segunda-feira, 17 de agosto de 2009

As listas

“Alea jacta est” – está lançada a sorte. Estão entregues as listas de candidatos por partidos ou movimentos independentes para as eleições autárquicas. Depois de namoros e namoricos, dos oferecimentos de uns, da colocação em bicos de pés de outros, das zangas de outros tantos, das mudanças de cor, imitando os camaleões, de outros ainda, da aceitação despreocupada e irresponsável de alguns, dando o nome, apenas para ajudar a compor o “ramalhete”, daqueles que se propõem, “desinteressadamente”, apenas por, nalguns casos, repentino amor à terra e aos seus concidadãos – coisa de que nunca ninguém dera conta – já se sabe quem se propõe a prestar-nos contas pelo que fizerem ou deixarem de fazer, em tudo o que for de sua obrigação ou competência. Uns estarão mais felizes do que outros, seja porque de facto os nomes propostos lhes agradam, seja porque são pouco exigentes, seja ainda porque imaginam o papel do autarca menos importante, com menor responsabilidade do que aquela que realmente tem. Será até exactamente por este último aspecto, isto é, por ignorarem a responsabilidade que cai sobre os ombros de um autarca, aquilo que ele pode e deve fazer, pelas competências que tem e pela influência, pela capacidade de pressão que deve exercer sobre os órgãos superiores que têm poder de decisão em matérias que ele não tem, que alguns cedem o nome para completar as listas e acham que para ser autarca qualquer “calhau com dois olhos” serve. Bem, há casos concretos em que parece que de facto assim é. E não devia ser, porque é exactamente na gestão autárquica, ao nível de freguesia, que começa ou não o verdadeiro desenvolvimento territorial, social, cultural, económico. Quem se der ao trabalho de reflectir sobre essa matéria e estudar, ainda que superficialmente, o desenvolvimento de cada uma das freguesias de um determinado concelho, verificará que, com os mesmos apoios camarários, em termos proporcionais, alguns autarcas tiram o máximo proveito disso, dinamizam as populações e as forças vivas, interagem com o município, quando isso é de interesse, sem olhar a cores partidárias, avançam; outros, como diz o povo, limitam-se a gerir “o que cai do céu”, quando não mesmo malbaratar e “não saem da cepa torta”.
Voltando ainda às listas para as autárquicas, neste ano, tornou-se mais complicada a sua elaboração, dado que para cumprir o que está estabelecido sobre a paridade e de que eu já falei, não podem figurar mais de dois elementos consecutivos do mesmo sexo. Sabe-se que alguns responsáveis tiveram dificuldades em conseguir mulheres, acontecendo que algumas apenas deixaram utilizar o nome, como já se disse, mas sem qualquer espécie de comprometimento. Ouvi coisas como estas: “está lá o meu nome, mas quero lá saber quem vai ganhar; se calhar até vou votar noutra lista”. Deixe-me dizer-lhe, no entanto, que já ouvi homens fazer o mesmo tipo de afirmações. Quando uma lista de um partido, cujo nome não interessa referir, tem menor número de votos do que o número de pessoas que integravam a respectiva lista, que se há-de dizer?!
Isto leva-nos a pensar que para algumas pessoas, determinadas formalidades da democracia, que teriam, deveriam ser encaradas de uma forma muito séria, não passam de mera “palhaçada”. É uma tristeza que vem confirmar aquilo que, por diversas vezes denunciei: a maioria dos partidos, pelo menos ao nível concelhio e de freguesia, não trabalha, não se preocupa em preparar gente capaz de liderar, de dirigir uma freguesia, um município. Os respectivos líderes partidários devem ser apologistas da táctica de quantos menos a reinar melhor, para assim porem e disporem a seu bel-prazer, na certeza de que nunca lhes faltarão “ovelhas” submissas para ocuparem os lugares. E, à boa maneira salazarista, quanto menos instruídos forem, mais subservientes serão. Mais, até lhes convém ir “arrebanhar” algumas “ovelhas” que já “pastaram” noutros prados, quer dizer partidos, onde não puderam trepar tão alto quão altas são as suas ambições, não obstante tão baixas competências. E sabe porquê? Porque também a esses é fácil controlar, porque, como não fazem parte das hostes militantes, eles sabem que à menor insubmissão ou deslealdade “vão de vela”.
É política à portuguesa de alguns portugueses: se me não arranjarem um tacho, arranjem-me um penacho, que, pelo menos, já dá para ficar emproado.
Relativamente às listas das legislativas também há coisas interessantes. Manuela Ferreira Leite não pode mais ser levada a sério, não pode mais transportar consigo a imagem de rigor, de transparência, de sentido de estado, depois de algumas afirmações e tomadas de posição de que é autora. Depois de meter nas suas listas indivíduos com os crimes cometidos que cometeram, como é o caso de António Preto – jornalistas conceituados como Mário Crespo e Ricardo Costa escrevem-no com todas as letras e ninguém os chamou à justiça por isso – e afirmar, justificando a sua decisão, que nenhum dos crimes foi cometido no exercício de actividade política, é pura e simplesmente inacreditável. Para mim, pelo menos. Então, um deputado pode sê-lo ainda que tenha cometido os mais graves crimes, desde que não tenham sido no exercício de uma actividade política? Bom, eu sugeria à doutora Ferreira Leite que procurasse nas cadeias, que, entre a enorme comunidade detida, sempre lá haveria de encontrar alguns que satisfizessem os seus requisitos, provavelmente com “menos culpas no cartório” do que o seu grande amigo Preto. O problema está no ser ou não ser amigo, que tem muito pouco a ver com competência, com seriedade.
Conhecidos estes factos, interrogo-me como é que Aguiar Branco tem a desfaçatez, a falta de pudor de afirmar que “o governo, em muitas áreas está sob suspeita”? Não seria mais sensato, antes de falar, olhar primeiro para o que se passa em sua “casa”?!
Já agora, mais uma, reveladora do baixo nível de alguns políticos. O Correio da Manhã, de Verão, tem uma pequena coluna “Freud ao sol…” em que, diariamente, apresenta seis perguntas, sempre as mesmas, a uma determinada pessoa, todas mais ou menos conhecidas. Na edição desta última segunda-feira, à pergunta “Está desacompanhado na praia e quer ir à água. Cava um buraco para esconder a carteira ou confia na honestidade dos outros?”, o presidente da Juventude Social-Democrata, Pedro Rodrigues, respondeu: “Olho em redor para me certificar que não está por perto o engenheiro Sócrates e se assim for vou descansado”. No seu partido é capaz de ir longe, o moço. Agora, ele teria dado um tiro muito mais certeiro se dissesse que se iria certificar se não estaria por ali o seu companheiro Preto. Enfim, isto dos políticos é calinada sobre calinada.
Curioso, também, é atentar nas palavras de Pacheco Pereira, sempre feroz e implacável para com os seus inimigos, nomeadamente companheiros do seu partido, responsável por divisões várias, apelando ao esquecimento dos erros recentes do PSD, já que “é o país que está primeiro”, isto é, o dianho do homem primeiro ajuda a tirar o “tacho” a todos aqueles com que ele ou a chefe não simpatizam, de seguida apela à união para derrotar Sócrates “nem que seja apenas para inverter algumas políticas”. Este Pereira não dá peras mas tem lata.
Estão-se a acabar as festas por tudo quanto é igreja ou capela, vêm aí as festas e festinhas dos políticos. Ponha-se a jeito e vai ver quantos beijinhos, abraços e apertos de mão vai levar. Bom, se lhe der jeito ou gostar de andar nessas confusões, lembre-se da gripe suína…perdão, do vírus H1N1, gripe A ou lá o que quiser chamar-lhe e não se esqueça de pôr a máscara, ainda que seja de carnaval, porque as semelhanças vão ser muitas e usar luvas. Nessa gente tão nómada, não há que confiar.

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