terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rescaldo das legislativas

Conhecidos os resultados das eleições legislativas e não me causando outra surpresa que não fosse a subida significativa do CDS/PP, ouvidos os diversos líderes partidários e outros responsáveis, parece que nem foi o PS que ganhou as referidas eleições. Todos podem encontrar argumentos para, mais ou menos engenhosamente, afirmarem que ganharam e fazer uma grande festa. Todavia, quem de facto recebeu o maior número de votos dos portugueses foi o PS. Isso é inegável. Cada eleição é uma eleição diferente da outra, feita num determinado momento, com as suas especificidades. Bem sei que também é natural a comparação com resultados anteriores, mas isso não significa, só por si, que um determinado partido, porque perdeu votos em relação a uma eleição similar anterior se considere derrotado. Ganha quem obteve mais votos, independentemente dos resultados anteriores. Bem sei que a perda de votos relativamente a outras eleições tem de ser considerada, tem um significado, que os respectivos partidos devem ter em conta. Aliás, apesar de ganhar nas urnas, creio que nenhum partido gosta de descer em relação a resultados anteriores, mas isso não pode ofuscar a alegria da vitória, nem será razão suficiente para servir de regozijo desmedido, de consolação aos adversários. Também o ganho de votos relativamente a actos eleitorais anteriores é motivo de alegria. Deve sê-lo. Mas não é honesto que qualquer partido utilize os seus eventuais êxitos, ignorando os dos adversários ou fingindo mesmo que eles não existiram.
Transportando a posição dos partidos que consideram pura e simplesmente derrota o facto de um deles ter ganho, mas obtido um resultado inferior a uma anterior eleição, para o futebol, seria a mesma coisa que os adversários considerarem que um clube que na época passada vencera outro por 5 – 0, nesta época tenha vencido por apenas 2 – 0, sofrera uma derrota. Não, não é assim. Venceu, ponto final parágrafo.
É natural, portanto, que o CDS/PP tenha revelado uma enorme alegria com o seu resultado eleitoral. Conseguiu um óptimo resultado, considerando o seu histórico e até as sondagens, que Portas desvaloriza, embora a elas tenha estado ligado. Não obstante o seu resultado lhe permitir uma posição privilegiada naquilo que pode ser um entendimento de governo, parece-me algo exagerado considerá-lo, só por isso, só porque elegeu na maioria dos distritos, um partido nacional. Acho que para atingir esse desiderato ainda tem que subir muito a nível das autarquias. Não é com os autarcas que tem, alguns fruto de coligações, senão seriam provavelmente menos, que já merece tal distinção. Pode ser que um dia lá chegue. Seja como for, Paulo Portas, com muita demagogia, mas muito trabalho, aturado estudo dos dossiers, reconheça-se, conseguiu “levar a carta a Garcia”. É daqueles a quem também assentam bem as felicitações.
Quem inegavelmente saiu derrotado desta pugna eleitoral foi Manuela Ferreira Leite e o PSD. Os portugueses mostraram que já não vão na conversa daqueles que se intitulam como senhores absolutos da verdade. A líder laranja e os seus mais lídimos apoiantes deram demasiados tiros nos pés. Sócrates e o PS tiveram muito mérito na vitória, sobretudo se atentarmos à grave crise que atravessamos e todos os casos em que procuraram envolver o primeiro-ministro, o seu governo e o seu partido, ou seja, a toda uma conjuntura desfavorável, mas não há qualquer dúvida de que houve demérito do PSD, a começar pela sua líder, dado que, mesmo quando as sondagens davam algum equilíbrio entre os dois partidos ou mesmo favoritismo do PSD, todos os estudos de opinião revelavam uma esmagadora maioria de portugueses que preferiam Sócrates para primeiro-ministro, a Ferreira Leite.
Esperemos o que o futuro próximo nos reserva, no que concerne a eventuais acordos e o seu nível, as caras que formarão o novo governo, etc.
A avaliar pela reacção dos representantes dos partidos da oposição, sobretudo CDS, BE e PCP no programa Prós e Contras, qualquer um deles, parecendo que lhe crescera o “rei na barriga”, revelou uma enorme arrogância, pouco sentido de responsabilidade. Ao ouvi-los, quem não conhecesse os resultados eleitorais, quase ficaria com a ideia de que eles teriam sido os vencedores. Considero inadmissível que partidos com 8,9,10% dos votos dos portugueses entendam que ou as suas propostas de governação se encaixarão no programa de governo ou só resta o voto contra. Então, e a vontade dos 90% dos portugueses que votaram propostas diferentes?! Ao verificar tanta arrogância, a defesa intransigente do interesse partidário a sobrepor-se ao interesse nacional, fico a pensar como se atreveram a chamar arrogante a Sócrates e imagino como seria se amanhã algum deles tivesse votos suficientes para ser chamado a formar governo. Não há quem se consiga esconder debaixo da capa da hipocrisia eternamente. Quero acreditar que esta reacção seja apenas fruto da euforia dos resultados, mas que logo, logo, todos assentarão os pés no chão.
Que uns e outros desempenhem os seus papéis responsavelmente, sem atentar contra os seus princípios ideológicos, mas tendo sempre como prioridade o interesse nacional é o que se deseja.
Bom, no rescaldo de umas eleições, aí está nova campanha. Esta dá mais colorido, mais ruído às nossas aldeias, vilas e cidades. São cartazes e mais cartazes, carros e mais carros com som, papéis e mais papéis espalhados pelo chão, pelas mesas dos cafés, pelas caixas de correio. O desenvolvimento do país depende, muitas vezes, da capacidade que as freguesias e os municípios demonstrarem para os colocar na rota do progresso. Assim sendo, não se deveria brincar às candidaturas, deveria trabalhar-se no sentido de se candidatarem os melhores, de forma que, ganhasse quem ganhasse, haveria a certeza de que os interesses das nossas terras, maiores ou menores, mais ou menos importantes, seriam bem defendidos. O que nos é dado observar em algumas terras, só não dá vontade de rir, porque o futuro das freguesias, dos concelhos e das suas gentes é demasiado sério para que, ao invés de rir, nos entristeça muito. Teria menos dificuldade em aceitar determinadas candidaturas se fossem de geração independente. Com rótulo de partidos, só não direi que fico perplexo, porque de uma grande parte dos políticos já nada me espanta. Mas que é lamentável, lá isso é. Vão ver, meus amigos, que algumas candidaturas não vão ter tantos votos como o número de pessoas que figuram nos processos entregues em tribunal. Que credibilidade nos pode merecer tais partidos e as pessoas que se prestam a colaborar nessa farsa? Que lucram?
Nos cartazes de propaganda autárquica que vamos encontrando ao longo das nossas estradas, há nitidamente quatro palavras que ressaltam em relação a quaisquer outras: rosto, verdade, confiança, mudança. Assim temos várias frases repetidas ou semelhantes em diferentes freguesias e municípios: rosto da verdade, rosto da confiança, rosto da mudança, a verdade tem um rosto, a mudança tem um rosto. Digamos, em abono da verdade, que tanta repetição, não configura grande criatividade.
De um modo geral, estas eleições, aliás como sempre e tal como nas legislativas, são muito personalizadas, isto é, assentam nos méritos, nas virtudes, que às vezes só os apoiantes mais próximos conseguem descortinar, do cabeça de lista, do líder, ignorando-se pura e simplesmente todos os outros como se apenas eles existissem para fazer número. Infelizmente, muitas vezes assim é. Alguns não valem um carapau, sem ofensa para este.

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