sábado, 8 de agosto de 2009

Afinal, onde está a crise?!

Num tempo em que se atravessa uma grave crise económica e financeira; num tempo em que, de acordo com os relatos, muitas centenas de milhares de portugueses vivem na pobreza e muitas outras no seu limiar; num tempo em que as cabeças verdadeiramente pensantes apelam à contenção de despesas supérfluas ou mesmo inúteis, eis que nos é dado observar uma espécie de novo-riquismo, retratada nos juízes e mordomos de festas, ditas religiosas, mas pouco, que gastam fortunas em conjuntos e mais conjuntos, ranchos e mais ranchos, bandas e mais bandas, fogo e mais fogo. Em cada terra, em cada lugar, uns querem ter mais e melhor do que os outros. Em tempo de elaboração de listas para as autárquicas e de pré-campanha eleitoral é o momento ideal para alguns se mostrarem, das mais diversas formas. Tudo isto num ambiente quase exclusivamente profano, pouco espaço dando ao religioso.
Para que estas festas possam ter lugar, assiste-se a uma pedinchice desenfreada. Claro que alguém há-de pagar as festas. Aceita-se então que se peça, porque só dá quem quer, mas sabemos que há pessoas com muitas dificuldades, que, fazendo-lhe falta, embora, não deixam partir “de mãos a abanar” quem lhes bate à porta, porque imaginam que não dando qualquer coisa, as pessoas se sentiriam desconsideradas. Obviamente que não tem nada a ver uma coisa com a outra. Devem pagar as festas quem gosta que elas se façam e para lá vai divertir-se. Bom, mas o pior não é a pedinchice, só por si. O pior é que não sei com que espécie de lógica actual, nos batem à porta mordomos e mordomas a pedirem para as mesmas festas.
Num tempo de vacas magríssimas como o que vivemos, gastar-se o que se gasta em festas, por exemplo, na minha freguesia de Nespereira, é quase crime. Que resultados positivos de tantas festas? Pouco mais do que o mero entretenimento das pessoas, que também é importante, convenhamos. Benefícios económicos para o comércio, poderão ser para uma escassa meia dúzia de comerciantes.
Esta altura do ano é apelativa também para muitas autarquias embarcarem na onda do consumismo exagerado em festas e mais festas, gastando balúrdios, que não se atrevem a gastar para melhorar um caminho, uma estrada, uma casa de um pobre. Utilizam, dessa forma, o nosso dinheiro, na campanha eleitoral, embora encapotada, servindo-se de arma – o erário público - que os opositores não têm ao seu dispor. É assim que funciona a ética de muitos dos nossos políticos.
Considero escandaloso, um atentado à verdadeira pobreza, o dinheiro que autarquias e outros responsáveis pelas mais diversas festas gastam.
Bem sei que o povo adere, que o povo enche o recinto das festas e até gasta. Aliás, se o povo não aderisse, não estivesse presente, aqueles que se movem por interesses políticos ou de mero protagonismo pessoal, eram mais parcos nos gastos ou nem sequer se disponibilizavam para tais tarefas.
Não é que me admire muito da afluência do povo às festas, pois muitas pessoas não têm muitas possibilidades de participar noutros eventos, mas não deixa de surpreender e levar-me a pensar e a fazer a seguinte interrogação: mas afinal que espécie de crise é esta, em que se gasta mais do que em quaisquer épocas ditas de normalidade económica? Ou será que a crise não passa de mero boato?
Anda por aí muita gente a troçar dos contribuintes, “comendo” o que estes pagam e que apenas não trabalham porque não querem, porque é mais agradável passar os dias a dormir, saltar de festa em festa, ou sentadas nas cadeiras dos cafés e pastelarias, com a certeza de que os calos no cu, que certamente não deixarão de fazer, como os macacos, não serão vistos porque as saias ou calças não o permitirão, com a conivência de (ir)responsáveis que fingem não ver porque não têm coragem ou não lhes convém agir.
Este país é uma enorme mentira, com as maiores mossas a serem praticadas, curiosamente, não pelos deserdados da sorte, mas por pessoas de aparente seriedade.

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