terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A incoerência dos políticos

Vejam só a incoerência, a “lata” dos políticos. Dos políticos e de uma grande parte dos cidadãos, infelizmente. Só que daqueles seria legítimo esperar mais e melhor do que destes, dadas as funções que desempenham, pelas quais são pagos, não direi principescamente, mas bem, com o dinheiro dos impostos de todos nós, isto é, do nosso suor. Sobretudo os que exercem acção política, actuam, ao nível dos actos e das palavras, consoante os seus interesses pessoais ou de grupo, não revelando o mínimo pudor em afirmar, em defender, hoje, exactamente o contrário do que foi afirmado, defendido ontem. Para além da falta de coerência, muitos brindam-nos ainda com uma falta de educação, de civismo, confrangedores, a todos os títulos reprováveis. De quando em vez é-nos proporcionado observar espectáculos degradantes, sobretudo no Parlamento, com deputados a usarem vocabulário vergonhoso, em ataques sórdidos uns aos outros, ofendendo-se a si próprios, à Casa da Democracia, a quem os ouve, enfim, a todos os portugueses. Eu, que já afirmei aqui que a política se assemelha a um circo em que há malabaristas, trapezistas e palhaços, nem sequer me deveria surpreender de eles se chamarem isso uns aos outros. No fundo, confirmam aquilo que quase todos nós já sabemos ou suspeitamos, só que pelo menos deveriam respeitar o lugar onde proferem tamanhas calinadas, isto é, o Parlamento. Nesta nossa democracia, desde sempre nos habituamos a assistir a alguns diálogos impróprios, mas seria legítimo esperar que ao mesmo tempo que a democracia ia avançando no tempo, ia amadurecendo, os deputados se civilizassem. Mas não, o que se passa é exactamente o contrário. Os políticos de discurso viril, contundente mas leal e correcto, esgrimindo convicções, praticamente desapareceram. Hoje, a maioria deles não luta por convicções porque as não tem, os seus interesses sobrepõem-se a tudo o resto. A sua luta assenta sobretudo na suspeição, na calúnia, no ataque pessoal. De alguém que seria legítimo esperar que fossem referências para todos nós, infelizmente, o que recolhemos, sobremaneira, são maus exemplos. Depois, todos nos queixamos da falta de civismo, do desapego à família, da indisciplina nas escolas, do desrespeito pelas autoridades, da violência. Com tais exemplos e com a justiça sempre adiada ou não aplicada, que poderíamos esperar?! Salvas raras excepções, as maiores referências políticas, culturais, sociais, não se querem ver envolvidos com semelhante cambada.
Voltemos à incoerência dos políticos e vejam só um exemplo de entre tantos que poderíamos apontar.
O Governo anterior decidira legitimamente, fruto da sua maioria absoluta, atribuir licenças ambientais que permitiam a co- incineração de resíduos, nomeadamente em Souselas, Coimbra. Houve, por conseguinte, uma decisão política. Políticos de vários quadrantes, entre os quais o Presidente da Câmara de Coimbra, protestaram e um Grupo de Cidadãos de Coimbra representados pelo advogado Castanheira Barros interpôs uma providência cautelar cujo intuito era suspender a eficácia das licenças ambientais atribuídas. Significava isso que não concordavam com a decisão política, apelando a uma decisão judicial. Fruto dessa providência cautelar, em Fevereiro, um acórdão do Tribunal Central Administrativo do Norte ordena a suspensão da co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira de Souselas. A decisão judicial satisfazia a s suas pretensões, ela é que interessava.
Acontece agora que, após recurso, o Supremo Tribunal Administrativo decidiu que a co-incineração de resíduos em Souselas pode ser retomada, dado que não há provas de perigo para a saúde.
Sem qualquer pingo de vergonha, de coerência, o edil de Coimbra e o advogado Castanheira Barros afirmam que não é aceitável uma acção judicial, que se precisa de uma decisão política. Se não se tratasse de pessoas importantes, se o assunto não fosse sério, diria que daria vontade de rir. Já vi muito, já ouvi muito, já vivi o suficiente para não estranhar nada destes comportamentos, mas fico sempre triste com eles, porque são protagonizados por pessoas que dirigem, de forma mais ou menos relevante, os destinos do meu país. País que, com gente desta, tem o seu presente, e muito mais o seu futuro, em perigo. Dá para ficar triste, preocupado. Essas pessoas, quando lhes convém, são politicamente correctas, afirmam que confiam cegamente na justiça. Quando as decisões não são do seu agrado, lançam suspeições sobre os magistrados e exigem uma solução política. Mas então não a tiveram já, por parte do Governo? Elas é que não aceitaram a decisão política e recorreram aos tribunais. Agora, que, após recurso legítimo, a decisão judicial confirma a decisão política, tomada, com toda a legitimidade, em altura oportuna, valendo-se do facto de o actual Governo ser minoritário, pedem uma solução através do Parlamento.
Tanta incoerência, meu Deus! Afinal quem foi eleito para governar, o Governo ou o Parlamento?!
Que pobreza de gente esta! Começo a ficar cansado de falar nestes políticos de m…. Creio mesmo que o melhor seria fazer de conta que vivo num país sem políticos e deixar de falar neles. Sei que não consigo. Não conseguirei e também não quero dar-lhes tréguas. Embora a minha voz e a minha pena sejam pouco importantes, não ficaria de bem comigo mesmo se deixasse de exprimir as minhas convicções, os meus sentimentos.

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