Sempre me chocou a falta de reconhecimento pelo trabalho, pelo mérito daqueles que executam tarefas em prol dos outros, muito mais quando elas são desempenhadas com amor, abnegação, com desapego ao dinheiro e ao descanso, com sacrifício da própria vida, como tantas vezes acontece. Costumo dizer, muitas vezes, que dos sentimentos que mais aprecio, um deles é o da gratidão. Pelo que o País lhes deve, se há quem realmente merece reconhecimento, são os seus bombeiros, na sua grande maioria voluntários, dando cobertura a todo o território e desempenhando, imensas vezes, tarefas que competiriam a outras entidades com gente remunerada para as executar. Mas, à porta de quem os portugueses batem, em situação de qualquer espécie de aflição, é sempre à dos seus bombeiros, porque sabem que lá, ao contrário de outros locais, sempre encontram as portas abertas. Digamos que, como se diz na minha região, os bombeiros são uma espécie de “pião das nicas”. Felizmente, os portugueses têm, na generalidade, pelos seus bombeiros, o maior património humano que Portugal possui, a consideração, o apreço que lhes é devido. Infelizmente, quase nunca acontece o mesmo por parte de instituições e entidades a quem se exige, pelas atribuições que lhes estão confiadas, pelas competências que têm, esse apreço, esse respeito.
Desde há muitos anos que “saio a terreiro”, das mais diversas formas e consoante as oportunidades, em defesa da instituição bombeiros. Infelizmente, sempre encontrei muitas mais razões para lamentar do que para enaltecer a forma como eram tratados. Alguns chegavam mesmo a afirmar que eu tinha propensão para estar sempre do contra. Talvez, mas o que é certo é que mais cedo ou mais tarde, a razão se viria a manifestar do meu lado.
Houve um governante que procurou entender os bombeiros e fazer algo de positivo. Foi ele, Dias Loureiro, bem presente na memória recente dos portugueses por maus motivos. Isso, todavia, não me impede de fazer justiça. Antes dele e após ele, praticamente nada de positivo. Antes pelo contrário.
A primeira e grande machadada na instituição bombeiros deu-a António Costa, actual Presidente da Câmara de Lisboa e, à época, Ministro da Administração Interna. A ele se deve a famigerada, inoportuna e desnecessária criação dos GIPS da GNR. Desde o início não parei de combater tal existência. Fi-lo das mais diversas formas e algumas vezes em locais e perante pessoas que muitos não teriam coragem de fazer. Ainda há relativamente poucos dias me referi a eles, no enquadramento de uma crítica que fazia ao actual ministro Miguel Macedo quando teve a infeliz afirmação de que “corporações de bombeiros em dificuldades financeiras são casos de polícia e tribunais”.
Hoje, diz-se e eu quero acreditar nisso, que Miguel Macedo deu ordens para se extinguirem os GIPS. Tenho que o louvar por isso. Uma vez mais eu tinha razão.
Quanto ao porta-voz da Associação Socioprofissional da Guarda (ASPIG) quero sugerir que não fique tão preocupado com o erário público, porque os materiais e equipamento, se o processo for conduzido correctamente, deve ser entregue às associações de bombeiros. Espero que não fiquem a apodrecer à porta dos quartéis da GNR. Quanto ao dinheiro que foi investido na formação dos militares ela nunca é demais e em qualquer altura pode manifestar-se útil. Já quanto à eficácia, bom, as estatísticas são uma coisa e a realidade é, não poucas vezes, bem diferente. Se eu comer apenas as asas de um frango e um meu amigo comer todo o resto do frango, estatisticamente, foi meio frango para cada um.
Hoje, e por agora, fico-me pelo aplauso à extinção dos GIPS.
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Desabafos
Desde há uns anos a esta parte que as associações de bombeiros vêm sofrendo tratos de polé, por parte do poder instituído. Poderia referir aqui uma série de situações que comprovariam isso mesmo, mas, por agora, não me vou alongar. Porque existe uma ligação profunda, quase umbilical, entre mim e a instituição bombeiros, cada maldade que lhe façam, sinto-a como se me dessem uma punhalada. O sofrimento que tal punhalada me proporciona é tão mais atroz, porquanto, cada vez que fazem mal aos bombeiros, estão a complicar a vida das populações que eles servem, sobretudo a dos mais desfavorecidos. E é bom não esquecer que os bombeiros, detidos na sua esmagadora maioria por associações, cobrem todo o território nacional, sabendo-se que na maior parte desse mesmo território, as respectivas populações não têm outro meio de socorro rápido e eficaz que não sejam os seus bombeiros, que normalmente acarinham, respeitam e contribuem para a sua sobrevivência. Contribuição, até essa, posta em causa, dada a imposição de austeridade que está a transformar generosos e solidários contribuintes em necessitados de contribuição.
O resultado das políticas erradas relativamente aos bombeiros, que desempenham tarefas, muitas delas gratuitamente, que competiam aos diversos poderes garantir, é que muitas associações já tiveram de despedir bombeiros assalariados, outras estão com salários em atraso, com dívidas incomportáveis que contraíram para não faltar o socorro a quem dele carece, e que só a generosidade de muitos credores vai permitindo suportar, outras mesmo correm sérios riscos de fechar as portas. Ora isto só pode acontecer, porque autarquias e poder central ainda se não deram conta - ou fingem - dos milhares de milhões de euros que teriam de desembolsar – no fundo nós todos – para manter a cobertura nacional que as associações de bombeiros voluntários oferecem, senão com melhor eficácia, pelo menos com a mesma, se tivessem de socorrer-se exclusivamente de corpos de bombeiros municipais profissionais.
Corre, assim, sérios riscos, a vida, sobretudo a vida, mas também o património dos portugueses. Há milhares de compatriotas nossos que, com as associações de bombeiros impedidas de o fazer porque não lhes pagam devidamente o transporte que fazem com as suas ambulâncias, deixam de ter acesso ao socorro, ou, em última análise, tendo-o, vão contribuir, por incapacidade para pagarem, para o agravamento da situação económica das mesmas associações. Os políticos, e refiro-me apenas a eles porque são eles a quem compete governar e legislar, têm direito a subsídios avantajados para transportes, para alojamento, a várias reformas chorudas, mesmo que com poucos anos de actividade. Para pagar justamente, porque só se pretende pagamento justo, o transporte de doentes, não há dinheiro.
Também não havia dinheiro e continua a não haver para subsidiar justamente as equipas de bombeiros que combatem os incêndios florestais, mas houve dinheiro para criar os GIPS da GNR, retirando esses militares das verdadeiras funções para que foram criados, equipando-os com material que deveria ser entregue às associações de bombeiros e deixando o combate com meios terrestres ou aéreos, entregue aos soldados da paz que têm enorme experiência na matéria. Devo confessar, sem qualquer espécie de facciosismo, que do que vi e ouvi nestes últimos anos, relativamente à actuação dos ditos GIPS, não me agradou nada, mesmo nada, muito embora até lhes tenham tecido louvores públicos que, noutras ocasiões, muito mais merecidos, não foram endereçados aos bombeiros. Fogos nascentes, numa grande parte deles, onde estavam os GIPS?! Tendo o cuidado de navegar, de vez em quando, pelo sítio da Autoridade Nacional de Protecção Civil, poucas vezes encontrei tais grupos referenciados nos elementos de combate, nos inúmeros incêndios que iam deflagrando aqui e ali, no Verão. Aliás, sabe-se que a sua presença, em alguns incêndios florestais, foi mais fonte de conflito do que colaboração.
Confrontado com as dificuldades financeiras das associações de bombeiros, Miguel Macedo, o Ministro da Administração Interna do funesto Governo teve esta tirada: “corporações de bombeiros em dificuldades financeiras são casos de polícia e tribunais”. É natural que haja um ou outro caso, nos bombeiros, que fuja à legalidade. Mas, senhor ministro – nem me apetecia muito chamar-lhe senhor – olhe que casos de polícia e tribunais hão muitos nos políticos, só que esses, com leis feitas à sua medida e dinheiro, adquirido sabe Deus como, acabam quase sempre por “fugir com o rabo à seringa”.
Os bombeiros não querem qualquer espécie de favorecimentos, só exigem que os respeitem e lhes dêem aquilo a que têm direito, para continuarem a cumprir e bem as tarefas de protecção e socorro e até muitas outras que competiriam a outras entidades, mas que, na altura própria, ninguém sabe onde as contactar ou quando e se chegariam.
Ufanamente, o mesmo ministro, apregoa o apoio às polícias. Ainda bem. O dinheiro que nos roubam há-de dar para alguma coisa útil. Mas, pudera, como é que eles não iriam querer ter as polícias bem equipadas, se o mais certo é que nos próximos tempos bem precisem delas para lhes defenderem o costado! Vai ver que o que eles querem é que se os portugueses não desaparecerem com a emigração aconselhada, se não morrerem à fome ou por falta de cuidados de saúde, morram à porrada!
Deixe-me usar aqui a primeira quadra de um soneto de José Régio, escrito em 1969. Ei-lo:
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
1969 tão longínquo e tão próximo.
O resultado das políticas erradas relativamente aos bombeiros, que desempenham tarefas, muitas delas gratuitamente, que competiam aos diversos poderes garantir, é que muitas associações já tiveram de despedir bombeiros assalariados, outras estão com salários em atraso, com dívidas incomportáveis que contraíram para não faltar o socorro a quem dele carece, e que só a generosidade de muitos credores vai permitindo suportar, outras mesmo correm sérios riscos de fechar as portas. Ora isto só pode acontecer, porque autarquias e poder central ainda se não deram conta - ou fingem - dos milhares de milhões de euros que teriam de desembolsar – no fundo nós todos – para manter a cobertura nacional que as associações de bombeiros voluntários oferecem, senão com melhor eficácia, pelo menos com a mesma, se tivessem de socorrer-se exclusivamente de corpos de bombeiros municipais profissionais.
Corre, assim, sérios riscos, a vida, sobretudo a vida, mas também o património dos portugueses. Há milhares de compatriotas nossos que, com as associações de bombeiros impedidas de o fazer porque não lhes pagam devidamente o transporte que fazem com as suas ambulâncias, deixam de ter acesso ao socorro, ou, em última análise, tendo-o, vão contribuir, por incapacidade para pagarem, para o agravamento da situação económica das mesmas associações. Os políticos, e refiro-me apenas a eles porque são eles a quem compete governar e legislar, têm direito a subsídios avantajados para transportes, para alojamento, a várias reformas chorudas, mesmo que com poucos anos de actividade. Para pagar justamente, porque só se pretende pagamento justo, o transporte de doentes, não há dinheiro.
Também não havia dinheiro e continua a não haver para subsidiar justamente as equipas de bombeiros que combatem os incêndios florestais, mas houve dinheiro para criar os GIPS da GNR, retirando esses militares das verdadeiras funções para que foram criados, equipando-os com material que deveria ser entregue às associações de bombeiros e deixando o combate com meios terrestres ou aéreos, entregue aos soldados da paz que têm enorme experiência na matéria. Devo confessar, sem qualquer espécie de facciosismo, que do que vi e ouvi nestes últimos anos, relativamente à actuação dos ditos GIPS, não me agradou nada, mesmo nada, muito embora até lhes tenham tecido louvores públicos que, noutras ocasiões, muito mais merecidos, não foram endereçados aos bombeiros. Fogos nascentes, numa grande parte deles, onde estavam os GIPS?! Tendo o cuidado de navegar, de vez em quando, pelo sítio da Autoridade Nacional de Protecção Civil, poucas vezes encontrei tais grupos referenciados nos elementos de combate, nos inúmeros incêndios que iam deflagrando aqui e ali, no Verão. Aliás, sabe-se que a sua presença, em alguns incêndios florestais, foi mais fonte de conflito do que colaboração.
Confrontado com as dificuldades financeiras das associações de bombeiros, Miguel Macedo, o Ministro da Administração Interna do funesto Governo teve esta tirada: “corporações de bombeiros em dificuldades financeiras são casos de polícia e tribunais”. É natural que haja um ou outro caso, nos bombeiros, que fuja à legalidade. Mas, senhor ministro – nem me apetecia muito chamar-lhe senhor – olhe que casos de polícia e tribunais hão muitos nos políticos, só que esses, com leis feitas à sua medida e dinheiro, adquirido sabe Deus como, acabam quase sempre por “fugir com o rabo à seringa”.
Os bombeiros não querem qualquer espécie de favorecimentos, só exigem que os respeitem e lhes dêem aquilo a que têm direito, para continuarem a cumprir e bem as tarefas de protecção e socorro e até muitas outras que competiriam a outras entidades, mas que, na altura própria, ninguém sabe onde as contactar ou quando e se chegariam.
Ufanamente, o mesmo ministro, apregoa o apoio às polícias. Ainda bem. O dinheiro que nos roubam há-de dar para alguma coisa útil. Mas, pudera, como é que eles não iriam querer ter as polícias bem equipadas, se o mais certo é que nos próximos tempos bem precisem delas para lhes defenderem o costado! Vai ver que o que eles querem é que se os portugueses não desaparecerem com a emigração aconselhada, se não morrerem à fome ou por falta de cuidados de saúde, morram à porrada!
Deixe-me usar aqui a primeira quadra de um soneto de José Régio, escrito em 1969. Ei-lo:
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
1969 tão longínquo e tão próximo.
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