Hoje é um daqueles dias em que parece que o Sol se esqueceu de aparecer, é um daqueles dias em que tudo se conjuga para não gozarmos de um só momento para sorrir. A vestir a minha alma gélida, o corpo se sente alquebrado e frio por esta temperatura que está longe dos dois dígitos.
Logo pela manhã, abrindo o Jornal Miradouro, tomo conhecimento da morte de um dos cinfanenses, ilustre cinfanense, por quem nutro – digo nutro, porque vou continuar a nutrir - mais respeito, consideração, amizade: Manuel Caetano de Oliveira. Manuel Caetano de Oliveira, que conheci e com quem comecei a contactar antes do 25 de Abril com que sonhávamos, desde logo me cativou pela sua simpatia, pela sua sabedoria, pela sua simplicidade. Infelizmente, a vida não me proporcionou contactar com ele tanto quanto eu desejaria. Que bem me teria feito! Quanto eu teria aprendido! Quanto prazer me teria dado!
Para mim, Caetano de Oliveira é uma das maiores e poucas referências cinfanenses como democrata. E que magnífica pena a dele!
Sei que ele tinha uma admiração por mim que eu não merecia. Mesmo que a não tivesse, a minha admiração por ele não seria afectada minimamente, porque as suas qualidades se impunham.
Tolhido por esta triste notícia, recebo outra: a morte repentina, inesperada, prematura de outro grande e bom amigo, amigo incondicional, outra alma boa, generosa, altruísta, trabalhador incansável: o comandante dos Bombeiros de Armamar.
Fiquei mais pobre, ficamos todos mais pobres com a partida de gente desta estatura, sobretudo quando nós verificamos que dos que vão ficando, cada vez são menos aqueles em quem podemos confiar, tal é a podridão que por aí grassa.
Como se tudo isto não chegasse, tomo conhecimento que meu pai, lá longe, no Brasil para onde partiu quase há 64 anos, agoniza penosamente, consumindo, sei lá, os últimos dias, as últimas horas.
Bom, mas eu quero sobreviver, porque ainda há quem precise de mim. A tristeza é muita, mas a coragem não é menor.
A melhor forma de homenagearmos a bondade dos que partiram é procurar seguir-lhes o exemplo.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
O poder e os media
Dizia eu há dias que o poder sabe tão bem da importância, da força dos órgãos de comunicação social, que tudo faz para os controlar, para os ter do seu lado, para os ter ao seu serviço, se puder. Parece-me que poucos, dos que detêm qualquer espécie de poder, seja político, económico, religioso, corporativo, associativo, podem atirar a primeira pedra. Em termos políticos, começando pelas autarquias, passando pelas mais importantes instituições da administração pública, pelos partidos políticos, chegando ao governo, não me parece que haja grande legitimidade de qualquer desses órgãos ou instituições para acusar quem quer que seja. De uma forma ou de outra, às vezes de forma muitíssimo bem dissimulada, quase todos são vítimas dessa tentação. Mesmo em autarquias relativamente pequenas ou de fracos recursos económicos há a tentativa de controlo, através de subsídios mais ou menos avantajados ou outras artimanhas pouco transparentes, de jornais ou rádios locais. Sabendo-se das dificuldades económicas que a maioria destes órgãos tem para sobreviver, é relativamente fácil tê-los na mão. Quem luta pelo poder, já há muito chegou à conclusão de que para o conquistar ou manter, neste tipo de sociedade em que vivemos, só é possível com a ajuda da comunicação social. Esta promove, glorifica, entroniza, mas também destrói, derruba. Depende do lado em que estiver. Já disse isso antes, que Napoleão tinha essa consciência quando afirmava que “quatro jornais adversos podem fazer mais mal do que um exército de cem mil homens”.
Não devemos esquecer, todavia, que essa capacidade de glorificar, tanto como de destruir, faz da comunicação social, também um poder, exactamente o quarto. E como poder, com características bem diferentes de todos os outros, também tem necessidade de controlar, manipular, chantagear os outros poderes. Criam-se, então, ora lutas, ora alianças, entre os vários poderes, conforme as conveniências de uns e outros. É óbvio que há excepções, quer por parte de quem detém qualquer espécie de poder, quer por parte dos jornalistas. Dos que o detêm, aqueles que resistem à tentação de controlar a comunicação social, por mais e melhores qualidades que se lhes reconheçam, o que se espera é um poder efémero. Nos jornalistas, felizmente, ainda há alguns que, de acordo com Lord Byron embora fiquem sozinhos, não trocariam o seu pensamento livre por um trono. Correm, no entanto, o risco de não sobreviverem e, por isso, alguns acomodam-se ou vendem-se.
Quando leio ou oiço falar em liberdade de expressão ou na falta dela, há muitas afirmações que me fazem muita confusão, ou antes, parece-me que se faz muita confusão à volta do assunto, segundo o meu ponto de vista. No regime em que vivemos, uma democracia, embora com inúmeras deficiências e fragilidades, muitas devidas ao desconhecimento do que é a verdadeira democracia e as suas regras, por parte de muitos cidadãos, parece-me que a vontade, embora nunca expressa nem admitida, obviamente, de controlar a comunicação social, só por si, não significa que a liberdade de expressão não exista. A busca de controlo não é exactamente a proibição de dizer isto e a obrigação de dizer aquilo. O controlo só é efectivo, só resulta quando os directores dos diversos media e/ou jornalistas se deixam controlar. E digo isto com toda a convicção, porque, mesmo em ditadura, sempre houve homens e mulheres livres que “não temeram ir até ao fim do seu pensamento”.
Com este meu raciocínio não pretendo “passar uma borracha”, branquear a acção de todos aqueles que manipulam, chantageiam, procuram ter a comunicação social nas suas mãos. Não, antes pelo contrário, eles merecem-me toda a repulsa, até porque já sofri isso na pele, antes do 25 de Abril.
Não alinho no coro daqueles que gritam que já não temos liberdade ou estamos a um passo de a perder, quando muitos desses sempre tiveram e continuam a ter, pelas políticas que praticam e como as defendem, comportamentos antidemocráticos, atentatórios da liberdade, nem alinho ao lado dos que não se cansam de suspirar por Salazar e afirmar que temos liberdade a mais. Não há liberdade a mais nem liberdade a menos. O que há é um grande desconhecimento, por parte de muitos, do que significa liberdade e um mau uso dela, porque ela tem fronteiras que não devem ser ultrapassadas. Quando, em nome da liberdade, se infringem as leis, está-se exactamente a atentar contra essa mesma liberdade.
A publicação de escutas telefónicas, verdadeiras ou mesmo fabricadas, está na berra. Há diversas opiniões a respeito de tal publicação. Desde logo, algumas são produzidas de acordo com o interesse dos visados. Mas também há muitas, e diversificadas, de pessoas que nelas não estão envolvidas. Eu também tenho o meu ponto de vista. Mesmo que porventura seja uma opinião singular, isolada, não interessa: é a minha, sem qualquer condicionamento. Choca-me, causa-me uma repulsa enorme ver transcrições de escutas, que, ao que se sabe, estariam em segredo de justiça. Isto é que não me parece que tenha nada a ver com liberdade e democracia, pelo menos segundo o meu conceito. Acho que é muito grave haver operadores judiciais, provavelmente mesmo a nível de juízes, que põem essas ditas peças nas mãos de jornalistas que as aceitam, certamente pediram, e publicam. Se isso para mim já é incompreensível e altamente condenável, ainda o é, possivelmente mais, verificar que toda essa escumalha fica completamente impune. Aliás, parece-me que mesmo os tribunais não se preocupam em averiguar quem, no seu interior, praticou tais crimes. Sim, não sei se o serão em termos legais, mas para mim são crimes. Fico completamente espantado com semelhantes procedimentos, verdadeiros atentados à democracia e destruidores, como tantas outras coisas, da confiança que se deveria ter na justiça.
Deixe-me dizer isto ainda: atentado à liberdade de expressão é publicar uma conversa privada que eu tenho com um amigo, porque me escutaram no telefone ou na mesa do café ao lado. Todos nós dizemos coisas em privado, muitas vezes falando de amigos até, que não o diríamos em público. Di-lo-íamos mais depressa ao amigo cara a cara. Isso pode trazer consequências muito graves. E depois, mesmo que não tenha outras, tem o inevitável julgamento na rua. Daqui a pouco, por este andar, cada um de nós tem toda a sua vida exibida na praça pública. Permitir todas estas coisas é o mesmo que admitir e mesmo patrocinar o assassínio de carácter, a acção dos bufos, as milícias, a justiça popular.
Entretanto, e como diria o “rei” da Madeira e do entrudo, bom carnaval.
Não devemos esquecer, todavia, que essa capacidade de glorificar, tanto como de destruir, faz da comunicação social, também um poder, exactamente o quarto. E como poder, com características bem diferentes de todos os outros, também tem necessidade de controlar, manipular, chantagear os outros poderes. Criam-se, então, ora lutas, ora alianças, entre os vários poderes, conforme as conveniências de uns e outros. É óbvio que há excepções, quer por parte de quem detém qualquer espécie de poder, quer por parte dos jornalistas. Dos que o detêm, aqueles que resistem à tentação de controlar a comunicação social, por mais e melhores qualidades que se lhes reconheçam, o que se espera é um poder efémero. Nos jornalistas, felizmente, ainda há alguns que, de acordo com Lord Byron embora fiquem sozinhos, não trocariam o seu pensamento livre por um trono. Correm, no entanto, o risco de não sobreviverem e, por isso, alguns acomodam-se ou vendem-se.
Quando leio ou oiço falar em liberdade de expressão ou na falta dela, há muitas afirmações que me fazem muita confusão, ou antes, parece-me que se faz muita confusão à volta do assunto, segundo o meu ponto de vista. No regime em que vivemos, uma democracia, embora com inúmeras deficiências e fragilidades, muitas devidas ao desconhecimento do que é a verdadeira democracia e as suas regras, por parte de muitos cidadãos, parece-me que a vontade, embora nunca expressa nem admitida, obviamente, de controlar a comunicação social, só por si, não significa que a liberdade de expressão não exista. A busca de controlo não é exactamente a proibição de dizer isto e a obrigação de dizer aquilo. O controlo só é efectivo, só resulta quando os directores dos diversos media e/ou jornalistas se deixam controlar. E digo isto com toda a convicção, porque, mesmo em ditadura, sempre houve homens e mulheres livres que “não temeram ir até ao fim do seu pensamento”.
Com este meu raciocínio não pretendo “passar uma borracha”, branquear a acção de todos aqueles que manipulam, chantageiam, procuram ter a comunicação social nas suas mãos. Não, antes pelo contrário, eles merecem-me toda a repulsa, até porque já sofri isso na pele, antes do 25 de Abril.
Não alinho no coro daqueles que gritam que já não temos liberdade ou estamos a um passo de a perder, quando muitos desses sempre tiveram e continuam a ter, pelas políticas que praticam e como as defendem, comportamentos antidemocráticos, atentatórios da liberdade, nem alinho ao lado dos que não se cansam de suspirar por Salazar e afirmar que temos liberdade a mais. Não há liberdade a mais nem liberdade a menos. O que há é um grande desconhecimento, por parte de muitos, do que significa liberdade e um mau uso dela, porque ela tem fronteiras que não devem ser ultrapassadas. Quando, em nome da liberdade, se infringem as leis, está-se exactamente a atentar contra essa mesma liberdade.
A publicação de escutas telefónicas, verdadeiras ou mesmo fabricadas, está na berra. Há diversas opiniões a respeito de tal publicação. Desde logo, algumas são produzidas de acordo com o interesse dos visados. Mas também há muitas, e diversificadas, de pessoas que nelas não estão envolvidas. Eu também tenho o meu ponto de vista. Mesmo que porventura seja uma opinião singular, isolada, não interessa: é a minha, sem qualquer condicionamento. Choca-me, causa-me uma repulsa enorme ver transcrições de escutas, que, ao que se sabe, estariam em segredo de justiça. Isto é que não me parece que tenha nada a ver com liberdade e democracia, pelo menos segundo o meu conceito. Acho que é muito grave haver operadores judiciais, provavelmente mesmo a nível de juízes, que põem essas ditas peças nas mãos de jornalistas que as aceitam, certamente pediram, e publicam. Se isso para mim já é incompreensível e altamente condenável, ainda o é, possivelmente mais, verificar que toda essa escumalha fica completamente impune. Aliás, parece-me que mesmo os tribunais não se preocupam em averiguar quem, no seu interior, praticou tais crimes. Sim, não sei se o serão em termos legais, mas para mim são crimes. Fico completamente espantado com semelhantes procedimentos, verdadeiros atentados à democracia e destruidores, como tantas outras coisas, da confiança que se deveria ter na justiça.
Deixe-me dizer isto ainda: atentado à liberdade de expressão é publicar uma conversa privada que eu tenho com um amigo, porque me escutaram no telefone ou na mesa do café ao lado. Todos nós dizemos coisas em privado, muitas vezes falando de amigos até, que não o diríamos em público. Di-lo-íamos mais depressa ao amigo cara a cara. Isso pode trazer consequências muito graves. E depois, mesmo que não tenha outras, tem o inevitável julgamento na rua. Daqui a pouco, por este andar, cada um de nós tem toda a sua vida exibida na praça pública. Permitir todas estas coisas é o mesmo que admitir e mesmo patrocinar o assassínio de carácter, a acção dos bufos, as milícias, a justiça popular.
Entretanto, e como diria o “rei” da Madeira e do entrudo, bom carnaval.
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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Informar e concluir com acerto
Tenho o maior respeito pelos jornalistas, de uma forma geral. Há alguns, todavia, que não me merecem a mínima consideração, antes repulsa. Pelo que lemos, pelo que vemos e ouvimos, não é difícil constatar que, nessa classe, como em qualquer outra, há autênticos escroques. Mesmo não sendo propriamente escroques, alguns, por deficiente formação, sei lá, por pressão das redacções, porque a concorrência é demasiada e obriga a chegar primeiro, sabendo-se que a pressa é inimiga da perfeição, não tratam a informação com o cuidado que se deve exigir. O cuidado que se deve ter na recolha, tratamento e difusão das notícias é tão mais importante, porquanto nós sabemos da sua enorme importância na formação da consciência dos cidadãos. Quanto mais e sobretudo melhor informadas estiverem as pessoas, melhor será a qualidade da democracia. Os diversos órgãos de comunicação social, têm um papel importantíssimo e insubstituível na democracia, tanto podendo contribuir para o seu desenvolvimento, para o seu aperfeiçoamento, como para a sua decadência e mesmo extinção.
Os órgãos de comunicação social, sobretudo através da sua parte noticiosa, são tão importantes que quem detém o poder e nele quer permanecer, como quem o aspira, faz tudo, mesmo atentando contra as regras democráticas para os controlar. Ninguém, de facto, ignora a força da comunicação social. Já Napoleão tinha essa consciência quando afirmava que “quatro jornais adversos podem fazer mais mal do que um exército de cem mil homens”.
Não vou falar aqui de direitos, deveres, qualidades dos jornalistas, até porque estaria a “meter a foice em seara alheia”, mas não me abstenho, todavia de reflectir e dizer o que penso relativamente a alguns trabalhos jornalísticos. Acompanho com natural interesse os blocos noticiosos e algumas reportagens sobre temas com que estou mais familiarizado ou que me despertem mais interesse. Provavelmente, algumas reportagens apresentarão deficiências que eu não descortino porque não estou devidamente identificado com o tema. Há outras, todavia, que conhecendo razoavelmente o assunto, é fácil verificar que, sobretudo ao nível das conclusões, são incorrectas e, ao invés de informarem, desinformam. Não prestam, pois um bom serviço. Acredito, no entanto, que a culpa não caberá por inteiro ao jornalista, mas também, algumas vezes, a um ou mais dos seus interlocutores.
Vou dar um exemplo de como os cidadãos ficam mal informados, fazendo muitas vezes exigências indevidas, através de um trabalho jornalístico de um dos nossos canais televisivos.
Era um caso igual a muitas outras maleitas que ainda infestam este nosso Portugal. No caso concreto era uma reportagem feita numa aldeia, algures por aí, que, tendo o médico do Posto de Saúde metido férias, os doentes, a maioria das pessoas, de fracos recursos, sem transporte próprio e talvez sem o transporte publico adequado, se queixava de ter de ir à urgência ao Centro de Saúde da Vila, se adoecesse repentinamente. Isto é o que se passa em todas as aldeias e muitas vilas. O médico falta por doença ou por férias, os utentes têm de esperar. Normalmente as consultas são programadas, marcadas e, sobretudo quando se trata de férias, não há grande problema. De qualquer forma, entendo que sempre que um médico falta, seja pelo motivo que for, deveria ser substituido.
Bom, mas o meu reparo tem a ver com o seguinte, que faz com que eu entenda que a reportagem não foi até onde deveria ir: quem ouve a reportagem, fica com a ideia, e é isso que a jornalista e alguns interlocutores concluem, que esses Postos de Saúde atendem emergências. Ora isso não é verdade. Mesmo em períodos em que o ou os médicos estejam em serviço na unidade de saúde local, qualquer pessoa vítima de acidente ou doença súbita tem de se deslocar aos serviços de urgência mais próximos. Portanto, isto acontece todos os dias, com ou sem médico, acontece todas as noites, acontece todos os sábados, domingos e feriados. É, pois, um erro concluir-se e levar-se a concluir que as pessoas de determinada freguesia ou vila ficam mais desprotegidas quando o médico do Posto está doente ou de férias, porque, em qualquer das circunstâncias, em emergência, têm de recorrer sempre aos Serviços de Urgência.
O mal, portanto, não vem por aí. Não se deve confundir emergência médica com cuidados de saúde continuada. Mas que há ainda muitos problemas ao nível da saúde por resolver, lá isso há. E que quem mais sofre com isso são as classes mais desfavorecidas, também é verdade.
Parece-me, também, que há médicos que por inépcia ou outra qualquer razão se escusam a esclarecer o que seria fácil. Há outros, mesmo, que ignorando as regras pelas quis se devem reger, porque as não conhecem, que é grave, tomam decisões desajustadas com manifesto prejuízo para os doentes, que é o mais importante, mas até para os seus próprios colegas. Sabendo eles, ou pelo menos devendo saber, que nos Postos de Saúde, não existe a tal urgência, que as consultas são por marcação, não poucas vezes, enviam doentes com alguma gravidade para o seu médico de família, sem lhes dar a adequada assistência no momento.
Dos jornalistas espero que quando abordarem estes assuntos ligados à saúde, sejam mais objectivos, investiguem com mais profundidade o funcionamento das instituições. Veremos que nem sempre a culpa está do lado dos médicos, mas também há muitos que vão vivendo impunes, enquanto alguns de nós se vão crucificando nas suas mãos. Para bem de todos nós.
Os órgãos de comunicação social, sobretudo através da sua parte noticiosa, são tão importantes que quem detém o poder e nele quer permanecer, como quem o aspira, faz tudo, mesmo atentando contra as regras democráticas para os controlar. Ninguém, de facto, ignora a força da comunicação social. Já Napoleão tinha essa consciência quando afirmava que “quatro jornais adversos podem fazer mais mal do que um exército de cem mil homens”.
Não vou falar aqui de direitos, deveres, qualidades dos jornalistas, até porque estaria a “meter a foice em seara alheia”, mas não me abstenho, todavia de reflectir e dizer o que penso relativamente a alguns trabalhos jornalísticos. Acompanho com natural interesse os blocos noticiosos e algumas reportagens sobre temas com que estou mais familiarizado ou que me despertem mais interesse. Provavelmente, algumas reportagens apresentarão deficiências que eu não descortino porque não estou devidamente identificado com o tema. Há outras, todavia, que conhecendo razoavelmente o assunto, é fácil verificar que, sobretudo ao nível das conclusões, são incorrectas e, ao invés de informarem, desinformam. Não prestam, pois um bom serviço. Acredito, no entanto, que a culpa não caberá por inteiro ao jornalista, mas também, algumas vezes, a um ou mais dos seus interlocutores.
Vou dar um exemplo de como os cidadãos ficam mal informados, fazendo muitas vezes exigências indevidas, através de um trabalho jornalístico de um dos nossos canais televisivos.
Era um caso igual a muitas outras maleitas que ainda infestam este nosso Portugal. No caso concreto era uma reportagem feita numa aldeia, algures por aí, que, tendo o médico do Posto de Saúde metido férias, os doentes, a maioria das pessoas, de fracos recursos, sem transporte próprio e talvez sem o transporte publico adequado, se queixava de ter de ir à urgência ao Centro de Saúde da Vila, se adoecesse repentinamente. Isto é o que se passa em todas as aldeias e muitas vilas. O médico falta por doença ou por férias, os utentes têm de esperar. Normalmente as consultas são programadas, marcadas e, sobretudo quando se trata de férias, não há grande problema. De qualquer forma, entendo que sempre que um médico falta, seja pelo motivo que for, deveria ser substituido.
Bom, mas o meu reparo tem a ver com o seguinte, que faz com que eu entenda que a reportagem não foi até onde deveria ir: quem ouve a reportagem, fica com a ideia, e é isso que a jornalista e alguns interlocutores concluem, que esses Postos de Saúde atendem emergências. Ora isso não é verdade. Mesmo em períodos em que o ou os médicos estejam em serviço na unidade de saúde local, qualquer pessoa vítima de acidente ou doença súbita tem de se deslocar aos serviços de urgência mais próximos. Portanto, isto acontece todos os dias, com ou sem médico, acontece todas as noites, acontece todos os sábados, domingos e feriados. É, pois, um erro concluir-se e levar-se a concluir que as pessoas de determinada freguesia ou vila ficam mais desprotegidas quando o médico do Posto está doente ou de férias, porque, em qualquer das circunstâncias, em emergência, têm de recorrer sempre aos Serviços de Urgência.
O mal, portanto, não vem por aí. Não se deve confundir emergência médica com cuidados de saúde continuada. Mas que há ainda muitos problemas ao nível da saúde por resolver, lá isso há. E que quem mais sofre com isso são as classes mais desfavorecidas, também é verdade.
Parece-me, também, que há médicos que por inépcia ou outra qualquer razão se escusam a esclarecer o que seria fácil. Há outros, mesmo, que ignorando as regras pelas quis se devem reger, porque as não conhecem, que é grave, tomam decisões desajustadas com manifesto prejuízo para os doentes, que é o mais importante, mas até para os seus próprios colegas. Sabendo eles, ou pelo menos devendo saber, que nos Postos de Saúde, não existe a tal urgência, que as consultas são por marcação, não poucas vezes, enviam doentes com alguma gravidade para o seu médico de família, sem lhes dar a adequada assistência no momento.
Dos jornalistas espero que quando abordarem estes assuntos ligados à saúde, sejam mais objectivos, investiguem com mais profundidade o funcionamento das instituições. Veremos que nem sempre a culpa está do lado dos médicos, mas também há muitos que vão vivendo impunes, enquanto alguns de nós se vão crucificando nas suas mãos. Para bem de todos nós.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Maravilhas naturais
Ouvem-se por aí, abundantemente, afirmações louvando as belas maravilhas naturais do concelho de Cinfães, que de facto existem e não são assim tão poucas. Ouvem-se e lêem-se, saídas do cidadão comum, mais culto ou menos culto, mas que tem a noção do belo, ou saídas daqueles que, tendo responsabilidades políticas, têm o dever de ir mais longe do que a mera constatação da existência de tais maravilhas. Até há quem veja na exploração – exploração com sentido positivo – de tais maravilhas, associadas à gastronomia cinfanense, uma hipótese de enriquecimento do concelho, através do turismo, proporcionando empregos, consequência da dinamização de diversificados sectores económicos, que ele faz crescer ou mesmo nascer. Só que das palavras aos actos vai uma enorme distância. Parece-me que nem os políticos nem os empresários cinfanenses estão suficientemente motivados para avançar em tal matéria. Um sector que anda quase sempre associado ao turismo é o da gastronomia. Não obstante Cinfães possuir uma boa Escola Profissional dedicada a essa área, não encontramos na restauração concelhia benefícios evidentes dessa existência. A recepção, o ambiente, o serviço de mesas, as ementas com produtos regionais de qualidade, na grande maioria dos restaurantes, ainda deixam muito a desejar. Quem, de fora, vem a uma região deste tipo, presume que se comer um bife ou vitela assada será de raça arouquesa; se comer um cozido à portuguesa será de carnes criadas na região; se comer um cabrito ou um cordeiro será dos criados nas nossas montanhas, se comer uma simples omeleta ou um ovo estrelado será de galinha caseira e não comprado num qualquer supermercado. Deveria ser, mas normalmente não é. Para meu desgosto, devo confessar que já comi cozido à portuguesa e cabrito assado com melhores carnes, na cidade de Lisboa do que em alguns restaurantes do meu concelho. O desgosto não é por comer bem em Lisboa, obviamente, mas porque seria legítimo esperar que esses pratos, os encontrasse melhores nos restaurantes da minha terra. Assim não vamos lá.
Bom, mas o que eu queria agora falar era das tais maravilhas naturais. Apesar do reconhecimento generalizado da sua existência no concelho, nenhuma candidatura, seja com apoio de organismo oficial, seja espontânea, apareceu a candidatar-se às sete maravilhas naturais de Portugal. Porquê, por vezes tanto arrebatamento, tanto bairrismo desenfreado, se na altura de se poder tirar algum proveito, se não toma qualquer atitude? A ou as candidaturas de determinados trechos do património natural de Cinfães, só por si, independentemente do resultado final, já seria um bom elemento de propaganda, que contribuiria para trazer outras gentes até eles. Poderia apontar aqui outras motivações para esta reflexão, mas agora quero referir apenas estas: Castro Daire candidatou a Serra do Montemuro, Castelo de Paiva candidatou o Rio Paiva. Curiosamente, a Serra ocupa um grande espaço de Cinfães e Castro Daire; o Rio Paiva não corre exclusivamente, num pequenino trecho que seja, em território de Cinfães ou de Castelo de Paiva. Ele separa os dois concelhos, desfila entre eles. A propósito deixe-me fazer aqui um parêntesis para dizer que é tão errado afirmar que ele desagua na freguesia de Fornos, como dizer que desagua na freguesia de Souselo. Mais correcto é afirmar que desagua no Rio Douro, entre as referidas freguesias. Voltemos atrás, porém. Apesar do que afirmei sobre a Serra do Montemuro e do Rio Paiva, Castro Daire candidatou aquela, Castelo de Paiva candidatou este. Cinfães “esteve-se nas tintas” para as suas maravilhas, que vai continuar a enaltecer mas sem a divulgação que uma candidatura proporcionaria. E temos o Douro, o Bestança, o Ardena, com as suas quedas, etc.
O simples processo de candidatura, até pelo que a internet pode proporcionar, aguçaria o apetite de alguns a visitar-nos. Aliás, o principal objectivo de tais candidaturas é divulgar para poder preservar. Bem sei que muitas vezes a divulgação é inimiga da preservação, mas tomando as medidas adequadas é possível compatibilizar as duas coisas. Mesmo correndo alguns riscos, é necessário que as maravilhas naturais, sejam do grupo das sete, das setenta e sete ou das setecentas e setenta e sete sejam divulgadas para poderem ser apreciadas por todos e não apenas por alguns. Nesse sentido, em alguns casos, é necessário criar condições para que as pessoas cheguem até às ditas maravilhas. No caso concreto do Rio Paiva, eu que o conheço praticamente todo, visto de helicóptero, alguns dos trechos mais bonitos são inacessíveis a não ser para aqueles que nele praticam desporto. Com as margens do rio no estado actual, não é possível apreciá-los.
Seja como for, para que as pessoas realmente nos visitem será forçoso criar condições, em vários domínios, como sejam na hotelaria e restauração, principalmente, para que não vão daqui desiludidos e sem vontade de regressar e nem aconselhar familiares e amigos a visitarem-nos também. E se juntarmos a uma boa hotelaria e restauração, a possibilidade de os visitantes adquirirem artesanato e produtos regionais de qualidade, tanto melhor. Numa altura de crise, talvez um pouco de imaginação, de criatividade, de vontade, de risco também, não seria mau. Aos políticos, na parte que lhes toca, aos empresários ou simplesmente aqueles que têm dinheiro ou apenas vontade de trabalhar, de puxar esta região para a frente, cabe-lhes dar passos nesse sentido. A região e os seus habitantes agradecerão.
Bom, mas o que eu queria agora falar era das tais maravilhas naturais. Apesar do reconhecimento generalizado da sua existência no concelho, nenhuma candidatura, seja com apoio de organismo oficial, seja espontânea, apareceu a candidatar-se às sete maravilhas naturais de Portugal. Porquê, por vezes tanto arrebatamento, tanto bairrismo desenfreado, se na altura de se poder tirar algum proveito, se não toma qualquer atitude? A ou as candidaturas de determinados trechos do património natural de Cinfães, só por si, independentemente do resultado final, já seria um bom elemento de propaganda, que contribuiria para trazer outras gentes até eles. Poderia apontar aqui outras motivações para esta reflexão, mas agora quero referir apenas estas: Castro Daire candidatou a Serra do Montemuro, Castelo de Paiva candidatou o Rio Paiva. Curiosamente, a Serra ocupa um grande espaço de Cinfães e Castro Daire; o Rio Paiva não corre exclusivamente, num pequenino trecho que seja, em território de Cinfães ou de Castelo de Paiva. Ele separa os dois concelhos, desfila entre eles. A propósito deixe-me fazer aqui um parêntesis para dizer que é tão errado afirmar que ele desagua na freguesia de Fornos, como dizer que desagua na freguesia de Souselo. Mais correcto é afirmar que desagua no Rio Douro, entre as referidas freguesias. Voltemos atrás, porém. Apesar do que afirmei sobre a Serra do Montemuro e do Rio Paiva, Castro Daire candidatou aquela, Castelo de Paiva candidatou este. Cinfães “esteve-se nas tintas” para as suas maravilhas, que vai continuar a enaltecer mas sem a divulgação que uma candidatura proporcionaria. E temos o Douro, o Bestança, o Ardena, com as suas quedas, etc.
O simples processo de candidatura, até pelo que a internet pode proporcionar, aguçaria o apetite de alguns a visitar-nos. Aliás, o principal objectivo de tais candidaturas é divulgar para poder preservar. Bem sei que muitas vezes a divulgação é inimiga da preservação, mas tomando as medidas adequadas é possível compatibilizar as duas coisas. Mesmo correndo alguns riscos, é necessário que as maravilhas naturais, sejam do grupo das sete, das setenta e sete ou das setecentas e setenta e sete sejam divulgadas para poderem ser apreciadas por todos e não apenas por alguns. Nesse sentido, em alguns casos, é necessário criar condições para que as pessoas cheguem até às ditas maravilhas. No caso concreto do Rio Paiva, eu que o conheço praticamente todo, visto de helicóptero, alguns dos trechos mais bonitos são inacessíveis a não ser para aqueles que nele praticam desporto. Com as margens do rio no estado actual, não é possível apreciá-los.
Seja como for, para que as pessoas realmente nos visitem será forçoso criar condições, em vários domínios, como sejam na hotelaria e restauração, principalmente, para que não vão daqui desiludidos e sem vontade de regressar e nem aconselhar familiares e amigos a visitarem-nos também. E se juntarmos a uma boa hotelaria e restauração, a possibilidade de os visitantes adquirirem artesanato e produtos regionais de qualidade, tanto melhor. Numa altura de crise, talvez um pouco de imaginação, de criatividade, de vontade, de risco também, não seria mau. Aos políticos, na parte que lhes toca, aos empresários ou simplesmente aqueles que têm dinheiro ou apenas vontade de trabalhar, de puxar esta região para a frente, cabe-lhes dar passos nesse sentido. A região e os seus habitantes agradecerão.
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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Mais uma morte no Rio Paiva
Neste fim-de-semana último, o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia, em consequência de um acidente na prática de desportos radicais. Numa altura em que está bem viva dentro de nós a enorme tragédia que se abateu sobre esse paupérrimo país que é o Haiti, quase parece sacrilégio chamar tragédia à morte de um homem apenas. Mas não. As tragédias são-no independentemente da sua extensão e das suas consequências. Umas são maiores, outras são menores. Um homem de um metro e sessenta é um homem como o é outro de dois metros. A tragédia haitiana é de tal modo medonha que não sei se algum dia se conhecerá a sua verdadeira extensão. Nem sei se o empenho, quer das organizações governamentais, quer das não-governamentais, quer dos cidadãos anónimos ou das figuras públicas não será apenas uma reacção momentânea, fugaz, enquanto as feridas nas pessoas e no património estão mais vivas e logo, logo os haitianos não ficarão de novo entregues à sua sorte, má sorte, por sinal, como acontece noutras partes do mundo bem conhecidas.
Dizia eu no início que o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia. Uma tragédia em desportos radicais, porque já houve outras. E disse mais uma, porque, contrariamente àquilo que ouvi, a deste fim-de-semana não foi a primeira. No rafting, talvez, mas já houve pelo menos uma outra morte, de uma professora de Matosinhos, ali entre a ponte de Alvarenga e o Vau, em Canelas, na prática de um outro desporto, cujo nome agora não recordo, mas em que o praticante, o faz sozinho, deitado sobre uma prancha – não sei se é esse o nome – de barriga para baixo e de cabeça para a frente. A senhora terá batido com a testa numa pedra, não obstante estar equipada com capacete e morreu. Morreu sem que alguém, tão pouco, se apercebesse do acidente. Aqueles que com ela partilhavam a aventura, só mais tarde se aperceberam da sua falta. Participei com os bombeiros de Nespereira que comandava à época, conjuntamente com os de Arouca e foi muito difícil localizar o seu corpo. Nessa altura o caudal do rio era relativamente pequeno o que permitiu as buscas através da água, a pé. Encontrada, foi outra dificuldade quase insuperável para a transportar até um veículo todo-o-terreno, que, mesmo assim, teve de ficar bem distante do rio.
É exactamente aqui que eu quero chegar. O Rio Paiva corre em grande parte da sua extensão, pelo menos no que toca à zona onde se praticam os desportos ditos radicais, num leito ladeado de margens com declives muito acentuados, com pouquíssimas vias de acesso e praticamente inexistentes possibilidades de as percorrer, devido aos intensos e intransponíveis matagais que as povoam. As horas que demorou a encontrar o corpo do João e a retirá-lo depois de ser encontrado, confirmam isso mesmo. Para mim, pela sensibilidade que julgo ter para as questões da segurança, protecção e socorro, bastam esses dois factores – a impossibilidade de acesso ao rio através de viatura de socorro em extensões de quilómetros e o trânsito ainda que apeado através das margens, o mais próximo possível da água – para considerar a prática de tais desportos, nessas circunstâncias, como pouco segura. Os acidentes dão-se em milhentas circunstâncias, mesmo em práticas que se considerem sem quaisquer riscos. Uma coisa, todavia, é acontecer o acidente e haver a possibilidade imediata de socorro, outra é ele acontecer e o socorro ser impossível em tempo oportuno. Há muitos trechos do Rio Paiva, onde, se houver um acidente, se pode ter de esperar muitas horas pelo socorro. E, em alguns casos, nessa demora pode estar a diferença entre viver ou morrer.
Numa região em que o seu desenvolvimento pode passar sobretudo pelo aproveitamento que a natureza oferece, embora me pareça que nenhuma das autarquias em cujo solo desfila o Paiva tenha querido ou sabido tirar todo o proveito disso, julgo não ser de desprezar esse movimento desportivo que se verifica nas suas águas límpidas. Antes, será de apoiar. Portanto, julgo que as Câmaras Municipais de Arouca, Cinfães e Castelo de Paiva, operando singularmente ou em projectos conjuntos, devem proporcionar, sem ofender drasticamente a natureza, melhores condições logísticas para a prática desportiva, mas sobretudo que permitam um mais rápido e eficaz socorro. Uma morte como a do jovem João Filipe Borges, que chegava feliz ao fim da aventura, é sempre uma tragédia. Uma vida que se consegue salvar é sempre um momento de felicidade, uma bênção.
Já agora, deixe-me fazer esta reflexão: se bem que eu entenda que as Câmaras Municipais já referidas devem fazer algo no sentido de minimizar os perigos e maximizar as possibilidades de socorro, ninguém tem legitimidade para acusar qualquer uma delas por eventual responsabilidade neste ou em qualquer outro acidente, seja pela falta de infra-estruturas ou de qualquer outra coisa. Nenhuma entidade se terá responsabilizado, autorizado, ou não, tais práticas, julgo eu. A responsabilidade há-de, com certeza, ser encontrada noutro lado.
Dizia eu no início que o Rio Paiva foi palco de mais uma tragédia. Uma tragédia em desportos radicais, porque já houve outras. E disse mais uma, porque, contrariamente àquilo que ouvi, a deste fim-de-semana não foi a primeira. No rafting, talvez, mas já houve pelo menos uma outra morte, de uma professora de Matosinhos, ali entre a ponte de Alvarenga e o Vau, em Canelas, na prática de um outro desporto, cujo nome agora não recordo, mas em que o praticante, o faz sozinho, deitado sobre uma prancha – não sei se é esse o nome – de barriga para baixo e de cabeça para a frente. A senhora terá batido com a testa numa pedra, não obstante estar equipada com capacete e morreu. Morreu sem que alguém, tão pouco, se apercebesse do acidente. Aqueles que com ela partilhavam a aventura, só mais tarde se aperceberam da sua falta. Participei com os bombeiros de Nespereira que comandava à época, conjuntamente com os de Arouca e foi muito difícil localizar o seu corpo. Nessa altura o caudal do rio era relativamente pequeno o que permitiu as buscas através da água, a pé. Encontrada, foi outra dificuldade quase insuperável para a transportar até um veículo todo-o-terreno, que, mesmo assim, teve de ficar bem distante do rio.
É exactamente aqui que eu quero chegar. O Rio Paiva corre em grande parte da sua extensão, pelo menos no que toca à zona onde se praticam os desportos ditos radicais, num leito ladeado de margens com declives muito acentuados, com pouquíssimas vias de acesso e praticamente inexistentes possibilidades de as percorrer, devido aos intensos e intransponíveis matagais que as povoam. As horas que demorou a encontrar o corpo do João e a retirá-lo depois de ser encontrado, confirmam isso mesmo. Para mim, pela sensibilidade que julgo ter para as questões da segurança, protecção e socorro, bastam esses dois factores – a impossibilidade de acesso ao rio através de viatura de socorro em extensões de quilómetros e o trânsito ainda que apeado através das margens, o mais próximo possível da água – para considerar a prática de tais desportos, nessas circunstâncias, como pouco segura. Os acidentes dão-se em milhentas circunstâncias, mesmo em práticas que se considerem sem quaisquer riscos. Uma coisa, todavia, é acontecer o acidente e haver a possibilidade imediata de socorro, outra é ele acontecer e o socorro ser impossível em tempo oportuno. Há muitos trechos do Rio Paiva, onde, se houver um acidente, se pode ter de esperar muitas horas pelo socorro. E, em alguns casos, nessa demora pode estar a diferença entre viver ou morrer.
Numa região em que o seu desenvolvimento pode passar sobretudo pelo aproveitamento que a natureza oferece, embora me pareça que nenhuma das autarquias em cujo solo desfila o Paiva tenha querido ou sabido tirar todo o proveito disso, julgo não ser de desprezar esse movimento desportivo que se verifica nas suas águas límpidas. Antes, será de apoiar. Portanto, julgo que as Câmaras Municipais de Arouca, Cinfães e Castelo de Paiva, operando singularmente ou em projectos conjuntos, devem proporcionar, sem ofender drasticamente a natureza, melhores condições logísticas para a prática desportiva, mas sobretudo que permitam um mais rápido e eficaz socorro. Uma morte como a do jovem João Filipe Borges, que chegava feliz ao fim da aventura, é sempre uma tragédia. Uma vida que se consegue salvar é sempre um momento de felicidade, uma bênção.
Já agora, deixe-me fazer esta reflexão: se bem que eu entenda que as Câmaras Municipais já referidas devem fazer algo no sentido de minimizar os perigos e maximizar as possibilidades de socorro, ninguém tem legitimidade para acusar qualquer uma delas por eventual responsabilidade neste ou em qualquer outro acidente, seja pela falta de infra-estruturas ou de qualquer outra coisa. Nenhuma entidade se terá responsabilizado, autorizado, ou não, tais práticas, julgo eu. A responsabilidade há-de, com certeza, ser encontrada noutro lado.
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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Superstições, convicções e opiniões
Desde que me reconheço como pessoa, que comecei a ter percepção do meu comportamento, sempre primei por não só não acreditar em qualquer superstição como ter a enorme tentação de as contrariar, nomeadamente provocando aqueles que as têm, desde que tenha confiança e/ou laços familiares ou de amizade que mo permitam. Que me desculpem os supersticiosos, que eu respeito, obviamente, mas acho as superstições de tal modo ridículas que sou incapaz de deixar de as contestar. Às vezes, faço-o de forma tão obsessiva, que chego a pensar se tal obsessão, ela própria, por si mesmo, não será, de certo modo, uma superstição. Trata-se, apenas, de confirmar a mim mesmo e de demonstrar a quem comigo se relaciona e tem alguma das ditas, que elas não têm sentido. Devo confessar que, por tal comportamento, nunca fui vítima de qualquer malefício, o que faz com que me mantenha fiel aos meus princípios. Não acredito em superstições, como não acredito em mezinhas, atalhamentos, pragas, bruxarias, nos sonhos ou outras coisas que tais, apesar de um dia, já lá vão cerca de cinquenta anos, ter sido protagonista de um episódio, que confirmou em absoluto um sonho que minha mãe tivera nessa noite. Mesmo assim, para mim, tal como nessa altura, ainda hoje penso que se tratou de uma mera coincidência. Mantenho-me incrédulo relativamente a todas essas coisas, na certeza de que nada disso me molestará.
Como exemplo de superstições contrariadas, que são muitas, vou referir apenas uma que se relaciona com o meu filho, quando era bebé. Antes mesmo de ele pronunciar qualquer palavra, punha-o frequentemente ao espelho para ele se ver. Um familiar ficava preocupado, afirmando que isso faria com que o menino viesse a não falar. Eu retorquia que isso não tinha qualquer sentido e insistia em colocá-lo em frente ao espelho, sobretudo quando o dito familiar estava presente. Mauzinho, eu, não?! Devo dizer e aqueles que com ele privaram, em pequenino, comprovam, que foi uma criança que falou de forma bastante perfeita, muito cedo. Aliás não conheci uma criança que falasse tão bem, tão novinho, até aparecer meu neto, seu filho que se equiparou e, posteriormente, minha neta, sua filha, que conseguiu ultrapassar o pai e o irmão, ambos tendo estado, muitas vezes, à frente de um espelho.
A par dessa predisposição para contrariar as superstições, sempre fui possuidor de uma outra, que mantenho, que é a de estar mais frequentemente do lado de fora do politicamente correcto, do que do lado de dentro, porquanto o politicamente correcto, é, com frequência, sinónimo de hipocrisia, de defesa de interesses particulares. Habituei-me, desde muito jovem, a dizer o que penso, independentemente das consequências, que algumas vezes, se traduziram em dissabores. Dissabores que, ao invés de me fazerem mudar de atitude, sempre me deram mais força para continuar a ser o que e como era. Sempre soube dizer sim e dizer não, em função daquilo que julgava ser a verdade, a justiça e não em função dos meus interesses. Felizmente, a frontalidade, de que me orgulho, sempre me foi reconhecida nos mais diversos “ofícios” em que estive envolvido. Confesso que algumas vezes, a minha voz foi quase única a defender determinadas ideias. Embora reconhecesse que seria mais fácil, mais cómodo, estar do outro lado da “barricada”, nunca tive receio de expor e defender aquilo que julgava ser o mais correcto. Não obstante, algumas vezes ser quase o único a defender certos pontos de vista, mais tarde viria a verificar-se que a razão estava do meu lado e a aprovar-se aquilo que anteriormente, solitariamente defendia.
Os meus já longos anos de vida e com experiências múltiplas em diversas áreas mostraram-me que há muitas pessoas, embora inteligentes, não se dão ao trabalho de pensar, de reflectir, de intervir. Não o fazem por comodismo e porque adoptam uma situação defensiva, de modo a que quando tiverem de tomar uma posição, ou seja, em último recurso, votar, o façam, não em consciência, mas de acordo com interesses pessoais ou hipocrisia reinante. Participei e continuo a participar em múltiplas reuniões, nomeadamente em assembleias-gerais em que a grande maioria dos participantes não manifesta uma opinião, não tem uma ideia. São quase sempre dois ou três, e sempre os mesmos, que reflectem, apontam caminhos, sugerem. Parece-me que tanta falta de ideias se deve mais a preguiça, do que a qualquer outro factor. Por outro lado, há aqueles que defendem publicamente não aquilo em que acreditam e/ou praticam, mas, hipocritamente, o que mais lhes interessa, de acordo com o meio em que vivem ou se movem. Exemplificando: há mulheres que praticaram abortos, que incentivaram abortos, há homens que incentivaram ou obrigaram mesmo à prática de abortos, para se esquivarem de responsabilidades, de escândalos. Pois bem: ouvido alguns desses personagens, quem os não conhecer fica regalado com deslumbrantes manifestações oratórias contra o aborto, em quaisquer circunstâncias.
Desde sempre houve homens e mulheres homossexuais. Aquando do meu cumprimento do serviço militar, em Lisboa, convivi com duas jovens assumidamente lésbicas, - estávamos em meados da década de sessenta - bonitas, inteligentes, cultas, ambas bem, profissionalmente, que viviam juntas. Nunca tive qualquer preconceito. Aliás, era um prazer falar com elas. Eu disse que viviam juntas. Eram felizes, mas da sua relação, para além da felicidade que sentiam por uma vida em comum, nada mais poderiam esperar. Sei que se estiverem vivas, juntas, hoje terão mais um motivo para estarem felizes. E porque não?! A negação de uma união legal acabaria, porventura, com a homossexualidade?! A ilegalização das casas de prostituição e o consequente impedimento de as prostitutas, enquanto tais, terem acesso a cuidados de saúde, porventura acabou com elas?! Claro que não.
Quantos homens e mulheres hão por aí, fruto de relações incestuosas? Onde estavam os puritanos e onde estão aqueles de cujos costumes se reclamam herdeiros?!
Há por aí muitas pessoas que de acordo com as vozes dos amigos e vizinhos acorrem assiduamente aos chamados bruxos ou curandeiros, contribuindo de forma generosa para o engrossar das contas bancárias destes, acreditando nos seus poderes sobrenaturais para as libertarem de doenças malignas, de feitiços, maus-olhados e outras coisas mais. Quando alguma dessas pessoas fala comigo, sabendo da minha repulsa por tais actividades, fá-lo sempre como nunca tivesse recorrido a tais serviços e fosse, tal como eu, incrédula em relação a tais poderes.
Seria bom que cada um tivesse coragem de defender as suas convicções, as suas crenças, as suas superstições. Basta de tanta hipocrisia.
Como exemplo de superstições contrariadas, que são muitas, vou referir apenas uma que se relaciona com o meu filho, quando era bebé. Antes mesmo de ele pronunciar qualquer palavra, punha-o frequentemente ao espelho para ele se ver. Um familiar ficava preocupado, afirmando que isso faria com que o menino viesse a não falar. Eu retorquia que isso não tinha qualquer sentido e insistia em colocá-lo em frente ao espelho, sobretudo quando o dito familiar estava presente. Mauzinho, eu, não?! Devo dizer e aqueles que com ele privaram, em pequenino, comprovam, que foi uma criança que falou de forma bastante perfeita, muito cedo. Aliás não conheci uma criança que falasse tão bem, tão novinho, até aparecer meu neto, seu filho que se equiparou e, posteriormente, minha neta, sua filha, que conseguiu ultrapassar o pai e o irmão, ambos tendo estado, muitas vezes, à frente de um espelho.
A par dessa predisposição para contrariar as superstições, sempre fui possuidor de uma outra, que mantenho, que é a de estar mais frequentemente do lado de fora do politicamente correcto, do que do lado de dentro, porquanto o politicamente correcto, é, com frequência, sinónimo de hipocrisia, de defesa de interesses particulares. Habituei-me, desde muito jovem, a dizer o que penso, independentemente das consequências, que algumas vezes, se traduziram em dissabores. Dissabores que, ao invés de me fazerem mudar de atitude, sempre me deram mais força para continuar a ser o que e como era. Sempre soube dizer sim e dizer não, em função daquilo que julgava ser a verdade, a justiça e não em função dos meus interesses. Felizmente, a frontalidade, de que me orgulho, sempre me foi reconhecida nos mais diversos “ofícios” em que estive envolvido. Confesso que algumas vezes, a minha voz foi quase única a defender determinadas ideias. Embora reconhecesse que seria mais fácil, mais cómodo, estar do outro lado da “barricada”, nunca tive receio de expor e defender aquilo que julgava ser o mais correcto. Não obstante, algumas vezes ser quase o único a defender certos pontos de vista, mais tarde viria a verificar-se que a razão estava do meu lado e a aprovar-se aquilo que anteriormente, solitariamente defendia.
Os meus já longos anos de vida e com experiências múltiplas em diversas áreas mostraram-me que há muitas pessoas, embora inteligentes, não se dão ao trabalho de pensar, de reflectir, de intervir. Não o fazem por comodismo e porque adoptam uma situação defensiva, de modo a que quando tiverem de tomar uma posição, ou seja, em último recurso, votar, o façam, não em consciência, mas de acordo com interesses pessoais ou hipocrisia reinante. Participei e continuo a participar em múltiplas reuniões, nomeadamente em assembleias-gerais em que a grande maioria dos participantes não manifesta uma opinião, não tem uma ideia. São quase sempre dois ou três, e sempre os mesmos, que reflectem, apontam caminhos, sugerem. Parece-me que tanta falta de ideias se deve mais a preguiça, do que a qualquer outro factor. Por outro lado, há aqueles que defendem publicamente não aquilo em que acreditam e/ou praticam, mas, hipocritamente, o que mais lhes interessa, de acordo com o meio em que vivem ou se movem. Exemplificando: há mulheres que praticaram abortos, que incentivaram abortos, há homens que incentivaram ou obrigaram mesmo à prática de abortos, para se esquivarem de responsabilidades, de escândalos. Pois bem: ouvido alguns desses personagens, quem os não conhecer fica regalado com deslumbrantes manifestações oratórias contra o aborto, em quaisquer circunstâncias.
Desde sempre houve homens e mulheres homossexuais. Aquando do meu cumprimento do serviço militar, em Lisboa, convivi com duas jovens assumidamente lésbicas, - estávamos em meados da década de sessenta - bonitas, inteligentes, cultas, ambas bem, profissionalmente, que viviam juntas. Nunca tive qualquer preconceito. Aliás, era um prazer falar com elas. Eu disse que viviam juntas. Eram felizes, mas da sua relação, para além da felicidade que sentiam por uma vida em comum, nada mais poderiam esperar. Sei que se estiverem vivas, juntas, hoje terão mais um motivo para estarem felizes. E porque não?! A negação de uma união legal acabaria, porventura, com a homossexualidade?! A ilegalização das casas de prostituição e o consequente impedimento de as prostitutas, enquanto tais, terem acesso a cuidados de saúde, porventura acabou com elas?! Claro que não.
Quantos homens e mulheres hão por aí, fruto de relações incestuosas? Onde estavam os puritanos e onde estão aqueles de cujos costumes se reclamam herdeiros?!
Há por aí muitas pessoas que de acordo com as vozes dos amigos e vizinhos acorrem assiduamente aos chamados bruxos ou curandeiros, contribuindo de forma generosa para o engrossar das contas bancárias destes, acreditando nos seus poderes sobrenaturais para as libertarem de doenças malignas, de feitiços, maus-olhados e outras coisas mais. Quando alguma dessas pessoas fala comigo, sabendo da minha repulsa por tais actividades, fá-lo sempre como nunca tivesse recorrido a tais serviços e fosse, tal como eu, incrédula em relação a tais poderes.
Seria bom que cada um tivesse coragem de defender as suas convicções, as suas crenças, as suas superstições. Basta de tanta hipocrisia.
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domingo, 3 de janeiro de 2010
Manter acesa a esperança
A partir do momento em que atingimos um carro de anos de idade, parece que o tempo voa, como se os anos tivessem apenas a duração de meses, os meses de dias, os dias de horas. Para quem não estiver identificado com esta linguagem tipicamente agrária, devo dizer que um carro de anos, quer dizer quarenta anos. É precisamente a partir dos quarenta anos, ou da entrada nos “entas”, como também se diz, que os aniversários, os Natais, as Páscoas ou quaisquer outras efemérides se sucedem a uma velocidade, que, sendo sempre a mesma, todavia, nos parece estonteante. Quase sem nos darmos conta, temos filhos, que tendo a idade que, no subconsciente, nos parece ter, mas a quem já começam a aparecer as primeiras cãs e já nos deram netos. Sinal de que, afinal, já somos seniores, como agora se diz, ou estamos, apressadamente, a lá chegar. Bom, se de acordo com os rótulos da moda, eu já entrei na terceira idade ou sou sénior, com direito a meio bilhete, benesse de que, por acaso, ainda não usufruí, não obstante já me ressentir de algumas maleitas físicas, mesmo assim, não só física, mas sobretudo mentalmente, não me sinto, de modo nenhum, em estado sénio.
Este arrazoado vem a propósito de termos entrado na segunda década do século XXI, apesar de me parecer que foi ainda há muito pouco tempo. Recordo bem aquela noite de passagem de 1999 para 2000, até porque, pelas funções que desempenhava, tive de me manter toda a noite, desperto e atento, no Centro de Operações que dirigia, uma noite cheia de dúvidas, de incertezas para milhões de pessoas, de enormes receios para muitos outros, que acreditavam, ou, pelo menos, suspeitavam que “a dois mil chegarás, mas de dois mil não passarás”. Não se confirmaram receios, profecias, iniciou-se um novo milénio de forma tranquila. Terminou-se a sua primeira década, com momentos de fortuna para uns, de infortúnio para outros, de sucessos e tragédias, de esperanças e desesperanças.
No início deste terceiro lustro do milénio, “entretidos” com uma grave crise à escala global, mas de que alguns se aproveitam, ao invés de, como é nosso timbre, ficarmos à espera de ver o que é que os outros fazem, nomeadamente aqueles que têm responsabilidades de governação, a qualquer nível, melhor é cada um de nós assumir que deve ser parte da solução e não apenas o problema ou uma parte do problema. Cada um de nós, uns mais, outros menos, através da acção, do comportamento, de uma outra atitude, de um optimismo racional e não um pessimismo doentio, fatalista, pode contribuir para o debelar da crise, para um país mais próspero, mais solidário. É preciso não deixarmos morrer a esperança e fazermos tudo quanto estiver ao nosso alcance para não deixar que a esperança morra, mesmo naqueles mais desafortunados, que quase não têm uma réstia de nada para a fazer sobreviver. É preciso acreditarmos mais em nós próprios, nas nossas capacidades, usá-las; é preciso acreditarmos mais em nós, como povo, que temos uma história que, não obstante alguns fracassos de que soubemos sempre reerguer-nos, construímos êxitos de que poucos povos se podem orgulhar. É preciso acreditarmos que não é invejando, mas congratulando-nos com o sucesso dos outros, que não é fixarmo-nos cegamente nas nossas convicções ou nos nossos interesses, defendê-los sem admitir consensos, beneficiando sempre o interesse particular em prejuízo do geral, que contribuiremos para tempos de melhor justiça, melhor educação, melhor equilíbrio social. É forçoso, é urgente que cada um de nós seja menos egoísta, não deixe desmoronar a esperança, mas, na certeza de que se não fizer nada por isso, ela sucumbirá tão ingloriamente como inglório será o nosso futuro.
Cá por mim, apesar do estatuto sénior, mantenho a esperança, o optimismo, a confiança que sempre me caracterizaram, atributos, graças aos quais foi possível atingir determinados objectivos, uns pessoais, outros colectivos, alguns mesmo em que poucos acreditavam e se comportavam como “Velhos-do-Restelo”. Se a cada um de nós, cidadão comum, para bem de todos, se exige que assim seja, aos políticos de todos os quadrantes, porque nas suas mãos depositamos o nosso futuro, se tem de ser mais exigente ainda. É admissível, é legítimo, é normal que cada partido lute de acordo com as suas convicções – quando as tem, porque às vezes parece que não – mas há momentos, em que, de tão contraditórias que são as opções, tem de haver cedências de parte a parte, em nome do bem comum. A minha grande esperança para 2010 é que isso possa ser uma realidade. Se assim for, para além de podermos ter melhores sonhos, podemos acreditar num futuro melhor. Assim seja.
Este arrazoado vem a propósito de termos entrado na segunda década do século XXI, apesar de me parecer que foi ainda há muito pouco tempo. Recordo bem aquela noite de passagem de 1999 para 2000, até porque, pelas funções que desempenhava, tive de me manter toda a noite, desperto e atento, no Centro de Operações que dirigia, uma noite cheia de dúvidas, de incertezas para milhões de pessoas, de enormes receios para muitos outros, que acreditavam, ou, pelo menos, suspeitavam que “a dois mil chegarás, mas de dois mil não passarás”. Não se confirmaram receios, profecias, iniciou-se um novo milénio de forma tranquila. Terminou-se a sua primeira década, com momentos de fortuna para uns, de infortúnio para outros, de sucessos e tragédias, de esperanças e desesperanças.
No início deste terceiro lustro do milénio, “entretidos” com uma grave crise à escala global, mas de que alguns se aproveitam, ao invés de, como é nosso timbre, ficarmos à espera de ver o que é que os outros fazem, nomeadamente aqueles que têm responsabilidades de governação, a qualquer nível, melhor é cada um de nós assumir que deve ser parte da solução e não apenas o problema ou uma parte do problema. Cada um de nós, uns mais, outros menos, através da acção, do comportamento, de uma outra atitude, de um optimismo racional e não um pessimismo doentio, fatalista, pode contribuir para o debelar da crise, para um país mais próspero, mais solidário. É preciso não deixarmos morrer a esperança e fazermos tudo quanto estiver ao nosso alcance para não deixar que a esperança morra, mesmo naqueles mais desafortunados, que quase não têm uma réstia de nada para a fazer sobreviver. É preciso acreditarmos mais em nós próprios, nas nossas capacidades, usá-las; é preciso acreditarmos mais em nós, como povo, que temos uma história que, não obstante alguns fracassos de que soubemos sempre reerguer-nos, construímos êxitos de que poucos povos se podem orgulhar. É preciso acreditarmos que não é invejando, mas congratulando-nos com o sucesso dos outros, que não é fixarmo-nos cegamente nas nossas convicções ou nos nossos interesses, defendê-los sem admitir consensos, beneficiando sempre o interesse particular em prejuízo do geral, que contribuiremos para tempos de melhor justiça, melhor educação, melhor equilíbrio social. É forçoso, é urgente que cada um de nós seja menos egoísta, não deixe desmoronar a esperança, mas, na certeza de que se não fizer nada por isso, ela sucumbirá tão ingloriamente como inglório será o nosso futuro.
Cá por mim, apesar do estatuto sénior, mantenho a esperança, o optimismo, a confiança que sempre me caracterizaram, atributos, graças aos quais foi possível atingir determinados objectivos, uns pessoais, outros colectivos, alguns mesmo em que poucos acreditavam e se comportavam como “Velhos-do-Restelo”. Se a cada um de nós, cidadão comum, para bem de todos, se exige que assim seja, aos políticos de todos os quadrantes, porque nas suas mãos depositamos o nosso futuro, se tem de ser mais exigente ainda. É admissível, é legítimo, é normal que cada partido lute de acordo com as suas convicções – quando as tem, porque às vezes parece que não – mas há momentos, em que, de tão contraditórias que são as opções, tem de haver cedências de parte a parte, em nome do bem comum. A minha grande esperança para 2010 é que isso possa ser uma realidade. Se assim for, para além de podermos ter melhores sonhos, podemos acreditar num futuro melhor. Assim seja.
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