domingo, 22 de novembro de 2009

Investir na educação

Não me parece que em algum tempo, como hoje, se verificasse uma ausência tão grande de valores fundamentais como o do respeito pela vida alheia e da própria. Os únicos valores, para um gigantesco número de pessoas, têm a ver com o ter e o prazer. É o preço bem caro que todos estamos a pagar, pelo abandono das suas responsabilidades, no capítulo da educação, por parte da família, da escola, da sociedade. Este grave problema de educação sente-se em todos os aspectos da nossa vida. É a falência total da família e da escola. Pitágoras disse: “educai as crianças e não será preciso castigar os adultos”. Todavia, quem é que as educa? Em muitos casos, está mais do que visto e comprovado que a família não cumpre esse papel. É o que nos mostra aquilo que aprendemos, graças à vida. De pais que matam filhos e vice-versa; de pais que violam filhos, roubando-lhes aquilo que têm de mais importante, a pureza e inocência; de pais que roubam juntamente com os filhos ou os mandam roubar e cometem muitos outros crimes, não sendo exemplo de nada de bom, nem sequer de amor paternal, que podemos esperar senão filhos criminosos?! De professores que podem receber pouco pelo trabalho de cuidarem dos alunos, mas recebem demasiado pelo trabalho como educadores; de professores absentistas, mentirosos, incompetentes; de professores a quem já não foi prestada a educação devida, não podendo, portanto, dar aquilo que não têm; de professores que violam e assediam sexualmente os seus alunos, que é que nós podemos esperar senão cidadãos mal formados, com comportamentos desviantes?!
Perante um cenário educativo como o que vivemos, não será tão estranho o tal desrespeito enorme pela vida como aquele que vamos constatando actualmente em que nem os jovens com formação académica - pelo menos tiveram assento nas escolas secundárias e superiores – escapam. É uma tristeza, é arrepiante, sobretudo para quem tem filhos, netos e verdadeiro sentido de família, se rege por valores que, ao contrário do que alguns apregoam, não são de outros tempos, porque são intemporais, ver jovens a assassinar outros jovens das formas mais hediondas, ver jovens a suicidarem-se, às vezes por simples paixões passageiras, mas doentias, quando tinham uma vida inteira à sua frente, que poderia ser de tristezas, de sofrimentos, mas que porventura poderia ser de muitas alegrias, de muitos triunfos. Que juventude é esta que estamos a criar que não é capaz de suportar a mínima adversidade, que não suporta o não, só aceita o sim ainda que seja hipócrita?! Se a juventude é o futuro – e é-o de facto, - o que é que se pode esperar dela, se é a ela que competirá dirigir os destinos das escolas, das empresas, das forças de segurança, das forças militares, da justiça, da saúde, das autarquias, do governo?!
Se bem que ainda cá poderei andar anos suficientes para temer por um futuro pouco risonho, sobretudo em termos de respeito do homem pelo outro homem e por si próprio, temo principalmente pelos meus filhos e pelos meus netos, já que corremos sérios riscos de vir a viver num país onde o crime acontece com frequência e “por dá cá aquela palha”, os criminosos serão inúmeros e inimputáveis, em suma, um país altamente perigoso.
Relacionado com alguns destes crimes, em que têm sido autores e vítimas jovens namorados, acho curioso e algo estranho - talvez valesse a pena um estudo sociológico sério, se é que o não há – que a comunicação social nos revele, para além daqueles que nós conhecemos pessoalmente, tantos casais que se afirmem loucamente apaixonados pelo homem/mulher das suas vidas para tão depressa se separarem, aparentemente sem grande sofrimento, e por outro lado, alguns tomarem medidas extremas, ao ponto de assassinarem os companheiros e/ou se suicidarem por não aguentarem a rejeição, o fim do relacionamento. Isto não pode ser apenas fruto de paixões, de amores não correspondidos. É o desprezo doentio pelo nosso bem maior, a vida.
Urge que todos reflictam neste problema gravíssimo que nos afecta a todos; urge que se dê um novo rumo a este país, devolvendo às pessoas a capacidade de serem e viverem em família, reeducando umas, educando outras, porque umas esqueceram-no, outras nunca souberam exactamente o que é uma verdadeira família. É necessário não só devolver às escolas a capacidade de educar, mas também exigir-lhes que o façam. É necessário que a justiça investigue, com escutas ou sem escutas, como for mais conveniente, mas que o sejam apenas para uso da mesma justiça e não para serem publicitadas e proporcionarem condenações na praça pública ainda antes de o serem nos tribunais, julgue e condene firmemente quem tiver de ser condenado, absolva quem tiver de ser absolvido. É insuportável viver num país onde o laxismo, o facilitismo, o “chico-espertismo”, a impunidade são reis.
Disse Quintiliano: “Esse fraco método de educação a que chamamos indulgência destrói toda a força da alma e do corpo”.

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