terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Informar e concluir com acerto

Tenho o maior respeito pelos jornalistas, de uma forma geral. Há alguns, todavia, que não me merecem a mínima consideração, antes repulsa. Pelo que lemos, pelo que vemos e ouvimos, não é difícil constatar que, nessa classe, como em qualquer outra, há autênticos escroques. Mesmo não sendo propriamente escroques, alguns, por deficiente formação, sei lá, por pressão das redacções, porque a concorrência é demasiada e obriga a chegar primeiro, sabendo-se que a pressa é inimiga da perfeição, não tratam a informação com o cuidado que se deve exigir. O cuidado que se deve ter na recolha, tratamento e difusão das notícias é tão mais importante, porquanto nós sabemos da sua enorme importância na formação da consciência dos cidadãos. Quanto mais e sobretudo melhor informadas estiverem as pessoas, melhor será a qualidade da democracia. Os diversos órgãos de comunicação social, têm um papel importantíssimo e insubstituível na democracia, tanto podendo contribuir para o seu desenvolvimento, para o seu aperfeiçoamento, como para a sua decadência e mesmo extinção.
Os órgãos de comunicação social, sobretudo através da sua parte noticiosa, são tão importantes que quem detém o poder e nele quer permanecer, como quem o aspira, faz tudo, mesmo atentando contra as regras democráticas para os controlar. Ninguém, de facto, ignora a força da comunicação social. Já Napoleão tinha essa consciência quando afirmava que “quatro jornais adversos podem fazer mais mal do que um exército de cem mil homens”.
Não vou falar aqui de direitos, deveres, qualidades dos jornalistas, até porque estaria a “meter a foice em seara alheia”, mas não me abstenho, todavia de reflectir e dizer o que penso relativamente a alguns trabalhos jornalísticos. Acompanho com natural interesse os blocos noticiosos e algumas reportagens sobre temas com que estou mais familiarizado ou que me despertem mais interesse. Provavelmente, algumas reportagens apresentarão deficiências que eu não descortino porque não estou devidamente identificado com o tema. Há outras, todavia, que conhecendo razoavelmente o assunto, é fácil verificar que, sobretudo ao nível das conclusões, são incorrectas e, ao invés de informarem, desinformam. Não prestam, pois um bom serviço. Acredito, no entanto, que a culpa não caberá por inteiro ao jornalista, mas também, algumas vezes, a um ou mais dos seus interlocutores.
Vou dar um exemplo de como os cidadãos ficam mal informados, fazendo muitas vezes exigências indevidas, através de um trabalho jornalístico de um dos nossos canais televisivos.
Era um caso igual a muitas outras maleitas que ainda infestam este nosso Portugal. No caso concreto era uma reportagem feita numa aldeia, algures por aí, que, tendo o médico do Posto de Saúde metido férias, os doentes, a maioria das pessoas, de fracos recursos, sem transporte próprio e talvez sem o transporte publico adequado, se queixava de ter de ir à urgência ao Centro de Saúde da Vila, se adoecesse repentinamente. Isto é o que se passa em todas as aldeias e muitas vilas. O médico falta por doença ou por férias, os utentes têm de esperar. Normalmente as consultas são programadas, marcadas e, sobretudo quando se trata de férias, não há grande problema. De qualquer forma, entendo que sempre que um médico falta, seja pelo motivo que for, deveria ser substituido.
Bom, mas o meu reparo tem a ver com o seguinte, que faz com que eu entenda que a reportagem não foi até onde deveria ir: quem ouve a reportagem, fica com a ideia, e é isso que a jornalista e alguns interlocutores concluem, que esses Postos de Saúde atendem emergências. Ora isso não é verdade. Mesmo em períodos em que o ou os médicos estejam em serviço na unidade de saúde local, qualquer pessoa vítima de acidente ou doença súbita tem de se deslocar aos serviços de urgência mais próximos. Portanto, isto acontece todos os dias, com ou sem médico, acontece todas as noites, acontece todos os sábados, domingos e feriados. É, pois, um erro concluir-se e levar-se a concluir que as pessoas de determinada freguesia ou vila ficam mais desprotegidas quando o médico do Posto está doente ou de férias, porque, em qualquer das circunstâncias, em emergência, têm de recorrer sempre aos Serviços de Urgência.
O mal, portanto, não vem por aí. Não se deve confundir emergência médica com cuidados de saúde continuada. Mas que há ainda muitos problemas ao nível da saúde por resolver, lá isso há. E que quem mais sofre com isso são as classes mais desfavorecidas, também é verdade.
Parece-me, também, que há médicos que por inépcia ou outra qualquer razão se escusam a esclarecer o que seria fácil. Há outros, mesmo, que ignorando as regras pelas quis se devem reger, porque as não conhecem, que é grave, tomam decisões desajustadas com manifesto prejuízo para os doentes, que é o mais importante, mas até para os seus próprios colegas. Sabendo eles, ou pelo menos devendo saber, que nos Postos de Saúde, não existe a tal urgência, que as consultas são por marcação, não poucas vezes, enviam doentes com alguma gravidade para o seu médico de família, sem lhes dar a adequada assistência no momento.
Dos jornalistas espero que quando abordarem estes assuntos ligados à saúde, sejam mais objectivos, investiguem com mais profundidade o funcionamento das instituições. Veremos que nem sempre a culpa está do lado dos médicos, mas também há muitos que vão vivendo impunes, enquanto alguns de nós se vão crucificando nas suas mãos. Para bem de todos nós.

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