segunda-feira, 27 de julho de 2009

Confiança

Disse Séneca: “Confiar em toda a gente e não confiar em ninguém são dois vícios. Mas no primeiro encontra-se mais virtude e no segundo, mais segurança”.
Infelizmente, estamos a atravessar um tempo em que teremos de adoptar o vício de não confiar em ninguém, exactamente em nome da segurança. Deve ser extremamente triste, se optarmos por esse caminho, ficarmos com a sensação de que não confiarmos em determinada pessoa pode ser uma tremenda injustiça. Para quem se julga merecedor de toda a confiança e se vê vítima de desconfiança, será, inevitavelmente, muito doloroso e levá-lo-á, por certo, a tomar idêntica posição, relativamente a quem de si desconfia. Mas o que é certo é que acontecem coisas com grande frequência que nos levam a “estar sempre de pé atrás” relativamente a quase tudo e a todos. Aliás, muitos de nós, já fomos abalados, surpreendidos negativamente por pessoas em quem depositávamos confiança extrema. Se pensarmos bem, normalmente são os que conhecemos melhor, os mais próximos, que nos enganam, porque, aos outros, nem lhes damos oportunidade para isso. É péssimo quando somos obrigados a não confiar em alguém. As circunstâncias, no entanto, a isso nos obrigam. Atente neste caso concreto: neste mês de Julho levei o meu carro à inspecção periódica. No próprio dia em que decidi fazê-lo, mandei alinhar a direcção. Esperei que me fizessem o presumível alinhamento e, passados cerca de trinta minutos, o meu carro estava a ser inspeccionado. Resultado final: o carro não passou na inspecção, segundo o técnico, porque a direcção estava desalinhada. Certamente você ficaria surpreendido. Foi o que me aconteceu. Imediatamente, perdi a confiança em quem fez o alinhamento e no técnico que procedeu à inspecção, pois fiquei sem saber quem estava errado, ou mesmo quem me enganara. A partir de agora, muito provavelmente não volto a fazer alinhamentos de direcção na mesma oficina nem irei ao mesmo centro de inspecções. É lamentável termos que viver num clima em que não podemos confiar. Encontro mais razões para não confiar quando sei que um determinado indivíduo fez exactamente o mesmo que eu, embora em locais diferentes, isto é, mandou alinhar a direcção do carro, foi à inspecção, o carro reprovou por direcção desalinhada. Sem repetir o alinhamento, no dia seguinte, foi ao mesmo centro, calhando-lhe, casualmente, o mesmo inspector. O carro passou. O inspector foi insultado. Talvez com razão. É a incompetência, a negligência à solta.
Seja como for, prefiro que seja o técnico da oficina a aldrabar e o inspector seja rigoroso, do que este facilitar. Com a segurança eu não gosto de brincar.
O que é certo é que são casos como este que nos fazem desconfiar deste mundo e do outro. E será que não temos razão?
Para nos aldrabarem bastavam os políticos que, seja qual for as ideologias que perfilhem, se é que eles perfilham algumas que ultrapassem os seus interesses pessoais ou de camarilha, fartam-se de mentir e, sem o mínimo de pudor, chamam mentirosos aos outros, como se não fossem absolutamente iguais. Para não irmos mais longe, ainda na última semana, Manuela Ferreira Leite disse e desdisse, quer dizer mentiu e no fim-de-semana encheu a boca a chamar mentiroso a Sócrates, que, sendo-o, talvez, não o é mais do que ela. E numa coisa Sócrates tem razão: a líder do principal partido da oposição não apresenta uma ideia, uma proposta, limita-se a contestar tudo o que Sócrates diz ou faz. Para se ser um líder assim, não são precisos grandes atributos, qualquer lerdo o pode ser.
Ferreira Leite deveria ser mais cuidadosa quando enche a boca a falar da vergonha que ela diz Sócrates não ter. Vergonha é coisa que de facto ela já demonstrou não ter. E, para aqueles que têm memória, competência também não. Seria bem mais bonito e eficaz se cada um procurasse usar os seus méritos, apresentando propostas concretas e sérias, realistas, aos portugueses, em vez de se digladiarem como se fossem inimigos figadais.

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