segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Campanha eleitoral - mais casos do que ideias

Esta campanha que vem decorrendo, para as legislativas, tem sido feita mais de casos do que de ideias e propostas, com excepção das demagógicas. Há um partido que, no que respeita à exploração de casos, e, sem o mínimo de ética, de pudor, se destaca de todos os outros, transformando meras suspeitas em verdades absolutas, num comportamento que só pode ser apelidado de execrável. Refiro-me ao PSD. De facto, tal partido já demonstrou à saciedade que não tem ideias, nem propostas, alicerçando, por isso, a sua campanha na exploração dos referidos casos e nos ataques pessoais, e, ainda, no mais baixo populismo, ao referir asfixia democrática, medo, comparando Sócrates a Chávez. Se o povo português estivesse asfixiado democraticamente, se tivesse medo, provavelmente não se diriam nem escreveriam tantas asneiras, não se atentaria tão impunemente contra a dignidade dos outros, não se fariam as afirmações injuriosas que se fazem, não se realizariam tantas manifestações em total liberdade, mas algumas delas, quer pelas razões, quer pela oportunidade, absolutamente injustificáveis.
Debrucemo-nos no caso mais recente. Recente, porque, embora reportando-se a uma situação de há mais de um ano, ou seja, a eventualidade de o Presidente da República andar a ser vigiado pelo Governo, só agora apareceu, estrategicamente na comunicação social e não foi, com certeza, por obra e graça do dito Governo. Ora, sem quaisquer provas de que tal espionagem seja verdadeira, o PSD, dono de todas as verdades, segundo quer fazer parecer, dá como certo que tal facto é verdadeiro, sem que alguém, a começar pelo próprio Presidente da República, tenha a certeza de nada. Para o PSD, caluniar, deturpar, desinformar, é tão natural como beber um copo de água. Mas já agora, deixe-me fazer este raciocínio: relativamente ao e-mail publicado na comunicação social, em que um jornalista pede a outro jornalista que forje uma determinada notícia a pedido de um assessor do Presidente da República, por sugestão deste, ainda ninguém negou que isso tivesse sido forjado. Assessor, de nome Fernando Lima, jornalista, que enquanto director do Diário de Notícias terá impedido a jornalista Fernanda Câncio de publicar uma crónica negativa sobre Manuela Ferreira Leite. O homem tem currículo. Quero afirmar com toda a veemência, o que já fiz por diversas vezes, que não obstante Cavaco Silva não ter merecido o meu voto, ele é também o meu Presidente da República e respeito-o como tal e nem quero acreditar que ele se prestaria a tal papel. De qualquer forma, porque é que os elementos do PSD que se apressaram a condenar o governo, não têm manifestado a mesma postura em relação a Cavaco Silva?! Meu amigo, se vier a provar que o governo mandou espiar o Presidente da República é muito grave e este deveria tomar as medidas adequadas, em tempo útil, o que não me parece que possa acontecer. Todavia, se provar que o Presidente, ao invés de tomar as medidas adequadas para o efeito, se algum dia pressentiu que andava a ser vigiado, fez aquilo que o referido e-mail reporta, o seu crime não é menos grave e só tem uma saída digna: a renúncia. Portanto, é lamentável que o PSD só refira um aspecto, só veja num sentido. Não somos ingénuos ao ponto de pedir absoluta isenção aos partidos, mas que pelo menos tenham uma migalha de dignidade, de honestidade intelectual.
Quem não fica nada bem nesta fotografia é uma certa classe de jornalistas, que instrumentaliza, que se deixa instrumentalizar, isto é, está disponível, como diria o povo da minha terra, está de pernas abertas para fazer os mais asquerosos, mais deploráveis fretes, que desce ao nível mais baixo de alguns políticos. Nomeadamente, o director do Público que a uma hora lança uma grave afirmação de que o jornal estava sob escuta para mais tarde reconhecer que não houve nada de anormal no jornal. Não é este jornalismo que forja, que manipula, que mente, que Portugal precisa.
Deixe-me, no entanto, continuar a reflectir no assunto, porque ele se me afigura demasiado importante para que não façamos uma reflexão muito séria e aprofundada, ficando o jornalismo para outra ocasião. Creio que nada se vai decidir antes das eleições, que se realizarão daqui a quatro dias. Seja qual for o partido vencedor, ainda que seja o Partido Socialista, teremos um novo governo que, em termos legais, nada terá a ver com o actual. Imagine agora que se vem a comprovar que o governo pecou e Cavaco Silva está isento de qualquer culpa. Vai punir o próximo governo?! Embora não tenha formação jurídica, não me parece que o possa fazer, daí que a única resposta possível é “não pode”.
Imagine agora outra situação. O governo errou e se tudo o que o e-mail diz se confirmar Cavaco Silva também errou. Que legitimidade teria este para tomar qualquer atitude em relação àquele?
Repare na última situação. Vem a comprovar-se que apenas Cavaco Silva errou. Que fazer?! Pense em tudo isso.
Recordo a frase de Abraham Lincoln: “Há momentos na vida de qualquer político em que o melhor que pode fazer é não descerrar os lábios”.
Já agora, pelo andar da carruagem, e também não é novo o que vou dizer, Cavaco Silva ou tem muito azar com a escolha dos amigos, conselheiros, assessores, etc., ou é demasiado ingénuo, atributo que ele refuta, mas que, a existir, não é grande referência para um Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa veio à liça, com toda a legitimidade, fazer campanha pelo seu partido. È a obrigação de todos os militantes. Não concordando com ele diversas vezes, é um comentador que eu aprecio e que só não vejo e não oiço quando me é impossível. Esse sabe o que é um certo atentado à liberdade de expressão, no tempo em que o seu partido era governo. Bom, mas não é por aí que eu quero ir. Percebo que Marcelo Rebelo de Sousa pense que um qualquer governo minoritário não dure mais de dois anos. O que não percebo é que só não durará mais de dois anos se não for do PSD. Ora essa! Porque raio de diabo é que se o governo fosse do PSD duraria mais de dois anos? Será que, não sendo o Professor Marcelo da área das matemáticas, ande com dificuldade em fazer operações?! Acho que, neste momento, ninguém ousará contestar que, sejam quais forem os resultados eleitorais, a maioria será de esquerda. Não parece que PSD e CDS consigam maioria. Portanto, mesmo tendo em conta as dificuldades de entendimento entre PS, Bloco de Esquerda e CDU, eles em maioria, dificilmente deixariam cair um governo minoritário PS, para a eventualidade de o entregarem nas mão do PSD. “Dente lúpus cornu taurus petit” – o lobo ataca com os dentes, o touro com os chifres, isto é, cada um defende-se como pode.
Faça você a escolha que fizer, não deixe de ir cumprir o seu dever, no próximo domingo. Não deixe a responsabilidade de escolher quem quer na Assembleia da República e para nos governar, nas mãos dos outros.

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