sábado, 23 de janeiro de 2010

Maravilhas naturais

Ouvem-se por aí, abundantemente, afirmações louvando as belas maravilhas naturais do concelho de Cinfães, que de facto existem e não são assim tão poucas. Ouvem-se e lêem-se, saídas do cidadão comum, mais culto ou menos culto, mas que tem a noção do belo, ou saídas daqueles que, tendo responsabilidades políticas, têm o dever de ir mais longe do que a mera constatação da existência de tais maravilhas. Até há quem veja na exploração – exploração com sentido positivo – de tais maravilhas, associadas à gastronomia cinfanense, uma hipótese de enriquecimento do concelho, através do turismo, proporcionando empregos, consequência da dinamização de diversificados sectores económicos, que ele faz crescer ou mesmo nascer. Só que das palavras aos actos vai uma enorme distância. Parece-me que nem os políticos nem os empresários cinfanenses estão suficientemente motivados para avançar em tal matéria. Um sector que anda quase sempre associado ao turismo é o da gastronomia. Não obstante Cinfães possuir uma boa Escola Profissional dedicada a essa área, não encontramos na restauração concelhia benefícios evidentes dessa existência. A recepção, o ambiente, o serviço de mesas, as ementas com produtos regionais de qualidade, na grande maioria dos restaurantes, ainda deixam muito a desejar. Quem, de fora, vem a uma região deste tipo, presume que se comer um bife ou vitela assada será de raça arouquesa; se comer um cozido à portuguesa será de carnes criadas na região; se comer um cabrito ou um cordeiro será dos criados nas nossas montanhas, se comer uma simples omeleta ou um ovo estrelado será de galinha caseira e não comprado num qualquer supermercado. Deveria ser, mas normalmente não é. Para meu desgosto, devo confessar que já comi cozido à portuguesa e cabrito assado com melhores carnes, na cidade de Lisboa do que em alguns restaurantes do meu concelho. O desgosto não é por comer bem em Lisboa, obviamente, mas porque seria legítimo esperar que esses pratos, os encontrasse melhores nos restaurantes da minha terra. Assim não vamos lá.
Bom, mas o que eu queria agora falar era das tais maravilhas naturais. Apesar do reconhecimento generalizado da sua existência no concelho, nenhuma candidatura, seja com apoio de organismo oficial, seja espontânea, apareceu a candidatar-se às sete maravilhas naturais de Portugal. Porquê, por vezes tanto arrebatamento, tanto bairrismo desenfreado, se na altura de se poder tirar algum proveito, se não toma qualquer atitude? A ou as candidaturas de determinados trechos do património natural de Cinfães, só por si, independentemente do resultado final, já seria um bom elemento de propaganda, que contribuiria para trazer outras gentes até eles. Poderia apontar aqui outras motivações para esta reflexão, mas agora quero referir apenas estas: Castro Daire candidatou a Serra do Montemuro, Castelo de Paiva candidatou o Rio Paiva. Curiosamente, a Serra ocupa um grande espaço de Cinfães e Castro Daire; o Rio Paiva não corre exclusivamente, num pequenino trecho que seja, em território de Cinfães ou de Castelo de Paiva. Ele separa os dois concelhos, desfila entre eles. A propósito deixe-me fazer aqui um parêntesis para dizer que é tão errado afirmar que ele desagua na freguesia de Fornos, como dizer que desagua na freguesia de Souselo. Mais correcto é afirmar que desagua no Rio Douro, entre as referidas freguesias. Voltemos atrás, porém. Apesar do que afirmei sobre a Serra do Montemuro e do Rio Paiva, Castro Daire candidatou aquela, Castelo de Paiva candidatou este. Cinfães “esteve-se nas tintas” para as suas maravilhas, que vai continuar a enaltecer mas sem a divulgação que uma candidatura proporcionaria. E temos o Douro, o Bestança, o Ardena, com as suas quedas, etc.
O simples processo de candidatura, até pelo que a internet pode proporcionar, aguçaria o apetite de alguns a visitar-nos. Aliás, o principal objectivo de tais candidaturas é divulgar para poder preservar. Bem sei que muitas vezes a divulgação é inimiga da preservação, mas tomando as medidas adequadas é possível compatibilizar as duas coisas. Mesmo correndo alguns riscos, é necessário que as maravilhas naturais, sejam do grupo das sete, das setenta e sete ou das setecentas e setenta e sete sejam divulgadas para poderem ser apreciadas por todos e não apenas por alguns. Nesse sentido, em alguns casos, é necessário criar condições para que as pessoas cheguem até às ditas maravilhas. No caso concreto do Rio Paiva, eu que o conheço praticamente todo, visto de helicóptero, alguns dos trechos mais bonitos são inacessíveis a não ser para aqueles que nele praticam desporto. Com as margens do rio no estado actual, não é possível apreciá-los.
Seja como for, para que as pessoas realmente nos visitem será forçoso criar condições, em vários domínios, como sejam na hotelaria e restauração, principalmente, para que não vão daqui desiludidos e sem vontade de regressar e nem aconselhar familiares e amigos a visitarem-nos também. E se juntarmos a uma boa hotelaria e restauração, a possibilidade de os visitantes adquirirem artesanato e produtos regionais de qualidade, tanto melhor. Numa altura de crise, talvez um pouco de imaginação, de criatividade, de vontade, de risco também, não seria mau. Aos políticos, na parte que lhes toca, aos empresários ou simplesmente aqueles que têm dinheiro ou apenas vontade de trabalhar, de puxar esta região para a frente, cabe-lhes dar passos nesse sentido. A região e os seus habitantes agradecerão.

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