segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cinfães - Qualidade de Vida

A edição de 2009 do Índice de Qualidade de Vida dos municípios do continente, elaborado pelo Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Beira Interior, coloca Cinfães no último lugar. Algo de que não nos podemos orgulhar, até porque todos teremos uma parcela, embora ínfima, de responsabilidade, em tal situação. Todavia, não é caso para alguns dizerem, como eu já ouvi, que agora até têm vergonha de dizer que são de Cinfães. Nada disso. As terras nunca têm culpa, elas são o reflexo das suas gentes.
Em vez de atirarmos para o ar frases ocas, sem sentido, impensadas, melhor é reflectirmos sobre a situação e questionarmo-nos do porquê de tal classificação, que alguns consideram humilhante.
O índice recorre a meia centena de variáveis de quinze áreas, como equipamentos (de comunicação, culturais ou outros), educação, ambiente, dinamismo económico, etc.
Analisando o concelho, segundo essas perspectivas, não podemos estranhar, senão estarmos no último lugar, estarmos nos últimos.
Começando, aleatoriamente, por qualquer uma das áreas, todos reconhecemos que há graves problemas, como, por exemplo, nas acessibilidades do concelho, a falta de uma ligação rápida ao Grande Porto, a miserável estrada número 225 e alguns problemas de acessibilidades internas. Tal facto conduz à falta de investimentos empresariais, que provocam escassez de emprego, logo desertificação. É absolutamente inaceitável que freguesias, até com estatuto de vilas, não tenham saneamento básico ou tenham algum a correr a céu aberto, não tenham água ao domicílio, pondo em risco a saúde pública. Para não falar noutras freguesias, falo da minha – Nespereira – e convido os autarcas e delegação de saúde a visitar, com olhos de ver, o que se passa por aí com fossas sépticas a debitarem para estradas e caminhos ou as escorrências a saírem pelas tampas, como acontece frequentemente junto ao estabelecimento bancário, que, algumas vezes, é preciso tapar o nariz e ver onde se põem os pés quando se lá vai. Veja, meu amigo, um quartel de bombeiros, com muito movimento, sobretudo de verão, a despejar para fossas sépticas. Veja o que vai acontecer daqui a algum tempo com o Lar de Idosos e Creche a despejar para fossas sépticas. Veja as léguas que temos de percorrer para sermos assistidos se tivermos um problema mais complicado de saúde. Veja a escassez de elementos das forças de segurança para um concelho com tão grande. Veja que mesmo nas duas freguesias do fundo do concelho com estatuto de vila não existe um Posto de Correio digno desse nome. Enfiam, poderíamos continuar a desfiar o rol de problemas que atiram Cinfães para o atrás referido último lugar.
Bom, quando se paga a um cantor, por cantar meia dúzia de canções tanto como é o subsídio anual para as duas Associações de Bombeiros; quando não se criam Equipas de Intervenção Permanente nos Bombeiros, alegadamente por não se pretender gastar dinheiro ou porque se desconhecem ou se fogem às responsabilidades no que toca à protecção civil, que, retirando os bombeiros é uma miragem; quando se atribuem subsídios a algumas associações, à custa de estratégias pouco sérias; quando se investe tanto dinheiro em festas, espalhadas por aí por todos os cantos como cogumelos, quase sempre com as mesmas bandas, os mesmos ranchos, os mesmos artistas, sem que o comércio beneficie substancialmente com isso; quando as prioridades, relativamente a diversas obras, não nos parecem as mais adequadas; quando sobra dinheiro nos cofres e há tantas coisas por fazer, não podemos estranhar que se viva mal em Cinfães.
Se todos nós temos alguma “culpa no cartório”, se não fosse por mais, porque votamos, a culpa maior é do poder central que nos deixa aqui abandonados e, obviamente, do poder local, que não faz tudo o que era suposto fazer, porque lhe compete, e porque não pressiona devidamente o poder que está acima de si.
Bem sei que quem está no poder vai desvalorizar o trabalho do referido Observatório e quem está na oposição ou se candidata ao poder vai dar-lhe, provavelmente, mais valor do que ele merece.
Creio que, acima de tudo, ao invés de se culparem, uns, se desculparem, outros, é uma boa altura para os que se candidatam ou recandidatam, reflectirem sobre o assunto, dizerem o que pensam - às vezes não pensam – fazer para reverter a situação e, embora eu saiba que isso é um pedido/sugestão quase impossível, passarem para além dos monólogos e ouvirem os eleitores. Veriam que há muitos que têm ideias e das boas. O que nem sempre acontece com os que estão no poder e os que se perfilam para tal.

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