terça-feira, 15 de setembro de 2009

Campanha eleitoral

Cá estamos no auge da campanha eleitoral para as legislativas e com as autárquicas a rabear. Mais ou menos os discursos costumeiros com os partidos que ficam fora daqueles que habitualmente alternam o poder a enveredar pelo populismo desenfreado, apresentando medidas que eles próprios sabem muito bem que são irrealistas, mas que, no seu entender, podem servir para captar mais meia dúzia de votos, que, às vezes, são suficientes para eleger mais um deputado. Por sua vez, os dois partidos que verdadeiramente concorrem para governar, isto é, o PS e o PSD, vão-se culpando mutuamente e fazem algumas afirmações com tamanha naturalidade, melhor, com tal descaramento, como se ontem não tivessem defendido exactamente o contrário. Quando digo que apenas os dois partidos concorrem para governar, não pretendo subestimar nenhum dos outros, mas creio que pensar que hoje seria possível qualquer um deles, que não o PS e o PSD, ganhar as eleições seria tão utópico como algumas das suas propostas. Um dia, daqui a alguns anos, talvez lá cheguemos e oxalá que sim, mas nessa altura o seu discurso será, obviamente, diferente.
De qualquer forma, destes tempos de pré-campanha, de debates e de início de campanha, um dos candidatos a primeiro-ministro, exactamente Manuela Ferreira Leite, não conseguiu, num único debate, mostrar o mínimo rasgo, a mínima preparação para encabeçar um governo que tem de dirigir um país com debilidades, fruto da grave crise económico-financeira internacional que não poderia deixar de nos afectar. Uma líder que revela à saciedade que não se prepara para os debates, que não consegue dominar um único, que provavelmente, em alguns deles, não foi massacrada pelo simples facto de ser senhora, que não revela ambição, tê-la como primeiro-ministro seria matar o sonho, a esperança dos portugueses em melhores dias, seria tornar-lhes os dias negros e as noites de insónias, logo a partir de 27 de Setembro.
De algumas coisas todos temos a certeza: a maioria dos eleitores divide-se pelos partidos chamados de esquerda; por outro lado, quem vai governar será José Sócrates ou Manuela Ferreira Leite. Não me parece que à esquerda mais radical, isto é, Bloco de Esquerda e CDU, seja indiferente governar um ou governar o outro, não obstante as discordâncias que tenham em relação a Sócrates. Parece-me, pois, que na hora da decisão final, isto é, no momento de colocar a cruz, muitos pensarão duas vezes e, não querendo correr riscos, darão guarida àquilo que eu considero o senso de esquerda.
Voltando atrás e às afirmações controversas dos candidatos ou seus apoiantes, aí, Manuela tem-se feito notar. Veja só: acha que o governo, que legitimamente foi eleito para governar até ao fim do mandato, a menos que a Assembleia da República tivesse sido dissolvida, deveria apenas praticar actos de gestão, precisamente o que o seu partido não fez quando a Assembleia foi dissolvida na última legislatura. Afirma que ela não está a ser julgada. Ora essa, então os eleitores não estarão a julgar o seu comportamento, a sua capacidade, as suas ideias, o seu programa, para poderem escolher? Claro que sim, aliás como todos os outros candidatos. Justificando a sua infeliz intervenção, sei lá, provavelmente condizente com o seu pensamento, defendendo o exemplo de governação democrática da Madeira, afirmou que Jardim foi eleito democraticamente. Bom, já muitos se referiram a inúmeros ditadores eleitos em eleições ditas democráticas, mas eu fugiria daí e questionaria se no continente os seus deputados e os dos outros partidos, os autarcas, o Presidente da República, etc., não foram eleitos democraticamente.
Por sua vez, o impagável Alberto João Jardim teve estas duas tiradas: A primeira tem a ver com a acusação de ele ser um falso candidato a deputado e ele faz a seguinte afirmação: “Sócrates é candidato a primeiro-ministro e candidato a deputado, não venham cá com conversa de chachada”. Mas nós já tivemos algum primeiro-ministro sem ser candidato a deputado, excluindo, obviamente, os de nomeação presidencial?
A segunda tem a ver com o debate entre Sócrates e Manuela e ele afirma: “ a dr.ª Manuela deu um banho a Sócrates”. Bom, fiquei a saber que Alberto João Jardim, além de ser passado dos carretos, é cego e surdo. Valha-nos Deus.
A propósito do TGV, que Manuela Ferreira Leite, aquando da sua passagem pelo governo, entendeu como um bom investimento, capaz de gerar emprego, e não se contentava com uma, duas ou três linhas; agora, na oposição, mudou a “agulha” e diz não querer favorecer os espanhóis, que lutará pela independência económica de Portugal. Mas que independência, nesta era global? Esqueceu-se que estamos integrados na União Europeia?!
Sinceramente, ao ouvi-la defender o exemplo de governação democrática da Madeira, a sugerir a suspensão da democracia por seis meses e agora a falar de independência económica, veio-me à ideia o tempo do “orgulhosamente sós” que todos sabemos o que nos rendeu.
Por diversas vezes aqui manifestei a minha antipatia pela generalidade dos actores políticos, mas também sempre afirmei que nunca deixaria de votar. Não o fazer talvez seja um acto de cobardia. Votar nulo ou votar em branco, também não aponta qualquer solução. Esmiucemos bem o que é que qualquer candidato ou partido nos pode oferecer e, mesmo discordando de todos, mesmo nenhum nos agradando, sempre haveremos de encontrar num deles algo mais positivo do que no outro, que nos fará merecer o nosso voto, ainda que “engolindo alguns sapos”. Importante é não deixar de votar, é não deixar a responsabilidade da escolha para os outros.

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