segunda-feira, 30 de maio de 2011

Falando de assédio sexual

Há cerca de duas décadas, já eu, numa crónica que fazia todos os dias úteis para uma estação de rádio do Vale do Sousa, me questionava por que razão se mantinha a tentação de condenar apenas os homens por assédio sexual. Digo mantinha porque, à época, já as mulheres tinham adquirido muitos direitos que as equiparavam aos homens e elas próprias, e muito bem, se arrogavam dos mesmos direitos, mas também não gostavam de privilégios, que seriam sempre uma forma de discriminação. Isto acontecia sobretudo no seio das mulheres mais informadas.
Embora o assédio sexual seja tema frequente nos nossos órgãos de comunicação social, está agora um pouco mais mediatizado pela acusação que recai sobre o francês, ex-director do FMI, Dominique Strauss-Kahn e, embora com atraso relativamente aos presumíveis actos, por influência do primeiro, a acusação sobre outro francês, presidente da Câmara de Draveil e secretário de estado da função pública, Georges Tron.
Bom, eu não quero comentar estes casos em concreto, até porque conhecendo apenas o que os media informam, não poderia fazer nada mais do que especular. Interessa-me retomar a ideia que me conduziu à minha crónica supracitada.
Desde que o assédio seja feito com alguma elevação – talvez estranhe a expressão quem facilmente levanta o dedo acusatório – sem intervenção de força ou violência, não me parece que seja acto assim tão condenável. E antes de continuar, deixe-me afirmar que considero que não pôr o assédio sexual masculino em pé de igualdade com o feminino é continuar a conceder à mulher o estatuto de menoridade, que ela rejeita, apesar dos avanços que se têm registado relativamente ao reconhecimento dos seus direitos.
É provável que seja mais frequente o assédio sexual por parte do homem em relação à mulher, mas o contrário também se verifica e não é apenas nos tempos que correm. Recordo-me perfeitamente, e deixe-me confidenciar-lhe que com alguma nostalgia, que, ainda jovem estudante ou já professor e militar, era frequentemente assediado por bonitas (umas mais do que outras) mulheres, algumas ainda adolescentes. Fui solucionando caso a caso sem nunca me ter passado pela cabeça fazer queixa à justiça. Tive, todavia algumas preocupações, que não passaram disso mesmo, a nível militar, porque de assediado pretendiam fazer de mim o assediador. Estávamos na década de sessenta e a convicção reinante era de que o assédio partia sempre do homem. Em termos de convicção isto não mudou muito, pelos vistos. Tenho que confessar que o assédio, salvo raras excepções, me provocava excitantes momentos de prazer. Desafio o homem que se preze de o ser a dizer que não se derrete todo se sentir assediado por uma graciosa e curvilínea mulher.
Também sei que muitas virtuosas mulheres não desdenham um assédio que não ultrapasse determinados limites. E até vão confidenciar, orgulhosas, às suas amigas. Cada uma cede ou rejeita, nem sempre de acordo com os apetites, mas com receios e preconceitos. Não poucas vezes, o assédio sexual funciona como um excelente afrodisíaco. Pena é que quando homens e mulheres mais precisam dele, raramente aconteça.
Hoje, mais do que nunca, já não é correcto falar exclusivamente de assédio de homem para com mulher ou vice-versa. Ele verifica-se, começa a ser com alguma naturalidade, entre indivíduos do mesmo sexo. Devo dizer que não tenho qualquer preconceito em relação a gays e lésbicas. Convivi, aquando do cumprimento do serviço militar com um camarada homossexual – paneleiro, como se chamava em português corrente – e com duas simpáticas lésbicas assumidas que viviam juntas e gostavam muito de conversar comigo e mais 3 ou 4 militares que todos os dias nos juntávamos num café de Oeiras. Preconceitos, de facto não tinha, mas ser assediado por um homossexual não suportava. Quando isso acontecia era como um furacão entrasse dentro de mim.
Vá lá, se você é heterossexual, um assédio feito por alguém que não lhe repugne, pode dar-lhe uma nova vitalidade. Não vá à polícia. Rejeite ou ceda, conforme as circunstâncias. Se for assediado(a) é sinónimo de que ainda tem alguns “atributos”.

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