sexta-feira, 27 de maio de 2011

Provocam-me náuseas

Por força de algumas funções que desempenhei, nomeadamente no cumprimento de serviço militar em tempo de guerra colonial e como bombeiro, passei por muitas situações daquelas, que mesmo os mais fortes têm dificuldade em suportar sem que isso lhes provoque algumas náuseas. Pessoas gravemente feridas, quase desfeitas, mortas ou a agonizar, carbonizadas, etc., não proporcionam um espectáculo que não mexa com a sensibilidade ou o estômago do mais frio e duro dos humanos. Com maior ou menor dificuldade sempre ultrapassei as mais diversas situações com que me deparei sem sucumbir. Ultrapassei sempre as dificuldades com a enorme tristeza que me provocava a infelicidade, a tragédia que batera à porta de gente como eu, mas terminando sempre com o sentimento reconfortante do dever cumprido.
Acontece agora, como tem acontecido noutros períodos eleitorais, que o que vejo, ao vivo, ou através dos media me provoca muito mais náuseas do que todas as situações referidas que já vivi. Assistir a este espectáculo degradante de ver, por feiras e mercados, pelas ruas de aldeias, vilas e cidades, indivíduos normalmente sisudos, não reconhecendo mais ninguém do que aqueles que habitualmente se sentam à mesma mesa e comem do mesmo tacho, aos beijinhos e abraços, às palmadinhas nas costas, a pegar na enxada sem qualquer jeito, a apanhar cerejas e bonés, numa simpatia de partir corações, a dizer uma coisa num local e o seu inverso no outro, conforme os interesses daqueles que ainda têm pachorra para os ouvir, enoja-me, dá-me vontade de vomitar. Se nós não os conhecêssemos, ainda lhes poderíamos dar o benefício da dúvida. Mas não, conhecemo-los de ginjeira.
Quantos reclamam hoje por coisas que ontem tiveram oportunidade de fazer e não fizeram.
Não me apetecia falar em nenhum líder em particular, mas não posso deixar de me referir a Passos Coelho. Mesmo que não estivesse totalmente de acordo com os que reconhecem nele falta de experiência para liderar um Partido que seja da envergadura do PSD, muito menos o governo, a sua caminhada, desde a queda do governo que ele patrocinou, e com muito mais veemência, na pré-campanha e campanha eleitoral, veio desfazer qualquer dúvida. Ele, de facto, não está minimamente preparado para liderar um governo tais são os ziguezagues que tem feito, as mudanças de opinião e a falta de pulso, que não tem nada a ver com autoritarismo.
“A política é o local de trabalho de certos cérebros medíocres”.
Só ouvindo, posso tomar consciência do que será melhor ou pior para o meu país, por isso, apesar do nojo, apesar do que isso me custa, vou ouvindo, se bem que estou consciente que nenhum governo que não aposte verdadeiramente na restauração dos valores que não são de ontem nem de hoje, mas de sempre, que não aposte numa verdadeira educação cívica, num autêntico exercício da cidadania, numa justiça oportuna e séria que trate os poderosos e os frágeis de igual forma, que não aposte numa verdadeira democracia e num correcto conceito de liberdade, conseguirá levar este país a bom porto.
Tenho a mais séria convicção de que, infelizmente, vou continuar a ter náuseas.
“Em política está-se em contacto com a sujidade e é preciso muita higiene para não se cheirar mal”.

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