Cantai lavradores, cantai…
Folgai lavradores, folgai…que, com o apoio que o governo, pela voz do “cara-de-fome” do ministro Mota Soares, que sempre e só aparece quando julga que tem – mas não tem - uma boa notícia para dar, anunciou, ao melhor estilo da propaganda salazarista-marcelista, a vossa vida há-de melhorar muito! Ora vejam lá: Vão ser disponibilizados 31 milhões de euros para apoiar 29 000 trabalhadores agrícolas e 10 000 produtores. Segundo a matemática do meu tempo e, estatisticamente, significa que dá cerca de 795 Euros por pessoa. Uma fortuna, realmente. Mas há mais. È que dos 31 milhões, 25 milhões serão recuperados pelo governo em 2013, os que estão destinados aos trabalhadores. Os outros 6 milhões serão para os produtores e respectivas esposas.
Motivos mais do que suficientes para tanta propaganda e para que os nossos agricultores fiquem felizes. Em 2013, haja seca, geada negra ou tempestade, há que devolver o dinheirinho. Haja paciência!
quarta-feira, 13 de junho de 2012
quinta-feira, 7 de junho de 2012
As bacoradas de Passos Coelho
Passos Coelho afirmou: “o povo português tem sido extremamente paciente na forma como enfrentou – enfrentou? Já não enfrenta?! – as dificuldades, incluindo o desemprego”.
Decididamente, Passos Coelho não conhece o povo do seu país, não imagina quanta impaciência, quanta dor, quanto sofrimento se acolhem em milhares e milhares de famílias portuguesas ou é um hipócrita sem vergonha. Talvez as duas coisas. O que os portugueses são é demasiado pacíficos. Até ver.
Para não falar agora noutros “crimes”, questionemo-nos apenas como é que os portugueses a quem sacaram o subsídio de férias e o 13.º mês se sentem quando sabem que há uma corja que vive à sombra protectora dos ministros, à custa do erário público, muitos sem quaisquer méritos reconhecidos, e recebem dois meses de abono suplementar, que é como quem diz subsídios de férias e de Natal? Muita transparência!
Compreensível o choque que sofreu D. Januário Torgal Ferreira, o bispo das Forças Armadas e assertiva a sua revolta expressa na afirmação de que as palavras de Passos Coelho configuram um agradecimento a um povo “tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico”.
Pobres portugueses que têm ao seu leme, gente – gente?! – que os trata assim!!
Decididamente, Passos Coelho não conhece o povo do seu país, não imagina quanta impaciência, quanta dor, quanto sofrimento se acolhem em milhares e milhares de famílias portuguesas ou é um hipócrita sem vergonha. Talvez as duas coisas. O que os portugueses são é demasiado pacíficos. Até ver.
Para não falar agora noutros “crimes”, questionemo-nos apenas como é que os portugueses a quem sacaram o subsídio de férias e o 13.º mês se sentem quando sabem que há uma corja que vive à sombra protectora dos ministros, à custa do erário público, muitos sem quaisquer méritos reconhecidos, e recebem dois meses de abono suplementar, que é como quem diz subsídios de férias e de Natal? Muita transparência!
Compreensível o choque que sofreu D. Januário Torgal Ferreira, o bispo das Forças Armadas e assertiva a sua revolta expressa na afirmação de que as palavras de Passos Coelho configuram um agradecimento a um povo “tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico”.
Pobres portugueses que têm ao seu leme, gente – gente?! – que os trata assim!!
sábado, 26 de maio de 2012
Pobres portugueses
Um povo – o português – que já foi berço de bravos militares, indómitos guerreiros, destemidos navegantes, descobridores de mundos, de sábios e patriotas políticos, daqueles de “antes quebrar que torcer”, admira como é tão tolerante para com gente que cedo começou na política, mas nela só aprendeu o que de pior ela tem: a arte de se governar – e aos amigos – em vez da arte de governar, a arte de manipular, de mentir, de prometer o que sabe que não vai cumprir. Gente que nada sabe da vida real, das pessoas que estão fora do seu círculo e que são a grande maioria. Gente que só come e bebe do bom e do melhor, - só porco do preto, lebre, vinhos de excelência do Douro ou Alentejo, whiskies de 20 anos, não repetir um prato em menos de duas semanas, não é, senhores deputados - enquanto outros já começam a comer metade de uma sardinha com um naco de broa ou nem isso. Gente que “rouba” os subsídios de férias e de natal aos funcionários públicos e pensionistas – não a todos - mas dá aos amigos, alguns incompetentes mas leais, “abono suplementar”, como se todos nós fôssemos “burros” e não soubéssemos que isso corresponde exactamente aos referidos subsídios. Gente sem espinha dorsal, nojentamente subserviente perante os poderosos políticos e financeiros, mas estupidamente arrogante perante os mais fracos.
Surpreendo-me, de facto, como é que com tantas pessoas na miséria, tantas outras a caminho, a passos largos, por culpa de um governo míope, que herdeiro, embora, de uma situação difícil, não é capaz de enxergar que com as políticas que teimosamente segue em obediência a uma troika sem qualquer espécie de sensibilidade e uma senhora que governa um país que vive à custa dos juros que a nós e outros desgraçados cobra, pagando-os, quando disso tem necessidade, a preços infinitamente mais baixos, não se faz algo de verdadeiramente patriótico para pôr essa escumalha que nos governa no sítio adequado: olho da rua.
Há muitos anos atrás, dois docentes universitários andavam de relações cortadas, muito tensas Um dia, passeando a pé, cruzaram-se no caminho. Um deles, puxando bem lá das profundezas da garganta, lançou para o chão um lodoso escarro e disse para o seu antagonista: “considere-se escarrado na cara”.
O inimigo não se fez esperar, puxou com força das entranhas e soltou um valente e bem sonoro peido, afirmando: “considere-se morto a tiro”.
Recordada esta história, apetece-me sugerir aos portugueses que soltem uns enormes peidos, destinados a Passos Coelho, sugerindo-lhe que se considere morto a tiro. Considerado morto, a demissão seria o caminho e um grande alívio para os portugueses que sofrem e para aqueles que se não deixam encarneirar.
Surpreendo-me, de facto, como é que com tantas pessoas na miséria, tantas outras a caminho, a passos largos, por culpa de um governo míope, que herdeiro, embora, de uma situação difícil, não é capaz de enxergar que com as políticas que teimosamente segue em obediência a uma troika sem qualquer espécie de sensibilidade e uma senhora que governa um país que vive à custa dos juros que a nós e outros desgraçados cobra, pagando-os, quando disso tem necessidade, a preços infinitamente mais baixos, não se faz algo de verdadeiramente patriótico para pôr essa escumalha que nos governa no sítio adequado: olho da rua.
Há muitos anos atrás, dois docentes universitários andavam de relações cortadas, muito tensas Um dia, passeando a pé, cruzaram-se no caminho. Um deles, puxando bem lá das profundezas da garganta, lançou para o chão um lodoso escarro e disse para o seu antagonista: “considere-se escarrado na cara”.
O inimigo não se fez esperar, puxou com força das entranhas e soltou um valente e bem sonoro peido, afirmando: “considere-se morto a tiro”.
Recordada esta história, apetece-me sugerir aos portugueses que soltem uns enormes peidos, destinados a Passos Coelho, sugerindo-lhe que se considere morto a tiro. Considerado morto, a demissão seria o caminho e um grande alívio para os portugueses que sofrem e para aqueles que se não deixam encarneirar.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Nespereira - a história do nosso fitebol (1950-2012)
Li com alguma sofreguidão o livro com o título em epígrafe, acabado de publicar pelo meu “inquieto” ex-companheiro da velha carteira da primária, ex-companheiro das lides teatrais escolares, em que eu era sempre o menino bem comportado e ele o mal –quem diria? –, ex-cúmplice em alguns actos “heróicos”, pró-românticos “con unas chicas gallegas”, campeão de bem jogar a bola…na estrada e meu amigo. Alves Pinto ou, como ele gosta de dizer: Tino da ti Maria Zé do Larantino.
Antes de qualquer outro comentário, quero agradecer-lhe por me avivar na memória coisas do meu tempo de criança, que é o mesmo dele, algumas que se me tinham varrido completamente da memória, até porque saí daqui com a terceira classe para o Colégio de Ermesinde, mas que, ao lê-las, me surgiram muito nítidas.
É um livro interessante que vale a pena guardar, porque tem ali estampado muita da história do futebol em Nespereira e dos seus protagonistas. Poderia dizer mais, menos, diferente? Claro que poderia. Alves Pinto, ele próprio o reconhece. Aquela é a sua história, com a sua forma de escrever, com a sua análise, àquilo que de facto é de analisar, porque a maior parte do livro é narrativa, como se esperava que fosse. Por isso, eu que me prezo de nunca temer de usar as palavras que julgo apropriadas, endereço ao meu amigo os parabéns pelo trabalho extenuante, pelo seu contributo para o enriquecimento do património bibliográfico pessoal e nespereirense. Para além de tudo o que mais se possa dizer, o livro poderá ser um trampolim, uma grande ajuda para qualquer outro que queira explorar mais o tema, sobretudo sob o aspecto analítico, desde que o faça com paixão, com verdade, sem facciosismos, sem fanatismos. Nespereira deve-lhe mais esse contributo.
Deixe-me apenas deixar aqui uma explicação, referente a uma das várias menções à minha pessoa. Refiro-me ao facto do excelente jogador que foi Perdigão, campeão pelo Futebol Clube do Porto, cunhado do igualmente excelente Osvaldo Silva, que também pisou a “Portelinha”, ter afirmado no meu jogo de estreia pelo Nespereira, com 15 anos, que eu era o melhor jogador do referido Nespereira. Não se pode dizer que eu era um jogador muito talentoso, simplesmente tinha escola, o que faz muita diferença. Fazendo parte da equipa do Colégio que frequentava, tinha treinador, que à época era o grande mestre Artur Baeta, que criou autênticos prodígios no Futebol Clube do Porto. Para além disso tínhamos ginástica muito a sério em que treinávamos muito a corrida, o sprint, o salto. Posso dizer que, relativamente ao salto, não conheci ninguém que se elevasse mais do que eu para cabecear uma bola. Ganhei nas alturas, a vários jogadores bem mais altos do que eu. Para além do poder de elevação era o tempo de salto que era meticulosamente trabalhado. Em sprints de 20 metros dificilmente perdia. Quanto ao talento havia por aí gente bem mais talentosa, mas faltava-lhes algo que é muito importante no futebol: a condição física e o saber posicionarem-se no campo. Aliás foram estes conceitos, entre outros, que, enquanto treinador, procurei incutir e praticar com os jogadores quando disputávamos o INATEL que nos proporcionou tantas tardes de alegria e tanto entusiasmo dos nespereirenses à volta da sua equipa.
Falando em talentos, embora seja suspeito na afirmação, o mais completo jogador que defendeu, pelo menos nesses anos já um pouco longínquos, as cores do Nespereira foi meu irmão Alfredo Galhardo: tinha a escola que eu tive – com o treinador a querer levá-lo para as camadas jovens do F. C. do Porto, que ele não aceitou, pois não queria ficar aprisionado – e driblava muito bem, rematava bem e forte com os dois pés e, apesar da sua baixa estatura, tinha um excelente jogo de cabeça.
Já estou a alongar-me mais do que esperava. Parabéns, Alves Pinto, uma vez mais e “num t’aflijas” que paguei o livro.
Antes de qualquer outro comentário, quero agradecer-lhe por me avivar na memória coisas do meu tempo de criança, que é o mesmo dele, algumas que se me tinham varrido completamente da memória, até porque saí daqui com a terceira classe para o Colégio de Ermesinde, mas que, ao lê-las, me surgiram muito nítidas.
É um livro interessante que vale a pena guardar, porque tem ali estampado muita da história do futebol em Nespereira e dos seus protagonistas. Poderia dizer mais, menos, diferente? Claro que poderia. Alves Pinto, ele próprio o reconhece. Aquela é a sua história, com a sua forma de escrever, com a sua análise, àquilo que de facto é de analisar, porque a maior parte do livro é narrativa, como se esperava que fosse. Por isso, eu que me prezo de nunca temer de usar as palavras que julgo apropriadas, endereço ao meu amigo os parabéns pelo trabalho extenuante, pelo seu contributo para o enriquecimento do património bibliográfico pessoal e nespereirense. Para além de tudo o que mais se possa dizer, o livro poderá ser um trampolim, uma grande ajuda para qualquer outro que queira explorar mais o tema, sobretudo sob o aspecto analítico, desde que o faça com paixão, com verdade, sem facciosismos, sem fanatismos. Nespereira deve-lhe mais esse contributo.
Deixe-me apenas deixar aqui uma explicação, referente a uma das várias menções à minha pessoa. Refiro-me ao facto do excelente jogador que foi Perdigão, campeão pelo Futebol Clube do Porto, cunhado do igualmente excelente Osvaldo Silva, que também pisou a “Portelinha”, ter afirmado no meu jogo de estreia pelo Nespereira, com 15 anos, que eu era o melhor jogador do referido Nespereira. Não se pode dizer que eu era um jogador muito talentoso, simplesmente tinha escola, o que faz muita diferença. Fazendo parte da equipa do Colégio que frequentava, tinha treinador, que à época era o grande mestre Artur Baeta, que criou autênticos prodígios no Futebol Clube do Porto. Para além disso tínhamos ginástica muito a sério em que treinávamos muito a corrida, o sprint, o salto. Posso dizer que, relativamente ao salto, não conheci ninguém que se elevasse mais do que eu para cabecear uma bola. Ganhei nas alturas, a vários jogadores bem mais altos do que eu. Para além do poder de elevação era o tempo de salto que era meticulosamente trabalhado. Em sprints de 20 metros dificilmente perdia. Quanto ao talento havia por aí gente bem mais talentosa, mas faltava-lhes algo que é muito importante no futebol: a condição física e o saber posicionarem-se no campo. Aliás foram estes conceitos, entre outros, que, enquanto treinador, procurei incutir e praticar com os jogadores quando disputávamos o INATEL que nos proporcionou tantas tardes de alegria e tanto entusiasmo dos nespereirenses à volta da sua equipa.
Falando em talentos, embora seja suspeito na afirmação, o mais completo jogador que defendeu, pelo menos nesses anos já um pouco longínquos, as cores do Nespereira foi meu irmão Alfredo Galhardo: tinha a escola que eu tive – com o treinador a querer levá-lo para as camadas jovens do F. C. do Porto, que ele não aceitou, pois não queria ficar aprisionado – e driblava muito bem, rematava bem e forte com os dois pés e, apesar da sua baixa estatura, tinha um excelente jogo de cabeça.
Já estou a alongar-me mais do que esperava. Parabéns, Alves Pinto, uma vez mais e “num t’aflijas” que paguei o livro.
sexta-feira, 27 de abril de 2012
As MÃES da minha vida
O amanhã é uma incerteza para cada um de nós. Sei lá, se amanhã, seja por que motivo for, poderei exprimir o que hoje sinto! Dessa forma e porque as homenagens não devem ser de ontem, de hoje ou amanhã, mas de sempre, não estranhe que publique agora o que foi feito com os sentimentos de hoje, mas que me percorrem diariamente, destinados à data que o povo celebra: dia da MÃE, 1.º domingo de Maio, neste ano, dia 6.
As MÃES da minha vida
2012.05.06
Há uma MÃE, que é minha, que está nos Céus,
com quem falo todos os dias, em oração,
baixinho, que a tenho aqui no coração,
rogando-lhe por mim e todos os meus.
Claro que a lembro, também, neste dia
que Portugal consagra a todas as MÃES,
mas hoje há ainda outras três MÃES
que eu quero celebrar com alegria:
É a doce mulher, MÃE de meus filhos,
são as extremosas MÃES de meus netos,
cada qual suportando seus cadilhos,
sem deixarem de of’recer afectos.
À primeira agradeço os ternos filhos,
às outras, grato pelos lindos netos.
As MÃES da minha vida
2012.05.06
Há uma MÃE, que é minha, que está nos Céus,
com quem falo todos os dias, em oração,
baixinho, que a tenho aqui no coração,
rogando-lhe por mim e todos os meus.
Claro que a lembro, também, neste dia
que Portugal consagra a todas as MÃES,
mas hoje há ainda outras três MÃES
que eu quero celebrar com alegria:
É a doce mulher, MÃE de meus filhos,
são as extremosas MÃES de meus netos,
cada qual suportando seus cadilhos,
sem deixarem de of’recer afectos.
À primeira agradeço os ternos filhos,
às outras, grato pelos lindos netos.
terça-feira, 24 de abril de 2012
Memórias
Vivíamos há 48 anos sob ditadura – eu já a suportava há 31 anos – em que, tão reles como o próprio ditador – diga-se, em abono da verdade, que não sacou milhões para seu conforto – era toda uma escória de bufos, beleguins, polícias políticos “carniceiros”, políticos incompetentes, mas subservientes. Era a miséria escondida nos campos onde não chegava a água, a luz, a estrada, o médico, a escola. Era a miséria a inundar “ilhas” e bairros de lata, na maior promiscuidade e espurcícia.
Dia 24 de Abril de 1974. Era uma quarta-feira. Tinha uma mulher linda e um filho lindo com dois anos. Leccionava o 5.º e 6.º anos do ensino complementar na Escola de Vila-Chã, na minha freguesia de Nespereira. Já, há mais de cinco anos, tinha acabado de cumprir mais de três anos de serviço militar obrigatório. Porque desde os primeiros anos da década de sessenta, dava conta do que se passava em Nespereira e referia com algum atrevimento, alguma contundência – para a época, claro – as suas múltiplas carências, nas páginas do jornal “Miradouro” e “Primeiro de Janeiro”, vi muitas peças estupidamente censuradas e fui mesmo ameaçado de ser “posto na rua”, por um inspector escolar.
Não me amedrontei e continuei a escrever no “Comércio do Porto”, apesar de não ter outra fonte de rendimentos que não fossem os salários, meu e de minha mulher. Alguns textos eram transcritos pelo jornal “República”, dirigido pelo grande jornalista e democrata Raul Rego.
A Censura era tão estúpida que a simples publicação de um texto onde se afirmava que um determinado lugar não tinha um fontanário, servia para ser vítima de corte com o lápis azul.
Para fugir à Censura tínhamos o temerário jornal paroquial “Sinos d’Aldeia”, dirigido pelo saudoso e talentoso Padre Alfredo Pimenta, pároco em Tarouquela, no qual eu e vários outros escrevemos textos que traziam os políticos situacionistas cinfanenses em “estado de sítio”. Devo dizer que nunca escrevi um texto que não fosse assinado. Em Nespereira, com o Padre Justino, criámos o também paroquial jornal “Nespereirense”, defensor dos interesses da freguesia, grito de alerta contra as injustiças e elo de ligação entre os residentes e os muitos nespereirenses que tiveram de abandonar o torrão natal em busca de melhores e mais dignas condições de vida.
Por cá, a vida corria entremeada de factos anedóticos. Porque eu e minha mulher éramos críticos acérrimos da actuação da Junta de Freguesia, um dia, como retaliação, esta decidiu cortar a energia eléctrica do pardieiro feito escola onde minha mulher leccionava. Imediatamente, enviei um telegrama – ainda estávamos nesse tempo - ao então Ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, e fomos manifestar-nos com os alunos para a porta do Presidente da Junta, que não ousou sequer chegar à janela. Quando cheguei a Cinfães para dar conta do sucedido ao Presidente da Câmara e informá-lo que não daríamos nem mais um dia de aulas enquanto não ligassem a luz eléctrica, antes que eu dissesse algo, ele, queixando-se que eu não o deixava em paz, informava que já tinha levado um “sermão” do ministro e que a luz já estria a ser reposta, o que de facto, aconteceu.
Numa interpelação educada à Câmara Municipal, mas inconveniente do ponto de vista desta, em reunião pública (?!) feita por mim e pelo saudoso grande colega, amigo e companheiro de luta, Carlos Carneiro, contra as injustiças, o ostracismo, a estagnação, foi o suficiente para sermos ameaçados de chamarem a GNR, o que não veio a acontecer, apesar de não desistirmos de dizer o que queríamos, graças à intervenção apaziguadora de alguns membros do executivo.
Poderia lembrar muitos outros episódios que vivi nesse período negro da nossa história, mas vou referir apenas mais um, para ficarem, sobretudo os mais novos, com uma noção mais exacta de como era viver até 24 de Abril de 1974: era eu Presidente da Casa do Povo de Nespereira, que, entre outras tarefas, tinha a seu cargo recensear e pagar as pensões de invalidez e velhice aos rurais que constituíam, nessa época, a maioria dos nespereirenses. Em determinada altura comecei a ser pressionado, e mesmo ameaçado, pelos Serviços de Segurança Social Distrital de Viseu que não deveria pagar pensões de velhice ou invalidez a mulheres casadas. Todo o resto do distrito já cumpria essa directiva. Insisti que não fazia essa interpretação da lei, que seria extremamente injusta e que continuaria a pagar a menos que eles cortassem o dinheiro. Apesar das ameaças, sempre enviaram as verbas de acordo com as folhas que enviávamos mensalmente. Mais tarde, deram conta do erro e anunciaram numa reunião pública, perante uma minha risada sarcástica, que se passariam a pagar pensões a mulheres casadas. Portanto, durante muitos meses, as mulheres casadas pensionistas de Nespereira foram as únicas do distrito que receberam as pensões a que, com toda a legitimidade, tinham direito.
Estas memórias referem-se ao período que terminou em 24 de Abril de 1974. Neste dia, não sabíamos que a próxima madrugada seria libertadora. Foi-o, de facto, mas hoje, 24 de Abril de 2012, 38, não 48, anos depois, a liberdade e a democracia estão ameaçadas. E a caminharmos para a pobreza de outrora.
Dia 24 de Abril de 1974. Era uma quarta-feira. Tinha uma mulher linda e um filho lindo com dois anos. Leccionava o 5.º e 6.º anos do ensino complementar na Escola de Vila-Chã, na minha freguesia de Nespereira. Já, há mais de cinco anos, tinha acabado de cumprir mais de três anos de serviço militar obrigatório. Porque desde os primeiros anos da década de sessenta, dava conta do que se passava em Nespereira e referia com algum atrevimento, alguma contundência – para a época, claro – as suas múltiplas carências, nas páginas do jornal “Miradouro” e “Primeiro de Janeiro”, vi muitas peças estupidamente censuradas e fui mesmo ameaçado de ser “posto na rua”, por um inspector escolar.
Não me amedrontei e continuei a escrever no “Comércio do Porto”, apesar de não ter outra fonte de rendimentos que não fossem os salários, meu e de minha mulher. Alguns textos eram transcritos pelo jornal “República”, dirigido pelo grande jornalista e democrata Raul Rego.
A Censura era tão estúpida que a simples publicação de um texto onde se afirmava que um determinado lugar não tinha um fontanário, servia para ser vítima de corte com o lápis azul.
Para fugir à Censura tínhamos o temerário jornal paroquial “Sinos d’Aldeia”, dirigido pelo saudoso e talentoso Padre Alfredo Pimenta, pároco em Tarouquela, no qual eu e vários outros escrevemos textos que traziam os políticos situacionistas cinfanenses em “estado de sítio”. Devo dizer que nunca escrevi um texto que não fosse assinado. Em Nespereira, com o Padre Justino, criámos o também paroquial jornal “Nespereirense”, defensor dos interesses da freguesia, grito de alerta contra as injustiças e elo de ligação entre os residentes e os muitos nespereirenses que tiveram de abandonar o torrão natal em busca de melhores e mais dignas condições de vida.
Por cá, a vida corria entremeada de factos anedóticos. Porque eu e minha mulher éramos críticos acérrimos da actuação da Junta de Freguesia, um dia, como retaliação, esta decidiu cortar a energia eléctrica do pardieiro feito escola onde minha mulher leccionava. Imediatamente, enviei um telegrama – ainda estávamos nesse tempo - ao então Ministro do Interior, Gonçalves Rapazote, e fomos manifestar-nos com os alunos para a porta do Presidente da Junta, que não ousou sequer chegar à janela. Quando cheguei a Cinfães para dar conta do sucedido ao Presidente da Câmara e informá-lo que não daríamos nem mais um dia de aulas enquanto não ligassem a luz eléctrica, antes que eu dissesse algo, ele, queixando-se que eu não o deixava em paz, informava que já tinha levado um “sermão” do ministro e que a luz já estria a ser reposta, o que de facto, aconteceu.
Numa interpelação educada à Câmara Municipal, mas inconveniente do ponto de vista desta, em reunião pública (?!) feita por mim e pelo saudoso grande colega, amigo e companheiro de luta, Carlos Carneiro, contra as injustiças, o ostracismo, a estagnação, foi o suficiente para sermos ameaçados de chamarem a GNR, o que não veio a acontecer, apesar de não desistirmos de dizer o que queríamos, graças à intervenção apaziguadora de alguns membros do executivo.
Poderia lembrar muitos outros episódios que vivi nesse período negro da nossa história, mas vou referir apenas mais um, para ficarem, sobretudo os mais novos, com uma noção mais exacta de como era viver até 24 de Abril de 1974: era eu Presidente da Casa do Povo de Nespereira, que, entre outras tarefas, tinha a seu cargo recensear e pagar as pensões de invalidez e velhice aos rurais que constituíam, nessa época, a maioria dos nespereirenses. Em determinada altura comecei a ser pressionado, e mesmo ameaçado, pelos Serviços de Segurança Social Distrital de Viseu que não deveria pagar pensões de velhice ou invalidez a mulheres casadas. Todo o resto do distrito já cumpria essa directiva. Insisti que não fazia essa interpretação da lei, que seria extremamente injusta e que continuaria a pagar a menos que eles cortassem o dinheiro. Apesar das ameaças, sempre enviaram as verbas de acordo com as folhas que enviávamos mensalmente. Mais tarde, deram conta do erro e anunciaram numa reunião pública, perante uma minha risada sarcástica, que se passariam a pagar pensões a mulheres casadas. Portanto, durante muitos meses, as mulheres casadas pensionistas de Nespereira foram as únicas do distrito que receberam as pensões a que, com toda a legitimidade, tinham direito.
Estas memórias referem-se ao período que terminou em 24 de Abril de 1974. Neste dia, não sabíamos que a próxima madrugada seria libertadora. Foi-o, de facto, mas hoje, 24 de Abril de 2012, 38, não 48, anos depois, a liberdade e a democracia estão ameaçadas. E a caminharmos para a pobreza de outrora.
sexta-feira, 20 de abril de 2012
A intervenção dos bombeiros na Escola da Fontinha
Altamente condenável a atitude da Câmara Municipal do Porto de enviar 11 bombeiros do Batalhão, sem farda e de cara tapada, ainda por cima para intervirem no despejo do movimento Es.Col.A, na Escola da Fontinha, numa acção que nada tem a ver com a função que aos bombeiros está consagrada. Nada vi escrito sobre a posição do Comandante do Batalhão. Parece-me, todavia, que os profissionais não teriam saído para a operação sem o seu conhecimento. A menos que surjam alguns esclarecimentos que até agora não se viram, entendo que quer o envolvimento dos bombeiros tenha sido feito com desconhecimento do Comandante – o que abriria aqui uma outra perspectiva de gravidade - ou com o seu anuimento a uma intervenção lesiva da sua imagem, o Comandante só terá uma saída que lhe confira alguma dignidade: demissão. E Rui Rio deveria fazer o mesmo.
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