terça-feira, 8 de setembro de 2009

Asfixia democrática

“Mais cego é quem não quer ver do que quem não tem olhos”.
Fico espantado – ou será que já não fico? – com o conceito de democracia que Manuela Ferreira Leite exibe, ao dar como bom exemplo de governação democrática o seu companheiro de partido, ora governante, ora outra coisa qualquer arremedo de artista de circo, que é Alberto João Jardim. Se há parcela do território português onde a democracia, por quem detém o principal poder e muitos dos seus apaniguados, sofre tratos de polé, é pouco mais do que uma miragem, é exactamente a Madeira. Basta ouvi-los, basta atentar no seu comportamento no Governo, na Assembleia Regional, na relação do líder com um jornal e a manutenção do mesmo com dinheiros públicos. Centenas de páginas têm sido escritas na imprensa, nos blogues, milhares de frases têm sido pronunciadas por rádios, televisões, em diversas intervenções, denunciando exactamente o défice democrático existente na Madeira. Só Manuela Ferreira Leite, alguns, felizmente não todos, dos seus submissos companheiros, aqueles que vivem debaixo da asa protectora de Jardim, é que não vêem isso. Quem não tem uma palavra de recriminação para o que se passa, em termos de democracia, na Região Autónoma da Madeira, ao invés disso, defende tal comportamento, apontando mesmo como um bom exemplo de governação, como já atrás referi, quem, no seu partido, hoje seu incondicional apoiante, já impôs no parlamento a “lei da rolha”, para o seu grupo parlamentar, quem já se atreveu a sugerir que para se conseguirem algumas reformas, se deveria suspender a democracia por seis meses, não tem a menor legitimidade para afirmar que no continente, por obra e graça do governo, existe asfixia democrática. A líder do PSD não está bem, não inspira confiança política, votar nela, para as legislativas, será um desperdício. Não me revendo na maior parte do discurso político de Paulo Portas, reconhecendo-lhe embora inteligência bastante, mas também demagogia que sobra, parece-me que aos que perfilham políticas de centro direita ou direita, terão o seu voto muito melhor utilizado, não querendo votar Partido Socialista, votando PP, que tanto pode significar Partido Popular, como Paulo Portas, que não vociferará nunca as asneiras de Ferreira Leite e, na eventualidade de o PSD vir a ser chamado a formar governo, eles lá estarão juntos.
Voltando à asfixia democrática, infelizmente, não por culpa deste governo nem de outros que o antecederam, mas porque ainda há muitas pessoas que transportam os vícios do 24 de Abril, os herdaram ou aprenderam, que na sua vida empresarial, de trabalho, à frente de instituições públicas ou privadas, de todos os quadrantes políticos, são excelentes exemplares, pelo seu comportamento, do que não deve ser a democracia. Conheço, todos conhecemos, pessoas que dirigem instituições, como se fossem os donos, admitindo funcionários sem regras, expulsando, demitindo, a seu bel-prazer, sem processo de inquérito ou de averiguações, exigem a assinatura de documentos sem lhes permitir conhecer correctamente o conteúdo, fazendo-os assinar folhas de papel em branco, onde, quando e se entenderem, escreverão o pedido de demissão, promovendo falsos concursos e digo falsos, porque são viciados logo à partida, ganhos, não, entregues a quem entendem, etc., etc. Se Ferreira Leite, ou qualquer outro dirigente político, tocasse nesta ferida, merecia credibilidade, o apoio de todas as pessoas que se regem por critérios mínimos de seriedade. Mas não, a campanha é atribuir todos os males ao governo, não lhe reconhecer qualquer virtude. Ora, quem for sério e andar atento, sabe que todas as ofensas à democracia referidas e muitas outras que poderíamos referir, não são da responsabilidade nem dos partidos nem do governo, mas antes, de pessoas, ainda que muitas delas estejam ligadas aos diversos partidos políticos e muitas outras sejam independentes. Aliás, basta ver o caso de vários autarcas investigados, arguidos, acusados e até condenados por abuso de poder, peculato, corrupção, etc., pertencentes a famílias partidárias diferentes. Não é legítimo acusar um partido só porque um seu membro é criminoso, como não é curial arrancar todas as flores do jardim só porque lá existe uma erva daninha.
Porque, desgraçadamente, há gente de todos os partidos que se servem dos lugares que ocupam, alguns que até foram legitimamente eleitos de acordo com as mais elementares regra democráticas e obedecendo ao estabelecido nos respectivos estatutos ou outra legislação, para colher benefícios pessoais, para dar guarida aos amigos, ainda que sem respeito algum nem pela lei nem pela ética, prejudicando ilegítima e ilegalmente terceiros, os dirigentes partidários, ao invés de atirarem pedras uns aos outros, porque todos têm telhados de vidro, deveriam assenhorar-se de mais pudor e todos contribuírem para o aperfeiçoamento da vida democrática e extirparem, legalmente, é óbvio, essas execrandas personagens que minam e descredibilizam a democracia e, se não formos tarde demais, talvez contribuam para que o povo, saturado de mentiras, de ser explorado, enganado, exija um governo autoritário, que mande a democracia às malvas.
Deixo aqui apenas mais uma nota: quem tem a pesar-lhe no currículo a responsabilidade de ter corrido com Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, como pode ter a “lata” de acusar, sem quaisquer provas ou indícios, o governo e o Partido Socialista de estar por detrás da suspensão desse asqueroso Jornal Nacional das sextas-feiras, protagonizado pela imbecil Manuela Moura Guedes? Sou totalmente contra qualquer atentado à liberdade de expressão. Aliás, sei do que falo, porque já senti na pele, a censura e repressão. O que Manuela Moura Guedes fazia na TVI não era liberdade de informação, era utilizar a liberdade de que usufruía, para, sem qualquer espírito de informar, antes, achincalhar, ofender, atacar, comentar sem qualquer espírito de isenção, subjugada apenas ao seu obscuro pensamento ou interesse. As suas ideias, as suas afirmações teriam pleno cabimento numa coluna de opinião, concordasse-se ou não. A quem está no exercício único de informar, que é o que lhe compete fazer, quando está no ar, é inadmissível.
Não é nenhum atentado à liberdade acabar-se com um jornal naqueles moldes, desde que continuem a fazer as investigações que tiverem por bem fazer e informem, normalmente, sem jeitos e trejeitos, nem afirmações insinuadoras.
Seja como for, não é correcto, não é de pessoas de bem, acusar o Governo e o Partido Socialista, só porque José Sócrates se queixou, e com razão, segundo o meu ponto de vista, de tão abjecto Jornal Nacional.
Alguns estarão tentados a dizer: “pois é, mas o Jornal Nacional das sextas-feiras era líder de audiências. Quem conhece e reflecte sobre a forma de estar, agir e reagir do povo português, não se surpreende. Ele está em massa onde houver graves acidentes, sobretudo com mortes, assassínios, assaltos violentos, consome avidamente toda a informação, ainda que não certificada, que relate todos esses acontecimentos graves, grandes escândalos, tanto mais se estiverem envolvidas pessoas por todos reconhecidas. Poderia dar-lhe imensos exemplos, mas alguns, você também os conhece e sabe que é verdade. Parece que muitos de nós somos possuídos de uma morbidez congénita.
Não sendo o exemplar perfeito de presidente de câmara que eu gostaria para o meu concelho, Cinfães, não lhe vejo alternativa. Da mesma forma, não sendo Sócrates exactamente o primeiro-ministro que gostaria de ter, não lhe encontro alternativa e não me repugnou, antes me honrou, o convite que me foi dirigido para integrar a sua Comissão de Honra e que aceitei. Continuarei, apesar de tudo, a ser independente, a ter uma voz livre e a combater as políticas de Sócrates que entender combater, como várias vezes já o fiz, neste e outros fóruns.

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