, a miséria, tornando Portugal num país terceiro-mundista, a solução? Não haverá, de facto, alternativa a esta política assassina?!
Bom, mas o meu raciocínio ia no sentido de tentar adivinhar o que moveria Passos contra os funcionários públicos. Como ele, sem que lhes sejam conhecidos méritos para tanto, desempenhou, à custa de “padrinhos”, diz-se, lugares de algum relevo em empresas privadas, não sabe o que é a função pública. Trabalhar, não sei se trabalhou. Ao tempo de deputado, não lhe concedo esse estatuto. Os verdadeiros funcionários públicos trabalham mais, muito mais tempo, para menores reformas e nenhuns privilégios.
Dar ou não dar ponte no Carnaval, pessoalmente, não me afecta. Primeiro, porque nunca fui grande fã de tais festejos, segundo porque estando reformado, mais feriado ou menos feriado não me afecta. Mas o que importa é o que acontece à maioria dos portugueses e não a um. Cavaco Silva atreveu-se uma vez a não dar ponte e não repetiu. Nem esse exemplo serviu para Coelho aprender a lição. Bem pode pôr as máscaras que quiser, mas a sua verdadeira cara é de alguém que não tem respeito pelos portugueses nem pelas suas tradições, que vai ajudar a arruinar a economia das regiões, que está a atirar para a miséria milhares e milhares de cidadãos, seus compatriotas.
Aliás, essa história do dia de Carnaval, já de há muito deveria estar instituído, através de legislação, como feriado, porque ele faz parte das mais profundas raízes culturais do nosso povo. E se esse povo espezinhado, em alguns aspectos pior do que no tempo de Oliveira Salazar, precisa de alguma alegria, alguma folia, é agora. Trabalhar, trabalha ele demais nem que seja à procura de emprego ou de arranjar umas côdeas de pão para matar a fome.
Acredito que a maioria dos empresários dêem folga aos seus trabalhadores. Uma vez mais, os funcionários públicos – aqueles que o governo diz que têm mais regalias do que os privados – serão descriminados.

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