Alguns dos temas que mais têm ocupado os meus momentos de reflexão, são a segurança – um grave problema cultural português – a hipocrisia, a ingratidão, a mediocridade.
Quanto à segurança, aquilo a que todos os dias assistimos, com perdas de vidas absolutamente injustificadas, perfeitamente evitáveis, demonstram plenamente que há um trabalho árduo a desenvolver nessa área, que terá de passar, forçosamente, pelas famílias, pelas escolas, pelas autarquias, pelas forças de protecção e socorro, pelas forças de segurança, enfim, por todos e cada um de nós. Cá por mim, tenho feito o que posso, nomeadamente através da escrita, mas sei que poderei fazer mais, desde que o desejem, proporcionando-me oportunidades para tal. Bom…”para bom entendedor…”. Fica-me a expectativa se haverá “bons entendedores”.
Através da proliferação e do fácil acesso aos mais variados órgãos de comunicação, de que não excluo a internet, chega-se à conclusão de que este “sítio” está cada vez mais hipócrita, mais ingrato, mais atrasado. Há por aí gente a emitir opiniões que se sustentam sobretudo no dizer o que a pode favorecer pessoalmente, bajulando, louvando o que não merece minimamente ser louvado, antes pelo contrário, fingindo ignorar acções de maior relevo. É a hipocrisia sem escrúpulos, é a sabujice nojenta, que provoca repulsa.
Fazem-se afirmações que nada têm a ver com a realidade. Temos a certeza, inclusive, que não dizem o que pensam, mas o que lhes convém, para agradar ou mesmo para dar satisfação ao “ amor com amor se paga”. É a bajulação recíproca. É preciso muito cuidado, pois, segundo George Chapman “os aduladores são tão parecidos com os amigos como os lobos com os cães”.
É óbvio que eu respeito inteiramente a diversidade de opiniões. Nem me imagino a ser de outra forma, mas uma coisa é a diferença de opiniões que cada um emite, outra é alguém afirmar coisas indefensáveis e, pior do que isso, em que ele próprio não acredita, mas que só a conveniência o leva a isso. É a hipocrisia com todo o seu esplendor. A hipocrisia é uma enfermidade extremamente vulgar que normalmente traz a si associada outra repugnante maleita que é a ingratidão.
Todos nós, uns mais do que outros, temos muito de ignorantes. Eu não me sinto nada mal por constatar a minha ignorância relativamente a uma imensidão de temas, mas procuro, sobretudo quando escrevo, porque é uma marca que ali fica, não o fazer sobre coisas de que não estou minimamente à-vontade. O que não significa que o não possa já ter feito, involuntariamente. Agora, há assuntos que, pura e simplesmente, não dependem de qualquer opinião. São o que são. Estou a lembrar-me, por exemplo, do que, pelos vistos se falou, e também escreveu, relativamente à possibilidade de uma federação das associações de Nespereira. Pura e simplesmente é um erro crasso, porque só podem existir federações de associações, clubes, sindicatos, etc., idênticos, que tenham os mesmos objectivos, como federação de bandas de música, de grupos folclóricos, de associações de bombeiros e por aí fora.
Isto não significa que não se possa discutir qualquer outra espécie de ligação entre as várias associações indígenas, só que federação não. Discutir sobre algo irrealizável é perda de tempo, ou, se preferir, tolice.
Já por diversas vezes referi, que, em determinados aspectos, muitos, aliás, se assiste à vitória da mediocridade. Na política, por exemplo, uma grande parte das pessoas que aí ocupam posições, de maior ou menor relevo, como são medíocres, oportunistas, ambiciosas, receiam as pessoas inteligentes, que pensam e dizem o que pensam, não olharam a meios para conquistar tais posições, como não olham para as defender, ainda que tenham que pisar quem quer que seja.
Porque os inteligentes, os pensadores que não vergam a espinha a troco de qualquer privilégio, que adoptam a verdade, a frontalidade como forma de relacionamento com os outros, sejam amigos ou não, não se permitem a essas “patifarias”, quem vence é a mediocridade. Talvez por isso, Ruy Barbosa escreveu: “Há tantos burros a mandar em homens inteligentes que, às vezes, penso que a burrice é um ciência”.
Os medíocres ficam com tal receio com a simples aparição de alguém com capacidade superior, de alguém com verticalidade que os possa ameaçar, que tudo fazem para não o deixar entrar no seu mundo e, se possível, mesmo abatê-lo. No fundo é o reconhecimento das suas limitações, de que o mais capaz faria facilmente aquilo que ele não consegue ou só o consegue com imensas dificuldades. Ao reconhecimento que as pessoas normais demonstram pelos mais capazes, opõe-se o silêncio ou a repulsa por parte dos medíocres.
Churchil disse: “A inteligência conquista inimigos, o talento assusta”.
Que Deus nos proteja!
António Salazar
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quinta-feira, 10 de junho de 2010
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Falta cultura de segurança
Por diversas vezes me tenho referido à fraca cultura de segurança que o comportamento da maioria dos portugueses evidencia. Eles são generosos, altruístas, abnegados e simultaneamente simplórios, negligentes, atrevidos, combativos, excessivamente confiantes em si próprios e em pessoas de falas mansas, pouco conscientes dos riscos, que no seu entender só acontecem aos outros. Estas virtudes e/ou defeitos, aliados à referida falta de cultura e sensibilidade para as questões de segurança, fazem com que demasiadas pessoas corram sérios riscos, perfeitamente evitáveis, que, em muitos casos, imensos casos, os levam à perda de vida ou a situações graves de saúde e de dependência ou a serem vítimas de burlas e de perda de bens. Infelizmente, constatamos isso, todos os dias, seja por observação pessoal, seja através dos órgãos de comunicação social.
Repare, meu amigo, na facilidade com que muitas pessoas abrem a porta a desconhecidos, fazendo-se passar, algumas vezes por filhos ou parentes de familiares ausentes há muitos anos, por amigos de familiares que vivem longinquamente, ex-alunos, etc., deixando-se enrolar em “novelas”, vezes sem conta denunciadas pela comunicação social, entregando-lhes dinheiro, objectos de valor ou sujeitando-se a serem roubados e mesmo agredidos ou mortos.
Repare na facilidade com que muitas pessoas se deixam abordar na rua por desconhecidos que, com dois dedos de conversa, logo conseguem a sua confiança e se deixam espoliar, das mais engenhosas formas.
Já vimos que não basta o relato de casos pela comunicação social, não basta a acção meritória, mas em pequena escala, que a GNR vai fazendo junto da população mais idosa, sobretudo em aldeias do interior. É necessário ir mais longe nas acções, é preciso fazer muito mais, inclusive, nas grandes vilas e cidades, porque também lá há muita gente a ser vigarizada.
Continuando nesta reflexão sobre segurança, veja como se conduz nas nossas estradas, em velocidades altíssimas, sem qualquer alteração de comportamento quer esteja bom tempo, chova, haja neve ou gelo. Como consequência disso, temos a alta sinistralidade rodoviária, donde resulta o número de mortos e deficientes que se conhecem. Veja ainda o comportamento de muitos condutores quando há um acidente, provocando, muitas vezes, outros acidentes.
Veja o comportamento de muitos, junto aos rios, junto ao mar, em presença de incêndios florestais.
Veja as condições em que muitos trabalhadores operam, nomeadamente na construção civil.
Por último, embora muito pudesse dizer em relação a esta temática da segurança, nomeadamente no que diz respeito às crianças, atente na quantidade de vídeos feitos por amadores, sobre a tragédia da Madeira que mostram à saciedade os riscos desnecessários a que muitos se sujeitaram e que alguns terão mesmo pago com a vida.
A partir da família, passando pela escola, autarquias, forças policiais, protecção civil, muito há a fazer no sentido de inverter tal situação.
Repare, meu amigo, na facilidade com que muitas pessoas abrem a porta a desconhecidos, fazendo-se passar, algumas vezes por filhos ou parentes de familiares ausentes há muitos anos, por amigos de familiares que vivem longinquamente, ex-alunos, etc., deixando-se enrolar em “novelas”, vezes sem conta denunciadas pela comunicação social, entregando-lhes dinheiro, objectos de valor ou sujeitando-se a serem roubados e mesmo agredidos ou mortos.
Repare na facilidade com que muitas pessoas se deixam abordar na rua por desconhecidos que, com dois dedos de conversa, logo conseguem a sua confiança e se deixam espoliar, das mais engenhosas formas.
Já vimos que não basta o relato de casos pela comunicação social, não basta a acção meritória, mas em pequena escala, que a GNR vai fazendo junto da população mais idosa, sobretudo em aldeias do interior. É necessário ir mais longe nas acções, é preciso fazer muito mais, inclusive, nas grandes vilas e cidades, porque também lá há muita gente a ser vigarizada.
Continuando nesta reflexão sobre segurança, veja como se conduz nas nossas estradas, em velocidades altíssimas, sem qualquer alteração de comportamento quer esteja bom tempo, chova, haja neve ou gelo. Como consequência disso, temos a alta sinistralidade rodoviária, donde resulta o número de mortos e deficientes que se conhecem. Veja ainda o comportamento de muitos condutores quando há um acidente, provocando, muitas vezes, outros acidentes.
Veja o comportamento de muitos, junto aos rios, junto ao mar, em presença de incêndios florestais.
Veja as condições em que muitos trabalhadores operam, nomeadamente na construção civil.
Por último, embora muito pudesse dizer em relação a esta temática da segurança, nomeadamente no que diz respeito às crianças, atente na quantidade de vídeos feitos por amadores, sobre a tragédia da Madeira que mostram à saciedade os riscos desnecessários a que muitos se sujeitaram e que alguns terão mesmo pago com a vida.
A partir da família, passando pela escola, autarquias, forças policiais, protecção civil, muito há a fazer no sentido de inverter tal situação.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Mais uma morte no Rio Paiva
Neste fim-de-semana último, o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia, em consequência de um acidente na prática de desportos radicais. Numa altura em que está bem viva dentro de nós a enorme tragédia que se abateu sobre esse paupérrimo país que é o Haiti, quase parece sacrilégio chamar tragédia à morte de um homem apenas. Mas não. As tragédias são-no independentemente da sua extensão e das suas consequências. Umas são maiores, outras são menores. Um homem de um metro e sessenta é um homem como o é outro de dois metros. A tragédia haitiana é de tal modo medonha que não sei se algum dia se conhecerá a sua verdadeira extensão. Nem sei se o empenho, quer das organizações governamentais, quer das não-governamentais, quer dos cidadãos anónimos ou das figuras públicas não será apenas uma reacção momentânea, fugaz, enquanto as feridas nas pessoas e no património estão mais vivas e logo, logo os haitianos não ficarão de novo entregues à sua sorte, má sorte, por sinal, como acontece noutras partes do mundo bem conhecidas.
Dizia eu no início que o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia. Uma tragédia em desportos radicais, porque já houve outras. E disse mais uma, porque, contrariamente àquilo que ouvi, a deste fim-de-semana não foi a primeira. No rafting, talvez, mas já houve pelo menos uma outra morte, de uma professora de Matosinhos, ali entre a ponte de Alvarenga e o Vau, em Canelas, na prática de um outro desporto, cujo nome agora não recordo, mas em que o praticante, o faz sozinho, deitado sobre uma prancha – não sei se é esse o nome – de barriga para baixo e de cabeça para a frente. A senhora terá batido com a testa numa pedra, não obstante estar equipada com capacete e morreu. Morreu sem que alguém, tão pouco, se apercebesse do acidente. Aqueles que com ela partilhavam a aventura, só mais tarde se aperceberam da sua falta. Participei com os bombeiros de Nespereira que comandava à época, conjuntamente com os de Arouca e foi muito difícil localizar o seu corpo. Nessa altura o caudal do rio era relativamente pequeno o que permitiu as buscas através da água, a pé. Encontrada, foi outra dificuldade quase insuperável para a transportar até um veículo todo-o-terreno, que, mesmo assim, teve de ficar bem distante do rio.
É exactamente aqui que eu quero chegar. O Rio Paiva corre em grande parte da sua extensão, pelo menos no que toca à zona onde se praticam os desportos ditos radicais, num leito ladeado de margens com declives muito acentuados, com pouquíssimas vias de acesso e praticamente inexistentes possibilidades de as percorrer, devido aos intensos e intransponíveis matagais que as povoam. As horas que demorou a encontrar o corpo do João e a retirá-lo depois de ser encontrado, confirmam isso mesmo. Para mim, pela sensibilidade que julgo ter para as questões da segurança, protecção e socorro, bastam esses dois factores – a impossibilidade de acesso ao rio através de viatura de socorro em extensões de quilómetros e o trânsito ainda que apeado através das margens, o mais próximo possível da água – para considerar a prática de tais desportos, nessas circunstâncias, como pouco segura. Os acidentes dão-se em milhentas circunstâncias, mesmo em práticas que se considerem sem quaisquer riscos. Uma coisa, todavia, é acontecer o acidente e haver a possibilidade imediata de socorro, outra é ele acontecer e o socorro ser impossível em tempo oportuno. Há muitos trechos do Rio Paiva, onde, se houver um acidente, se pode ter de esperar muitas horas pelo socorro. E, em alguns casos, nessa demora pode estar a diferença entre viver ou morrer.
Numa região em que o seu desenvolvimento pode passar sobretudo pelo aproveitamento que a natureza oferece, embora me pareça que nenhuma das autarquias em cujo solo desfila o Paiva tenha querido ou sabido tirar todo o proveito disso, julgo não ser de desprezar esse movimento desportivo que se verifica nas suas águas límpidas. Antes, será de apoiar. Portanto, julgo que as Câmaras Municipais de Arouca, Cinfães e Castelo de Paiva, operando singularmente ou em projectos conjuntos, devem proporcionar, sem ofender drasticamente a natureza, melhores condições logísticas para a prática desportiva, mas sobretudo que permitam um mais rápido e eficaz socorro. Uma morte como a do jovem João Filipe Borges, que chegava feliz ao fim da aventura, é sempre uma tragédia. Uma vida que se consegue salvar é sempre um momento de felicidade, uma bênção.
Já agora, deixe-me fazer esta reflexão: se bem que eu entenda que as Câmaras Municipais já referidas devem fazer algo no sentido de minimizar os perigos e maximizar as possibilidades de socorro, ninguém tem legitimidade para acusar qualquer uma delas por eventual responsabilidade neste ou em qualquer outro acidente, seja pela falta de infra-estruturas ou de qualquer outra coisa. Nenhuma entidade se terá responsabilizado, autorizado, ou não, tais práticas, julgo eu. A responsabilidade há-de, com certeza, ser encontrada noutro lado.
Dizia eu no início que o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia. Uma tragédia em desportos radicais, porque já houve outras. E disse mais uma, porque, contrariamente àquilo que ouvi, a deste fim-de-semana não foi a primeira. No rafting, talvez, mas já houve pelo menos uma outra morte, de uma professora de Matosinhos, ali entre a ponte de Alvarenga e o Vau, em Canelas, na prática de um outro desporto, cujo nome agora não recordo, mas em que o praticante, o faz sozinho, deitado sobre uma prancha – não sei se é esse o nome – de barriga para baixo e de cabeça para a frente. A senhora terá batido com a testa numa pedra, não obstante estar equipada com capacete e morreu. Morreu sem que alguém, tão pouco, se apercebesse do acidente. Aqueles que com ela partilhavam a aventura, só mais tarde se aperceberam da sua falta. Participei com os bombeiros de Nespereira que comandava à época, conjuntamente com os de Arouca e foi muito difícil localizar o seu corpo. Nessa altura o caudal do rio era relativamente pequeno o que permitiu as buscas através da água, a pé. Encontrada, foi outra dificuldade quase insuperável para a transportar até um veículo todo-o-terreno, que, mesmo assim, teve de ficar bem distante do rio.
É exactamente aqui que eu quero chegar. O Rio Paiva corre em grande parte da sua extensão, pelo menos no que toca à zona onde se praticam os desportos ditos radicais, num leito ladeado de margens com declives muito acentuados, com pouquíssimas vias de acesso e praticamente inexistentes possibilidades de as percorrer, devido aos intensos e intransponíveis matagais que as povoam. As horas que demorou a encontrar o corpo do João e a retirá-lo depois de ser encontrado, confirmam isso mesmo. Para mim, pela sensibilidade que julgo ter para as questões da segurança, protecção e socorro, bastam esses dois factores – a impossibilidade de acesso ao rio através de viatura de socorro em extensões de quilómetros e o trânsito ainda que apeado através das margens, o mais próximo possível da água – para considerar a prática de tais desportos, nessas circunstâncias, como pouco segura. Os acidentes dão-se em milhentas circunstâncias, mesmo em práticas que se considerem sem quaisquer riscos. Uma coisa, todavia, é acontecer o acidente e haver a possibilidade imediata de socorro, outra é ele acontecer e o socorro ser impossível em tempo oportuno. Há muitos trechos do Rio Paiva, onde, se houver um acidente, se pode ter de esperar muitas horas pelo socorro. E, em alguns casos, nessa demora pode estar a diferença entre viver ou morrer.
Numa região em que o seu desenvolvimento pode passar sobretudo pelo aproveitamento que a natureza oferece, embora me pareça que nenhuma das autarquias em cujo solo desfila o Paiva tenha querido ou sabido tirar todo o proveito disso, julgo não ser de desprezar esse movimento desportivo que se verifica nas suas águas límpidas. Antes, será de apoiar. Portanto, julgo que as Câmaras Municipais de Arouca, Cinfães e Castelo de Paiva, operando singularmente ou em projectos conjuntos, devem proporcionar, sem ofender drasticamente a natureza, melhores condições logísticas para a prática desportiva, mas sobretudo que permitam um mais rápido e eficaz socorro. Uma morte como a do jovem João Filipe Borges, que chegava feliz ao fim da aventura, é sempre uma tragédia. Uma vida que se consegue salvar é sempre um momento de felicidade, uma bênção.
Já agora, deixe-me fazer esta reflexão: se bem que eu entenda que as Câmaras Municipais já referidas devem fazer algo no sentido de minimizar os perigos e maximizar as possibilidades de socorro, ninguém tem legitimidade para acusar qualquer uma delas por eventual responsabilidade neste ou em qualquer outro acidente, seja pela falta de infra-estruturas ou de qualquer outra coisa. Nenhuma entidade se terá responsabilizado, autorizado, ou não, tais práticas, julgo eu. A responsabilidade há-de, com certeza, ser encontrada noutro lado.
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segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Mais uma tragédia
Ninguém terá ficado indiferente à tragédia que no final da semana transacta ceifou a vida a cinco pessoas, com a derrocada de uma falésia na praia Maria Luísa, em Albufeira, sendo que quatro eram uma família completa: um casal e suas duas únicas filhas. Como qualquer pessoa normal e apesar de já ter estado envolvido mais directa ou indirectamente em algumas tragédias, não deixo nunca de me chocar, de me entristecer, de reflectir. E reflectia sobre esses temas que parece colher pouco interesse de quase toda a sociedade portuguesa, desde pessoas com responsabilidades várias até ao cidadão comum, que são prevenção e segurança. Não me canso de reflectir sobre isso, não me canso de alertar, mas, infelizmente, parece que continua a ser uma fatalidade dos portugueses pensar que as coisas sempre acontecem aos outros e nunca aconteceriam naquele momento em que estão ou vão a passar. E as pessoas do poder, dos vários poderes, parecem afinar pelo mesmo diapasão. Vão postergando, colocando umas placas, o que nem isso sempre se verifica, e um dia a tragédia acontece. Foi assim em Entre-os-Rios, onde nem só as condições climatéricas adversas poderiam ser responsabilizadas, são viaturas automóveis que caem em ravinas, por falta de barreiras de segurança, foi agora a tragédia do Algarve.
Nem uns nem outros se devem desresponsabilizar. O cidadão que vê uma placa a anunciar perigo e não dá importância ao facto sofre de incúria, que muitas vezes é fatal. E, se nós todos, simples cidadãos até temos a noção de que o poder, seja local ou central é muito mais de pecar por falta de zelo do que por excesso dele, seria natural que pensássemos que uma placa a indicar perigo, poderia significar muito perigo ou perigo iminente. Devíamos, pois, cuidar-nos. Por sua vez, o poder, só porque colocou umas placas de aviso, não deve, não pode ficar com a consciência aliviada. Há situações, como se verificou agora em Albufeira, que mais do que colocar avisos deveria ter-se evitado ou eliminado as causas do risco. Os simples avisos não eliminam as causas. Neste aspecto, meus amigos, quer o poder central, quer o local têm enormes responsabilidades. Ao poder local cabe um papel muito importante na resolução desses problemas. Ainda que, em muitos casos, não lhe compita a ele a solução, compete-lhe, pelo menos, porque conhecem ou devem conhecer melhor do que ninguém os problemas da sua freguesia, do seu concelho, alertar e exigir do poder central a resolução dos problemas. Infelizmente, nem sempre assim acontece. São, muitas vezes, as autarquias, os responsáveis pela criação de condições de insegurança, outras vezes por não eliminar os riscos, ou mesmo permitir que eles se criem, como é, por exemplo, nós assistirmos a construções em cima de linhas de água. Há um défice enorme na cultura da prevenção/segurança.
A talhe de foice, deixe-me dizer-lhe que, depois de vários protestos, a Direcção de Estradas de Aveiro, no primeiro semestre de dois mil e oito, comprometeu-se a colocar barreiras de protecção na estrada nacional número 225, no segundo semestre desse mesmo ano. Estamos no segundo semestre já de 2009. Nem uma barreira foi colocada. Se acontecer um despiste grave, sempre arranjarão uma qualquer desculpa. Oxalá que tal não venha a suceder, mas se vier a verificar um grave desastre, mesmo que nada tenha a ver comigo nem nenhum familiar, se a lei mo permitir, não hesitarei em intentar uma acção criminal.
Deixe-me dizer-lhe outra: Como se fosse pouco, a horrenda reabilitação do largo da Feira, em Nespereira, a segurança também foi “mandada às malvas”. Colocaram umas grades frágeis e, pior do que isso, com um espaço enorme, permitindo que qualquer criança possa cair daqueles muros altíssimos, que bem desnecessários eram. E mais ainda: a meio da curva, logo que termina a rampa que dá acesso à adega do Café Lima, aparece a beira do passeio, cortada na vertical. Pronta a que os automobilistas lá batam com a roda do lado direito da frente, o que, não obstante a sua vida recente, já aconteceu, e possa ter consequências mais ou menos graves. Quando uma Câmara Municipal não revela qualquer sensibilidade para as questões de prevenção e segurança, quando ela própria é a criadora dos riscos, que confiança podem ter os munícipes e como é que ela lhes pode fazer determinadas exigências, nas obras que tem de licenciar?! “Bem prega Frei Tomás…” Parece que estamos condenados a que, quem mais precisava de ter olhos, pelas funções que desempenham, os não tenham. Triste sina. Seria bom que nas campanhas eleitorais que se avizinham, as questões de prevenção e segurança, nas mais diversas áreas, não fossem esquecidas. Por candidatos e eleitores. Há muitas vidas que se perdem só porque se deixam persistir riscos que nem eram tão difíceis, nem onerosos de eliminar. Não eliminar os riscos conhecidos pode ter consequências muito graves, como destruição de bens móveis ou imóveis, ferimentos em pessoas que podem provocar imobilidade, incapacidade para o trabalho, ausências ao trabalho, despesas com tratamentos, morte de pessoas, nomeadamente até de elementos das forças de socorro, alteração do meio ambiente, dispêndio de recursos financeiros elevadíssimos, etc. É só ver o que acontece com os incêndios florestais que destroem, ano após ano, valioso património, alteram o meio ambiente, e gastam-se milhões no combate, só porque, por mais promessas que todos os governos tenham feito, ainda não houve, até hoje uma verdadeira, séria política de eliminação dos riscos.
Voltando à tragédia de Albufeira, dela tendo tomado conhecimento, eu e minha mulher procurámos contactar, de imediato, o meu filho, que com minha nora e netos também se encontravam em Albufeira. Estavam no Zoomarine, felizmente. Então, comentávamos a dor que deveria ser desaparecer de forma tão estúpida uma família. Nem sequer ligámos aos nomes, mas fossem eles quem fossem, mereciam a nossa dor, a nossa solidariedade. Aliás, já tínhamos passado, há pouco mais de trinta anos, por uma situação desse género: Numa sala de sua casa, quatro urnas com os cadáveres do meu padrinho e primeiro professor, sua filha, seu genro e sua neta. É uma situação arrepiante, são momentos de dor enorme.
Ao início de noite de sábado, soube, através do telefonema de uma prima, que afinal quem tinha sido soterrado era a minha também prima Anabela, seu marido António e suas duas filhas, a Ana Rita e a Mariana. No domingo, logo às dez da manhã estava em Britiande, Lamego, terra da naturalidade de meu pai, procurando dar algum alento a alguns familiares mais próximos do que eu, integrado naquela enorme manifestação de dor, aumentada pelo desespero do pai da Anabela, o Zeca da Zulmira, como é conhecido, nos seus 84 anos, já viúvo, que de uma assentada perdeu sua filha única, seus netos e genro, ficando só. As coisas não acontecem só aos outros, temos de nos convencer disso.
Muitos de nós, que tantas vezes nos queixamos por tão pouco, é bom que reflictamos mais sobre o que acontece aos outros e concluamos que a maioria das vezes, as nossas dores, as nossas mágoas, os nossos problemas são coisas ínfimas, se comparados com os deles.
Se estes casos trágicos ao menos servissem para que os diversos elementos do poder político e cada um de nós mudassem o comportamento, talvez se pudesse dizer que as mortes não teriam sido em vão. Infelizmente, a experiência diz-nos que, no imediato, se faz alguma coisa, mas a memória é curta e, quase sempre, rapidamente tudo se esquece e voltam os mesmos problemas.
Já agora, porque falei em mudar o comportamento, parece-me que, no acidente do Algarve, apesar do que disse atrás, os vários elementos intervenientes no socorro e a comunicação social estiveram bem melhor do que em Entre-os-Rios Desta vez, não se ouviram as perguntas disparatadas que se fizeram aquando da queda da ponte. Ainda bem. Até os mirones foram imediatamente impedidos de complicar os trabalhos de quem estava ali apenas para socorrer e informar. Creio que terá sido uma lição que se colheu de Entre-os-Rios, o que faz com que essa tragédia não tenha sido totalmente em vão.
Nem uns nem outros se devem desresponsabilizar. O cidadão que vê uma placa a anunciar perigo e não dá importância ao facto sofre de incúria, que muitas vezes é fatal. E, se nós todos, simples cidadãos até temos a noção de que o poder, seja local ou central é muito mais de pecar por falta de zelo do que por excesso dele, seria natural que pensássemos que uma placa a indicar perigo, poderia significar muito perigo ou perigo iminente. Devíamos, pois, cuidar-nos. Por sua vez, o poder, só porque colocou umas placas de aviso, não deve, não pode ficar com a consciência aliviada. Há situações, como se verificou agora em Albufeira, que mais do que colocar avisos deveria ter-se evitado ou eliminado as causas do risco. Os simples avisos não eliminam as causas. Neste aspecto, meus amigos, quer o poder central, quer o local têm enormes responsabilidades. Ao poder local cabe um papel muito importante na resolução desses problemas. Ainda que, em muitos casos, não lhe compita a ele a solução, compete-lhe, pelo menos, porque conhecem ou devem conhecer melhor do que ninguém os problemas da sua freguesia, do seu concelho, alertar e exigir do poder central a resolução dos problemas. Infelizmente, nem sempre assim acontece. São, muitas vezes, as autarquias, os responsáveis pela criação de condições de insegurança, outras vezes por não eliminar os riscos, ou mesmo permitir que eles se criem, como é, por exemplo, nós assistirmos a construções em cima de linhas de água. Há um défice enorme na cultura da prevenção/segurança.
A talhe de foice, deixe-me dizer-lhe que, depois de vários protestos, a Direcção de Estradas de Aveiro, no primeiro semestre de dois mil e oito, comprometeu-se a colocar barreiras de protecção na estrada nacional número 225, no segundo semestre desse mesmo ano. Estamos no segundo semestre já de 2009. Nem uma barreira foi colocada. Se acontecer um despiste grave, sempre arranjarão uma qualquer desculpa. Oxalá que tal não venha a suceder, mas se vier a verificar um grave desastre, mesmo que nada tenha a ver comigo nem nenhum familiar, se a lei mo permitir, não hesitarei em intentar uma acção criminal.
Deixe-me dizer-lhe outra: Como se fosse pouco, a horrenda reabilitação do largo da Feira, em Nespereira, a segurança também foi “mandada às malvas”. Colocaram umas grades frágeis e, pior do que isso, com um espaço enorme, permitindo que qualquer criança possa cair daqueles muros altíssimos, que bem desnecessários eram. E mais ainda: a meio da curva, logo que termina a rampa que dá acesso à adega do Café Lima, aparece a beira do passeio, cortada na vertical. Pronta a que os automobilistas lá batam com a roda do lado direito da frente, o que, não obstante a sua vida recente, já aconteceu, e possa ter consequências mais ou menos graves. Quando uma Câmara Municipal não revela qualquer sensibilidade para as questões de prevenção e segurança, quando ela própria é a criadora dos riscos, que confiança podem ter os munícipes e como é que ela lhes pode fazer determinadas exigências, nas obras que tem de licenciar?! “Bem prega Frei Tomás…” Parece que estamos condenados a que, quem mais precisava de ter olhos, pelas funções que desempenham, os não tenham. Triste sina. Seria bom que nas campanhas eleitorais que se avizinham, as questões de prevenção e segurança, nas mais diversas áreas, não fossem esquecidas. Por candidatos e eleitores. Há muitas vidas que se perdem só porque se deixam persistir riscos que nem eram tão difíceis, nem onerosos de eliminar. Não eliminar os riscos conhecidos pode ter consequências muito graves, como destruição de bens móveis ou imóveis, ferimentos em pessoas que podem provocar imobilidade, incapacidade para o trabalho, ausências ao trabalho, despesas com tratamentos, morte de pessoas, nomeadamente até de elementos das forças de socorro, alteração do meio ambiente, dispêndio de recursos financeiros elevadíssimos, etc. É só ver o que acontece com os incêndios florestais que destroem, ano após ano, valioso património, alteram o meio ambiente, e gastam-se milhões no combate, só porque, por mais promessas que todos os governos tenham feito, ainda não houve, até hoje uma verdadeira, séria política de eliminação dos riscos.
Voltando à tragédia de Albufeira, dela tendo tomado conhecimento, eu e minha mulher procurámos contactar, de imediato, o meu filho, que com minha nora e netos também se encontravam em Albufeira. Estavam no Zoomarine, felizmente. Então, comentávamos a dor que deveria ser desaparecer de forma tão estúpida uma família. Nem sequer ligámos aos nomes, mas fossem eles quem fossem, mereciam a nossa dor, a nossa solidariedade. Aliás, já tínhamos passado, há pouco mais de trinta anos, por uma situação desse género: Numa sala de sua casa, quatro urnas com os cadáveres do meu padrinho e primeiro professor, sua filha, seu genro e sua neta. É uma situação arrepiante, são momentos de dor enorme.
Ao início de noite de sábado, soube, através do telefonema de uma prima, que afinal quem tinha sido soterrado era a minha também prima Anabela, seu marido António e suas duas filhas, a Ana Rita e a Mariana. No domingo, logo às dez da manhã estava em Britiande, Lamego, terra da naturalidade de meu pai, procurando dar algum alento a alguns familiares mais próximos do que eu, integrado naquela enorme manifestação de dor, aumentada pelo desespero do pai da Anabela, o Zeca da Zulmira, como é conhecido, nos seus 84 anos, já viúvo, que de uma assentada perdeu sua filha única, seus netos e genro, ficando só. As coisas não acontecem só aos outros, temos de nos convencer disso.
Muitos de nós, que tantas vezes nos queixamos por tão pouco, é bom que reflictamos mais sobre o que acontece aos outros e concluamos que a maioria das vezes, as nossas dores, as nossas mágoas, os nossos problemas são coisas ínfimas, se comparados com os deles.
Se estes casos trágicos ao menos servissem para que os diversos elementos do poder político e cada um de nós mudassem o comportamento, talvez se pudesse dizer que as mortes não teriam sido em vão. Infelizmente, a experiência diz-nos que, no imediato, se faz alguma coisa, mas a memória é curta e, quase sempre, rapidamente tudo se esquece e voltam os mesmos problemas.
Já agora, porque falei em mudar o comportamento, parece-me que, no acidente do Algarve, apesar do que disse atrás, os vários elementos intervenientes no socorro e a comunicação social estiveram bem melhor do que em Entre-os-Rios Desta vez, não se ouviram as perguntas disparatadas que se fizeram aquando da queda da ponte. Ainda bem. Até os mirones foram imediatamente impedidos de complicar os trabalhos de quem estava ali apenas para socorrer e informar. Creio que terá sido uma lição que se colheu de Entre-os-Rios, o que faz com que essa tragédia não tenha sido totalmente em vão.
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