quinta-feira, 12 de abril de 2012

Desabafos

Desabafos

Passeiam-se por aí certos indivíduos que tudo o que dizem, sobretudo o que fazem, porque do que dizem pouco se aproveita, está em consonância com aquela expressão que os franceses usam “c’est à épater les bourgeois”, que numa tradução livre, bem portuguesa, significa “para dar nas vistas” ou ainda “para inglês ver”. Se repararmos bem, se estivermos atentos, são pessoas que não valem “dez réis de mel coado” e, se alguma coisa têm em demasia, é a execrável petulância, a insaciável ambição, ignorando que são alguns dos tristes fenómenos que apressam a autodestruição do homem. Esses vermes que maculam a sociedade e que, infelizmente, muitos deles, ocupam lugares de maior ou menor relevo e para os quais não têm a menor aptidão, o mínimo perfil, são sempre cheios de si mesmos, exactamente o contrário daqueles que têm valor e são humildes, porque têm a noção de que por muito que saibam, muito lhes falta saber. São os pedantes, alguém que, como afirmou Renard, tem a digestão intelectual difícil.
O simples facto de ocuparem lugares para os quais não têm competência, portanto, não estarem no seu devido lugar, faz com que nada valham. Os homens, como as palavras, se não se põem no seu devido lugar, perdem o valor. Cada qual vale o que vale e diria mesmo que quase todos poderiam ter mais ou menos idêntico valor, se cada um desempenhasse funções para as quais está realmente habilitado. Infelizmente assim não acontece. Sobretudo por questões político-partidárias e compadrios vergonhosos, há milhares de indivíduos investidos em funções para as quais não têm a mínima capacidade de desempenho. Isto conduz a uma outra situação injusta, atentatória da equidade, sugadora do erário público. Refiro-me àqueles que desempenham cargos mais elevados no Estado ou principais autarquias que se socorrem de assessores e mais assessores – normalmente os “amigos do peito” ou os “carneirinhos” - para lhes dizer o que fazer, o que já não era mau de todo se o soubessem fazer, mas o que muitas vezes sucede é que são também uns incompetentes com salários chorudos e sem os cortes feitos à generalidade dos funcionários.
Gustavo Flaubert afirmou o seguinte: “Se estúpido, egoísta e ter boa saúde, eis as condições ideais para ser feliz. Mas se a primeira vos falta, tudo está perdido”. A acreditar nisso, enquanto o comum dos cidadãos anda por aí triste, deprimido com a guilhotina sobre o pescoço, que um governo sem sensibilidade social cada vez aperta mais, esses indivíduos, porque são estúpidos e egoístas são os principais detentores da felicidade. Ou estúpidos seremos nós que não somos capazes de nos revoltar seriamente e colocar toda essa gentalha sem escrúpulos no seu devido lugar: nos quintos do inferno como diziam os meus avós?
Ser estúpido, incompetente, medíocre, mentiroso, troca-tintas, camaleão, vigarista é o que está a dar.
Tanto como em 1974, Portugal está a precisar de um outro 25 de Abril. Não seja com a força das armas, mas com a força da nossa voz, da voz de todos os que a têm livre e não receiam mordaças nem represálias, com a força da nossa razão. Razão que não queremos que no-la dêem, mas exigimos que não no-la tirem quando a temos. Mostremos que somos dignos dos que tiveram coragem de se erguer a lutar, e de que a nossa história é fértil, embora também tenha tido traidores e acomodados. Conformarmo-nos é o pior serviço que podemos prestar a nós próprios, aos nossos filhos, aos nossos netos, por isso levantemo-nos, enquanto é tempo, porque deitados ou de cócoras somos mais facilmente esmagados.

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